sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fomos ao Cinema ver O Lutador

Mickey Rourke é um caso perdido. Provavelmente vai jogar no lixo todas as oportunidades de carreira que aparecerão em cima do seu sucesso nesse O Lutador. Como já está acontecendo, quando descobrimos que um dos seus próximos projetos é um filme do Sylvester Stallone sobre uma ditadura sul-americana (err... Hugo Chaves in in the house?) que é derrubada por um grupo de mercenários. Eu não sei vocês, mas eu vomitei quando li sobre o projeto. 1986 já foi faz tempo, embora o senhor Stallone jamais se convença disso. Rourke embarcar nessa barca furada diz muito sobre a sua complicadíssima personalidade, sobre o medo de se afundar nas responsabilidades de uma carreira de sucesso que marcou a sua vida em Hollywood e o fez largar tudo em meados dos anos 90 para voltar para o boxe. Sim, ele estará no próximo filme do Jonathan Demme (que aparentemente resolveu acordar para a vida e fazer filmes que não sejam remakes), mas sabe como é, um tiro certo, duzentos errados, e a munição vai pro espaço. Uma pena, já que Rourke é um baita ator.


A perfomance dele no filme do ex-enganador Darren Aronofski é uma aula. Percebemos tudo o que se passa na psique do personagem somente olhando para a sua face durante o filme, sem precisarmos das palavras para isso. O ar desesperançoso, seco e emocionalmente frustrante do filme cai como uma luva nessa época de crise que vivemos, tornando o filme um marco zero da causa, praticamente. A câmera segue o seu personagem, o lutador de luta livre Randy "The Ram" Robinson, que foi um dos grandes do esporte nos anos 80, mas que agora sobrevive trabalhando no estoque de um mercadinho e participando de lutas em ambientes pouco glamourosos nos fins-de-semana, e não perde um segundo sequer da sua completa inadequação ao mundo que o cerca, o seu jeito desastrado com as mulheres -exemplificado pela sua relação com a filha (Evan Rachel Wood, muito melhor sem o Marilyn Mason por perto) que lhe odeia por ele a ter largado quando criança e com a stripper Cassidy, interpretada pela Marisa Tomei, que obviamente o trata com um mínimo de atenção somente por enxergá-lo como um cliente, algo que foge à compreensão de Randy, que realmente pensa ter alguma importância ou conexão com aquela mulher -, e a fuga da realidade que ele vivencia quando sobre no ringue e volta a ser, por alguns minutos, a lenda da luta-livre que tanto significa para os fãs do gênero, mesmo essas lutas sendo exercidas em ambientes que passam longe do glamour do seu auge como lutador. Mas esses momentos, como mostrado com maestria pelo filme, significam para Randy a única parte da sua vida na qual ele é tratado com respeito e admiração, ao invés dos chutes seguidos que leva no mundo exterior. A própria natureza cênica do esporte (Aronofski mostra antes de um dos combates toda a preparação dos lutadores, combinando os golpes como se fossem coreografias de um musical) acaba sendo uma rima da importância que aquele ambiente tem na sua vida miserável. Como se em todos os outros instantes ele fosse um fantasma esperando ser trazido de volta à vida por alguém que possa vir a compreendê-lo, e naqueles poucos minutos em cima do ringue tudo passasse a fazer algum sentido.






Randy vive em um mundo que o deixou a muito tempo para trás, e sua vida consiste em desesperadamente resgatar uma época na qual ele teve um mínimo de importância, e o diálogo que trava com Cassidy sobre o Kurt Cobain (segundo ele, uma bichinha chorosa) e os lamentos do grunge terem varrido do mapa a diversão no rock (a trilha do filme é recheada de bandas de hair metal e metal farofa, estilo que estava no auge na época em que Randy era um lutador de sucesso) é uma bela metáfora sobre o sofrimento arrastado e tortuoso que a vida contemporãnea significa para ele. E Rourke brilhantemente nos mostra o sufocante constraste dessa realidade, entre o seu Randy que só lhe traz frustrações e amarguras e o The Ram, o Lutador que parece invencível em cima do ringue. Como o papel traz ecos da própria vida pessoal de Rourke (que supostamente ficou incomodado ao fazer a cena na qual Randy corta frios no mercadinho, por lembrá-lo de momentos miseráveis na sua vida), é daqueles raros casos no qual alguém nasce para intepretar determinado papel. Como ele era apenas a terceira escolha de Aronofski (Nicolas Cage e, olhem só vejam vocês, Sylvester Stallone eram os preferidos do diretor), não deixa de ser curioso. Aronofski abandona as trucagens e o virtuosismo vazio dos seus filmes anteriores (Pi, Requiém para um Sonho e A Fonte, três filmes que conseguiam a proeza de não contar história alguma) e realiza um filme denso, angustiante e que não tem medo de sujar as mãos mostrando uma realidade nada glamourosa, de personagens que não possuem qualquer perspectiva de melhora ou de abertura de horizontes, ou de morais que possam significativamente transformar as suas existências. O filme sabe que a melhor redenção da vida é estar pronto até para morrer por algo em que acreditamos ou que nos traz a verdadeira felicidade. Assim como Vicky Cristina Barcelona, O Lutador é um filme melhor que todos os cinco indicados a melhor filme no Oscar desse ano. Mas eu nem vou por esse caminho, se não vamos ficar até amanhã escrevendo aqui, pombas. Mas, assim como Randy, eu curto pacas vocês. Pile-drive!




Obs: Nicolas Cage era a primeira escolha para o papel. Isso me fez perceber certas similaridades entre a história desse filme e a do filme que deu a Cage o Oscar de melhor ator, Despedida em Las Vegas. Nos dois filmes temos personagens que arruinaram as suas vidas e que percebem que nada mais importa, resolvendo morrer fazendo aquilo que mais gostam (no caso do personagem de Cage naquele filme era encher a cara mesmo). E nos dois, vemos uma garota com uma profissão relacionada a sexo (a prostituta interpretada pela Elisabeth Shue no primeiro e a Stripper da Marisa Tomei no segundo) tentando, mesmo com sentimentos confusos, resgatar esses homens do destino que resolveram traçar para si mesmos. Nos dois filmes vemos uma cena na qual as duas garotas são humilhadas por um grupo de rapazes jovens. E os dois filmes possuem um ar quase documental, utilizando câmeras na mão seguindo os seus personagens nas suas sagas de queda e decadência, sem efeitos ou glamourizações baratas. Mas, tipo assim, é só uma impressão. Lembremos do caso Taxi Driver - Rastros de Ódio (contando as devidas proporções, logicamente), quando Scorsese quis homenagear a fortíssima história contada no filme de John Ford. Mesmo caso aqui, imagino que Aronofski deve ser fã do Mike Figgis e ficou impressionado com a história daquele filme, ou coisa que o valha. Não é como quando você COPIA OS PRIMEIROS 10 MINUTOS INTEIROS DE UM FILME E AINDA TEM A CARA DE PAU DE NEGAR E FAZER CARA FEIA EM ENTREVISTAS QUANDO PERGUNTADO SOBRE, COMO O PALHAÇO DO DANNY BOYLE VEM FAZENDO NO CASO CIDADE DE DEUS - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. Desculpem as maiúsculas. Beijo-me-liga.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Entrevista comigo sobre o Oscar

