sábado, 21 de março de 2009

Cuidado! Sua família corre perigo!

Muita gente tropeça em nós ou porque digitou no Google o nome de algum filme errado, ou porque estava procurando Orlando Bloom Costinha piores atores pegando pinguim indie. Eu não sou advogado, mas isso aí deve ser ilegal.

Mas a maioria desses pervertidos (olha, teve uma época em que todo internauta [do grego, marinheiro do meio] era pervertido; tipo, a Polícia Federal deveria checar todo o mundo que já teve ICQ, mas enfim) tem a mentalidade totalitária.

A mentalidade totalitária é parecida com bócio ou crista de galo. Dá pra pegar em corrimão de escada, banheiro público ou se não enxaguar direito.

Um dos benefícios sociais de alcance universal do monoteísmo (anota isso aí, que é intelectualmente chique) é acabar com a idolatria. Ninguém está acima da crítica senão Deus. E isso por definição. Deus pode ser, dependendo de onde se nasce, aquele que traz a chuva, ou quem segura a grande massa de águas. Para nós, é aquele que está acima da crítica. Se você diz que, por exemplo, o Coldplay é absolutamente sensacional, então o Coldplay é Deus. Pessoal, eu não sou teólogo, mas isso aí é blasfêmia. Chris Martin andando sobre o Canal da Mancha, Chris Martin criando o mundo em seis dias, Chris Martin entregando o Decálogo: Não farás cuecão atômico em mim; Não dirás que o Coldplay é o Radiohead descafeinado, etc e tal.

Ha! Eu não sabia!

"Quem é competente faz sucesso." E não pode criticar quem faz sucesso, porque isso é inveja. Ditaduras são construídas sobre muito menos, pessoal. É hora de botar a mão na consciência, porque o metrô está lotado e ninguém vai saber que foi você.

Agora vou usar o argumento Hitler ou argumento nazista.

Antes, a explicação do argumento Hitler:

Toda vez que se quer encerrar a discussão ou, o que é quase a mesma coisa, ganhar a parcela judia da plateia, deve-se apelar a um paralelo dramático, chamado argumento Hitler. "Nossa, mas foi a mesma coisa com o nazismo", ou "Hitler chegou ao poder assim", ou ainda as formas simplificadas "Isso é nazismo" e "Que nem o Hitler".

Pessoal, se a gente não pode falar mal do Coldplay, logo, logo o nazismo está de volta. E digo mais: se a gente não falar mal do Coldplay, o nazismo vai voltar. O que é que os fãs do Coldplay preferem? Ouvir Coldplay ou o nazismo? Pessoal, eu não sou médico, mas o nazismo matou muita gente!

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vá ao show do Radiohead, mas não me chame.

É isso ai, cambada. A crise está batendo na canela de todos. O Fomos ao Cinema, esse blog mais procrastinado que aluguel de malandro, não será afetado pelo tumulto que assola a realidade econômica da geopolítica internacional, já que não somos uma sociedade anônima em busca de lucros fáceis, o que significa que nós não buscamos a renda de títulos, ações e capitais, e por isso não estamos sujeitos a cobranças de impostos,encargos trabalhistas e outras ferramentas. O máximo que poderia acontecer seria alguém confiscar os nossos computadores, mas ai nós poderíamos pedir uns trocados nos faróis para postarmos nas lan houses da vida. A velha rotina do "boa tarde senhores motoristas, eu poderia estar roubando, mas estou aqui, pedindo alguns minutos do seu tempo para mostrar para vocês essa deliciosa novidade, o Chocobis de morango e blá, blá, blá". Uma vez eu fiz uma piada assim para uma ex-namorada, e ouvi um "isso foi muito insensível da sua parte". Pô, fiquei constrangido. Mas o relacionamento estava indo para a tumba mesmo, e a menina tinha tanto humor quanto o Hitler, então tudo ficou bem depois.

