sábado, 29 de novembro de 2008

Elementos para uma História do High-five

[Prólogo à História do High-five entre os Povos do Ocidente, circa este sábado, à tarde.]

Dentre tantos que já pensaram em escrever sobre tantos assuntos que há, jamais houve quem se interessasse por escrever uma história do High-five, tendo eu pesquisado muito e nada encontrado, o que muito me surpreendeu, se não chocou de fato. Porque o High-five é coisa que precede em valor e importância a muitas outras a respeito das quais, no entanto, muitos livros já foram escritos por homens nobres. Foi pensando nisso que decidi escrever esta história do High-five entre os povos do Ocidente porque, se não há livros, não se poderá ler a respeito de assunto algum, seja lá como for. E porque grandes homens praticaram este High-five em momentos que agora e sempre serão lembrados pelo benefício que trouxeram aos homens, uma história do High-five é a história dos homens que o fizeram para que sem o High-five o mundo não afundasse em discórdia e mexerico. Mesmo havendo quem torcesse o High-five e dele fizesse veículo da injustiça e da opressão, porque o que é bom foi feito mal para que o mal fosse muito pior do que é e se mostrasse sumamente mau, como as escrituras dizem. Mas o High-five, todos o sempre souberam desde que há na terra homens, é paz, justiça, amor, fraternidade, união, igualdade, dancinha, liberdade, e porque é tudo isso é que resolvi escrever e assim garantir que jamais outra vez o High-five seja usurpado pelos homens ímpios que há aos montes.

E para que esta história do High-five seja devidamente composta, achei por bem visitar todos os locais onde o High-five foi feito em momentos decisivos, conforme me fosse possível, e quando não, procurei documentos e testemunhos de outros que porventura testificassem quem e por que fez o High-five em qualquer circunstância que me parecesse importante que o tivessem feito, e dessa maneira conferir por mim mesmo a veracidade do High-five. E é nesse grande espírito que é o do High-five que dou fé de que o que aqui vai escrito não é só verdade, como também não mente, e se o faz, é por engano meu; e por isso peço que quem o note o corrija, porque isto me será bem, e não mal, para que o High-five seja conhecido como deve ser, não só aqui, mas em toda a parte em que é feito, e mesmo onde não o é, para que assim passe a ser, e faça o seu bem conforme é.

***


Também o High-five pode ser vítima da institucionalização, esfacelando-se seu espírito de celebração democrático e fraterno. A alegoria imperial nazifascista, tirada diretamente à mente do Führer, sabidamente fascinado pela Antiguidade Clássica, apropriou-se do já apropriado High-five romano. O nazifascismo só se beneficiou em sua mística com o ancestral apelo do cumprimento, cuja origem é incerta, remontando à Palestina abraâmica.


Churchill era adepto do hoje ultrapassado High-two, de natureza aristocrática (note-se que não há contato físico). Não podia imaginar ele que o High-two seria descaracterizado justamente pelo movimento hippie. Imagem oportuna para lembrar que o estabelecimento do High-five contemporaneamente não se fez sem a concorrência de um sem-número de gestos a que, embora exercendo perfeitamente seu papel comunicativo, falta a energia e riqueza simbólica do que se tornaria uma postura face à vida, transcendendo o mero cumprimento.


A recuperação do pequeno Timmie sem dúvida alguma não seria possível sem o suporte terapêutico do High-five, como a comunidade médica vem experimentando com sucesso cada vez maior entre os mais diversos pacientes.

Nesta ilustração extraída de um manual de medicina, ensina-se como fazer o High-five corretamente, de modo a não lesionar qualquer músculo ou prejudicar a coluna, obtendo um efeito eufórico pleno.

