terça-feira, 29 de abril de 2008

TOP 5 - Continental

Aviso: esse primeiro parágrafo será um clichezão vergonhoso de proporções dantescas. E o resto do texto será dolorosamente longo. Muito obrigado.

O fim da Guerra Fria, representado simbolicamente pela queda do Muro de Berlim em 1989, e o advento da Internet ,em meados de 1994, acabaram gerando uma nova era nesse mundo tão redondo e inchado no qual vivemos. Sim, a Globalização, que uniu povos e culturas dentro de uma mesma rede de comunicações e negócios. Na parte cultural, essa mudança não poderia passar desapercebida. Um filme nem bem é lançado nos States e já tem fotos e traillers rodando em computadores na Malásia. Ou então em Angola, Suriname, México, Austrália, Canadá, todos esses países ai, que ontem nem energia elétrica tinham, e hoje são potências globais. Dentro desse panorama tão amplo e abrangente, gostaria então de fazer um Top-5 dos melhores filmes já feitos nos seguintes continentes: América Latina, África, Ásia, Oceania e Rússia (antiga Atlântida, depois de ser redescoberta por Jaques Costeau). Não farei com a América do Norte e com as Zoropa, pois esses continentes possuem bons cinemas. É isso mesmo. O quê, a Rússia não é continente? Como é que se fala talk to the hand em russo? Tem algum leitor russo ai? O maluquinho do comercial da operadora de tv a cabo, o tal do Skavurska? Há, ele é apenas um ator careca se passando por russo? Ué, se ele pode fingir ser russo, por quê a Rússia não pode então ser continente, pombas? É grande pra caramba, tem um monte de terra, gelo e o escambau. E as russas, hein? Hein? HEIN?


OCEANIA
5- Pic-Nic na Montanha Misteriosa -Austrália
Obra-prima de Peter Weir, um filme sensível sobre um grupo de mulheres que se reúne para um piquinique numa montanha misteriosa, cheia de árvores falantes, elfos, hobbits e Golluns. O sucesso do filme inspiraria o diretor Neo-Zelandês-gordo Peter Jackson a filmar sua trilogia dos anéis, Senhor dos Anéis, na mesma montanha misteriosa. Pela primeira vez foi ouvida a famosa expressão de Gollum, "my precious", quando o bicho (é isso mesmo?) observa uma das meninas tomando banho numa cachoeira. Pervice das grandes, mas o mito nascia ali. Nenhum dos três filmes dos anéis de Jackson entrou nessa lista, uma pena.




4-Encantadora de Baleias - Nova Zelândia
Como o filme americano Free Willy foi um sucesso devastador na Nova Zelândia, e os espectadores do país ficaram putos da vida com a seqüência Free Willy 2, achando-a desrespeitosa com a baleia, o governo Neo-Zelandês resolveu (UEBA!) chutar a barraca e bancar uma seqüência por conta própria. Chamaram a famosa diretora australiana Olivia Newton-John (o que causou o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países) para comandar a produção. Infelizmente não conseguiram contratar o Gorila Keiko, astro do filme yankee, mas deram a sorte de conseguirem com Steven Spielberg a liberação do tubarão mecânico que ele utilizou para fazer o filme Tubarão. Como tubarão e baleia é tudo a mesma coisa, o resultado ficou perfeito, e o temperamento explosivo que Willy mostrou nesse filme (como na épica cena na qual ela devora a pobre Encantadora de baleias-mirim) acabou sendo entendido como uma mudança natural para a baleia, depois de ter pulado tão alto no primeiro filme. . Um clássico, desde já.

3-Mad Max 1- Austrália
Filme que lançou ao mundo o mito Mel Gibson, contou de maneira épica a vida do grande filósofo alemão Karl Marx. Soou polêmica a escolha da produção de tirar a letra R do nome no título, já que soava melhor foneticamente falando o título Mad Max do que Mad Marx (tentem ai em casa, é mais fácil mesmo). Essa pequena licença poética não tira em nada o brilho do filme, que mostra um devastado mundo pós-guerra de classes, com Karl e seu melhor amigo Engels (interpretado com maestria pela Tina Turner) liderando os sobreviventes numa épica luta pela sobrevivência. Importante, e combativo.



2-Mad- Max 2 - Austrália
O que era bom, ficou ainda melhor. Depois do desbunde que foi o primeiro Mad-Max, os produtores conseguirem trazer um filme ainda mais impactante. Mais voltado para a comédia do que para a aventura, mostra os amigos Marx e Engels (mais uma vez a excelente dobradinha Gibson-Turner) lidando com a chegada de um aventureiro parrudaço e ciumento, Ike Turner (interpretado pelo próprio), que chega alegando que a divisão de capitais também precisa passar necessariamente pelo campo amoroso, a famosa divisão extra-marital, o que gera um triângulo amoroso de proporções imprevisíveis. Agradabilíssima homenagem às comédias românticas da Classic Hollywood, ainda que alguns tenham criticado o tom do filme (totalmente diferente do primeiro) e a violência (Ike espanca Engels selvagemente durante o filme). Tonhos, é uma pérola linda, e combativa.



1- Crocodilo Dundee - Austrália
Filme-documentário vital, que mostra o maconheiro gente boa Paul Hogan narrando a épica luta pela sobrevivência dos crocodilos aborígenes no Outback australiano. Como o ambiente desértico o lugar não é nada favorável para esses répteis, e a concorrência com os Cangurus e Koalas selvagens não ajudando em nada, os pobres crocodilos estavam sendo dizimados. Com esse documentário brilhante, Hogan conseguiu atrair os olhares do mundo para o sofrimento dos crocodilos. O sucesso estrondoso do filme gerou uma continuação (o inferior Crocodilo Dundee 2, que mostrava a migração dos crocodilos para os EUA), e imitações questionáveis, como o fraquíssimo Marcha dos Pinguins (Morgan Freeman não chega aos pés de Hogan na narração, e os pinguins são menos importantes que os crocodilos). Maior filme da história da Oceania, sem dúvida, apesar da produção recente da Papua-Nova Guinea merecer atenção. E combativo.



ÁFRICA (notável a influência governamental na produção dos melhores filmes desse continente, um exemplo a ser seguido por todos).


5-Uma Aventura na África - Martinica
Em 1950, o governo da Martinica resolveu mostrar ao mundo toda a efervescência desse ex-colônia Germânica. Chamaram o único diretor do país, John Huston, e pediram para ele dar um call nas estrelas internacionais Katherine Hepburn e Humphrey Bogart para estrelarem esse belo libelo das savanas Martinicanas. Muitas rainhas, leões, e um toque perfeito de canibalismo fazem desse filme uma obra-prima do cinema de lá, que hoje infelizmente não possui a mesma força. Não é mais combativo.