Mas, já pedindo para vocês esquecerem essa digressão irritante, venho aqui colocar o dedo na cara do Thom Yorke e dizer que eu estou boicotando o show que a banda mais mala do hemisfério norte fará aqui na terra dos modernistas (nós te amamos, Oswald de Andrade) domingo. Sim, Radiohead, da minha bufunfa vocês não verão nem a sombra! Sei que a banda nem dormirá de preocupação com isso, mas preciso alertar todos os indies que se deslocarão até a longínqua Chácara do Jóquei (é tão longe que nem São Paulo é mais), no bairro da Vila Sônia. Todos vocês que atravessarão a cidade até as fronteiras do oeste precisam ter em mente que esse show poderá ter dois cenários distintos. Peguei a lista de músicas tocadas nos dois shows que a banda fez na Cidade do México (solto um estereotipado arriba para os mexicanos) dias atrás, e a coisa vai ser feia. Quer dizer, se a banda resolver seguir a lista do primeiro show, veremos um suicídio coletivo da indieaiada, no melhor estilo Reverendo Jim Jones, de tão chato que seria o negócio. Se a banda seguir o set-list do segundo dia, ai vai melhorar um pouco só, mas ainda sim veremos um "eu não aguento mais!" aqui e acolá. Lógico que ainda haverão os shows do Kraftwerk (o krautrock morreu, antes ele do que eu) e a volta do Los Hermanos, mas eu vou me concentrar no cardápio principal. Manda ai garçom, dois filés com fritas, morô? Vamos aos dois cenários então:



Radiohead, no melhor estilo Judas Priest. Breaking the law, Breaking the law

Primeiro Cenário
Set-List do primeiro show na Cidade do México

1. 15 Step
2. Airbag
3. There There
4. All I Need
5. Nude
6. Weird Fishes/Arpeggi
7. The Gloaming
8. National Anthem
9. Faust Arp
10. No Surprises
11. Jigsaw Falling Into Place
12. Lucky
13. Reckoner
14. Optimistic
15. Idioteque
16. Fake Plastic Trees
17. Bodysnatchers

Primeiro Bis
18. Videotape
19. Paranoid Android
20. House of Cards
21. My Iron Lung
22. Street Spirit (fade out)

Segundo Bis
23. Pyramid Song
24. Just
25. Everything In Its Right Place

Esse set-list é o mais comum na turnê da banda, e é provável que seja o seguido no show. A sequência inicial (as 17 músicas antes do primeiro bis) é assustadora. Sério, pagar 200 pilas para ver um show dominado por músicas dos soporiferos Kid A, Amnesiac, Hail to the Thief e In Rainbows (que tem TODAS AS MÚSICAS na lista) é de corar. As três do Ok Computer perdidas ali (Airbag, No Surprises e Lucky) são lindas de morrer (ui!), mas ao vivo provocam apenas o sono dos espectadores. Idioteque é uma excelente canção (a melhor do Kid A), mas ao vivo faz a galera toda procurar o bar. E Fake Plastic Trees... blergh. A pior música do The Bends é sempre tocada ao vivo pelo Radiohead como se a banda estivesse fazendo por pura obrigação, jogando para os fãs. Quando menos se espera, é ai que não sai nada mesmo.

O primeiro bis pode acordar finalmente a galera, já que Videotape é a melhor música do In Rainbows (e ao vivo normalmente soa muito bem), My Iron Lung garante boas guitarradas, e Paranoid Android é espetacular, e ao vivo, por mais letárgica que a banda seja, sempre fica apocalíptica. House of Card é um lixo e Street Spirit é uma musica que jamais deveria ser cogitada para se tocar em qualquer show. Mas o Radiohead... Mas o Thom Yorke...
O último bis tem Just apenas para salvar os incautos, já que Pyramid Song é música de elevador da pior qualidade, e Everything in Its Right Place encerrando um show é uma ofensa de uma banda que acha que qualquer arroto que solta é divino. Sério, é piada. Isso é um show, caramba, não um funeral. Se esse for o set-list do show em Sampa, eu repito, temo pelo pior. Mas as coisas podem ser um pouco melhores.