O que você achou da premiação de Slumdog Millionaire?

Fiquei feliz com a vitória do cearense Danny Boyle, ganhando o prêmio que Fernando Meirelles perdeu. Além disso, é um grande filme.

Você viu o filme?

Vi, sim. Tem uma barraquinha aqui perto de casa e...

Mas fale um pouco sobre o grande vencedor da noite.

Você está falando do Slumdog? Porque eu fiquei sabendo que um sujeito, aquele ator de Battlestar Galactica, pegou a Rihanna no fim da festa, então eu achei que você estava se referindo a isso.

Não.

Bom [aborrecido], em Slumdog Millionaire, Márcio Garcia é Bahuan, que quer se casar com Juliana Paes, mas, como é um dalit, precisa ganhar alguns milhões pra comprar ações da Google Índia e assim provar para seus compatriotas que: sendo Brâman tudo, é também o capital internacional, para quem naturalmente não existem castas. É, aliás, interessante ressaltar [se empolga] que na cinematografia comercial existem algumas fórmulas de prestígio. A que Fernando Meirelles, José Padilha e Danny Boyle seguiram é:

subdesenvolvimento + espetáculo = indicação a Oscar e/ou Urso de Ouro, se já vimos isso antes.

O elemento "espetáculo" é que exige a condicional "se já vimos isso antes", que, por sua vez, é plenamente satisfeita pelo elemento "subdesenvolvimento". É um modelo extremamente coeso, exemplar da dialética da forma [limpa o canto da boca espumante]. Está anotando?

Sim.

Convém falar de Tarantino, filmes de artes marciais e Big Mac?

Não precisa. E existem outras fórmulas como essa?

Sim, a dos filmes com macaco. Nesse caso, os autores divergem quanto à mais adequada formulação, porque sem dúvida a variedade das obras se furta a uma categorização rígida. Constante apenas é o elemento "macaco". Alguns autores acrescentariam os vagos "inocência" e "macaquice", este último bastante controvertido. Eu destacaria, das fórmulas propostas:

menino + macaco = matinê

menino triste + macaco = matinê com lição de vida sobre amizade

elenco Friends + macaco = Urso de Ouro

Interessante, mas isso é científico ou você está apenas fazendo gracinha?

Existe realmente alguma diferença?

Não, desde que Brâman é tudo.

Exatamente.

"Kristen Bell é um dos grandes talentos desta nova geração. Veronica Mars me fez ver que homens e mulheres são iguais."

Mas fale sobre Kate Winslet. O que acha sobre ela não querer mais aparecer nua em filmes?

Acho um preconceito tacanho esse contra a nudez de mulheres velhas, em nossa sociedade.

Kate Winslet tem só 33…

Putz.

E o que acha do dublador brasileiro oficial de Sean Penn, que é pastor evangélico, se recusar a trabalhar em Milk, grande perdedor da noite?

Não sabia que Sean Penn era pastor evangélico.

E não é. Me refiro ao dublador brasileiro.

Sempre acho certo quando as pessoas se recusam a trabalhar.

Mesmo se fosse um cirurgião que se recusasse a fazer uma operação que salvaria a vida de sua filhinha Stephane?

Mas a questão toda é porque Milk é gay, né?

Sim.

Olha. Existem gays e não gays nesta sociedade, né? Pois bem. Se o cara é gay, tem uma razão pra ser, né? Uma razão válida ou não, né?

Não sei.

Tá com medo que eu diga que você é gay, né? Fica tranquilo, eu já sei que você é, você trabalha na televisão.

Não, não trabalho, não. E isso é preconceito.

O quê?

Isso.

Ah, é. É que eu sou blogueiro. Mas voltando à sua pergunta inicial. Concordância e tolerância são coisas bem diferentes. Harvey Milk deve saber disso.

Harvey Milk já morreu. Foi assassinado.

Pomba. Isso é spoiler.

Você então é homófobo?

Só porque eu acho que as pessoas podem não achar que as outras deveriam achar que devem viver de uma maneira qualquer?

É.

Pomba, que entrevista tosca [aborrecido]. Além disso, eu não gosto de filme dublado.

Mas e o profissionalismo, onde é que fica? Esse dublador não deveria ser mais profissional e colocar suas convicções pessoais de lado?

Sim, como a gente coloca o cérebro num pote sobre a mesa e dá entrevistas como essa [aborrecido]. Eu não acredito em profissionalismo. Quando alguém fala que tem o profissional e o ser humano, ou o político e o ser humano, na verdade nunca tem o ser humano, e o cara só quer faturar uma grana. A mesma coisa com o pipoqueiro e o ser humano, o jogador e o torcedor, etc.

Você gosta de futebol?

Aff [aborrecido].

E sobre o carnaval? Quem você acha que leva o título esse ano, no Rio e em Sampa?

Por favor, não acredito que você disse "Sampa". Sampa? Brincadeira. Sampa!

Você tem twitter?

Nem [aborrecido].

Muito obrigado por essa entrevista, na qual pudemos tratar de temas relevantes para a sociedade, como homossexualidade, preconceito e os vencedores do Oscar 2009. Muito obrigado. Boa-noite.

Boa-noit... Não, peraí. Deixa eu falar de novo. Pergunta de novo.

Não era uma pergunta.