4-Cleópatra -Egito
O governo egípcio estava chateado. Hollywood não dava a mínima para as lendas dos faraós, preferindo filmar épicos bíblicos e filmes longos e caros sobre a Segunda Guerra. Tristonhos e infelizes, resolveram chutar o pau da barraca, pegando a metade de todo o PIB do país (cinqüenta milhões de dólares na época, que hoje corresponderiam a 300 milhões) e colocando em prática um sonho: filmar a história da mais perva das dominatrixes, Cleopátra, a egípcia enxuta que mexeu a cabeça do tonho do Julio César (interpretado por um ainda jovem Ben Affleck) e virou faraona (é assim que se escreve?) por saber lidar com serpentes e o escambau. Chamaram a maior estrela egípcia da época, Elizabeth Taylor, e o milagre foi feito. Suntuoso, luxuoso, um arraso. As 16 horas de duração do filme em nada diminuem seu impacto ante as platéias da época, e as platéias de hoje, e as platéias de qualquer era, sempre em deleite ao assistirem o filme.

3-Congo -Congo
O Governo Congolês enfrentava um dilema pervo em 1995: tinham os mais belos gorilas do mundo, mas não tinham meios de divulga-los para o mundo. Chamaram então o escritor americano Michael Crichton e pediram que ele escrevesse um roteiro delicioso, um noir de rara classe, envolvendo mulheres fatais (a maior estrela congolesa viva, Laura Linney) e gorilas investigadores, que fumavam feito chaminés e davam murros na mesa. Nem Bogart teria feito melhor. O Gorila Keiko foi tão bem nesse filme que acabou sendo chamado para fazer duas belas produções yankees, Free Willy (filme favorito do Boça) e King-Kong, o remake. Delícia!

2-Epidemia - Zaire
O vírus Ebola estava dizimando a população do Zaire (que hoje em dia não chama mais Zaire, infelizmente). Enciumados com o sucesso da empreitada do rival Congo no filme que ficou ai em cima na terceira colocação, os Zairenses resolveram chutar também o pau da barraca e produzir um mega-filme sobre o perigo do vírus pervo. Dustin Hoffman, lenda Zairense, foi convocado para estrelar esse filme importantíssimo, interpretando um médico autista às voltas com o vírus pervo e o seu irmão boyzinho, yuppie e cientólogo, um clone do Tom Cruise mais jovem. O filme acabou sendo vital para o fim da ameaça do vírus naquele país, já que todas as pessoas que assistiam e que estavam contaminadas acabavam se curando depois da projeção. Disse Dustin Hoffman na época: “o filme é maravilhoso, e eu curei o vírus. Roots.”.

1- Hotel Ruanda - Ruanda
Filme que mostrou o genocídio dos judeus da perspectiva de um gerente de um hotel da capital de Ruanda, interpretado pelo astro internacional Don Cheadle. As mazelas do país foram expostas, traçando um belo paralelo com o sofrimento dos judeus na Primeira Guerra de Franz Ferdinand. Cheadle chegou a ligar para o Parlamento Alemão, com boas intenções de amizade, e foi bem recebido. Nas palavras da primeira-ministra Germânica, Margaret Tatcher: “Filmaço. Um êxito em termos de combatividade. Dank, Ruanda, dank“.




ÁSIA


5-O Tigre e o Dragão - China
Filme lindo, com muita gente voando e cenários belos, e neve, e mulher lutando.







4-O Clã das Adagas Voadoras- China
Filme lindo, com muita gente voando e cenários belos, e neve, e mulher lutando.









3-Kundun - Tibete (embora não tenha ainda sua independência reconhecida pelo governo Chinês)
Não é um filme lindo, não tem gente voando nem cenários belos, nem neve, e nem mulher lutando, mas é importantíssimo. Filme mais oriental do diretor italiano Martin Scorcese, conta com rara parrudagem a lenda do Dalai Lama, e dos Dalais Lamas que vieram antes dele, que se chamavam também Dalais Lamas e eram todos herdeiros de Buda. Brad Pitt foi contratado por Buda em pessoa para fazer o filme, e com belas técnicas de maquiagem e uma boa máquina de barbear, ficou carecote e mandou ver no semblante sereno e calmo do Dalai. Alguns criticaram a sua escolha, já que ele é americano e o Dalai Lama tibetano, mas ele disse na época do filme: “eu não sou tibetano, mas sou combativo”. Filme maravilhoso e karmático.



2-Gandhi - Índia
Dirigido pelo famoso diretor indiano Sir Richard Attenborough e interpretado com maestria pelo maior astro indiano Sir Ben Kingsley, mostra a luta e a vida do maior líder do mundo, Indira Gandhi, e seu manifesto pacífico de não-violência (uma redundância em termos) contra a opressão dos órgãos de imprensa britânicos, e seus ávidos papparazzis. Federico Fellini fez uma ponta, como um fotográfo boa vida, cheio de ginga e malandragem. A cena do funeral de Gandhi (morto numa perseguição de carros com os paparazzis num túnel de Calculta) teve inacreditáveis seis bilhões de figurantes, um recorde, já que superava em muito a população mundial da época. Importante, e combativo.



1-Lawrence da Arábia -Arábia
Clássico -épico -mundial- lindo. Enciumados com o sucesso arrasador de Cleópatra, dos vizinhos e rivais africanos, os egípcios, o governo Árabe resolveu trazer a verdade á tona, contando a história do maior faraó de todos, Lawrence da Arábia, que saiu de sua Arábia natal para mostrar para o povo do Egito como é que se fazia. A escolha de Peter O’Toole para interpretar o faráo não pegou legal, mas o sotaque britânico do ator encaixou como uma luva no tom do filme. Depois disso, o grande diretor Árabe Sir David Lean iria para o continente russo, onde filmaria outra obra-prima que estará logo aqui nesse post.



RÚSSIA
5-Anastácia - Rússia
Desenho lindaço, simpático e doce sobre a princesa perdida, Anastacia, que sobreviveu ao massacre bolchevique dos Romanov e foi viver incógnita nas selvas Amazônicas, onde aprendeu com os índios a pintar, desenhar em pedras, caçar com arco -e- flecha e fazer o ritual do acasalemento (o famoso "vamos fazer nenê" indígena, parrudagem da nossa terra de Alencar e Andrade). A Disney russa gastou milhões nesse filme, que mostrou que os soviéticos também podem fazer desenhos lindos, interessados e combativos.



4-Doutor Jivago - Rússia
O diretor árabe Sir David Lean foi para a Rússia em 1964, convidado pelos comunistas, para filmar um épico delicioso sobre o Doutor Jivago, símbolo da resistência monárquica no meio da revolução vermelha, um reconhecimento dos simpáticos comunas ao espírito de luta dos Romanov e asseclas. Omar Sharif, maior ator russo de todos os tempos, foi chamado para interpretar o médico bigodudo, e não decepcionou, entregando um desempenho saudável e impactante. Julie Christie mostrou voluptuosidade e cavalagem como a amante americana de Jivago, e Rod Steiger (favorito do Fundamentalista) voltou a mascar chicletes com categoria. Os 456 minutos do filme são puro desbunde, e combativos.