Segundo Cenário
Set-list do segundo show na Cidade do México

01-- 15 Step
02-- There There
03-- The National Anthem
04-- All I Need
05-- Kid A
06-- Karma Police
07-- Nude
08-- Weird Fishes/Arpeggi
09-- The Gloaming
10-- Talk Show Host
11-- Videotape1
12-- You and Whose Army?
13-- Jigsaw Falling Into Place
14-- Idioteque
15-- Climbing Up The Walls
16-- Exit Music (For a Film)
17-- Bodysnatchers

Primeiro Bis
18-- How to Disappear Completely
19-- Paranoid Android
20-- Dollars and Cents
21-- The Bends2
22-- Everything In Its Right Place

Segundo Bis
23-- Like Spinning Plates
24-- Reckoner
25-- Creep

Não é um grande alívio, mas os mexicanos que foram no segundo show tiverem muito mais sorte que os seus conterrâneos que foram no primeiro. Esse set-list é melhor. Longe do ideal, mas um cenário menos catastrófico. Tirando a mania da banda de começar os shows com a inqualificável 15 Step (zzzzzzzzz), temos 3 grandes canções do OK Computer que soam bem ao vivo (Karma Police, Climbing Up The Walls e Exit Music), as músicas dos quatro últimos discos estão melhor colocadas, Paranoid Android permaneceu na lista (se a banda não tocar, quebrem tudo por lá) e, por um milagre divino, a banda incluiu The Bends, canção que garante um bom momento "vamo pulá", como diria SandyeJunior, e Creep. E é aqui que mora o grande mistério do negócio todo. Todo mundo sabe que a banda detesta a música que a lançou ao estrelato, que eles tocam raríssimas vezes ao vivo (normalmente em cidades importantes), e que, quando o fazem, normalmente rola uma má vontade do tamanho de um bonde, ou eles esculhambam tudo de uma vez mesmo, mudando o ritmo e andamento, o Yorke mudando a letra, entre outras molecagens.

Ainda sim, Creep é a única canção do Pablo Honey (primeiro disco) que a banda vem tocando esparsamente nos últimos 10 anos. O resto do álbum simplesmente é ignorado em todas as turnês. Realmente, é de emocionar o carinho que a banda trata o álbum que fez os seus integrantes poderem pagar as suas contas. Só porque ele tem uns clichezinhos do rock alternativo (a velha alternância calmaria-distorção da cartilha Nirvanista assola as músicas) e umas letras meio "mamãe, o mundo é feio", a banda tem vergonha dele. Mas vocês virariam as costas para um filho? Mesmo que, sei lá, ele fosse boca suja, ou batesse em vocês e tudo mais? NÃO! Já passou da hora do Radiohead perder a guarda do moleque. Mas voltando à grande questão, o negócio é saber se eles vão tocar Creep em São Paulo ou não. Se tocarem, por mais safada ou não que seja a execução, vai ser o bicho.

Vi uma vez um vídeo bem maltratado com eles tocando a canção num festival chumbrega dos Estados Unidos em meados de 94, e foi, usando uma expressão batidíssima, catártico. Se eu fosse apostar, colocaria o show do Rio (que será hoje) na questão. A banda vai tocar Creep no Brasil, mas apenas em uma das cidades. Portanto, caso amanhã, meu caro indie paulistano, você leia nos periódicos (momento de época do dia) que a banda tocou Creep na Praça da Apoteose (arrepia Salgueiro!) no Rio, pode colocar a cabeçinha nos braços e chorar. Se não, esfregue as mãos. Aviso do seu melhor amigo, Camarada Progressista, esse insuspeito detrator de Yorke e cia.


Essa foto prova as minhas intenções de amizade com os fãs dos Los Hermanos.