A grande influência do High-five sobre a cultura pop. Neste episódio de Seinfeld o High-five é recontextualizado e apresentado como sinal de parvoíce, imbelicidade, inépcia, obtusidade. Era a consagração do personagem David Puddy, intepretado por Patrick Warburton. Nada mais afinado com o espírito democrático e aberto do High-five que a sátira social inteligente.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mallu Magalhães e Marcelo Camelo - Uma Farsa em dois atos

Folsom Prison Blues

Ato Um: Samba a Dois

Mallu Magalhães chega em casa. Marcelo Camelo está sentado no sofá, ouvindo um disco velho do Weezer no último volume. Mallu não reconhece a banda, mas nota a sonoridade pesada e as melodias babaquentas. Curiosa, resolve perguntar:

Mallu Magalhães: -Ouvindo rockinho, hein, amor? E a sua procura pelas raízes da música popular brasileira? Achei que você estivesse em outra.

Marcelo Camelo: -Faço o melhor do que sou capaz, só para viver em paz

M.M: -Essa capinha azul... nossa, é o blue album, do Weezer! Quando esse disco saiu, eu tinha dois anos de idade, né? Eu realmente estou estranhando, achei que você tivesse amadurecido essa coisa emepebista dentro de si, que tivesse deixado a sua fase ska-roqueira no passado, mas pelo jeito, está tendo um ataque de nostalgia, né?

M.C.: -O mal vai ter fim, e no final assim calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim.

M.M: -Ah? Bebeu de novo, amor? Se o meu pai souber... já foi difícil convencer ele que seria uma boa idéia namorar um barbudão com o dobro da minha idade e sem muito gosto para banhos e outras ferramentas de higiene pessoal, mas isso ainda... Olha, eu sei que o seu álbum solo está sendo malhado, o meu elogiado e o do Amarante com o cara dos Strokes também, mas isso não é motivo para desespero. Não é porque você se enfiou nessa persona "compositor quietamente angustiado das bossas-ressaquentas-contemporãneas" que significa que está num beco sem saída. Entende?

M.C.: -Dá-me luz, ó Deus do tempo, dá-me luz.

M.M. -Eu estou te entediando com essa conversa, né? Eu sei que não sou muito madura. Mas olha, se você quiser, eu posso fazer uns desenhos nossos! É, seria legal, desenhar eu e você barbudos, com pêlos em baixo dos braços, essas coisas que fazem a sua cabeça! O que você acha?

M.C.: -Tiro sarro só pra ver se eu consigo despertar o seu amor. Deixa estar.

M.M.: -Ah, eu sabia, amor! Você estava apenas de brinks! Olha, deixa eu pegar o meu violãozinho, você ai com o seu, ai você desliga esse disco feio, que nós vamos compor juntinhos! Já tenho um teminha, mesmo sabendo que você não gosta de compor em inglês, seria algo como "My Beard Love"! O que você acha da idéia?

M.C.: -Eu que nunca amei ninguém, pude, então, enfim, amar! Vai!

M.M.: -Está me mandando embora, môr? Quer saber de uma coisa? Cansei! Fica com a sua melancolia roqueira, que eu vou embora! Fui!


É de lágrima



Ato 2: Tchubaruba

Marcelo Camelo está sentado na varanda de casa, esperando notícias. Enfim, depois de uma espera angustiante, o telefone toca.

Marcelo Camelo: -Olá, amor! Desculpe pelo meu comportamento naquele dia, estava de pá virada. Olha, eu adoraria passar ai na sua casa, se você e os seus pais não se importassem, logicamente. E ai, posso?

Mallu Magalhães: -If you come over i will say tchubaruba

M.C.: -Ok, já entendi, você está se vingando de mim. Isso não é uma atitude madura. Sei que você tem apenas 16 anos, mas espero ensinar você sobre certos aspectos no seu comportamento que denotam uma clara e sensível falha emocional. Vamos crescer juntos?

M.M.: -Well i have to try again. Say papapapapaaaa, for you to understand.

M.C.: -Ok, eu estou bem hoje. Estou muito paciente, com um astral muito bom. Por isso, sinto que tenho toda a neutralidade e calma para poder voltar a dizer que, sim, estou muito incomodado com esse seu comportamento. Nós não podemos responder a comportamentos errõneos daqueles que amamos com uma sublimação tão desproposital. Entende?

M.M.: Old, old sissy, tries, tries, tries, i know he can't.