3-Caçada ao Outubro Vermelho - Rússia
Com o fim do comunismo, Boris Yeltsin (o Zeca Pagodinho russo) resolveu mostrar que o seu país tinha deixado de vez para trás o passado vermelho, filmando essa historia explosiva e impactante sobre a cruzada de um agente yankee (Alec Baldwin) contra os pervos da KGB. O clone de Sean Connery feito para o filme 007-From Russia With Love (que estará logo aqui na lista) foi reutilizado para esse filme, com rara galhardia e doçura. Yeltsin foi acusado de traição pelos russos, mas o filme se sustenta pela qualidade do seu roteiro, escrito pelo mítico escritor russo Tom Clancy (autor de Crime e Castigo e Anna Karenina, entre outros).


2- O Rei e Eu -Rússia
Maior musical russo de todos os tempos, mostra um hipotético futuro no qual a Rússia seria dominada por um exército de carecas pervos, ao invés dos Comunistas Camaradas de Lenin. Yul Brynner comanda todo o filme com seus passos de guarânia (dança típica da Rússia) e mostra pé-de-valsa ao dançar com a russinha coisa-boa Deborah Kerr. Palavras de Joseph Stalin sobre o filme: “Gostei. Carecas são trabalhadores incansáveis, e eu sou cabeludo. E combativo também. Cheiquir ”.


1-007-From Russia With Love - Rússia
Os comunistas estavam putos. Como os filmes ocidentais eram proibidos no país, o comércio de DVDs piratas no mercado negro estava avassalador na década de 60. A série 007 era um sucesso entre os russos, e o governo resolveu então chutar o pau da barraca. Vendeu umas ogivinhas nucleares para o Paquistão e, assim como fizeram os australianos com o Free Willy, filmaram a versão soviética do agente mais britânico de todos os tempos. O apuro foi tanto, que os cientistas russos conseguiram criar um clone perfeito do ator Sean Connery, eliminando logicamente o sotaque escocês. O clone era tão perfeito, que os russos acabariam o emprestando para o governo brasileiro realizar o filme 007 contra o Foguete da morte anos depois (como a série original estava com Roger Moore como protagonista, o governo brasileiro teve de se virar com o clone de Connery mesmo, mas felizmente ninguém notou a diferença). O alto custo do filme infelizmente acabou por jogar a U.R.S.S. na lama, e a produção do país só seria ressuscitada por Yeltsin no já citado Caçada ao Outubro Vermelho. Mas o clássico ficou, mais combativo do que nunca.



AMÉRICA LATINA


5-Buena Vista Social Clube - Cuba
Maior feito do diretor Cubano Wim Wenders, mostra com galhardia e docência as aventuras e desventuras de um bando de simpáticos velhinhos cubanos, que ao entrarem em contato com casulos alienígenas, acabam ficando com a força de jovens de 20 anos de idade, podendo até jogar basquete numa boa. Destaque para a grande atuação do paraguaio Don Ameche, de rara parrudagem.




4-Jamaica Abaixo de Zero -Jamaica
Quando Bob Marley morreu, a Jamaica ficou sem um símbolo para representar o país no exterior. O que fazer, se perguntaram os chefes do governo jamaicano? Ai, eles lembraram do sucesso do time de trenó nas Olimpíadas de Inverno de Los Angeles em 1984 e resolveram contar ao mundo a história do time, desassociando definitivamente a imagem do país de Marley. John Candy (in memorian) foi chamado pra dar uma liga como técnico dos esforçados Jamaicanos (pra quem não sabe, faz calor pra caramba na Jamaica, o que não ajudava em nada o time de trenó a treinar), e a atuação de Jimmy Cliff (não creditada) como o atleta viciado em maconha que se livra do vício pelo poder do amor foi merecedora do Oscar do Coadjuvante (não creditado), não sem justiça. A cena final, com todos os atletas e Candy sentados, curtindo a vitória na santa paz de Jah, até hoje é lembrada com carinho. Jammin.

3- Maria Cheia de Graça - Colômbia
Biografia da cantora colombiana Shakira, mostrando sua juventude e seu passado como mula de traficantes, tendo de levar drogas para os EUA no estômago, e sua redenção final como cantora lasciva de sucesso. Shakira afirmou em entrevistas que adorou o material do filme, os paralelos que a narrativa fez de sua história com a da Virgem Maria, mas que a atriz escolhida para interpretá-la, Catalina Sandino Moreno, deixava muito a desejar no quesito “popozão”, empalidecendo perante a retaguarda vantajosa de Shakira. A resposta de Catalina foi franca: “ habla con la mano, bunduda!”. Grande filme, um exemplo para as meninas colombianas, e de outros países também. O pessoal na Guiana Francesa adorou também, acharam o filme combativo.

2-Brazil - Brasil
Filme mais famoso do diretor gaúcho Terry Gilliam, mostra um hipotético futuro no qual o país se mostra entregue a uma ditadura opressiva de coronéis e soldados, com muita opressão e perseguição, além de lavagens cerebrais opressivas. Como o país acabava de sair de uma ditadura parecida, veio bem a calhar. Robert de Niro fez exigências dantescas para participar do filme, como ficar o tempo todo numa bolha semelhante a usada por John Travolta no filme do moleque da bolha, para evitar o calor tropical e a violência do país. Não adiantou: bandidos furaram a bolha e apavoraram o ator nova-iorquino. Daniel Filho queria aproveitar a passagem de De Niro no país para chama-lo para fazer o seu filme O Romance da Empregada, mas esses eventos desafortunados impediram Filho de concretizar seu sonho (embora De Niro tenha engatado um tórrido, ardente e combativo romance com Betty Faria, entendendo finalmente por quê Tieta não foi feita da costela de Adão). Mas o filme é um luxo de combativo.

1-007 contra o Foguete da Morte - Brasil
No auge da ditadura militar, os generais que comandavam o país a ferro e fogo tinham dois sonhos: produzir a bomba atômica tupiniquim e, seguindo o sucesso da iniciativa russa, filmar a versão tropical do agente mais britânico de todos os tempos, James Bond. A bomba atômica ficou pra depois, mas o filme acabou saindo, para o nosso orgulho. Pegaram emprestado o clone de Sean Connery criado pelos russos para fazer o 007-From Russia With Love (filme que estará em breve nesse post) , para se passar pelo Roger Moore, e o sucesso foi total, já que ninguém notou a diferença. O clone foi inteligentemente rebatizado de Saulo Conério, um nome de rara felicidade e tupinicagem. O enredo, com os argentinos construindo um foguete para enviar uma bomba atômica para o Rio de Janeiro, aniquilando todos os brasileiros, e com Bond tendo de rebolar para salvar os brasileiros, e no final dar um chute nos fundilhos de Evita Perón (que, embora morta faz tempo na época do filme, virou a vilã do filme, em nome do apelo segundo os generais), acabou sendo uma bela injeção de ânimo para todo o povo, que estava chateado com a eliminação da Copa de 78. O filme foi o último suspiro da ditadura, que acabaria anos depois, com o trágico suicídio de Getúlio Vargas. Mas o general Figuereido não deixou o evento passar em branco. Palavras dele sobre o filme: “adorei. Aquele Roger Moore é um safado. Se fosse eu, descia o porrete. “ Essa declaração controversa gerou especulações sobre a orientação sexual do general e sua inteligência também, já que o clone era obviamente de Sean Connery, e não de Roger Moore, mas tudo foi esquecido com o tempo, e o filme, de rara combatividade, virou o melhor filme latino-americano de todos os tempos.
Alright?

