sábado, 26 de julho de 2008

Pai e Filha

Pai e Filha, de Yasujiro Ozu, só porque eu decidi ser mais japonês, pelo menos abstratamente. Note a expressão dos rostos, o sorriso forçado, e a lentidão calculada dos movimentos. Isso é ser japonês?

Aprecio em Bresson o mesmo que é de Ozu, essa tendência à imobilidade, à estaticidade. Uma qualidade propriamente oriental, o despojamento que visa à essência, a ponto de reduzir atores a modelos, expressão de Bresson, que empregava não-atores em seus filmes, porque o pessoal passa a ser visto como interferência à comunicação do espiritual. E por isso é tudo muito abstrato e severo. Mas Ozu é um romântico, que ama a tradição e faz do casamento um sacrifício de amor do pai pela filha.


O Pai aconselha a filha a como ser feliz no casamento; falando que a felicidade não deve ser esperada, mas criada, que é ela a própria criação. E, em vista do que é a cultura japonesa, quando ele diz felicidade, entendamos nós sossego – cada um na sua, com algo em comum, mas bem pouco.

A Filha de repente entende que casar é uma forma de continuar servindo a seu pai, tudo o que ela quer. Quando ela, uma linda noiva japonesa, ajoelha-se e agradece ao pai pelos anos que passaram juntos, é como se renunciasse a um sacerdócio. [E eu quase chorei.]

Os japoneses são engraçados aos olhos ocidentais, porque, muito contidos, se expressam subitamente, como se deixassem escapar, sem que se entreveja a razão do choro ou do riso, já que são estes senão a superfície do que nunca deve ou vai ser exposto.


Volta e meia se ouve por aí um suspiro que romantiza o matriarcado, imaginando-se que um mundo governado por mulheres seria mais justo e menos opressivo. Mas a civilização só não descamba para a barbárie por causa das convenções sociais, que condenam tudo o que em nós é mais sincero, intenso e, portanto, agressivo, como já constatava a psicanálise. E por uma questão de sobrevivência, porque são elas o sexo frágil, ao menos fisicamente, é que as mulheres são também as mais interessadas em zelar pela manutenção dessas mesmas convenções sociais, que tanto nos oprimem, mas principalmente a elas. (No caso do filme, falo é claro que da tia casamenteira.)

No entanto, não poderiam ser mais subservientes. Enquanto os homens lúdica e levianamente relativizam o código social por meio de palavras e comportamento, relevando descortesias e higiene, por exemplo, as mulheres se aborrecem e protestam, sendo elas as educadoras primárias dos filhos, fazendo do pai senão uma figura simbólica da lei e da ordem que elas ensinam.

Etiqueta e bons modos carregam em si o signo da opressão e da dominação, e isso é frankfurtianamente inevitável.

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