Notas dos discos do Radiohead:
Pablo Honey - 7
The Bends - 9
OK Computer - 10
Kid A - 7,5
Amnesiac - 0
Hail To The Thief - 2,5
In Rainbows - 5

Obs: em breve, tudo sobre os shows da Liza Minelli no Brasil. Músicas, reação do público, depoimentos dos famosos presentes, bastidores, e muito mais.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Fomos ao Cinema ver Entre os Muros da Escola

Vou descrever aqui as coisas que descobri assistindo ao filme francês Entre Os Muros da Escola, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado e indicado derrotado ao Oscar de melhor filme estrangeiro (perdeu para a produção japonesa Okubirito), e que retrata com um ar quase documental o cotidiano de uma classe em uma escola pública na periferia de Paris, e a luta de um professor jovem e idealista para conseguir transmitir os seus ensinamentos para os maltratados alunos. Sim, você deve estar pensando, "mas eu já vi esse filme um milhão de vezes!". Dessa vez é bem diferente, vai por mim. François Bégaudeau, que interpreta o professor, também escreveu o roteiro, baseado em suas próprias experiências como professor. Ele também é vocalista de uma banda punk francesa (uma contradição em termos), escreve colunas de futebol, é autor e roteirista. E, segundo os suspiros e assovios das moças presentes na sessão na qual me encontrava, é biito também. Baita exagero, logicamente.



Coisas que descobri:

Paris tem periferia.

Paris tem escolas públicas.

Paris tem bons alunos.

Paris tem maus alunos.

Paris tem tensões raciais.

Paris tem imigrantes ilegais

Paris tem imigrantes de diversas etnias, muitos deles de ex-colônias francesas, e muitos deles ilegais.


Paris tem professores brancos dando aulas em escolas de periferia, o que gera constantes tensões com os alunos de outras etnias, que se sentem marginalizados e inferiorizados, e muitos deles ilegais. E imigrantes ilegais infelizmente não são permitidos pela constituição francesa, o que em nada afeta o lema daquele país (o lindo Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

Paris tem imigrantes chineses ilegais.

Paris tem estudantes chineses que são os melhores alunos nas suas respectivas salas de aula, mesmo sendo imigrantes ilegais.

Eu, eu , eu, eu!


Paris tem estudantes encrenqueiros que são os piores alunos das suas salas, e mesmo sendo imigrantes legais, têm sobre as suas cabeças ameaças de deportação. Ou seja, tanto os bons e os maus alunos acabam enfrentando os mesmos tipos de problemas, se forem imigrantes legais ou ilegais provenientes de continentes como África e Ásia e estiverem vivendo na periferia de Paris.

Professores brancos dando aula para alunos em salas de aula da periferia de Paris com esmagadora predominância de alunos de outras etnias acabam podendo soar um bocado arrogantes, com uma perigosa condescendência permeando os seus atos. Mas eles são brancos e franceses, então eles estão bem.

Conselhos de classe de escolas na periferia parisiense podem ser discriminatórios quando lidam com imigrantes legais ou ilegais. Por isso, se um dia vocês forem imigrantes legais ou ilegais estudando em uma escola na periferia de Paris e venham a passar por um conselho de classe, tenham em mente uma coisa: ferrou.

Imigrantes africanos são muito orgulhosos em relação às nações de origem das suas famílias. O que nos lembra, dado o altíssimo número de ex-colônias francesas na África, que a França se divertiu pacas no continente negro na época do neocolonialismo.

Se você tem duas alunas chatas pra cacete, que ficam interrompendo a aula o tempo todo e tirando um sarro da sua cara, você, professor, em vez de fazer valer a sua autoridade pelos métodos convencionais, pode simplesmente chamá-las de prostitutas na frente da sala toda, e tudo ficará bem. Ninguém questionará a sua falta de polidez, seu misoginismo flagrante e outras coisas menos cotadas.
Agora, se o aluno mais rebelde da sua sala pergunta, na frente de todos os seus alunos, se você é gay, ai você poderá responder educadamente. Totalmente proporcional.
Eu sou o punk da periferia, sou da Freguesia do Ó, ó, aqui pra vocês!

Os emos da periferia parisiense são melhores que os nossos. Eles têm uma razão social, o que é muito importante.

Zidane é mais citado no filme que o presidente Nicolas Sarkozy. Talvez o careca devesse considerar morar por um tempo no Palácio de Versalhes. A molecada toda ama o rapaz, filho de imigrantes argelinos.