Boa-noite e boa sorte.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Festa do Oscar 2009, ou: alguém devolva as 4 horas da minha vida que foram perdidas assistindo a essa porcaria

A festa do Oscar foi a velha tortura de sempre. Como tem sido de praxe nos 81 anos de história do prêmio, somos submetidos a 4 horas de enrolações, constrangimentos, hipocrisias, números musicais inúteis, discursos sacais para, no final de tudo, vermos um filme horrendo sair com a estatueta de melhor filme. Tirando as 10 ocasiões nas quais um filme realmente bom saiu com o prêmio, em todas as outras 71 o mundo testemunhou belas atrocidades, o que já deveria ser configurado como genocídio da arte por parte de tribunais internacionais. Nesse ano, tivemos de ver um filme mela cueca, uma sessão de tarde com mais truques que a média e que rouba dos 10 minutos iniciais de Cidade de Deus na cara dura como Quem Quer Ser um Milionário sair com 8 prêmios. A Lista de Schindler saiu com 7 estatuetas em 94. É de deixar malandro com a bunda em pé mesmo. Pobre Schindler, e pobre Spielberg, que anunciou o prêmio de melhor filme com aquela cara de "por que eu não fiquei na minha mansão jogando Halo 3 on line?". Mas 2009 será sempre lembrado como o ano no qual os 5 indicados a melhor filme não mereciam estar na lista. Full house, fosse isso um jogo de cartas.
Os produtores da festa desse ano ( Bill Condon e Lawrence Mark) suaram a camisa para mudar o status quo de apresentações soporiferas, mas os filmes em disputa eram tão ruins que eles pouco puderam fazer. Lendo os periódicos hoje de manhã (estou me sentindo bem de época hoje, não sei o motivo), noto uma grande carga de elogios à apresentação de Hugh "Australia era uma droga de filme mas eu estou na moda" Jackman. Ok, a abertura com ele zoando os filmes indicados como se eles fossem feitos com as restrições da crise global foi inspirada, mas nada que se compare a momentos épicos como o Billy Cristal (volta, Billy!) entrando no palco como Hannibal Lecter em 1991. Na verdade, ele foi o apresentador oficial, mas depois da abertura voltou umas boas 4 ou 5 vezes apenas. Foi mais aquele esquema de "vamos colocar todos os astros que pudermos apresentando os prêmios para que ninguém note que nós não aguentamos mais colocar comediantes apresentando". A margem de boas sacadas (urgh, isso me lembra alguém...) da produção da festa foi bem maior que a dos anos anteriores. A idéia de colocar 5 vencedores de anos anteriores introduzindo os indicados das categorias de atuação foi até inspirada, já que gerou raríssimos momentos de verdadeira espontaneidade (como a Sophia Loren falando sobre a Meryl Streep e o Robert de Niro sobre o Sean Penn, o que gerou emoções genuínas nos dois indicados). Não que esteja imune a críticas totalmente, já que em alguns momentos era nítido que o ator que introduzia o indicado nada sabia sobre o outro, como quando o Ben Kingsley falava sobre o mito Mickey Rourke (que foi vestido como um cafetão barato e em nenhum momento deixou de mostrar o seu tédio com a situação toda), ou então a Shirley MacLaine falando sobre a Anne Hathaway. Mas o pior mesmo foi o Cuba Gooding Jr. falando sobre o Robert Downey Jr, e começando a gritar histericamente como na vez em que ganhou o prêmio longínquos 13 anos atrás. Downey Jr. não sabia onde enfiar a cara, e deve ter se arrependido de estar sóbrio, desejando loucamente uma carreirinha de pó para aliviar o sofrimento daquele momento patético. Parabéns Cuba, não bastassem os filmes trágicos que você nos enfia goela abaixo, agora vai mandar o Downy Jr. de volta para o mundo da bandidagem.

Mas o melhor momento foi a Jennifer Aniston apresentando os prêmios de animação com o Jack Black. Sabia. Eu cantei a pedra. Sério, as pessoas nesse mundo não têm orgulho mais? Hilário, tiveram a cara de pau de dar um close na Angelina Jolie, que ria polidamente. Aniston não via a hora de sair do palco, tanto que já ia caminhando para fora quando o Jack Black a pegou pelo braço e lembrou que faltava ainda o prêmio de melhor curta de animação. Pena que ela não xingou o casal Brangelina do palco. Mas que foi um momento precioso, isso foi.

Sem mais delongas, vamos aos premiados, que é para vocês poderem ler rápido e voltarem para a farra nesse Carnaval. Mas com responsabilidade, hein? Putz, a quem eu estou enganando? Caiam na sacanagem de uma vez. Ninguém é de ninguém!


Melhor Atriz Coadjuvante - Penelope Cruz, Vicky Cristina Barcelona

Essa talvez tenha sido a única premiação justa da noite. Cruz humilha no filme do Woody Allen, que é melhor que todos os 5 indicados na categoria principal. Foi feio quando a Anjelica Houston introduziu a atriz espanhola, dizendo que nos seus filmes, "mesmo não entendendo muito bem o que ela fala, podemos sentir tudo que ela expressa pelas emoções que ela transmite". Se fosse eu, ia lá e quebrava a cara da nariguda. Mas a Penelope é um docinho, e se mostrou realmente emocionada com o prêmio, afirmando que sempre assistia à cerimônia quando criança. Tocante.



Essa foto nos lembra um fato estarrecedor: Goldie Hawn já ganhou um Oscar.



Melhor Ator Coadjuvante - Heath Ledger, O Cavaleiro das Trevas

Favas contadas desde a morte do ator; um ano e meio atrás. Pai, mãe e irmã receberam o prêmio em nome do ator. Lógico, é muito fácil ser aplaudido em pé pelos maiores astros do mundo e receber um prêmio como esse em nome do seu filho. Agora, ajudá-lo quando ele ainda estava vivo, ai não, né? Tentar interná-lo em alguma clínica, lutar para livrá-lo dos vícios, nada disso, né não? Bela família tinha o Ledger. Começo a entender melhor os motivos da sua morte.



Família de Ledger praticando necrofilia. Não, vocês não leram aqui eu escrevendo que a irmã dele é uma formosura.



Melhor roteiro original e roteiro adaptado - Dustin Lance Black - Milk e Simon Beaufoy -Quem Quer Ser um Milionário, respectivamente

Que beleza. Uma biografia e um filme que rouba descaradamente Cidade de Deus ganhando os prêmios de roteiro. Isso apaga a bela idéia que tiveram para apresentar os indicados, com o Stevie Martin e a Tina Fey (que deveria ser proibida de ser tão bonita, merecidamente ovacionada quando entrou no palco) agindo de acordo com um roteiro que ia sendo escrito no telão.