M.C.: -OK, agora chega! Já deu, mina! Eu era um Los Hermanos, eu apanhei do Chorão, mas eu sou macho! Se o seu pai não te educou, é a minha vez, moleca! Respeite a minha barba! Fala comigo, MORENA! Fala comigo! Diz pra mim, diz! Moleca malvada! Sem criancices, se não faço contigo o que o Dado fez com a Luana!

M.M: -Uhm...Me tá subindo uma coragem... levantar minha bandeira, de tão simples tecelagem.

M.C.: -TALK TO THE HAND!


Dromedário cala. Pena.

Obs: Esse texto é dedicado aos proletariados do sul. Viva o Rio Grande. Viva.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Educativo, apenas:

Mas deixa eu me mostrar antes que as festas venham a me constranger a ser bonzinho, abandonar o estilo arrevesado e passar a escrever como jornalista, isto é, murchinho e acessível, com listas de lugares aonde você pode ir comprar os ingredientes pra uma ceia de Natal bem baratinha e gostosa.

O Word é tão inteligente que sabe o que quer dizer “capitulo”. Tanto que quando eu, que sou bem mais simplesinho que o programa, quero dizer “capítulo”, mas me esqueço de acentuar a proparoxítona, ele fica quietinho, imaginando que eu na verdade quisesse dizer que capitulei. E capitulei mesmo.

A seguir, cenas do próximo capítulo:

Em que tento lhes explicar por que Igor Stravinsky é absolutamente necessário para entender quem somos.



Aqui temos o primeiro link (ah, os precedentes que abro) do YouTube deste blog (porque aprecio pioneirismos), sob protestos apaixonados de todos quantos sempre nos viram como um blog arte, praticamente artesanal e resistente a modinhas, com nojo de Orkut e tudo. Mas descobri o prazer de ver concertos e balés pelo YouTube. E o link é necessário e justificável, uma vez que nenhum de vocês, saudáveis e filistinos, sentirá o mínimo interesse por ver um balé que inaugurou a música moderna, sabe, David Bowie, pós-punk, Britpop.

Trata-se da tentativa pelo The Joffrey Ballet de reconstituir a estréia da Sagração, com coreografia de Nijinsky e cenários de Stravinsky.

A Sagração da Primavera é a música da catástrofe que no ano seguinte se iniciaria com a Primeira Guerra Mundial e que até hoje não terminou, porque finalmente compreendemos, graças a Stravinsky e ao século XX, que a civilização é um adiamento cada vez menos eficaz e convincente de um fim prometido desde o início.

O balé de Stravinsky é a imagem exata do legado do século XX à história subseqüente. A saber, a consciência da catástrofe e um sentido histórico que não é senão uma escatologia. Já não podemos ignorar que sempre estivemos e que sempre estaremos a caminho do desastre. Não é pessimismo, contudo. Pessimista seria dizer que as coisas já foram melhores. É necessário dar ouvidos a Benjamin e rejeitar progresso e decadência, conceitos que se implicam. O que existe é a miséria na qual temos vivido muito bem. Mas que ainda é miséria. E a ruína completa é sempre iminente.

Sensibilidade moderna, de que todo artista deve ser dotado para de fato ser um artista, é isso. E por isso todo político honesto, por mais inteligente que fosse, seria burro: ele quer mudar o mundo, ele acha que pode. Que é só uma hipótese o tempo verbal empregado deixa claro.

Mas não existe redenção. Neste ponto, discordo de Benjamin. Redenção é algo anistórico. Significaria, de fato, o tão falado fim da história. Jesus descendo em glória com seus anjos para julgar a humanidade.

Aliás, o Richard Dawkins que me ler certamente me lançará em rosto o inconfessado estofo cristão dessas considerações. XP



E aos quarenta e cinco do segundo tempo, enfim a beleza. Não, não Hilary Hahn.

Aqui, puro impressionismo meu. Em seu Concerto para violino #1, Prokofiev manifesta o embate entre a emoção intelectualizada, tipicamente moderna, e o arrebatamento senão pela retomada da tradição melódica popular, freqüentemente folclórica.

