quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Aquecimento Oscar 2008: Os Melhores

Depois da minha lista os piores filmes entre aqueles que foram vencedores do Oscar de melhor filme, nada mais justo do que falar do outro lado da moeda, os melhores filmes entre os 79 que venceram o prêmio desde a primeira cerimônia, em 1929. Como a excelência desses filmes é óbvia, falarei mais sobre aspectos da premiação no ano da vitória desses filmes. O Oscar nunca primou pela eficiência, então não foram raras as oportunidades nas quais filmes essenciais foram ignorados abruptamente. Diria que isso acontece na frequência de, tipo, todo santo ano? Um dia eles aprendem. Mas a lista é de respeito, jão, checa aí:


5- A Lista de Schindler - Melhor filme de 1993, dirigido por Steven Spielberg
Um dos filmes mais estarrecedores já feitos, foi fundo no estudo dos efeitos da maior carnificina da história da humanidade no comportamento humano. Spielberg surpreendeu pelo brilhante domínio técnico e pela qualidade narrativa, não tentando suavizar o personagem principal, inteligentemente percebendo que isso realçaria ainda mais o feito de Oskar Schindler. De tirar o fôlego, jamais pesando os 200 minutos de projeção, muito pelo contrário. Se você não chorar no final, você não tem coração, certo, jão? Ganhou num ano forte, filmes como O Piano, Vestígios do Dia (classudo drama de James Ivory) e Em Nome do Pai estavam no pário. Falo o último concorrente? Tá, bem baixo, pra ninguém ouvir: O Fugitivo. Já pensaram se esse eficiente, porém convencionalíssimo, filme de ação batesse um filme como A Lista de Schindler? Deve ter sido pela cena do Harrison Ford se jogando no rio. Deve sim.

4- Lawrence da Árabia - Melhor filme de 1962, dirigido por David Lean
Você que assistiu O Gladiador, e saiu falando, "nossa, que filme massa, isso sim é épico!", você devia é levar uns tapas no ouvido pra largar a mão de ser pervo. Se tem um filme que merece tal denominação, é esse. 216 minutos de puro deslumbre, com as tomadas mais belas jamais vistas na história do cinema, Lógico que quando o filme leva a assinatura de um David Lean como diretor, você só pode esperar pura excelência. Aquele ano a disputa valeu por ter o clássico O Sol Nasce Para Todos no páreo, então vocês podem imaginar o suspense que foi aquela premiação, com dois filmes nervosos como esses concorrendo. Igualzinho ao ano retrasado, quando o Crash ganhou do Brokeback Mountain, né não? Emocionante mesmo. Bocejos.

3- O Poderoso Chefão-Parte 2 - Melhor filme de 1974, dirigido por Francis Ford Coppola
Divide com o Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (argh!) a honra de serem as únicas continuações premiadas com a estatueta de melhor filme. Coppola conseguiu uma façanha mesmo. Quando todos achavam que ele ia jogar o nome do primeiro filme no chão com uma improvável continuação, ele veio com essa maravilha debaixo dos braços. Alguns juram que é até melhor do que o primeiro, de tão bom que é o negócio. Uma das melhores atuações da história do cinema, com Al Pacino dando aulas toda vez que aparece na tela. Naquele ano, dois competidores eram fraquíssimos, Lenny (filme inspirado na vida do comediante Lenny Bruce, surpreendentemente dirigido pelo Bob Fosse, mais lembrado pelos musicais que fazia) e, pasmem, Inferno na Torre, um lixo de proporções dantescas. Mas os outros dois competidores tinham envergadura: A Conversação, filmaço também dirigido por Coppola (o filme foi uma das exigências que ele fez para dirigir a continuação do Poderoso Chefão), e também Chinatown. Sim, Chinatown, obra prima do Roman Polanski. Pobre Polanski, deve ter enlouquecido, e fez coisa feia numa festa na casa do Jack Nicholson, e foi o fim. Triste mesmo.

2- Casablanca - Melhor filme de 1943, dirigido por Michael Curtiz
Não há muito o que se falar sobre Casablanca. É meio que sinônimo de cinema, tipo, quando se fala na "magia da sétima arte", automaticamente retomamos na mente a imagem do mito Humphrey Bogart se despedindo da Ingrid Bergman antes de pegar aquele avião. Cena que define o poder que o cinema tem. De resto, é o filme mais coeso já feito. Nenhum personagem fora do lugar, nenhum diálogo que não seja arrebatador. 102 minutos de puro desbunde. Méritos para o excelente diretor húngaro Michael Curtiz, que embora não fosse autoral (na era dos estúdios, diretor era visto como um membro a mais da equipe técnica, o mais importante, logicamente mas nada além disso, sem maiores poderes para influir no destino de seus filmes), tinha um apurado senso de direção, tanto cênico quanto técnico. O elenco excelente (Peter Lorre, Claude Reins, Sidney Greenstreet e Paul Henreid, um verdadeiro olimpo de coadjuvantes). E o Bogart, logicamente, o que faz muita diferença. No ano em que venceu, Casablanca dividiu a indicação para melhor filme com nove películas. Foi o último ano que isso aconteceu, no ano seguinte já foram as cinco indicações que são regra até os dias de hoje. Nenhum dos concorrentes era particularmente memorável, os dois mais famosos eram o Por Quem Os Sinos Dobram, fraca e longuíssima adaptação do livro de Ernest Hemingway, e o Canção para Bernadete. Como o Oscar adora ignorar filmes que se mostrariam vitais depois, respiremos fundo por Casablanca ter escapado da maldição. Ufa.

1- Poderoso Chefão - Melhor filme de 1972, dirigido por Francis Ford Coppola
Um dos maiores filmes da história do cinema, por muito, muito pouco, não foi ignorado, se juntando ao rol da vergonha do Oscar, que inclui os inexplicavelmente preteridos Cidadão Kane, A Doce Vida, Laranja Mecânica, Psicose, Taxi Driver, Touro Indomável, 2001, entre outros. Explico: O Poderoso Chefão foi agraciado com apenas 3 prêmios: roteiro, ator, logicamente (Marlon Brando, que mandou uma atriz fingindo ser índia buscar o prêmio), e filme. Quem fez a limpa naquele ano foi o horrendo musical Cabaret, ganhando 8 prêmios, inclusive o de diretor para o Bob Fosse (em três dos quatro anos que Coppola foi indicado a melhor diretor, o Bob Fosse também foi). Um massacre. A coisa foi tão feia que, na categoria de melhor ator coadjuvante, o filme conseguiu emplacar três competidores (James Caan, Robert Duvall e Al Pacino) e todos foram absurdamente preteridos pelo Joel Grey, que ganhou por -adivinhem, adivinhem- Cabaret. Por um milagre, mas um grande milagre mesmo, os membros da Academia resolveram dar o prêmio principal para o maravilhoso filme de Coppola. Se eles não tivessem tido essa lucidez, provavelmente ninguém levaria mais a sério o Oscar hoje, seria ainda pior do que é, já que os dois principais filmes já feitos, Cidadão Kane e Poderoso Chefão, teriam sido ignorados. Sorte deles.

Um comentário:

  1. Prefiro 2001 e "Laranja Mecânica". Do "Poderoso Chefão" só me lembro de uma cabeça de cavalo na cama e Marlon Brando falando com se tivesse uma batata quente na boca. Não digo que não seja um grande filme. Mas é o que me lembro do favorito de quase todos os homens... Diante da persistência, dos continuados elogios, acho que está na hora de revê-lo. Espero que ainda exista nas locadoras.

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