Melhor Atriz - Kate Winslet, O Leitor

O filme é tão ruim que é meio que difícil aceitar esse prêmio, mesmo sabendo que a perfomance da Kate Winslet é a melhor coisa nele. E ela já teve momentos muito mais brilhantes que foram ignorados em anos anteriores. A Academia tem essa maldita mania de premiar atores pelas suas atuações mais convencionais, ignorando as melhores perfomances dos mesmo. O discurso dela foi histérico, o que prova que ela sempre quis ganhar o prêmio mesmo ( e a cara feia dela em 98 não foi por nada mesmo). Perdeu pontos comigo. Quer dizer que o seu negócio e ganhar Oscar, né, minha filha? Meio que patético mesmo. E a Meryl Streep é a velha piada de sempre. 15 indicações e apenas 2 prêmios, um principal e um de coadjuvante. Até o dragão de Komodo da Hillary Swank tem mais. L de Loser na testa da mulher, por favor.

Kate Winslet dando uns pegas no Stephen Daldry, com o seu marido Sam Mendes observando no fundo. Cof, cof, cof, corno, cof, cof. Putz, que tosse...




Melhor Ator - Sean Penn, Milk- A Voz da Igualdade

A Academia realmente esnobou o mito Mickey Rourke. Palhaçada. Sua perfomance no belo O Lutador coloca o Penn no chinelo. Mas como ele caiu no gosto dos votantes (ele mesmo disse isso no discurso) ultimamente, junta-se ao seleto rol dos atores com dois prêmios principais (já dei a lista ano passado, mas repito mais uma vez: Gary Cooper, Spencer Tracy, Tom Hanks, Daniel Day-Lewis, Marlon Brando, Dustin Hoffman e Jack Nicholson). Mas preciso falar sobre algo digamos, err, bizarro que notei no comportamento de Penn na noite. Achei-o muito mais sensível que em anos anteriores. Nitidamente derramou lágrimas quando anunciado pelo Robert de Niro, sempre que mostrado pela câmera sorria desavergonhadamente, e no seu discurso derramou manteigagens e sutilezas gestuais que não poderiamos esperar de alguém como ele. Será que a sua perfomance no Milk deixou aflorar algo na sua personalidade que estava escondido na sua rígida figura de bad boy? Realmente, esse filme é mesmo inspirador. Ui!



Um meigo Sean Penn, mostrando tudo o que aprendeu na composição do seu Harvey Milk. No fundo é possível ver o Anthony Hopkins boquiaberto com o popô de Penn. Pagou um pau!



Melhor Diretor - Danny Boyle, Quem Quer Ser um Milionário

Parem o mundo que eu quero descer. Danny Boyle ganhou um Oscar. Os incautos que votaram nele deveriam ser submetidos a exibições seguidas e ininterruptas do A Praia. Por anos a fio. Lavagem cerebral e tortura mental, no melhor estilo Laranja Mecânica mesmo.

Corta a estatueta na metade e manda para o Fernando Meirelles, seu plagiador barato.



Melhor filme - Quem Quer ser um Milionário?

Quer dizer então que isso é o melhor filme de 2008? Entre todos os filmes lançados no ano passado, em todos os cantos do mundo, essa porcaria foi o melhor? A Academia é uma piada mesmo. Cansei dessa merda. Sugiro que eles troquem a estatueta no ano que vem. Ao invés de um careca pelado, que façam logo uma bunda de ouro mesmo. É a melhor homenagem para uma instuição que resolve que filmes como Gladiador, Mente Brilhante, Crash, Paciente Inglês, Conduzindo Miss Daisy, Chicago, Rain Man, e uma lista infinita de filmes sejam considerados os melhores dos anos em que foram lançados. Quem Quer ser Um Milionário? se junta a essa lista, o que no final acaba sendo justo. Burro sou eu, que perco o meu tempo ainda com essa palhaçada. Mas tenho de dizer que a vitória do Quem Quer Ser um Milionário? ao menos serviu para algo. Podemos dizer agora que Gandhi já não é mais o pior filme a ter vencido o Oscar de melhor filme e ser passado na Índia. Parabéns, Boyle!

2 bilhões de indianos no palco, recebendo o prêmio com o Danny Boyle e o produtor Christian Colson


Vocês acharam que eu iria me esquecer de citar o Ron Howard? Não, jamais. Lá estava ele, com a sua careca obscena, seu olhar apalermado e sua notória cara de pau. Frost/Nixon saiu de mãos vazias, mas o nosso enganador favorito irá voltar. Como Jason, ele sempre parece derrotado, para quando menos esperamos voltar com algum filme chapa branca e levar mais algumas estatuetas para casa. Por isso desde já preparo a minha estaca. O duelo final está chegando.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fomos ao Cinema ver Frost/Nixon

Frost/Nixon é um filme baseado em uma peça escrita por Peter Morgan e que reproduzia as entrevistas dadas pelo na época ex-presidente norte-americano Richar Nixon ao apresentador inglês David Frost. Foi a primeira entrevista dada por Nixon depois do escândalo de Watergate e a sua subsequente renúncia ao cargo de Presidente, em 1974 (única vez na história dos EUA que isso aconteceu). Sério. O Diretor Ron Howard simplesmente fez um filme inteiro refilmando as entrevistas e colocando os mesmos atores da peça (Frank Langella como Nixon e Michael Sheen com Frost) no filme. Ou seja, duas horas inteiras com entrevistas que poderiam ser facilmente colocadas em um documentário com os protagonistas originais, com muito mais tensão e contexto histórico, e sem a babaquice eterna de Howard. Qualquer imbecil conseguiria fazer um filme em cima de uma premissa tão cretina como essa.
Uma câmera na mão, o conteúdo das entrevistas transcritos para o roteiro, e dois atores bons de imitações (tipo o Tom Cavalcante e o Tiririca) e pronto, você também poderia fazer um filme como Frost/Nixon. Um filme desse ser levado a sério e, pasmem, ser indicado ao Oscar de melhor filme, é meio que o sintoma do Apocalipse, esse desconhecido. Mas Howard é um lobista nojento, sempre fazendo filmes café-com-leite para garantir o seu nome nas listas de indicados, sem se preocupar em trazer qualquer originalidade ou inventividade para as suas produções. Em nome dessa palhaçada toda, o Fomos ao Cinema, querendo provar para vocês toda a cretinagem da situação toda, imagina como seria uma entrevista dada pelo defunto Nixon (tombou em 1994) ao mesmo Frost (que está vivaço e chutando) nos dias de hoje, 32 anos depois da original. Depois iremos filmar o conteúdo e transformar no já aguardadíssimo Frost/Nixon - Reloaded. In your face, Ron Howard!