O segundo movimento disseca essa tradição, cuja melodia é mutilada, servindo suas partes a um procedimento comum aos modernos. Trata-se de destacar o detalhe e torná-lo maior que o todo, provocando o efeito do grotesco recorrente nas obras. Operação que é responsável pelo caráter intelectual da poética moderna. Tanto que a concessão ao belo clássico, o belo por excelência, ocorre apenas a custo de uma elaboração que o argumente. Na peça de Prokofiev surge senão aos dois minutos do último movimento, sob muitas ressalvas. Daí esta definição: É moderno tudo que se veja obrigado a justificar a beleza.

Mais um pouco de arte, agora:


Aqui temos um palhaço fumando num café. É um quadro de Hopper de um palhaço fumando num café. Próximo slide.


Sim. Podemos ver que Yeats tinha mesmo, além do nome, cara de literato. Um homem com essa fisionomia certamente haveria de consolar velhotas com poemas imortais.




Por fim, Vanessa Carlton ao vivo, “A Thousand Miles”, que é absolutamente emocionante, absolutamente apaixonante.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O que ando lendo - Um pouco de quadrinhos

Há tempos que não falo de quadrinhos nesse espaço. Lembro de promessas não cumpridas, resenhas fracassadas, enfim, todos meus projetos de tornar este blog talvez algo que se comprometesse mais com o universo da arte sequencial.

Deixando as mágoas pessoais de lado, consegui, depois de muito esforço, escolher alguns
quadrinhos bem curiosos que ando lendo. Algo de bom gosto, na pior, pelo menos, meu gosto.

Planetary - De Warren Ellis e John Cassaday
Imagine um quadrinho onde os protagonista estão a procura da história secreta do mundo, essa busca é realizada por seres com algumas habilidades sobre-humanas e tais seres, no decorrer da saga, se deparam com situações que remetem a vários elementos da cultura pop do século vinte: de personagens de histórias pulps, teorias de física surreais até personagens bem conhecidos. Inclusive, os vilões da trama, são inspirados no Quarteto Fantástico.

Apresentados os clichês e um pouco da trama pode-se imediatamente pensar que dessa história não se tirará muita coisa, nada muito interessante. Pelo contrário, Ellis é competente no andamento da narrativa: cada elemento da grande trama é apresentando cuidadosamente, lembra um jogo de xadrez onde o embate final dos protagonistas contra os Quatros(os personagens inspirados no Quarteto que são os grandes vilões) é, num dado momento, eminente, e como tal, anucia-se como grande motor do enredo e o desfecho da obra.

Planetary foi publicado por duas editoras no Brasil: a Devir publicou dois encadernados que ainda estão em circulação e abrange os 12 primeiros números. O resto do material foi publicado pela Pixel na sua revista mensal Pixel Magazine até a número 14 da mesma revista.

DMZ - De Brian Wood e Ricardo Burchielli
A Colômbia enfrenta uma guerra civil; as Farcs e o governo vigente travam uma batalha espaço por espaço, uma batalha minuciosa pelo território colombiano e o mais importante nele: os civis que tentam levar um vida normal em meio ao caos da situação bélica.

Agora vamos aumentar esse exemplo; transportando uma guerra civil para o coração do Estados Unidos da América e a Ilha de Manhattan como uma zona desmilitarizada, palco das ações da trama. Temos de um lado os exércitos do Estados Unidos; de outro, os Exércitos Livres, uma milícia que funciona como uma idéia e não apresenta um centro passível de ser aniquilado pelo exército americano, contudo o avanço da milícia foi barrada em New Jersey. No centro desse impasse temos uma ilha de Manhattan habitada por 400.000 pessoas que ficaram depois da evacuação da ilha.

Matthew Roth, aspirante a jornalista, se depara com esse universo caótico e devido a eventos acidentais será a fonte de notícias para aqueles que ainda são americanos. O autor, inclusive, trabalha muito bem com o cotidiano das pessoas que tentam sobreviver em DMZ; um ponto forte da obra: ao mesmo tempo que somos apresentados a lugares que conhecemos(pelo menos em fotos) completamente modificados, a civilização yankee que conhecemos modificada pela guerra parecendo um terra de ninguém de fazer inveja a muitos filmes apocalípticos; ele traça a evolução do próprio protagonista durante o percurso, pois ele é obrigado a tomar decisões éticas e morais muito difíceis para sobreviver e continuar escrevendo as notícias sobre DMZ.

