Obs: Nicolas Cage era a primeira escolha para o papel. Isso me fez perceber certas similaridades entre a história desse filme e a do filme que deu a Cage o Oscar de melhor ator, Despedida em Las Vegas. Nos dois filmes temos personagens que arruinaram as suas vidas e que percebem que nada mais importa, resolvendo morrer fazendo aquilo que mais gostam (no caso do personagem de Cage naquele filme era encher a cara mesmo). E nos dois, vemos uma garota com uma profissão relacionada a sexo (a prostituta interpretada pela Elisabeth Shue no primeiro e a Stripper da Marisa Tomei no segundo) tentando, mesmo com sentimentos confusos, resgatar esses homens do destino que resolveram traçar para si mesmos. Nos dois filmes vemos uma cena na qual as duas garotas são humilhadas por um grupo de rapazes jovens. E os dois filmes possuem um ar quase documental, utilizando câmeras na mão seguindo os seus personagens nas suas sagas de queda e decadência, sem efeitos ou glamourizações baratas. Mas, tipo assim, é só uma impressão. Lembremos do caso Taxi Driver - Rastros de Ódio (contando as devidas proporções, logicamente), quando Scorsese quis homenagear a fortíssima história contada no filme de John Ford. Mesmo caso aqui, imagino que Aronofski deve ser fã do Mike Figgis e ficou impressionado com a história daquele filme, ou coisa que o valha. Não é como quando você COPIA OS PRIMEIROS 10 MINUTOS INTEIROS DE UM FILME E AINDA TEM A CARA DE PAU DE NEGAR E FAZER CARA FEIA EM ENTREVISTAS QUANDO PERGUNTADO SOBRE, COMO O PALHAÇO DO DANNY BOYLE VEM FAZENDO NO CASO CIDADE DE DEUS - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. Desculpem as maiúsculas. Beijo-me-liga.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Fomos ao Cinema ver O Lutador
Obs: Nicolas Cage era a primeira escolha para o papel. Isso me fez perceber certas similaridades entre a história desse filme e a do filme que deu a Cage o Oscar de melhor ator, Despedida em Las Vegas. Nos dois filmes temos personagens que arruinaram as suas vidas e que percebem que nada mais importa, resolvendo morrer fazendo aquilo que mais gostam (no caso do personagem de Cage naquele filme era encher a cara mesmo). E nos dois, vemos uma garota com uma profissão relacionada a sexo (a prostituta interpretada pela Elisabeth Shue no primeiro e a Stripper da Marisa Tomei no segundo) tentando, mesmo com sentimentos confusos, resgatar esses homens do destino que resolveram traçar para si mesmos. Nos dois filmes vemos uma cena na qual as duas garotas são humilhadas por um grupo de rapazes jovens. E os dois filmes possuem um ar quase documental, utilizando câmeras na mão seguindo os seus personagens nas suas sagas de queda e decadência, sem efeitos ou glamourizações baratas. Mas, tipo assim, é só uma impressão. Lembremos do caso Taxi Driver - Rastros de Ódio (contando as devidas proporções, logicamente), quando Scorsese quis homenagear a fortíssima história contada no filme de John Ford. Mesmo caso aqui, imagino que Aronofski deve ser fã do Mike Figgis e ficou impressionado com a história daquele filme, ou coisa que o valha. Não é como quando você COPIA OS PRIMEIROS 10 MINUTOS INTEIROS DE UM FILME E AINDA TEM A CARA DE PAU DE NEGAR E FAZER CARA FEIA EM ENTREVISTAS QUANDO PERGUNTADO SOBRE, COMO O PALHAÇO DO DANNY BOYLE VEM FAZENDO NO CASO CIDADE DE DEUS - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. Desculpem as maiúsculas. Beijo-me-liga.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Entrevista comigo sobre o Oscar
O que você achou da premiação de Slumdog Millionaire?
Fiquei feliz com a vitória do cearense Danny Boyle, ganhando o prêmio que Fernando Meirelles perdeu. Além disso, é um grande filme.
Você viu o filme?
Vi, sim. Tem uma barraquinha aqui perto de casa e...
Mas fale um pouco sobre o grande vencedor da noite.
Você está falando do Slumdog? Porque eu fiquei sabendo que um sujeito, aquele ator de Battlestar Galactica, pegou a Rihanna no fim da festa, então eu achei que você estava se referindo a isso.