David Frost - Começando a entrevista, gostaria de perguntar ao senhor se hoje, passados 35 anos dos fatos que acarretaram na sua renúncia ao cargo de Presidente, ainda se vê como inocente. Fala a verdade pra gente, véio, tu espionou os democratas legal, né? Cê tá mortinho mesmo, qual diferença vai fazer negar tudo agora?

Richard Nixon - Bom Dia, Roger. Sim, sou inocente. Fui vítima da agenda liberal.

Frost - Er, meu nome é David, Senhor Nixon. Mas por favor, fale mais sobre essa suposta agenda liberal e quais seriam os seus tentáculos, as esferas de influência da mesma e que teriam conspirado para tirar o Senhor do poder. Puxa, tive que segurar o riso agora, agenda liberal é demais para a minha cabeça.

Nixon - Desculpe por ter confundido o seu nome, Roger. Os supostos liberais-democratas dessa grande nação conseguiram me tirar do poder na marra. Esses democratas bundudos não aceitavam jamais que um republicano de botas sujas como colocasse em prática um plano de governo que efetivamente realizasse tudo aquilo que eles vinham prometendo desde 1776, e que jamais cumpriram. Eu libertei os EUA do demônio do segregacionismo, eu abri diálogo com as nações mais fechadas do mundo, eu tirei a nação daquele buraco chamado Vietnã. Eu, um republicano, tirei o país dos corredores da morte das selvas vietnamitas, nos quais fomos colocados por aquele democrata bonitão e pervo, o John Kennedy. Os democratas bundas-sujas jamais poderiam aceitar isso. Eu desmascarei esses Benjamins Franklins de coturno baixo. Déspotas! A agenda liberal foi a minha ruína, mas as páginas da história irão lembrar de Nixon como...

Frost - Tá, tá, entendi. E, mais uma vez, é David, pombas. Se liga, véio. Se eu ficasse te chamando de Reagan você iria ficar putinho, né? Respeito é bom e conserva os dentes. Voltando à entrevista, o Senhor então continua negando, mesmo com o conteúdo das fitas e o depoimento de pessoas como John Dean e Alexander Butterfield claramente indicando o contrário, que nada teve a ver com a espionagem do quartel-general dos democratas no Hotel Watergate? Cara de pau, hein?

Nixon - Roger, entenda uma coisa. John Dean e Alexander Butterfield são dois traidores da pátria. Fosse um país mais, digamos, fechado, e eles teriam perdido as cabecinhas na guilhotina. Eles foram cooptados pela agenda liberal, e entraram na conspiração. As fitas foram plantadas pelos próprios democratas. O despotismo deles é crônico. Meu truta Mao Tse-Tung me dizia sempre que a cabeça de um inimigo deve ser servida em prato de ouro. E a dos traidores devem ser comidas com garfos de ouro. Eu amava aquele velhinho chinês. Tantas lembranças... Verões quentes, invernos mais ainda...


Frost e Nixon

Frost - É DAVID, POMBAS! Defunto surdo. (Frost ergue-se e dá um tapão na cabeça do espírito de Nixon). Já vi que você vai negar isso até depois de morto. Vamos mudar de assunto então. Já que você mencionou o Mao, diziam que ele jamais escoveu os dentes na vida, já que, segundo ele, um tigre jamais escova os seus dentes. Quando vocês se beijavam, vinha aquele bafão? Como você conseguia aguentar?


Nixon - É, era um bafo de levantar defunto. Ops! Hi-5 (Frost retribui o gesto). Nas minhas últimas viagens para a China eu já ia abastecido de Tridents e Halls, daqueles de porta de balada, para aguentar melhor o tranco. Mas eu tenho que te dizer, o bafo da minha esposa Pat era tão ruim quanto. A véia realmente tinha um futum na boca.

Frost - E a sua fama de racista- secreto-e-boca-suja? Você uma vez chamou a atriz e política Helen Gahagan Douglas de lésbica suja, os filósofos gregos da Escola de Atenas de " um bando de homossexuais", e dizia que o homossexualismo era a maior praga do mundo, usado como arma dos comunistas contra o ocidente, além de desancar judeus e negros em particular. Isso não ia contra a sua imagem de inimigo do segregacionismo? Não era uma hipocrisia, a mesma da qual você acusa os seus inimigos da agenda liberal? Cara, eu nunca vou me cansar dessa.


Nixon - Eu jamais chamei aquela lésbica suja da Helena Douglas de lésbica suja! E também jamais chamei aqueles gays da Escola de Atenas de homossexuais! E também jamais achei que a porcaria do homossexualismo era a maior praga do mundo! E eu amo de paixão aqueles desgraçados dos judeus e negros! E eu nunca fui boca-suja, p@#$5! C@##$@! V@# T#@ N#@! C@%&!

Dois atores interpretando Frost e Nixon


Frost - É, véio, tá difícil. A sua loucura dos tempos de vivo permanece no além. Vamos mudar mais uma vez de assunto. A série animada Os Simpsons constantemente tira uma com a sua cara, desde o início do show, lá em 89, quando o Senhor ainda estava vivo. Um personagem inclusive muito famoso do show, Milhouse, o amigo nerd e estúpido do Bart Simpson, era nomeado em sua "homenagem" (Richard Milhouse Nixon). O que o senhor acha de ser o presidente mais zoado de um show tão famoso como esse? Indica o seu papel puramente anacrônico na cultura pop, como se o Senhor fosse a antítese do cool?


Nixon - Eu detesto Os Simpsons, prefiro muito mais o Family Guy.

Frost - Eu também! Hi-5

Nixon - Hi-5 (retribuindo o gesto).

Frost- E os filmes do Ron Howard? O que o Senhor acha deles? E o que achou do Nixon do Oliver Stone?


Nixon - Eu amo o Ron Howard. Moleque lindo. Amei Uma Mente Brilhante e Splash- Uma Sereia em Minha Vida. Aquela Daryl Hannah... eu jogava na cama e fazia mulher. Quanto ao Oliver Stone e ao filme que ele vez sobre a minha vida, devo dizer que achei uma ofensa colocarem o Anthony Hopkins para me interpretar. Aquele palhaço inglês!