DMZ é publicado pela Pixel na Revista Pixel Media.

Y: The Last Man - De Brian K. Vaughan e Pia Guerra
Os seres com cromossomo Y foram exterminadas da face da Terra. Além de quase 50% da população humana estar extinta, muitos cargos e funções vitais para a sobrevivência da humanidade eram redutos quase exclusivo dos homens. Contudo, e para infelicidade de algumas mulheres, sobrou um ser do sexo masculinio: Yorick Brown. Na verdade dois, ele e seu macaco de estimação Ampersand.

Por enquanto, pelo menos o que foi publicado pela Pixel na sua pérola Pixel Media, temos Yorrick, auxiliado pela única agente mulher da Culper Ring afim de tornar possível a reabitação dos homens na Terra enquanto é perseguido pelas amazonas(sim, elas tiraram um dos seios) e também por outras radicais(que permanecem com os gêmeos intactos).

Uma conclusão, se possível.
Além do espaço de publicação comum, pelo menos aqui, esses quadrinhos compartilham um mesmo universo de referências; trabalhando com elementos da cultura pop de maneira coesa. Não só colocando referência atuais como construindo outras através desse processo. Os autores são pessoas bastante modernosas, inclusive eles tem blogs pessoais e até, pasmem, twitter. Quem sabe após dar um olhada, nem que seja via pdf ou jpeg nesses quadrinhos, quem sabe se não vai encher o saco dos autores com perguntas específicas sobre episódios particulares? Isso me lembra outra referência e uma outra história em quadrinhos, mas esta fica para outro post.

Um pouco mais, talvez?

sábado, 8 de novembro de 2008

Barack Obama: Discurso da vitória

Discurso da vitória do senador Barack Obama, proferido esta semana, em Chicago, Illinois.

Neste fim de semana, esta nação [This nation] fez uma de suas mais importantes escolhas. Tinha diante de si a tarefa de dizer que tipo de país é este. A tarefa de decidir, de uma vez por todas, que tipo de país quer ser. E esta escolha, que definirá não só o futuro deste povo, mas o futuro de todos os povos, esta escolha foi feita. E como me alegro em dizer que não poderia ter sido mais sensata nem mais brilhante.

"High Schooool..."

High School Musical 3 – Ano da Formatura bateu Jogos Mortais V nas bilheterias. Quando o primeiro episódio de Jogos Mortais foi lançado, em 2004, creio que todos se lembram do tamanho da comoção que causou. Naquela época, era impensável o que hoje testemunhamos: que a esperança e o otimismo de High School Musical levasse mais pessoas ao cinema que a desesperança e o pessismismo de Jogos Mortais.

Que a vontade de mudar [change] nossas vidas triunfasse sobre nossa culpa e nosso medo. Que a doce mensagem de que devemos ser nós mesmos e de que, só assim, seremos felizes fosse, afinal, mais eloqüente que todos os nossos acusadores, que diziam que não éramos capazes de ser melhores. Que não poderíamos mudar [change].

Porque o sucesso da série Jogos Mortais é senão mais uma prova de que este país era prisioneiro da culpa e do medo. De que estávamos tão confusos e desesperados a ponto de aceitar a ajuda de qualquer um. De que simplesmente não conseguíamos nos libertar dos erros que havíamos cometido. Jigsaw representa nossa enorme culpa e a necessidade que tínhamos de nos punir. Estávamos envergonhados de ser quem éramos. Estávamos envergonhados de ser americanos.

Mas se erramos, estamos arrependidos. Se nos enganamos, finalmente o reconhecemos. Porque somos americanos. Somos um povo que, por mais enganos que tenha cometido, jamais perdeu de vista a liberdade e a justiça como objetivos. E hoje finalmente nos reconciliamos com estes valores. Deixamos a culpa e o lamento para trás. É hora de agir. É hora de mudar [change] as coisas. Porque esse é o tipo de país que somos, um lugar onde ainda existe perdão para todos.