Não.
Bom [aborrecido], em Slumdog Millionaire, Márcio Garcia é Bahuan, que quer se casar com Juliana Paes, mas, como é um dalit, precisa ganhar alguns milhões pra comprar ações da Google Índia e assim provar para seus compatriotas que: sendo Brâman tudo, é também o capital internacional, para quem naturalmente não existem castas. É, aliás, interessante ressaltar [se empolga] que na cinematografia comercial existem algumas fórmulas de prestígio. A que Fernando Meirelles, José Padilha e Danny Boyle seguiram é:
subdesenvolvimento + espetáculo = indicação a Oscar e/ou Urso de Ouro, se já vimos isso antes.
O elemento "espetáculo" é que exige a condicional "se já vimos isso antes", que, por sua vez, é plenamente satisfeita pelo elemento "subdesenvolvimento". É um modelo extremamente coeso, exemplar da dialética da forma [limpa o canto da boca espumante]. Está anotando?
Sim.
Convém falar de Tarantino, filmes de artes marciais e Big Mac?
Não precisa. E existem outras fórmulas como essa?
Sim, a dos filmes com macaco. Nesse caso, os autores divergem quanto à mais adequada formulação, porque sem dúvida a variedade das obras se furta a uma categorização rígida. Constante apenas é o elemento "macaco". Alguns autores acrescentariam os vagos "inocência" e "macaquice", este último bastante controvertido. Eu destacaria, das fórmulas propostas:
menino + macaco = matinê
menino triste + macaco = matinê com lição de vida sobre amizade
elenco Friends + macaco = Urso de Ouro
Interessante, mas isso é científico ou você está apenas fazendo gracinha?
Existe realmente alguma diferença?
Não, desde que Brâman é tudo.
Exatamente.
Mas fale sobre Kate Winslet. O que acha sobre ela não querer mais aparecer nua em filmes?
Acho um preconceito tacanho esse contra a nudez de mulheres velhas, em nossa sociedade.
Kate Winslet tem só 33…
Putz.
E o que acha do dublador brasileiro oficial de Sean Penn, que é pastor evangélico, se recusar a trabalhar em Milk, grande perdedor da noite?
Não sabia que Sean Penn era pastor evangélico.
E não é. Me refiro ao dublador brasileiro.
Sempre acho certo quando as pessoas se recusam a trabalhar.
Mesmo se fosse um cirurgião que se recusasse a fazer uma operação que salvaria a vida de sua filhinha Stephane?
Mas a questão toda é porque Milk é gay, né?
Sim.
Olha. Existem gays e não gays nesta sociedade, né? Pois bem. Se o cara é gay, tem uma razão pra ser, né? Uma razão válida ou não, né?
Não sei.
Tá com medo que eu diga que você é gay, né? Fica tranquilo, eu já sei que você é, você trabalha na televisão.
Não, não trabalho, não. E isso é preconceito.
O quê?
Isso.
Ah, é. É que eu sou blogueiro. Mas voltando à sua pergunta inicial. Concordância e tolerância são coisas bem diferentes. Harvey Milk deve saber disso.
Harvey Milk já morreu. Foi assassinado.
Pomba. Isso é spoiler.
Você então é homófobo?
Só porque eu acho que as pessoas podem não achar que as outras deveriam achar que devem viver de uma maneira qualquer?
É.
Pomba, que entrevista tosca [aborrecido]. Além disso, eu não gosto de filme dublado.
Mas e o profissionalismo, onde é que fica? Esse dublador não deveria ser mais profissional e colocar suas convicções pessoais de lado?
Sim, como a gente coloca o cérebro num pote sobre a mesa e dá entrevistas como essa [aborrecido]. Eu não acredito em profissionalismo. Quando alguém fala que tem o profissional e o ser humano, ou o político e o ser humano, na verdade nunca tem o ser humano, e o cara só quer faturar uma grana. A mesma coisa com o pipoqueiro e o ser humano, o jogador e o torcedor, etc.
Você gosta de futebol?
Aff [aborrecido].
E sobre o carnaval? Quem você acha que leva o título esse ano, no Rio e em Sampa?
Por favor, não acredito que você disse "Sampa". Sampa? Brincadeira. Sampa!
Você tem twitter?
Nem [aborrecido].
Muito obrigado por essa entrevista, na qual pudemos tratar de temas relevantes para a sociedade, como homossexualidade, preconceito e os vencedores do Oscar 2009. Muito obrigado. Boa-noite.