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Fomos ao cinema ver Três Vezes Amor

Fiquei pensando, pensando muito nisso, que talvez o Bill Clinton seja muito sexy, mas que eu, na minha cegueira republicana, mesmo eu não sendo republicano – porque, ora, nem norte-americano eu sou –, não consigo enxergá-lo, pena. Mas democratas são mesmo um tipo de gente peculiar, que, até na cama com a namorada, começa a se questionar se isso contribui em alguma coisa para a manutenção dos direitos civis ou para a promoção da igualdade racial na América. E fazem inclusive comédias românticas com o Bill Clinton de interesse romântico, afinal, Hollywood está tomada pelo partido. Morra, Di Caprio!

Bill Clinton: a garota certa no partido certo.

Mas esse Ryan Reynolds, que protagoniza Três Vezes Amor (Definitely, Maybe), que estreou sexta-feira última nos cinemas, daria um bom Holden Caulfield, se fosse mais novo e não tivesse feito Blade. Volta ao Apanhador, veja lá que o garoto tinha um e oitenta e cinco e que agia como os caras altos geralmente agem, sempre com medo de esbarrar nas coisas ou machucar as pessoas. Isso é fundamental na composição da personagem, essa gentileza desajeitada.

"Ai, Ryan, que Cole Porter, que nada: "I've Got a Crush on You" é do Gershwin, seu burraldo!"

Rachel Weisz – cara, o que eu acho da Rachel Weisz? essa mina é muito ambígua, às vezes até esquisita ela é, às vezes esplêndida, poxa, esplêndida – é uma das três vezes do título em português, que (novidade) se equivocou, porque deveria ser “Quatro Vezes Amor”, pois esqueceram do Bill Clinton, ou seja, do mais importante. Bill Clinton é a Inalcançável, o Ideal, do qual Ryan Reynolds acaba abrindo mão, para tentar ser feliz com substitutas sofríveis, como visto na vida real.

Mas a Rachel Weisz faz a personagem má, de quem a filha do Ryan Reynolds não gosta, a Abigail Breslin, a Pequena Miss Sunshine, dããããã, porque Rachel Weisz é tipo uma mulher alfa, que coloca a carreira em primeiro lugar e brinca com os homens; então, má, porque quer ser um homem, aquela perva.

E a Isla Fisher, que o Word aqui em casa insiste pra que eu escreve Islã Fisher, então tá, é a judia muçulmana bonita, esperta, inteligente e bacana, que por isso mesmo, apesar de verossimilmente construída, é claro que não existe, ora.

"Então..., desculpa, mas eu esqueci o seu nome de novo."

E a outra eu esqueci o nome, porque é pra gente esquecer o nome dela mesmo: é a sem-sal, sabe, aquele tipo que serve de figurante na vida da gente, porque precisa.

Ah, o filme é bom.

sábado, 26 de abril de 2008

Woody, blogueiro

“Somos todos coadjuvantes de Woody Allen.”

(As pessoas.)

"Tal como o capital, ele só busca a si mesmo."

(Crítico marxista sobre Woody Allen.)

O problema com Woody Allen, com seus filmes: ele é muito suburbano, isto é, muito judeu. Se eu fosse judeu, seria só judeu; nunca muito judeu. Mas se eu morasse em Nova York, também sentiria esse prazer exagerado em ser suburbano.

Poderosa Afrodite não é ruim. É um filme do Woody Allen com a Mira Sorvino. O que eu acho da Mira Sorvino? Faz uns três anos que eu tento achar alguma coisa dela, inclusive se eu acho ela bonita; mas, vou te dizer, tá difícil chegar a alguma conclusão.

Woody Allen é um cineasta tal que faz um coro trágico virar um número de stand-up comedy. Muito, muito suburbano.

(Se Woody Allen fizesse uma adaptação de Édipo Rei, seria assim: Édipo desistindo de levar adiante as investigações, e a peste dizimando Tebas inteira, só por causa da chantagem emocional de Jocasta. Não mostrariam as pessoas morrendo, e é óbvio que o Woody Allen seria o Édipo, que fugiria com a Jocasta pra, sei lá, a Ásia Menor, onde criariam algum tipo de bicho que se criava por lá. A Jocasta seria, hmm, [suspension of disbelief] a Monica Bellucci.)

A mulher do Poderosa Afrodite com o Woody Allen.

Existe uma virtude em Woody Allen que é tão evidente que transparece na própria forma de ele compor uma cena, o que é surpreendente, já que não se trata de uma virtude estética, mas moral, virtude-virtude: generosidade. Todo o mundo tem direito de ser como é. Mas o engraçado é que todo o mundo escolhe ser do jeito que mais convém à promoção do próprio Woody Allen, fim último e indireto de sua própria generosidade. Daí que todo filme dele seja só uma desculpa pra ele faturar alguém. Isto é, ele faz o que todo homem faz, só que, em vez de dissimular sua motivação primária para ser um artista (como Fellini, Bergman, Antonioni), ele a esteticiza.

Mulher com Woody Allen.

Todos são incrivelmente respeitosos com ele, cheios de dedos. Em Poderosa Afrodite, Helena Bonham-Carter, que faz o papel de Esposa da Woody Allen, diz assim: “Mr. Allen, aguarde aqui com nosso filho, enquanto eu vou buscar as fraldas: muitíssimo grata.” Afinal, é o Woody Allen.

As pessoas falando sem parar, Mira Sorvino apanhando do namorado, mas tudo bem, porque acontece, e é até bom que aconteça, pra ela acabar na cama com o Woody Allen, afinal foi pra isso que fizeram o filme. Tudo muito bonachão. Resisto a atribuir a razão disso ao fato de ele ser sagitariano.

Só sei que, depois de ver o filme, eu queria que as pessoas sofressem mais, queria ver alguém chorando, desesperado, porque terminou com o namorado, porque está com cárie, sabe, gente mais expressionista, com emoções mais “mulherzinha”, real life.

quinta-feira, 24 de abril de 2008



Max Brod traiu seu amigo e trouxe as metarmofoses à literatura. Como tal Brod prometera fazer aquilo que atemorizava Kafka: ser homem e botar fogo naqueles diários de bichinha. Franz morreu e Brod, tal como Pandora e sua curiosidade, liberou os escritos do amigo. Uma traição que nos trouxe algum ganho.





As mulheres traíram o homem. Prometeram protegê-lo, sobretudo de si mesmo. Mas sempre quando me aventuro na cozinha, reino selvagem e mítico, vejo que aquela comida sobre o fogão é de minha autoria e provalvelmente serei também o responsável pela limpeza da cozinha, além de lavar os pratos. Onde estaria aquela mulher que deveria me proteger daquelas louças sujas da cozinha? Minha amada já está na cama, ela nem sabe fritar um ovo e provalvelmente está usando aquele sutien bege.