Jigsaw, não precisamos mais de suas lições. Não somos mais as pessoas que um dia precisaram de suas lições. Jigsaw, dispensamos seus métodos, sua tortura e seu moralismo. Esta nação tem uma nova consciência e, portanto, novos professores. Finalmente percebemos que não é por violência e coação que corrigiremos nossas falhas e superaremos nossas limitações. Não, a única maneira de conquistarmos tudo aquilo que sempre sonhamos é ouvir a mensagem de High School Musical.

Troy, Gabriella, Sharpay, Ryan e Chad representam a América que decidimos ser quando fomos ao cinema ver High School Musical 3 – Ano da Formatura. Uma América em que as diferenças já não podem mais nos separar. Uma América em que os sonhos são respeitados e realizados. De fato, uma América que é feita justamente destes sonhos. A única América que sempre existiu.

Minhas filhas Sasha e Malia são fãs de High School Musical. Um dia, quando elas assistiam ao filme pela décima vez – eu tinha de colocar o DVD para elas, por isso sei que foram dez vezes, eu contei –, perguntei do que elas mais gostavam em High School Musical. E sabem o que elas me responderam? Não eram as músicas, as coreografias, Zac Efron ou o cabelo de Ashley Tisdale. Elas me disseram que gostavam das pessoas. E eu perguntei “como assim, das pessoas?”. E Sasha se apressou em explicar que gostava do modo como as pessoas eram felizes, porque não tinham medo de ser quem eram.

Nós, pais, nos comovemos com qualquer coisa que nossos filhos fazem ou dizem, porque sabemos que não são bobagens. Mas naquele momento eu fiquei comovido não como pai, mas como ser humano. Minhas filhas haviam entendido a mensagem de High School Musical. Uma mensagem que eu demorei anos para compreender.

Vocês já ouviram falar da minha busca por uma identidade. E de como, confuso e irresponsável, eu me envolvi com drogas, na juventude. Mas minhas filhas, ali sentadas do meu lado no sofá, vendo um filme da Disney, tinham a oportunidade de aprender uma lição que havia me custado tantos erros, tanto sofrimento. Por isso, reconheço, por experiência própria, a importância e a verdade da mensagem de High School Musical.

Precisamos ser quem somos, porque somos grandes, somos capazes, somos melhores. Sim, nós podemos [Yes we can].

Troy, Gabriella, Sharpay, Ryan e Chad demonstram a coragem que nós teremos de demonstrar de agora em diante para assumir todos os riscos e sacrifícios que a realização de nossos maiores e mais belos sonhos exige. Neste terceiro episódio da série, os personagens vão se formar. É o momento da passagem da vida escolar para a vida adulta. É o inevitável processo de amadurecimento, no qual nós também nos encontramos e no qual – agora eu vejo – finalmente avançamos.

Não é a graça de Vanessa Hutchens, irresistível como a de Ginger Rogers, nem o charme de Zac Efron, comparável ao de Gene Kelly, que nos levaram aos cinemas; mas a mensagem de que, sim, nós podemos [yes we can].

Com Troy, Gabriella, Sharpay, Ryan e Chad, nós também amadurecemos. Nós também vencemos nossos medos e realizamos nossos sonhos. Já não precisamos ter vergonha de ser quem somos e querer o que queremos, porque hoje sabemos que estamos no caminho certo. Porque, sim, nós podemos [yes we can].

Obrigado. Que Deus os abençoe. Que Deus abençoe os Estados Unidos da América.

Tradução: Camarada Fundamentalista.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Nosso amigo, o Azeredo

Querendo ou não, em algum momento, num blog, alguém resolve dar uns escapadelas e arriscar uns pitacos na esfera política. Não que nossos compadres eleitos mereçam nenhum destaque, pois muitas vezes suas ações repercutem em qualquer outra esfera, ora, quando fazem seu trabalho e não são muito apoiados nem por aqueles que colocaram os indivíduos no poder. Por ventura as discussões acaloradas de futebol são timidamente substituídas pela boa e velha política, sobretudo quando estamos em período eleitoral.