Boa-noit... Não, peraí. Deixa eu falar de novo. Pergunta de novo.
Não era uma pergunta.
Boa-noite e boa sorte.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Festa do Oscar 2009, ou: alguém devolva as 4 horas da minha vida que foram perdidas assistindo a essa porcaria
Essa foto nos lembra um fato estarrecedor: Goldie Hawn já ganhou um Oscar.
Melhor Ator Coadjuvante - Heath Ledger, O Cavaleiro das Trevas
Família de Ledger praticando necrofilia. Não, vocês não leram aqui eu escrevendo que a irmã dele é uma formosura.
Kate Winslet dando uns pegas no Stephen Daldry, com o seu marido Sam Mendes observando no fundo. Cof, cof, cof, corno, cof, cof. Putz, que tosse...
Melhor Ator - Sean Penn, Milk- A Voz da Igualdade
Um meigo Sean Penn, mostrando tudo o que aprendeu na composição do seu Harvey Milk. No fundo é possível ver o Anthony Hopkins boquiaberto com o popô de Penn. Pagou um pau!
Corta a estatueta na metade e manda para o Fernando Meirelles, seu plagiador barato.
Melhor filme - Quem Quer ser um Milionário?
2 bilhões de indianos no palco, recebendo o prêmio com o Danny Boyle e o produtor Christian Colson
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Fomos ao Cinema ver Frost/Nixon
David Frost - Começando a entrevista, gostaria de perguntar ao senhor se hoje, passados 35 anos dos fatos que acarretaram na sua renúncia ao cargo de Presidente, ainda se vê como inocente. Fala a verdade pra gente, véio, tu espionou os democratas legal, né? Cê tá mortinho mesmo, qual diferença vai fazer negar tudo agora?
Richard Nixon - Bom Dia, Roger. Sim, sou inocente. Fui vítima da agenda liberal.
Frost - Er, meu nome é David, Senhor Nixon. Mas por favor, fale mais sobre essa suposta agenda liberal e quais seriam os seus tentáculos, as esferas de influência da mesma e que teriam conspirado para tirar o Senhor do poder. Puxa, tive que segurar o riso agora, agenda liberal é demais para a minha cabeça.
Nixon - Desculpe por ter confundido o seu nome, Roger. Os supostos liberais-democratas dessa grande nação conseguiram me tirar do poder na marra. Esses democratas bundudos não aceitavam jamais que um republicano de botas sujas como colocasse em prática um plano de governo que efetivamente realizasse tudo aquilo que eles vinham prometendo desde 1776, e que jamais cumpriram. Eu libertei os EUA do demônio do segregacionismo, eu abri diálogo com as nações mais fechadas do mundo, eu tirei a nação daquele buraco chamado Vietnã. Eu, um republicano, tirei o país dos corredores da morte das selvas vietnamitas, nos quais fomos colocados por aquele democrata bonitão e pervo, o John Kennedy. Os democratas bundas-sujas jamais poderiam aceitar isso. Eu desmascarei esses Benjamins Franklins de coturno baixo. Déspotas! A agenda liberal foi a minha ruína, mas as páginas da história irão lembrar de Nixon como...
Frost - Tá, tá, entendi. E, mais uma vez, é David, pombas. Se liga, véio. Se eu ficasse te chamando de Reagan você iria ficar putinho, né? Respeito é bom e conserva os dentes. Voltando à entrevista, o Senhor então continua negando, mesmo com o conteúdo das fitas e o depoimento de pessoas como John Dean e Alexander Butterfield claramente indicando o contrário, que nada teve a ver com a espionagem do quartel-general dos democratas no Hotel Watergate? Cara de pau, hein?
Nixon - Roger, entenda uma coisa. John Dean e Alexander Butterfield são dois traidores da pátria. Fosse um país mais, digamos, fechado, e eles teriam perdido as cabecinhas na guilhotina. Eles foram cooptados pela agenda liberal, e entraram na conspiração. As fitas foram plantadas pelos próprios democratas. O despotismo deles é crônico. Meu truta Mao Tse-Tung me dizia sempre que a cabeça de um inimigo deve ser servida em prato de ouro. E a dos traidores devem ser comidas com garfos de ouro. Eu amava aquele velhinho chinês. Tantas lembranças... Verões quentes, invernos mais ainda...