Frost - Epa! Dobra a língua para falar da minha Inglaterra, seu véio sujo. E continua o misógino de sempre, hein? Mas nem como presidente uma mulher como a Daryl Hannah daria bola para você.

Nixon - Ela não me daria bola mesmo. Já a sua mulher...

Frost - Hã? Repete o que você falou.

Nixon- Nada. Bonita a sua esposinha, né? Vou comandar um plano de reconhecimento de território nela.

Frost - Seu yankee maldito! Eu furo os seus olhos!

Nixon - Calma! Relaxe, meu amigo irlandês.

Frost - IRLANDÊS NÃO, POMBAS! ME CHAMA DO QUE QUISER, DE LATINO, CIGANO, HINDU, BUDISTA, ORIENTAL, FROUXO, GAY, LÉSBICO, MAS DE IRLANDÊS NÃO! EU VOU TE ENCHER DE PORRADA! VOU PEGAR A AGENDA LIBERAL E DAR NO MEIO DOS SEUS CORNOS!

Nixon - Vem!

Os dois se atracam em uma briga, e a entrevista termina.

FIM

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Empiristas e bizantinos

No primeiro mundo da mente ou na vida do Espírito existem dois tipos de pessoas dos quais se pode fazer parte simultaneamente, mas no geral ou se é de um ou de outro: gente burrinha de bom gosto e gente que gosta de filosofia e se veste mal. Vestir-se mal subentende ler coisas chatíssimas; gente pra quem não se pode solicitar dicas de leitura, e falo a quem realmente gosta de ler e entende o que lê: conselho, afastem-se de pessoas que carregam a Fenomenologia do Espírito debaixo do braço.

Gente burrinha de bom gosto é espirituosa e tudo, e zomba dos filósofos, mas no fundo é ressentida porque só consegue ler Chesterton, que é inglês, e todo o mundo sabe que inglês pensa como quem desentope privada. Mas admiro como anglo-saxões escrevem; é tudo muito claro e concreto. É por isso também tudo muito simplista, bom pra gente que não tem tempo a perder; seu chefe, por exemplo. Acho mesmo que gente burrinha de bom gosto, que lê Evelyn Waugh e acredita que o espírito pode e deve principalmente se divertir, são todos ingleses ou queriam ser. Bom lembrar que foram os ingleses que inventaram o jornalismo. Não foram?

Evelyn Waugh era homem.

Mas gostam mesmo de livros e de literatura; não é só por afetação. Tá, bobagem, todo o mundo que gosta de livros gosta por afetação. Como ser diferente tendo crescido ouvindo grunge diante de uma TV?

Já gente que gosta de filosofia e se veste mal não é muito ligada em diversão; é mesmo meio masoquista. Não tem muita sensibilidade pra poesia e literatura em geral. Gosta de Chico Buarque, que é poeta, e acha cinema chinês a melhor coisa do mundo. Mas estuda Hegel, lê Heidegger e entende; sempre entra na sua casa com os pés sujos de idealismo alemão. Tende a achar existencialismo coisa de bicha, e burra, e Camus junkie food, mas não é raro ter O Estrangeiro entre os favoritos (também leu pouco; convenhamos, quem realmente lê Hegel só lê Hegel, não teria tempo pra outra coisa). E nem preciso falar o que é que acham de Schopenhauer e filósofos legíveis em geral. Grande chance de gostarem de Zíbia e Clarice, só não sei se vão se referir a elas desse jeito, pelo primeiro nome, a não ser que sejam alunos de Letras.

Quem diz que o Chico é fanho não ama o Brasil.

Acho que o que mais me importa nisso tudo é perceber como os dois grupos entendem a linguagem de maneira muito diferente e que eu acabo concordando com os últimos nesse ponto. Pois gente burrinha e de bom gosto acha que é possível falar sobre qualquer assunto com simplicidade e elegância. Qualquer. Só porque são muito práticos e não estão nem aí para o Ser. Mas gente que gosta de filosofia e se veste mal entende que o objeto requer sua forma, que claro que será truncada e complexa se o tema o for.

Não preciso dizer que ser chato é escrever mal, mas que equacionar chato e difícil é coisa de gentinha.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

The Jim Halpert Smirk Post



Direito ao anonimato

Depois de um período de férias, logo antes do carnaval, voltei. Percebi que meus colegas, parceiros nessa empreitada, num momento, colocaram suas verdadeiras identidades no blog. Mas pra que isso caros colegas? Gostaria de saber: estavam com medo que alguém roubasse a genialidade de cada texto de vocês? É isso?

Sempre brinquei a respeito do blog; caso alguém perguntasse se fazia parte do "Fomos ao cinema", provavelmente, daria uma das três opções como resposta: sim, sou todos; não, só conheço de vista; bem, posso ser um deles, porque vc não adivinha?

Agora qual será a graça de escrever num blog onde as pessoas se levam tão a sério? Camaradas, qual será o próximo movimento? Assinar o nome de vocês em cada texto?

A alegria e a inventividade dão lugar a burocracia e o habitue. E o Camarada Moderado foi comprar cigarros...

Fomos ao Cinema ver O Leitor (ZZZZZZZZZZZZZZZ)

Sacode, moleca! Só na bateria, vai! Agora a cuíca! É isso ai, cambada. O Fomos ao Cinema já entrou no clima de Carnaval que arrefece os trópicos nessa época do ano. Por isso, nada mais carnavalesco do que pagar 10 pilas para assistir ao mais novo engodo da maior enganação britânica, Stephen Daldry. O Leitor (baseado no livro escrito pelo autor Bernhard Schlink) já merece entrar na lista de piores filmes indicados à categoria principal do Oscar. Lista essa que inclui maravilhas como Ghost, Atração Fatal, Chocolate, Regras da Vida, A Vida é Bela, Inferno na Torre e Aeroporto, entre outros. Sério, depois de terminados os excruciantes 124 minutos de projeção, eu pensei em mais de 30 filmes lançadas em 2008 que são superiores a esse exercício de pretensão vazia e tédio absoluto. Uma pena, pois a história e os temas levantados por ela poderiam gerar um belo exemplar do cinema, mas todo o impacto que esse filme poderia ter tido morreu na mão pesadíssima de Daldry, que prova mais uma vez que faz os filmes pensando no Oscar e nas indicações para si mesmo e para os seus atores/equipe técnica.