NO SEX FOR YOU TODAY. Em letras garrafais em cada pedaço da cama. Se a década de sessenta trouxe a última e grande liberação feminina depois do espartilho: a queima dos sutiens. Preste atenção, as fotos que daqueles protestos da liberação feminina mostram sempre roupa íntima em chamas da cor bege. Não seria para menos, vc nunca imagina a modelo da Victoria Secret com o modelito bege, me desculpem os masoquistas. O bege é o anti-liberal, o contrário do proposto dos anos 60.






Hoje usa-se roupa de homem e é castradora, onde estará aquela mulher liberal e com pontos fortes femininos que me dê apoio? O sutien bege é presente, atrás da camisa de risca de giz. Ainda está lá segurando todas elas, paciência.



domingo, 20 de abril de 2008

Fomos ao cinema ver Apenas uma Vez

Eu não gosto dos americanos. E não, não tem nada a ver com Bush, imperialismo e a opressão dos povos. Os povos que tratem de arranjar trabalho, fazer MBA e ter um caso com a secretária. Eu não gosto dos americanos porque eles desistiram de ser americanos, andam com remorso e por isso se envolvem em ativismo. Todo o mundo é ativista nos EUA. Se a Penelope Cruz com aquele sotaque horrível dela quisesse se passar por nativa, em plena Times Square, era só levantar um cartaz dizendo “Salvem as baleias”, pra citar um hit, porque há opções mais underground, como “Planejamento familiar”.

Desistiram de ser americanos desde que acabou a Classic Hollywood, se você for ver. Aliás, quem mais sofreu com o ativismo foi o cinema. Como se tivéssemos passado da Ilíada diretamente para a desconstrução e fragmentaridade do livro daquele seu vizinho sobre o cara que corta as unhas do pé se questionando sobre Suicídio, Injustiça Social e Linguagem, tudo caixa alta no texto.

O ativismo no cinema é responsável pela exaltação dos losers. Só é legítimo, relevante, cool quem filma losers. Losers no shopping, losers assaltando bancos; losers no trabalho, mas principalmente desempregados, porque “é mais real”; e losers diante dos conflitos gerados pela diversidade étnico-cultural e pela intolerância, pra ganhar o Oscar.

* * *

Pior que a desgraça atravessou o oceano. Apenas uma Vez (Once, 2006) é esse filme independente, de baixo orçamento, que ecoa, no Velho Mundo, o declínio do norte-americano babaca orgulhoso de si, em favor do norte-americano babaca envergonhado de suas ações de americano babaca orgulhoso de si. Só que o filme é irlandês, então é como se os losers falassem de si mesmos como se fosse de outras pessoas, porque estão seguindo o modelo opressor-arrependido dos ianques de fazer cinema independente. Esquizofrênico.

Play it again, Sam. (And this time I really said it.)

Once é também uma desculpa para dois músicos fracassados, mas de bom coração, ganharem um Oscar for Best Achievement in Music Written for Motion Pictures, Original Song. Em resumo. Porque, desenvolvendo, seria um musical, um musical moderno, como as resenhas a respeito sugeriram, esquecendo talvez propositalmente que “musical moderno” é o mesmo que videoclipe.

E aqui começa a minha agonia. Porque clipe é clipe, e filme é filme. Quando o diretor-equilibrista-trapezista quer fazer filme e música, geralmente, ficam os dois medíocres. Câmera que abre, se afastando da personagem, que, toda suspirante, fica olhando pela janela, é coisa de clipe. Personagem caminhando pela rua, à noite e de roupão, enquanto canta canções de amor à Belle & Sebastian, também.

O triunfo da emoção – assim mesmo, “emoção”, sem especificar qual – inevitavelmente implica maquiagem borrada, vexame, vergonha. Tudo o que mexer com o seu coração, e não for arritmia ou sopro, não pode prestar. C’est avec les beaux sentimens qu’on fait de la mauvaise literature. Et de le mauvais quelque chose. Enfim, não precisa assistir ao filme. Baixe a trilha sonora. Markéta Irglová cantando “If You Want Me” contém em si todo o encanto dessa gente que compra geladeira à prestação, mas ama com um coração puro e sincero.


A sinopse? Dois cidadãos da União Européia, unidos pelo amor à música, apaixonam-se, infelizmente estando já comprometidos com a política econômica interna de seus respectivos países.

O triunfo dos suburbanos. É então um tanto belo ser suburbano, uma beleza singela, mas frágil, constantemente ameaçada pelo fim do seguro-desemprego ou pelo cerco da imigração. A classe média sempre tão auto-indulgente, se querendo a si mesma como é, como está, obrigando-nos a pagar para assistir a filmes que se passam no Terceiro Mundo, filmes exóticos, filmes com imigrantes e/ou refugiados do Leste Europeu. Porque são convenções atuais do cinema que: Paris não seja mais romântica, mas excludente, um “caldeirão de tensões étnico-culturais”; e que filmar a Europa é filmar o Leste Europeu. Como se o cinema, cheio de culpa, tivesse criado o Leste Europeu. E não criou?

Adorno venceu; o que, pra ele, por causa das condições determinadas pelo trabalho and all that stuff, equivale a perder. Mulherzinha, nunca se satisfaz.

(E para onde eles vão, carregam consigo o espírito singelo e a dignidade de seu filme. A música interrompendo Markéta Irglová resume tudo, e os românticos não o ignorarão.)

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Da maldade

Nada como uma tragédia suburbana envolvendo uma criança para despertar o que há de pior nas pessoas. Tipo pipoqueiros na frente da casa dos Nardoni. Onde há um pipoqueiro, há muita, mas muita maldade. Só pensar um pouco. Por exemplo, em portão de colégio, que, you know, blogueiro, foi a pior época da sua vida, quando os moleques viam em filme americano os atletas do high school fazendo cuecão atômico e achavam engraçado e vinham experimentar em você. Não conseguiam, mas assim mesmo doía muito. E filme americano com adolescentes: muita maldade com um pipoqueiro no cantinho da tela, e às vezes, só porque ele é muito dissimulado e não quer que descubram que foi ele quem matou os 6 bilhões de judeus lá, alguém derruba ele, em alguma perseguição qualquer, e voa pipoca pra tudo quanto é lado.

Marcello fracassa em ser um blogueiro sério. No banco de trás, Paparazzo apelando.

Mas tinha um cara no colégio, que o Camarada Progressista também conheceu, que contava pra gente, durante aula vaga, que namorava uma pipoqueira, que trabalhava em frente do Senai onde ele estudava. E ela era bem mais velha que ele, tinha uns trinta. Fico pensando nisso e, bom, se pode haver algo mais perverso e inimigo de todas as coisas boas no mundo que um pipoqueiro é uma pipoqueira. Todo o mundo sabe que, pior que o diabo, só a mulher dele, porque é ela que cozinha. As pessoas não dão a devida atenção a esse detalhe, porque geralmente não se acham “muito ligadas à comida”, como se de repente todo o mundo comesse restos e nem notasse que tem a cabeça de um rato no meio da salada, mas a perspectiva de que, quando chegar em casa, vão estar te esperando com uma refeição, além de muito nutritiva, deliciosa e quentinha, bom, só isso explica porque os homens são tão menos frustrados que as mulheres.