Frost e Nixon
Frost - É DAVID, POMBAS! Defunto surdo. (Frost ergue-se e dá um tapão na cabeça do espírito de Nixon). Já vi que você vai negar isso até depois de morto. Vamos mudar de assunto então. Já que você mencionou o Mao, diziam que ele jamais escoveu os dentes na vida, já que, segundo ele, um tigre jamais escova os seus dentes. Quando vocês se beijavam, vinha aquele bafão? Como você conseguia aguentar?
Nixon - É, era um bafo de levantar defunto. Ops! Hi-5 (Frost retribui o gesto). Nas minhas últimas viagens para a China eu já ia abastecido de Tridents e Halls, daqueles de porta de balada, para aguentar melhor o tranco. Mas eu tenho que te dizer, o bafo da minha esposa Pat era tão ruim quanto. A véia realmente tinha um futum na boca.
Frost - E a sua fama de racista- secreto-e-boca-suja? Você uma vez chamou a atriz e política Helen Gahagan Douglas de lésbica suja, os filósofos gregos da Escola de Atenas de " um bando de homossexuais", e dizia que o homossexualismo era a maior praga do mundo, usado como arma dos comunistas contra o ocidente, além de desancar judeus e negros em particular. Isso não ia contra a sua imagem de inimigo do segregacionismo? Não era uma hipocrisia, a mesma da qual você acusa os seus inimigos da agenda liberal? Cara, eu nunca vou me cansar dessa.
Nixon - Eu jamais chamei aquela lésbica suja da Helena Douglas de lésbica suja! E também jamais chamei aqueles gays da Escola de Atenas de homossexuais! E também jamais achei que a porcaria do homossexualismo era a maior praga do mundo! E eu amo de paixão aqueles desgraçados dos judeus e negros! E eu nunca fui boca-suja, p@#$5! C@##$@! V@# T#@ N#@! C@%&!
Dois atores interpretando Frost e Nixon
Frost - É, véio, tá difícil. A sua loucura dos tempos de vivo permanece no além. Vamos mudar mais uma vez de assunto. A série animada Os Simpsons constantemente tira uma com a sua cara, desde o início do show, lá em 89, quando o Senhor ainda estava vivo. Um personagem inclusive muito famoso do show, Milhouse, o amigo nerd e estúpido do Bart Simpson, era nomeado em sua "homenagem" (Richard Milhouse Nixon). O que o senhor acha de ser o presidente mais zoado de um show tão famoso como esse? Indica o seu papel puramente anacrônico na cultura pop, como se o Senhor fosse a antítese do cool?
Nixon - Eu detesto Os Simpsons, prefiro muito mais o Family Guy.
Frost - Eu também! Hi-5
Nixon - Hi-5 (retribuindo o gesto).
Frost- E os filmes do Ron Howard? O que o Senhor acha deles? E o que achou do Nixon do Oliver Stone?
Nixon - Eu amo o Ron Howard. Moleque lindo. Amei Uma Mente Brilhante e Splash- Uma Sereia em Minha Vida. Aquela Daryl Hannah... eu jogava na cama e fazia mulher. Quanto ao Oliver Stone e ao filme que ele vez sobre a minha vida, devo dizer que achei uma ofensa colocarem o Anthony Hopkins para me interpretar. Aquele palhaço inglês!
Frost - Epa! Dobra a língua para falar da minha Inglaterra, seu véio sujo. E continua o misógino de sempre, hein? Mas nem como presidente uma mulher como a Daryl Hannah daria bola para você.
Nixon - Ela não me daria bola mesmo. Já a sua mulher...
Frost - Hã? Repete o que você falou.
Nixon- Nada. Bonita a sua esposinha, né? Vou comandar um plano de reconhecimento de território nela.
Frost - Seu yankee maldito! Eu furo os seus olhos!
Nixon - Calma! Relaxe, meu amigo irlandês.
Frost - IRLANDÊS NÃO, POMBAS! ME CHAMA DO QUE QUISER, DE LATINO, CIGANO, HINDU, BUDISTA, ORIENTAL, FROUXO, GAY, LÉSBICO, MAS DE IRLANDÊS NÃO! EU VOU TE ENCHER DE PORRADA! VOU PEGAR A AGENDA LIBERAL E DAR NO MEIO DOS SEUS CORNOS!
Nixon - Vem!