As eleições já acabaram, como o termíno é recente, as luzes ainda estão muito forte nas repartições públicas, assim podemos acompanhar mais de perto não só o novo político eleito, vamos mais fundo: tanto na memória, como na história. Enfim, procuramos aquele velho camarada que votamos em eleições anteriores, aqueles que ainda estão nos seus respectivos cargos.

Tenho um cara que admiro muito, lá no Senado, verdade. Seu nome é Reinado Azeredo(PSDB): gente boa, altivo, sempre preocupado em não andar com a nova corja de governantes que assola nossa terra brasilis. Enfim, acho o cara bem boa praça. Mas muita gente não gosta muito dele, na verdade por causa de duas leis dele que estão aparecendo recentemente na grande mídia.

A primeira é a famigerada substituta a PLC 89/2003: a lei que pune cibercrimes e derivados. Derivados aí se inclui fansubber e todos aqueles preocupados em disseminar a horrível pirataria, pois sei que aquele que copia o cd na sua casa é o mesmo que produz a pirataria em larga escala, ainda mais este mesmo é o vilão que é associado com o tráfico de drogas, sei porque vi tudo na propaganda da televisão. A lei sofreu umas mudanças, pena, mas ainda é a lei que muitos de nós estavam esperando, ora, eu pelo menos, assim a internet fica mais segura e sem esses pedófilos!

A segunda leva de críticas é sobre o projeto encabeçado pela conterrânea de partido de Azeredo: Marisa Serrano(PSDB), cujo esboço do projeto é do nosso amigo; o projeto pretende unificar as carterinhas escolares, em âmbito nacional, e ir além: coibir os usos das carterinhas nos feriados e fins de semanas. E essa restrição abrange também os idosos. Outra boa proposta, pois sabemos que a pirataria de carterinha acontece diante de nossos olhos, quiça os responsáveis costumam ser os mesmos que traficam drogas e falsificam programas de computador. Provavelmente deva existir muitos idosos que falsificam com este cartel do mal e assim os verdadeiros idosos, já que são aposentados, poderão desfrutar sossegados seus filmes, em dias de semana, acompanhados dos adolescentes que matam aula, pois muitas das escolas públicas tem péssimas grades curriculares.


"O que se espera é que haja uma redução do preço dos ingressos", diz o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), autor do projeto

Azeredo não deve ter pensando em nada disso, mas suas propostas de leis são realistas e simples: eliminar a maldade de dentro de certos homis.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Eu te Amo, Kevin Smith

Saiu recentemente na gringa o mais novo filme do genial diretor americano Kevin Smith, Zack and Miri Make a Porno. Saudado como uma volta à velha forma do diretor pelos críticos e fãs de plantão, o filme marca uma suposta nova fase na carreira de Smith, que poderia ser chamada (sem que ninguém nos ouça) de era "Ben Affleck-free". Smith resolveu desassociar de vez, na cara dura, a sua imagem da do seu amigo queixudo, e pelo jeito já colheu os frutos por isso. Certíssimo. Melhor mesmo Mas o que realmente me motiva a escrever sobre o gorducho é a sua lista de filmes favoritos, revelada no site Rotten Tomatoes (link aqui). Proponho aqui para vocês um exercício então. Vamos pegar os cinco filmes mencionados por ele como fundamentais na sua vida e analisar a influência deles na obra do cidadão. Sim, veremos como podemos encontrar o impacto desses filmes em obras-primas como O Balconista, Barrados no Shopping, Procurando Amy, O Império do Besteirol Contra-ataca, entre outros.


Chamego puro

A Última Tentação de Cristo
Essa influência é perfeitamente palpável. Afinal estamos falando do homem que produziu Dogma, o filme de cunho religioso mais importante de todos os tempos, e que coloca esse A Última Tentação de Cristo no chinelo. Imagino que Smith tenha citado o filminho do Scorcese apenas por uma relação de causa-efeito, já que sem o Cristo imaginado por Scorcese nesse filme pobre, jamais poderíamos ter desfrutado o banquete trazido por Smith em Dogma. E, cá entre nós, quem nasce para Martin Scorcese jamais poderá ser um Kevin Smith. Mas a lembrança é válida.