À parte a exposição da dinâmica doméstica do Príncipe das Trevas, hão de convir que essa história das pessoas estarem indie-guinadas acaba virando desculpa pra elas serem escroques sem culpa ou punição, como elas gostariam muito de ser todo o tempo. E elas se esquecem de que quem fura fila - como elas - pode no mesmo dia matar alguém, porque a linha do crime que leva do banal ao hediondo é a única e a mesma. Se não acredita em mim, vai ver Tropa de Elite, se ainda não viu. Porque se o tal do José Padilha dirigiu aquilo, pode esperar por coisa muito pior, e eu sei que você achava que eu ia dizer outra coisa, a-ham.

Investigações concluíram: matou porque era escorpiana.

As pessoas estão sensibilizadas, estão colocando fotos da menina Isabella no álbum de fotos do orkut e escrevendo "luto" embaixo, muito, muito esquisito. Até eu ligar a televisão, e um sociólogo me explicar que é uma forma da sociedade exorcizar o fantasma sempre iminente da barbárie, dando uma nota sentimental e familiar a um caso que só tem se divulgado em sua faceta de brutalidade. Porque os gregos, para lidar com o horror da existência, criaram a tragédia, enquanto a gente picha muro com dizeres de ódio e come pipoca. Mas eu sei que é tudo culpa do pipoqueiro. Nós não queremos você aqui, pipoqueiro!

1 ano e 1 dia e alguns tiros

Esse blog foi criado em 16/04/2007, faz um ano já; ontem assopramos velhinhas e bebemos champange numa comemoração de gala no Fiesp, tal a importância do momento. Todos vestidos a carater, na verdade parecendo pinguins amestrados, mas tudo bem.

Mantendo o tema, ressalto uma retrospectiva, daquela data tão importante pra comunidade blogueira, oras, nós, camaradas nascemos nesse dia. Por isso seria interessante um retrospecto, ou seja, continuar a labuta dos meus colegas para esta tão importante data.

Massacre na Virginia Tech: um coreano matou seus coleguinhas da faculdade e depois se suicidou. 33 mortos e 21 feridos.

Helicoptéro da PM cai e mata seis: acidente que provocou a morte de seis pessoas no Espírito Santo

Essas foram as primeiras notícias que consegui busca através do grão mestre Google daquele dia. Seria melhor ter a notícia "Camaradas criam blog Fomos ao cinema", espero que aconteça isso conforme os anos.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

16/04/2007 - 16/04/2008

Há 81 anos nascia, na Baviera, Joseph Alois Ratzinger, e, não fosse isso suficientemente auspicioso, também há 119, em Londres, Charles Spencer Chaplin Jr., apontando certamente a heterogeneidade congênita deste blog, que se quis tantas coisas, inclusive antro de venenosas, quando seus camaradas eram, muito pelo contrário, miguxas fofuxinhas.

E um balanço seria inevitável, quisesse eu acrescentar aos anteriores mais um gesto burocrático-gregário, que, amontoados, nos levaram até aqui. Somos, de qualquer forma, responsáveis pelos maiores desmazelos da inteligência desde que Xenofonte quis ele mesmo dar sua versão da história à vida de seu mestre Sócrates.

O blogueiro quando jovem.

Talvez se eu o mascarasse, dando-lhe características de normas do estilo, fosse possível validar a idéia de um balanço. Como se, usando de seu direito de discurso, sugerido pelos convidados unicamente para que dele muito cortesmente o aniversariante declinasse, este, ao contrário, começasse uma longa retrospectiva de sua vida, cheia de autocongratulações e trechos correspondentes aos maus bocados que passei. Com todo o mundo só querendo dançar, dançar, dançar.

O mundo só é tão ruim e as pessoas tão bregas, porque a maior parte do tempo – tipo, nos momentos realmente decisivos e tal – ninguém pensa pra fazer as coisas, apesar de alegarem exatamente o contrário por aí, a turma do “não se reprima”, que são justamente aqueles que mais se reprimem, e num sentido ruim. E por isso o cinema nacional, e hoje em dia maldizer o cinema nacional, não porque o cinema nacional já não dê mais motivo para isso, mas porque ficou démodé.

Ser do bem é um problema pra quem escreve, porque pra escrever bem tem que ser mau. E debochar. Debochar de velhinho cego de cadeira de rodas. Mas a gente é do bem. Eu sei, eu sei, quem, escrevendo, parece do mal, só parece, porque escrever é escrever, e ser é ser. Hmm. Só que às vezes, e o às vezes é o mais importante, porque o mais sincero, às vezes eu acho, eu sei que esse pessoal que não gosta de cinema nacional é malvadão mesmo. Mas não o tipo de malvadão que suja as mãos, mas que no máximo coloca o pé pra idoso tropeçar e, ai, que engraçado.

Ser mau.

Ser mau, debochar, não facilitar pro leitor, jamais escrever sob o efeito da novidade, tipo “nossa, que legal isso que eu acabei de descobrir”, sob pena de soar bocó. Mas soa bocó quem é bocó. Quem acha que ser malicioso é necessariamente fazer piada de sacanagem, apesar de que na maioria das vezes é isso mesmo.

Mas “ser mau, debochar, etc” equivale a escrever bem. E bate direitinho com o que eu li esses dias, que tem que ser gay pra escrever bem, mesmo que você não seja. E ser mau nem é ser mau; é mais, segundo a assepsia da moça que é “legal, não estou te dando mole”, ser politicamente incorreto, tirar a máscara e exorcizar o que vai por debaixo da peruca e do pó de arroz.

O leitor, uma alma sensível, é obviamente quem mais sofre, e diz “Ó céus, ignomínia, ignomínia!”, e caí desfalecido sobre o canapé. As menininhas do “ai, credo” também. Por sorte, não é este o caso. Porque a gente é do bem. Tanto que, quando eu penso no blogueiro malvadão que me faz rir, me vem a cara do Marco Maciel na cabeça, enquanto a gente é mais o Kassab abraçando o povo na inauguração do Expresso Tiradentes ou mandando algum descontente pro inferno. Muito coração, coração demais.

Pra ser mau: ser de direita, gay, rico, virginiano, morar em Porto Alegre e não, definitivamente não querer um mundo melhor. Ah, e trabalhar na Globo.

És o nosso estandarte; és tu, Fomos ao Cinema, eterno baluarte!