Os dois se atracam em uma briga, e a entrevista termina.
FIM
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Empiristas e bizantinos
No primeiro mundo da mente ou na vida do Espírito existem dois tipos de pessoas dos quais se pode fazer parte simultaneamente, mas no geral ou se é de um ou de outro: gente burrinha de bom gosto e gente que gosta de filosofia e se veste mal. Vestir-se mal subentende ler coisas chatíssimas; gente pra quem não se pode solicitar dicas de leitura, e falo a quem realmente gosta de ler e entende o que lê: conselho, afastem-se de pessoas que carregam a Fenomenologia do Espírito debaixo do braço.
Gente burrinha de bom gosto é espirituosa e tudo, e zomba dos filósofos, mas no fundo é ressentida porque só consegue ler Chesterton, que é inglês, e todo o mundo sabe que inglês pensa como quem desentope privada. Mas admiro como anglo-saxões escrevem; é tudo muito claro e concreto. É por isso também tudo muito simplista, bom pra gente que não tem tempo a perder; seu chefe, por exemplo. Acho mesmo que gente burrinha de bom gosto, que lê Evelyn Waugh e acredita que o espírito pode e deve principalmente se divertir, são todos ingleses ou queriam ser. Bom lembrar que foram os ingleses que inventaram o jornalismo. Não foram?
Mas gostam mesmo de livros e de literatura; não é só por afetação. Tá, bobagem, todo o mundo que gosta de livros gosta por afetação. Como ser diferente tendo crescido ouvindo grunge diante de uma TV?
Já gente que gosta de filosofia e se veste mal não é muito ligada em diversão; é mesmo meio masoquista. Não tem muita sensibilidade pra poesia e literatura em geral. Gosta de Chico Buarque, que é poeta, e acha cinema chinês a melhor coisa do mundo. Mas estuda Hegel, lê Heidegger e entende; sempre entra na sua casa com os pés sujos de idealismo alemão. Tende a achar existencialismo coisa de bicha, e burra, e Camus junkie food, mas não é raro ter O Estrangeiro entre os favoritos (também leu pouco; convenhamos, quem realmente lê Hegel só lê Hegel, não teria tempo pra outra coisa). E nem preciso falar o que é que acham de Schopenhauer e filósofos legíveis em geral. Grande chance de gostarem de Zíbia e Clarice, só não sei se vão se referir a elas desse jeito, pelo primeiro nome, a não ser que sejam alunos de Letras.
Quem diz que o Chico é fanho não ama o Brasil.
Acho que o que mais me importa nisso tudo é perceber como os dois grupos entendem a linguagem de maneira muito diferente e que eu acabo concordando com os últimos nesse ponto. Pois gente burrinha e de bom gosto acha que é possível falar sobre qualquer assunto com simplicidade e elegância. Qualquer. Só porque são muito práticos e não estão nem aí para o Ser. Mas gente que gosta de filosofia e se veste mal entende que o objeto requer sua forma, que claro que será truncada e complexa se o tema o for.
Não preciso dizer que ser chato é escrever mal, mas que equacionar chato e difícil é coisa de gentinha.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Direito ao anonimato
Sempre brinquei a respeito do blog; caso alguém perguntasse se fazia parte do "Fomos ao cinema", provavelmente, daria uma das três opções como resposta: sim, sou todos; não, só conheço de vista; bem, posso ser um deles, porque vc não adivinha?
Agora qual será a graça de escrever num blog onde as pessoas se levam tão a sério? Camaradas, qual será o próximo movimento? Assinar o nome de vocês em cada texto?
A alegria e a inventividade dão lugar a burocracia e o habitue. E o Camarada Moderado foi comprar cigarros...