A seleção argentina de futebol é citada, mas a brasileira não. E agora, Galvão Bueno?

O futebol é a cura para todo mal. Depois de 130 minutos de aulas mais parecidas com batalhas, xingos, bravatas e racismos para todos os lados, tudo o que precisamos fazer para recuperar o nosso senso comunitário é organizar uma bela pelada entre alunos e professores. Meio que nem o Golpe Baixo, aquele filme do Burt Reynolds que foi refilmado recentemente com o Adam Sandler. Putz, eu tinha de enfiar o Burt Reynolds e o Adam Sandler nesse texto. O que acontece comigo?

Paris é muito hypada. Se as cidades européias fossem bandas, seria sem dúvida alguma o Radiohead.
O filme é bom.

domingo, 8 de março de 2009

Rorschach e os Piratas

Terry Gilliam uma vez disse que seria infilmável a obra de Alan Moore e Dave Gibbons, pelo menos para os padrões comerciais de algumas horas sentado numa poltrona de cinema devorando raivosamente um saquinho de pipoca. Senhores, ele afirmara que seria necessário horas, na verdade doze, para realizar a façanha satisfatoriamente. Até aí, Terry Gilliam sempre foi um brincalhão, não conhecia Zack Snyder e dizia isso em pleno auge da década de noventa.

"Do revolucionário diretor de 300", como diz na chamada, vemos o quadrinho virar filme e sem as exageradas 12 horas de duração: Watchman não é filme para mostras de cinema, é um filminho pipoca mesmo; sentar a bunda na cadeira e devore sua pipoca com mais parcimônia; duas horas e 45 minutos, pois, demorará então até chegar nos créditos.

E sinceramente, 300 me decepcionou muito: não por colocar maquiagem e efeitos para deixar todos os espartanos parecendo ratos de academia ou adoradores de fitness, mas sim por demonstrar, devido a uma certa preocupação de fidelidade, todos os buracos daquela história de Frank Miller, mostrar pelo menos para mim. Agora Madrugada dos Mortos foi uma boa refilmagem. E parece que o Zackinho, amigo de colégio e que adorava suco de pera e ovomaltino, tomou um poquinho de coragem e resolveu tentar alguma coisa mais ousada e "revolucionária" que os gregos de tanga que se amavam antes das batalhas.

1986. São duas décadas e alguns anos, muita gente que vai assistir o filme nem tinha nascido. Desses, alguns nem saberão que Nixon era um cara legal, nem sempre usava nariz falso e só saiu do cenários político graças ao Forrest Gump e nem Dr. Manhattan conseguiu salvar o escândalo na época, ele deve ter ficado verde de inveja: um retardado conseguiu fazer uma coisa que nem cara que cria brinquedinhos de vidro em Marte com a mente, invejinha do homenzinho azul. Depois de duas horas de filme, percebi que o peladão superpoderoso era nosso queridos Billy, sempre se escondendo nas suas atuações, acabei nem percebendo esse detalhe. Penso que talvez porque sua atuação é tão boa que nem percebi que era um ator, era tão boa que parecia efeito especial. Os dias já são outros, vemos tudo do azulão e nada da Rebecca Romijn-Stamos quando ela participou do filme do Brian Singer: peladão pode, mas mulher não, realmente os tempos são outros. E se tratando de uma adaptação bem que poderia ser Doutora: ao invés do expressivo pequeno billy, a estonteante Rebecca Romijn-Stamos. Nós já sabemos que ela sabe interpretar com bastante tinta azul pelo corpo.

Ah.. se você fosse azul nesse filme também

A mancha psicológica de Rorschach estava maneira, eu quero ter uma camiseta daquela, no final me perguntaram se tinha gostado do filme. Calmamente eu disse:

"E os piratas?"

sábado, 7 de março de 2009

Fomos ao cinema ver Watchmen


Pelo espírito de Sigmund

"I'm not locked in here with you! You're locked in here with ME!"
(Rorschach para a plateia pouco antes do filme começar.)