Faça a Coisa Certa
Na sua análise do filme, Smith comenta as similaridades de Faça a Coisa Certa com a sua obra-prima O Balconista, dizendo que os dois filmes se passam em um dia, num mesmo quarteirão e em uma cidade específica. Nada mais justo. Afinal, Faça a Coisa Certa causou uma leve brisa no mundo cinematográfico quando lançado, mas nada perto do furacão avassalador trazido pelo filme de Smith. Não pode-se querer que um filme que trata das tensões raciais que infestam os EUA e dirigido por um cineasta pouco conhecido como Spike Lee tenha o mesmo impacto de um outro que mostra dois funcionários vagabas e nerdescos de uma loja de conveniência discutindo sobre Star Wars e quadrinhos. Mas a influência aqui também se mostra palpável.


JFK - A Pergunta que não Quer Calar
É notório o peso político nos filmes de Smith. Seus filmes traçam de maneira brilhante um panorama minucioso e gloriosamente polêmico da política americana contemporânea. Qualquer realização sua merece não somente ser colocada do lado do filme de Oliver Stone, como também de outras obras clássicas como Todos os Homens do Presidente, Sob o Domínio do Mal, Maratona da Morte e Missing. Esperamos ansiosamente um libelo a Barack Obama, de preferência com muitas piadas com maconha (perfeitamente identificáveis com os liberais democratas). Seria plenamente palpável.


Tubarão
Os filmes de Smith são conhecidos, como já vimos aqui, pelas brilhantes alegorias religiosas e pelo ativismo social e peso político que exalam. Mas o fato dele citar o Tubarão como um dos seus cinco filmes favoritos nos lembra de outro fator importante na sua obra, sempre presente nos seus filmes, que é o suspense constante. Smith sabe como poucos criar um clima exasperante de tensão. Percebemos essa influência de maneira (UEBA!) mais palpável no grande épico romântico de Smith, Procurando Amy. Como todos sabem, no filme de Steven Spielberg o bicho aparece apenas no final do filme, com Spielberg trabalhando todo o clima apenas em cima da expectativa causada pela presença ou não do tubarãozinho. No Procurando Amy, vemos o mesmo cenário com resultados muito mais eficientes. Ben Affleck é assolado pelas lembranças de sua paixão por uma sapatona, e a sua presença em todo o filme se dá apenas no campo das memórias, como um fantasma assombrando a vida do nosso herói. Brilhante. Alguma alegoria complexa de Smith entre tubarões e lésbicas? Deve ter, com certeza, de uma maneira palpável.




Mó cara de sapata tem esse Tubarão, né não? Zagueiro do Bangu!



O Homem que Não Vendeu a sua Alma
Acho que reside aqui, verdadeiramente, o filme de maior impacto na obra de Kevin Smith. Explico, bebês. O Homem que Não Vendeu a sua Alma é um dos filmes mais classudos da história do cinema. Daqueles que merecem ter o seu roteiro envolvido em capas de veludo e tudo mais. Ter Paul Scofield e Robert Shaw humilhando todos os atores do mundo também ajudava bastante. Além do filme se dar ao luxo de ter um Orson Welles como um dos conspiradores. Orson Welles. Sério. Agora, voltemos ao universo de Smith. Se vocês pudessem pensar em apenas uma palavra que definisse o espírito dos filmes do diretor, qual viria às suas mentes? Sim, como eu bem imaginei: classe. A linguagem talhada, milimetricamente construída, a riqueza dos diálogos, a ausência de palavrões chulos, as atuações eletrizantemente elegantes... E se Kevin não pode ter um Welles, se dá ao luxo de trazer um Ben Affleck para as equações (quer dizer, pelo menos até pouco tempo atrás...). É IMPOSSÍVEL assistir a qualquer filme de Smith e não sentir a influência do filme dirigido por Fred Zinemann (outro que não chega aos pés de Smith) neles. Palpável.

Jay e Silent Bob