Fomos ao Cinema ver O Leitor (ZZZZZZZZZZZZZZZ)
A história, contada da maneira mais batida possível, relata no ano de 1958 o relacionamento entre um jovem estudante alemão, Michael Berg (interpretado pelo inexpressivo novato David Kross quando jovem e pelo Ralph Fiennes quando mais velho) e uma cobradora de bondes 20 anos mais velha, Hanna Schmtz (Kate "cansei de salvar filmes ruins" Winslet), que se "entregam ao amor" (suspiros) para darem alguma cor às suas existências vazias e miseráveis (zzzzzzzzzzz). Em alguns países isso chamaria-se coação de menores, mas aparentemente na Alemanha pós-guerra ninguém era de ninguém. Depois de vermos close-ups abudantes (err....) nas derrieres dos dois atores (o que no dicionário do Daldry significa estabelecer intimidade entre dois personagens), algumas discussões (por culpa da rudeza de Hanna) e uma mal recebida promoção no trabalho por parte dela, ela resolve se mandar de Berlim, deixando o pobre Michael a ver navios. Tempos depois, já na fervilhante década de 60 (Beatles, Rolling Stones, maconha, LSD e todo esse barato lindo ai) Michael já é um estiloso estudante de direito, paquerando geral e se acabando nos cigarros e poses para a câmera (isso se chama desenvolvimento de personagem no livro de Daldry). Quando o seu professor Bruno Ganz (ele mesmo, o Hitler do A Queda e o Anjo do Asas do Desejo, já batendo na porta do céu) o leva para curtir um julgamento básico de criminosas nazistas em nome dos estudos, Michael mal pode acreditar quando, em uma coincidência daquela de fazer o roteiro do Homem-Aranha 3 parecer o Cidadão Kane, Hanna se levanta para depor entre as acusadas. Essa descoberta acaba levando o filme para o rumo de um típico drama de tribunal, mas sem qualquer tipo de suspense ou tensão, e sim um desfile de histrionices e momentos risíveis (como quando as outras acusadas começam a gritar histericamente contra Hanna), entrecortados com imagens de um Michael cabisbaixo na platéia da côrte.
"Você está tentando me seduzir, Senhora Robinson?"
As Horas - 6
O Leitor - 5
Bela Lugosi is dead. Bauhaus também.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
lol lol lol
O humor de Tennessee Williams by Marlon Brando
Brando de Kowalski se lambuzando todo ao comer frango, Stella chama ele de porco e manda que se limpe e tire o prato da mesa. Parece que nem está ouvindo. Um clique e a transformação que é um verdadeiro pandemônio. Num golpe com a palma da mão ele arrebenta o prato e depois aponta o dedo pra cara de Stella avisando pra ela nunca mais falar daquele jeito com ele. Pega uma xícara, que ataca na parede, e – a piada – faz uma pergunta que Brando (e acho que só ele) consegue deixar soar brutal e cínica na medida certa: - Você quer que eu tire o seu prato também? Na mesa as mulheres começam a chorar, mas eu, eu estou gargalhando.
O humor de Stanley Kubrick by George C. Scott
Peter Sellers é presidente dos EUA durante a Guerra Fria tentando evitar um desastre nuclear iminente. George C. Scott é general e um dos conselheiros do presidente. Às tantas Scott eufórico sugere o uso de um avião para deter um míssil num ataque não ordenado aos russos que acionará uma arma chamada Doomsday Machine, que destruirá toda a vida no planeta. Peter Sellers então pergunta se isso vai funcionar. Bom, só a cara que Scott faz valeria o filme. A mão à boca, o olhar paspalho e o silêncio. Quem vir aí uma crítica contundente ao militarismo da administração Bush, guarde pra si. É só pra dar risada.
O humor de Ingmar Bergman by Bibi Anderson by Camarada Fundamentalista
Em Persona Bibi Anderson é uma enfermeira encarregada de cuidar de Liv Ullmann, atriz que emudeceu inexplicavelmente durante uma apresentação de Electra. Tem uma cena em que Anderson se confessa a Ullmann. Um dos segredos que conta é que recebeu de herança uma grande quantia em dinheiro de uma tia que ela detestava quando menina. Em lágrimas, pergunta: - Sabe o que eu fiz com o dinheiro? Ullmann balança a cabeça indicando que não. Então, Anderson responde: - Apliquei tudo na poupança.
Corte para o popozão de Anderson. (Eu ri.)
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Como eu estava dizendo,
Benjamin Button é bom, um pouco oco, não tanto como Forrest Gump, com que guarda tantas semelhanças, mas bonito, muito bonito. Trata da morte e da superação desta. E também do tempo, do acaso e da velhice. E eu já disse que é bonito? Porque é. Com grandes lições de vida que emocionam plateias que choram vendo Marley e Eu porque o cachorrinho morreu e tratam mal garçons e balconistas tudo um bando de incompetentes.