A história, contada da maneira mais batida possível, relata no ano de 1958 o relacionamento entre um jovem estudante alemão, Michael Berg (interpretado pelo inexpressivo novato David Kross quando jovem e pelo Ralph Fiennes quando mais velho) e uma cobradora de bondes 20 anos mais velha, Hanna Schmtz (Kate "cansei de salvar filmes ruins" Winslet), que se "entregam ao amor" (suspiros) para darem alguma cor às suas existências vazias e miseráveis (zzzzzzzzzzz). Em alguns países isso chamaria-se coação de menores, mas aparentemente na Alemanha pós-guerra ninguém era de ninguém. Depois de vermos close-ups abudantes (err....) nas derrieres dos dois atores (o que no dicionário do Daldry significa estabelecer intimidade entre dois personagens), algumas discussões (por culpa da rudeza de Hanna) e uma mal recebida promoção no trabalho por parte dela, ela resolve se mandar de Berlim, deixando o pobre Michael a ver navios. Tempos depois, já na fervilhante década de 60 (Beatles, Rolling Stones, maconha, LSD e todo esse barato lindo ai) Michael já é um estiloso estudante de direito, paquerando geral e se acabando nos cigarros e poses para a câmera (isso se chama desenvolvimento de personagem no livro de Daldry). Quando o seu professor Bruno Ganz (ele mesmo, o Hitler do A Queda e o Anjo do Asas do Desejo, já batendo na porta do céu) o leva para curtir um julgamento básico de criminosas nazistas em nome dos estudos, Michael mal pode acreditar quando, em uma coincidência daquela de fazer o roteiro do Homem-Aranha 3 parecer o Cidadão Kane, Hanna se levanta para depor entre as acusadas. Essa descoberta acaba levando o filme para o rumo de um típico drama de tribunal, mas sem qualquer tipo de suspense ou tensão, e sim um desfile de histrionices e momentos risíveis (como quando as outras acusadas começam a gritar histericamente contra Hanna), entrecortados com imagens de um Michael cabisbaixo na platéia da côrte.

Nem o básico esse incompetente do Daldry sabe fazer. O filme então busca lançar uma reflexão a respeito da culpa do povo alemão em relação ao Holocausto, algo que assombra o país até os nossos dias e que impede os agradáveis germânicos de compartilharem um senso maior de orgulho patriótico. E que, no caso, encontra uma rima no filme com os sentimentos conflituosos que Michael experimenta ao saber que a sua ex-amante era na verdade uma açougueira nazista. Mas, como já poderíamos esperar, Daldry falha miseravelmente em trazer qualquer tipo de impacto emocional para o enredo, que acaba se arrastando em um drama mixuruca de tribunal, fechando então com um estudo absolutamente desinteressante de personagens, já que acabamos não se importando com as reflexões e ações de Michael quando mais velho e já interpretado por um Ralph Fiennes no piloto automático, embora o filme jogue na nossa cara os clichês mais baratos dos dramas. A coisa fica tão desesperadora que Daldry não hesita em colocar o Ralph Fiennes para chorar copiosamente em uma cena, que pelo contexo que ocorre acaba soando tristemente hilária, como que tentando, por osmose, provocar algum tipo de reação na platéia, que a essa altura do filme já está entregue a um estado catatônico. O final, ridículo e anti-climático como todo o resto do filme, é a melhor parte, já que não existem palavras capazes de explicar a sensação de alívio que o espectador sente ao ver os créditos começarem a rolar na tela. Ufa! Acabou.




"Você está tentando me seduzir, Senhora Robinson?"

A única coisa que se pode tirar de positivo de toda essa mediocridade, como já era de se esperar, é a perfomance da Kate Winslet, que consegue tirar leite de pedra ao brigar como classe e garra pela sua personagem, lutando contra as inconsistências e peleguices do roteiro e as interpretações desinteressadas de seus colegas, transformando a sua Hanna Schmitz em uma figura tragicamente tridimensional e complexa, fazendo nós, pobres espectadores, quase simpatizarmos com uma figura pateticamente ignorante e que, por não compreender bem o seu papel na sociedade, acaba sendo capaz de atos terríveis, sem compreender a dimensão dos mesmos. Ela estava cumprindo ordens. De pessoas inteligentíssimas diga-se de passagem. O povo alemão sabe disso. Nós sabemos disso. A Academia, que ama os filmes de Daldry como o poeta ama os seus versos (wtf?), sabe disso. Antes de acabar, deixem eu dar notas para os três filmes dirigidos por Daldry, e que renderam ao diretor 3 indicações, um índice de 100% de aproveitamento sem igual na história do cinema.


Billy Elliot - 3
As Horas - 6
O Leitor - 5


É. Nessas horas eu me pergunto: cadê o Framboesa de Ouro? Para chutar cachorro morto (Shyamalan, Tom Cruise, Eddie Murphy, entre outros defuntos) eles são batutas, mas na hora de peitar o Oscar e indicar um filme que esteja concorrendo na categoria principal, ai não, né?

Obs: dos outros 3 filmes indicados ao Oscar, 2 estreiam dois dias antes da cerimônia (Milk e Frost/Nixo) e um quase um mês depois (Slumdog Millionaire). Mas o Fomos ao Cinema é parrudo, e vai na marra falar sobre eles. Até do Frost/Nixon, Progressista? Sim. Vocês verão. HUHAUHAUHUAHUAHAUHAUHAUHAUHAUAHUAHUAHUAHUAA! (Modo Bela Lugosi off).
Bela Lugosi is dead. Bauhaus também.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

lol lol lol

O humor de Tennessee Williams by Marlon Brando

Brando de Kowalski se lambuzando todo ao comer frango, Stella chama ele de porco e manda que se limpe e tire o prato da mesa. Parece que nem está ouvindo. Um clique e a transformação que é um verdadeiro pandemônio. Num golpe com a palma da mão ele arrebenta o prato e depois aponta o dedo pra cara de Stella avisando pra ela nunca mais falar daquele jeito com ele. Pega uma xícara, que ataca na parede, e – a piada – faz uma pergunta que Brando (e acho que só ele) consegue deixar soar brutal e cínica na medida certa: - Você quer que eu tire o seu prato também? Na mesa as mulheres começam a chorar, mas eu, eu estou gargalhando.