Hoje é o aniversário desse blog. Sabe aqueles bares do centro que se orgulham em ostentar na entrada placas com dizeres como "servimos você a mais de duzentos anos"? Sim, nós já estamos caminhando para isso. Lógico que não somos embriagantes como um bom uísque, ou gordurosos e suculentos como aquela porção de pastéizinhos, mas, pô, não deixa de ser algo realmente divertido. O blog deve-se muito mais aos esforços dos Camaradas Moderado e Fundamentalista, que vinham alimentando juntos a idéia de construírem um espaço para destacar suas visões sobre a vida, o mundo pop, jazz (alguém pelo menos tinha prometido, esperamos até hoje), quadrinhos, música e, olhem só, vejam vocês, cinema.


O olhar aguçado dos Camaradas, sempre observadores natos do cotidiano


Um dia, numa conversa de MSN numa daquelas noites tediosas e inúteis, os dois resolveram tirar as idéias do campo teórico e efetivamente colocá-las em prática, criando então o blog. Madrugada do dia 16 de Abril de 2007. Me mandaram um convite imediatamente (estava online no dia, não estava com sono, sabe como é), e eu aceitei. Com o tempo, os três foram seguindo caminhos bem distintos. O Moderado (quando ele posta, logicamente, o que necessita o alinhamento de todos os planetas e alguns satélites mais) é o cara cool, sofisticado, dândi, um verdadeiro amante profissional, o alfa que traz a galera pra pensar e refletir sobre a tropicalidade. Sim, vocês já pensaram sobre a nossa tropicalidade ultimamente? Vocês deveriam ler mais o Moderado, então. O Fundamentalista é o virtuose. O nosso Keith Moon. Não, ele não sai pelado atropelando motoristas por aí. Mas seu brilhantismo é notório. Alguém segura esse moleque! E eu, bom... É, eu estou aí também. Gostaria de mostrar para vocês como foi a conversa épica de MSN, na qual Moderado e Fundamentalista decidiram criar o blog. Eu roubei o histórico, e mostro pra vocês aqui. Foi assim:


Moderado entra online
E ai, vamos criar o blog?

Fundamentalista:
Vamos!

Moderado:
Qual vai ser o nome?

Fundamentalista:
Fomos ao.... Fomos ao...

Moderado:
Cinema?

Fundamentalista:
Pô, abalou Bangu! É isso ai, Fomos ao Cinema!

Moderado:
Abalou Bangu? Bom, mudando de assunto: e quanto aos nossos nicknames no blog? Iremos usar nossos nomes verdadeiros, ou alcunhas, como Teddy Boy Marino?

Fundamentalista:
Não, seremos os Camaradas, e eu serei o Fundamentalista.

Moderado
E eu o Moderado.

Fundamentalista
E o nosso amigo maleta lá, hein?

Moderado:
Ele vai ser o Progressista.

Fundamentalista
Legal! Tá decidido então.

Moderado
Valeu! E você reparou, que nós estávamos com os nicks que viriam a ser os nomes que escolhemos pro blog? Que coincidência, né?

Fundamentalista
Não reparei.

Moderado
Er...

Fundamentalista
(Desenho de um smiley tomando banho)

Moderado fica offline



E assim foi. Revelador, assim como quando Da Vinci desenhava sua Santa Ceia. Lindo mesmo. E para finalizar, deixem eu finalmente revelar o nome dos três Camaradas. Eu, Progressista, sou o



é o Fundamentalista. Finalmente, revelei o segredo do blog! Feliz Aniversário, Fomos ao Cinema!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

TETÉIA DA SEMANA: EPÍLOGO

Quarta-feira é dia de festa no blog, com o nosso primeiro aniversário. Sim, a festa vai ser de arromba, um verdadeiro rega-bofe de fazer essas festinhas do Amaury Jr. (simplesmente um luxo!) corarem de vergonha. Jet-Set é isso ai. Mas, deixa eu falar sério com vocês por um instante. Muda a tônica, Dj, diria o mito Sérgio Mallandro. Tomei uma decisão realmente dolorosa : no more Tetéia da Semana. Resolvi acabar com a sessão mais tradicional das Segundas-Feiras depois da Tela Quente.

A sessão, que estreiou exatamente uma semana depois do início do blog, com a cantora inglesa Lilly Allen ocupando o espaço que viria a ser compartilhado com outras 46 mulheres (foram 52 semanas de posts, mas a Lindsay Lohan ocupou 4 vezes o espaço no seu mês especial, em Junho), chega hoje ao seu derradeiro post. Tomei essa decisão por achar que a sessão já cumpriu o seu papel no blog. Nesse ano inteiro, pudemos construir um belo panorama das mulheres que provocam a nossa admiração por trazerem algo realmente válido e relevante para o cenário pop contemporâneo. Mulheres que trazem graça, inteligência e elegância para um mundo um tanto quanto aborrecido quanto esse que encaramos hoje em dia.

Nem sempre foram escolhas perfeitas (me arrependo amargamente de 4 delas, mas não confesso nem sobre tortura quais são), mas saibam que sempre tentamos entregar escolhas realmente interessantes para vocês. A última Tetéia, que será revelada no final desse post, foi escolhida por ser o modelo que me veio na mente quando revelei ao Camarada Fundamentalista a idéia da sessão, a mulher que personificou (uhm, dica grátis ai) o verdadeiro espírito que as Tetéias deveriam exalar, ainda que cada uma à sua maneira. A única cujo nome poderia ser escolhido como substituto para a sessão, e ainda sim todos pegariam a idéia das Tetéias no ato. Mas antes de revelar, gostaria de trazer um rápido olhar sobre as outras figuras, vivas ou mortas, que poderiam pleitear o da nossa última Tetéia, e que ocuparam ou ocupam um lugar marcante no imaginário pop, mas que ainda sim não puderam superar a nossa escolhida. É importante lembrar que a última Tetéia vai fugir da regra que marcou a sessão, já que não escolhíamos (salvas raríssimas exceções) por opção celebridades óbvias demais, como as Britneys da vida . E também preciso dizer que criaremos novas sessões para ocupar o lugar da Tetéia. Sem mais delongas, ai vai. No final do texto, a última tetéia.

Mortas


Marilyn Monroe
É uma das cinco personalidades mais importantes do Século XX, sem dúvida alguma, mas era toda sex appeal. Um sex appeal devastador e inigualável, mas tão e somente o sex appeal. Toda a sua substância era puramente física, todo o resto sendo apenas um oco constrangedor. Em nenhum momento vocês leram eu escrever a palavra “vulgar” aqui. Putz, agora deu pra ver. E ela deve muito para o Billy Wilder, que teve a idéia da mítica cena na calçada do metrô de Nova York no O Pecado Mora do Lado. E ao Hugh Heffner, logicamente. E ao Andy Warhol também? Ai não, ela não deve nada pro tcheco maluco. É outro ideal, importantíssimo, mas bem diferente.





Ingrid Bergman
Tinha toda a classe do mundo, dentro e fora das telas, e protagonizou a história de amor mais importante do cinema, mas não tem o “star power” da nossa escolhida. O Yul Brynner disse uma vez que ela era “forte que nem um cavalo”. Que careca desbocado!