Brad Pitt parecendo modelo de comercial de cueca é ridículo. As mocinhas (biológicas ou não) suspiram. É um princípio estético que tudo que faça as mocinhas suspirarem seja ruim. David Fincher entreguista. O beija-flor também é dose. Mas a história do relojeiro, na qual tem gente metendo o pau, é perfeita, como se autorizasse a realidade da história que se inicia, under unusual circumstances.
Mas o Brad Pitt é um cara legal, né?
Gostei muito do filme. Merece o Oscar, principalmente em vista dos concorrentes, com exceção de Milk, que eu não vou ver. Por quê? Mas esta é uma excelente pergunta. Primeiro que eu sou homófobo e perseguidor estranhamente empenhado da classe; segundo, que o filme me pareceu – só pelo trailer – engajado, e eu sou hipersensível a filme engajado, poema engajado, cinzeiro engajado, Evo Morales engajado (*).
Escrever Evo Morales é que nem enfiar o dedo no nariz, né?
A disponibilidade que caracteriza Benjamin Button e que o torna um dos melhores ouvintes do cinema, melhor que o próprio Forrest Gump, é o componente principal da fábula, afinal, trata-se de um personagem em condições especiais, que vê o mundo a partir de um perspectiva privilegiada, e assim por diante. E de novo volto a repetir novamente que Canal da Mancha e Kate Hepburn ser a namoradinha de infância de Benjamin se devem àquela pretensão visionária do roteirista de fundir realidade e ficção. Mas a Cate Blanchett vai melhorando conforme envelhece, uma vez que deixa de lado a libertinagem esclarecida da classe artística (é isso Kate Hepburn?), opinião que soou tããão old-fashioned.
Ô, a tempo: como tragédias permeiam o filme a ponto de definir acontecimentos, tudo para proporcionar o precioso insight de que a morte e a vida são um milagre, e como o filme foi rodado em Nova Orleans, Benjamin Button é uma espécie de consolo tardio para as vítimas do Katrina, no entanto muito mal inserido na trama justamente por não fazer parte da história principal, e sim da moldura narrativa da Cate Blanchett nas últimas.
Alguns filmes são relevantes e necessários; os bons são só fúteis.
(*) Argumento extendido de Por que eu não tenho a mínima vontade de ver Milk: fora o fato de eu ser homófobo e perseguidor estranhamente empenhado da classe, só a ideia de filme engajado, só a possibilidade de um filme ser engajado ou mesmo de parecer com um filme engajado, me faz ficar em casa vendo reprises de filmes ruins mas não engajados. Primeira lição estética: filme bom não tem partido, não defende nada; só mostra que, poxa, a gente é do jeito que é. Taxi Driver, Godfather e a maioria dos Bergman, essas coisas todas são muito ambíguas e amorais porque pregar com propriedade sem descuidar a fatura estética exige mais que talento: é preciso estar no lugar certo e na hora certa e daí se tornar a Voz de uma geração etc e tal. A única lição da arte é Balzac, La Rochefoucauld, de que a gente não presta mesmo; mas isso é demais pra cinema (só Bergman chegou lá), por isso vamos nos divertir e ponto. Tá, A Lista de Schindler, que é só um pipocão relevante, e O Nascimento de uma Nação, que também é pipocão de qualidade, claro que também do mal, isto é, do Mal. E sabe por que tudo isso? Primeira lição histórico-filosófico-sapiencial: na maior parte do tempo ninguém é bom ou mau, pelo menos não do jeito que dá pra se aproveitar romanescamente, com caretas de vilão de novela e o buço suado de maldade; a gente apenas está completamente enganado, ou é muito ignorante e medíocre e mesquinho e, tá, admito, todo o mundo merece sofrer horrivelmente. O problema é que as nossas maldades contínuas e ininterruptas são na maior parte egoísmos minúsculos acumulando-se incontavelmente por dias e semanas e meses muito chatos e nem um pouco hollywoodianos sem nunca haver coragem suficiente pra ser perverso na cara. Tipo, este plot tirado da minha segunda-feira: é a história de como um jovem de vinte e poucos anos não cedeu lugar para um velhinha porque estava cansado e com a mochila pesada e portanto fingiu estar dormindo na iminência daquelas mãos enrugadas segurando na barra do banco da frente com muita, muuuuita di-fi-cul-da-da-da-de, porque, pomba, velho é um saco; e depois de como ele esconde dos colegas de serviço que tem um Halls de morango no finalzinho e chupa as três balas restantes sozinho. You make me sick!
Mas vão ver Milk e me contem. U-hu!