O humor de Stanley Kubrick by George C. Scott

Peter Sellers é presidente dos EUA durante a Guerra Fria tentando evitar um desastre nuclear iminente. George C. Scott é general e um dos conselheiros do presidente. Às tantas Scott eufórico sugere o uso de um avião para deter um míssil num ataque não ordenado aos russos que acionará uma arma chamada Doomsday Machine, que destruirá toda a vida no planeta. Peter Sellers então pergunta se isso vai funcionar. Bom, só a cara que Scott faz valeria o filme. A mão à boca, o olhar paspalho e o silêncio. Quem vir aí uma crítica contundente ao militarismo da administração Bush, guarde pra si. É só pra dar risada.

O humor de Ingmar Bergman by Bibi Anderson by Camarada Fundamentalista

Em Persona Bibi Anderson é uma enfermeira encarregada de cuidar de Liv Ullmann, atriz que emudeceu inexplicavelmente durante uma apresentação de Electra. Tem uma cena em que Anderson se confessa a Ullmann. Um dos segredos que conta é que recebeu de herança uma grande quantia em dinheiro de uma tia que ela detestava quando menina. Em lágrimas, pergunta: - Sabe o que eu fiz com o dinheiro? Ullmann balança a cabeça indicando que não. Então, Anderson responde: - Apliquei tudo na poupança.

Corte para o popozão de Anderson. (Eu ri.)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Como eu estava dizendo,

Benjamin Button é bom, um pouco oco, não tanto como Forrest Gump, com que guarda tantas semelhanças, mas bonito, muito bonito. Trata da morte e da superação desta. E também do tempo, do acaso e da velhice. E eu já disse que é bonito? Porque é. Com grandes lições de vida que emocionam plateias que choram vendo Marley e Eu porque o cachorrinho morreu e tratam mal garçons e balconistas tudo um bando de incompetentes.

Brad Pitt parecendo modelo de comercial de cueca é ridículo. As mocinhas (biológicas ou não) suspiram. É um princípio estético que tudo que faça as mocinhas suspirarem seja ruim. David Fincher entreguista. O beija-flor também é dose. Mas a história do relojeiro, na qual tem gente metendo o pau, é perfeita, como se autorizasse a realidade da história que se inicia, under unusual circumstances.

Merchandising da Mash: contei pelo menos três.

Mas o Brad Pitt é um cara legal, né?

Gostei muito do filme. Merece o Oscar, principalmente em vista dos concorrentes, com exceção de Milk, que eu não vou ver. Por quê? Mas esta é uma excelente pergunta. Primeiro que eu sou homófobo e perseguidor estranhamente empenhado da classe; segundo, que o filme me pareceu – só pelo trailer – engajado, e eu sou hipersensível a filme engajado, poema engajado, cinzeiro engajado, Evo Morales engajado (*).

Escrever Evo Morales é que nem enfiar o dedo no nariz, né?

A disponibilidade que caracteriza Benjamin Button e que o torna um dos melhores ouvintes do cinema, melhor que o próprio Forrest Gump, é o componente principal da fábula, afinal, trata-se de um personagem em condições especiais, que vê o mundo a partir de um perspectiva privilegiada, e assim por diante. E de novo volto a repetir novamente que Canal da Mancha e Kate Hepburn ser a namoradinha de infância de Benjamin se devem àquela pretensão visionária do roteirista de fundir realidade e ficção. Mas a Cate Blanchett vai melhorando conforme envelhece, uma vez que deixa de lado a libertinagem esclarecida da classe artística (é isso Kate Hepburn?), opinião que soou tããão old-fashioned.

Ô, a tempo: como tragédias permeiam o filme a ponto de definir acontecimentos, tudo para proporcionar o precioso insight de que a morte e a vida são um milagre, e como o filme foi rodado em Nova Orleans, Benjamin Button é uma espécie de consolo tardio para as vítimas do Katrina, no entanto muito mal inserido na trama justamente por não fazer parte da história principal, e sim da moldura narrativa da Cate Blanchett nas últimas.

Alguns filmes são relevantes e necessários; os bons são só fúteis.

(*) Argumento extendido de Por que eu não tenho a mínima vontade de ver Milk: fora o fato de eu ser homófobo e perseguidor estranhamente empenhado da classe, só a ideia de filme engajado, só a possibilidade de um filme ser engajado ou mesmo de parecer com um filme engajado, me faz ficar em casa vendo reprises de filmes ruins mas não engajados. Primeira lição estética: filme bom não tem partido, não defende nada; só mostra que, poxa, a gente é do jeito que é. Taxi Driver, Godfather e a maioria dos Bergman, essas coisas todas são muito ambíguas e amorais porque pregar com propriedade sem descuidar a fatura estética exige mais que talento: é preciso estar no lugar certo e na hora certa e daí se tornar a Voz de uma geração etc e tal. A única lição da arte é Balzac, La Rochefoucauld, de que a gente não presta mesmo; mas isso é demais pra cinema (só Bergman chegou lá), por isso vamos nos divertir e ponto. Tá, A Lista de Schindler, que é só um pipocão relevante, e O Nascimento de uma Nação, que também é pipocão de qualidade, claro que também do mal, isto é, do Mal. E sabe por que tudo isso? Primeira lição histórico-filosófico-sapiencial: na maior parte do tempo ninguém é bom ou mau, pelo menos não do jeito que dá pra se aproveitar romanescamente, com caretas de vilão de novela e o buço suado de maldade; a gente apenas está completamente enganado, ou é muito ignorante e medíocre e mesquinho e, tá, admito, todo o mundo merece sofrer horrivelmente. O problema é que as nossas maldades contínuas e ininterruptas são na maior parte egoísmos minúsculos acumulando-se incontavelmente por dias e semanas e meses muito chatos e nem um pouco hollywoodianos sem nunca haver coragem suficiente pra ser perverso na cara. Tipo, este plot tirado da minha segunda-feira: é a história de como um jovem de vinte e poucos anos não cedeu lugar para um velhinha porque estava cansado e com a mochila pesada e portanto fingiu estar dormindo na iminência daquelas mãos enrugadas segurando na barra do banco da frente com muita, muuuuita di-fi-cul-da-da-da-de, porque, pomba, velho é um saco; e depois de como ele esconde dos colegas de serviço que tem um Halls de morango no finalzinho e chupa as três balas restantes sozinho. You make me sick!

Mas vão ver Milk e me contem. U-hu!