Grace Kelly
O Mika e o mundo inteiro concordam que ela é uma unanimidade. Ouso dizer que de todas nessa lista, ela seria a que mais próximo poderia ter chegado da nossa escolhida. Mas traiu o mundo pop ao ir morar com o príncipe mala em Mônaco. Deu um belo talk to the hand para todos os seus fãs. Isso não se faz!







Greta Garbo
Um mito, mas por demais auto-centrada para poder merecer o posto da nossa Tetéia. Humildade (logicamente sem exageros) também é sinal de classe. E também era muito mistério pro gosto do pobre. O que tinha de ficar se escondendo pelos cantos, hein? Feio, bem feio.





Vivas, mas nem tanto (ups!)





Sophia Loren
Um nome fortíssimo, mas que, pelo menos a mim, sempre soará como sendo a Monica Bellucci da sua era. Obviamente mais talentosa, mas que ocupava um papel (imerecidamente) limitado dentro do contexto de sua época.





Brigitte Bardot
Maleta sem alça. Ver ela dando vexames e sendo presa em nome de causas ambientais não é exatamente o que eu chamo de “discrição”. E foi casada com o sujeito mais vulgar do mundo, Roger Vadim. Ela, a Jane Fonda e aCatherine Deneuve seriam eliminadas automaticamente somente por terem dado danda trela pra esse sujeito (patético vê-lãs de mãos dadas no enterro do cidadão, anos atrás).





Alive and Kicking (vivaças)


Sharon Stone
“A minha carreira por uma cruzada de pernas”. Como muitos tonhos pensariam nela sem hesitar como maior tetéia de todas, tive de incluí-la aqui. Sadismo puro (opa, isso é com ela mesmo, vide o inclassificável Instinto Selvagem 2).





Britney Spears
É a celebridade viva mais famosa do mundo. Não sou eu que digo isso, é o Google, que sempre a declara como campeã absoluta de buscas no site. Se houvesse uma ‘Tetéia da Semana especial- starletes de manicômio”, quem sabe. Ela e a Frances Farmer, juntinhas. Seria lindo.





Scarlett Johansson
Os blogs amam ela. Tem um baita apelo, está por todas as partes, mas não convenceu realmente como atriz. Na única vez que encaixou com perfeição num papel, no belo filme Encontros e Desencontros, interpretou uma garota mais vulnerável e menos irritadiça, e nunca mais repetiu uma escolha parecida, sempre optando por interpretar as femme fatales que claramente não passam nem perto da sua real personalidade. Você não é devoradora de homens não, Scarlett!


Natalie Portman
Pra mim, sem dúvida a maior Tetéia viva, nunca foi para a sessão apenas por ser uma escolha dolorosamente óbvia. Foi seriamente considerada quando pensamos em fazer a última com uma celebridade ainda viva (o que sempre foi feito na sessão,), mas foi descartada quando decidimos quebrar a regra para fazer uma justiça poética. Mas fica aqui a nossa lembrança, uma pequena homenagem para ela, um prêmio de consolação por ter chegado tão perto. É como dizia a músiquinha: I can’t take my eeeeeyyyyyyeeeeeeessssss of. you!


Bom, é chegada a hora então. Rufem os tambores. Preparem os agogôs. Liguem os amplificadores. Aqui vai, a última Tetéia da Semana do Fomos ao Cinema, com direito ao título em cima e tudo, sabe como é, tradição é tradição.

TETÉIA DA SEMANA

Audrey Hepburn
Não poderia ser outra. Era ela que eu tinha em mente, quando revelei ao estimado Fundamentalista a idéia da sessão. Por isso, nada mais justo que ela seja eleita a última Tetéia da Semana. Hepburn foi a personificação da classe e elegância em todos os aspectos de sua vida. Hoje é o maior ícone fashion, tendo sua imagem e estilo usados à exaustão por estilistas e grifes de todo o mundo. Foi uma atriz extremamente talentosa, indicada cinco vezes ao Oscar (ganhou o prêmio na sua primeira indicação, pelo filme A Princesa e o Plebeu). Para se ter uma idéia, ela fez 23 filmes em toda a sua carreira apenas, o que confere um índice altíssimo de indicações. Sua conduta na vida pessoal refletia toda a classe que mostrava nos filmes, algo raro entre as estrelas de qualquer era. Nascida em Bruxelas, filha de um banqueiro inglês e de mãe holandesa, Audrey era ainda adolescente quando explodiu a Segunda Guerra Mundial. Sem hesitar, alistou-se como enfermeira voluntária num hospital na Holanda, aonde morava com a mãe.

Sim, vejam só o paradoxo, enquanto um falastrão como o John Wayne ficou bem longe do conflito, recusando-se covardemente a se alistar, Audrey, que talvez seja o maior símbolo da famosa suavidade feminina, não hesitou em ajudar as pessoas num momento horrendamente crítico, mesmo lhe custando ter de presenciar todo tipo de atrocidades. Não quis fazer o filme O Diário de Anne Frank por culpa de todas as memórias horrendas que o filme poderia trazer de volta (ela seria a escolha natural, já que viveu de perto a guerra na Holanda). Casou-se duas vezes, com os dois casamentos durando curiosamente o mesmo tempo (14 anos cada um), e sempre mostrando em entrevistas um profundo pesar pelo fim dos dois, culpando-se de maneira compulsiva por não ter conseguido levá-los até o fim. Os 23 filmes que ela fez, um número baixíssimo, devem-se às tentativas dela de passar tempo com sua família, principalmente no segundo, quando chegou a ficar quase uma década sem atuar Era a primeira escolha para o papel da mãe no Exorcista, mas somente faria o filme se ele fosse filmado em Roma, aonde morava com os filhos, e o papel acabou indo para a Ellen Bursthyn. Não quis se casar mais depois do fim do segundo, em respeito aos seus filhos e ao seu ex-marido também, atitude de rara, olhem só, veja, vocês, rara classe.

Tornou-se embaixadora da Unicef para países da África e América Latina nos anos 80, e ao contrário das Angelinas Jolies da vida, que levam legiões de repórteres e adotam filhos a torto e a direito por pura propaganda, sempre adotou um ativismo bem mais discreto e eficiente também, efetivamente viajando para nações carentes e alertando o mundo sobre os problemas existentes. Uma história exemplifica bem o que ela representava. Seu último filme foi o Além da Eternidade, um filme que Spielberg fez no final dos anos 80 com o Richard Dreyfuss. Ela interpretou um anjo, que recebia o personagem de Dreyfuss no céu, naquela que é disparada a melhor cena daquele filme (que era bem fraquinho, um dos raros filmes insípidos de Spielberg). Quando Spielberg foi escalar o elenco, na hora de decidir quem interpretaria o anjo ele olhou para a produção e os atores, e no mesmo segundo disse: “eu só consigo pensar em uma pessoa: Audrey Hepburn”. Então, ele conseguiu convecê-la a sair de um retiro que já durava oito anos dos filmes para fazer esse último papel. Quatro anos depois, Audrey morreria de câncer. A classe ficou, mais forte do que nunca. E podemos dizer que, finalmente, a Tetéia da Semana está em casa. Que final singelo.