That's all about sex.

Diário de Rorschach: 6 de março de 2009. Americanos pronunciam Rorschach como "Rórtchek". Estranho. Estreia de Watchmen. Não entendi o maldito filme. 163 minutos. Estou exausto. Dr. Manhattan fala como um padre, é superpoderoso e azul. Parece um Viagra gigante. Liberais pederastas, sempre dando um jeito de enfiar sexo em tudo. Quando vierem me pedir ajuda, quando gritarem "Salve-nos!", vou exigir o reembolso do estacionamento.

Diário de Rorschach: 7 de março de 2009. Fui novamente àquele centro espírita na Kensington St. Talvez eu esteja viciado. Dane-se. Havia algo estranho no filme de ontem. Precisava de respostas. Estou confuso. Estão dizendo que Watchmen é uma estilizada fantasia sexual com Richard Nixon. Algo a ver com os EUA terem vencido no Vietnã graças ao Viagra. Não acredito. Distorceram tudo. Dan e eu éramos só dois caras que gostavam de jogos e de ficar juntos o tempo todo. Dan agora é ator, sempre faz papel de fracassados fornicadores. E no entanto é impotente. Que ironia. Edward também é ator. Acho que é o destino natural dos mascarados, como nos chamavam nos anos 1980, quando diziam que a Aids era um castigo divino. Talvez se Nixon não tivesse ferrado tudo, as coisas fossem melhor. Mas divago.

Diário de Rorschach: 11 de março de 2009. Revi Harry Potter e a Câmara Secreta e aluguei Big Fish. Ando desconfiado. A questão é a seguinte: como Emma Watson pode ser apenas uma menininha de 12 anos de idade em Harry Potter e um ano depois ter 24 em Big Fish? Me disseram que haveria uma outra Emma Watson e que ela se chamaria Alison Lohman. Besteria! é o que eu digo. Trata-se de uma conspiração. Alan Moore me avisou disso. Provavelmente Emma Watson sempre tenha sido uma moça de 24 anos. Preciso achar Sam Rockwell. Ele deve saber de alguma coisa, acho que ele é cientólogo.

Emma Watson.

Emma Watson com Sam Rockwell e Nicholas Cage.

Diário de Rorschach: 12 de março de 2009. Estava revendo alguns episódios da terceira temporada de Friends. Deus, como era bom. E aquele Ross, que cara. Li num blog que Watchmen é uma distopia com roupagem comics e explosões que agradam a garotada entre 20 e 50 anos fã de mulheres peitudas em colantes. Mas se Jon é o Viagra e Adrian consegue manipulá-lo para realizar seu plano moralmente questionável para deter a ameaça "nuclear", então o mundo é salvo por quem sabe usar o Viagra? Essa é a mensagem do filme? Usem corretamente o Viagra? Jon andando pelado o tempo todo me fez lembrar dos velhos tempos quando ele andava pelado o tempo todo. Como éramos jovens!

Dr. Manhattan demonstra seu completo domínio sobre a matéria multiplicando-se.

Diário de Rorschach: 14 de março de 2009. Vi o filme pela quinta vez e é muito profundo. Estive pensando em Jon novamente. Ele é o típico homem contemporâneo, que tem de se multiplicar pra dar conta na cama e no trabalho. Mas no fundo quer se mudar pra Marte e ficar sozinho com seus brinquedinhos. "The existence of life is a highly overrated phenomenon", Jon diz no filme. Esse tipo de aniquilacionismo budista era só uma desculpa dele pra ficar exibindo seu negócio azul para estranhos. Ele podia manipular a matéria como bem entendesse. Podia ter tido classe. O fato de Watchmen ser morbidamente violento e, tanto quanto pode ser uma produção comercial, sexualmente explícito não quer dizer que é um filme adulto. Não tinha o John Malkovich.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Fomos ao cinema ver Slumdog Millionaire

Jamal Malik, garoto do chá, aí vai a pergunta valendo não 20 milhões de rúpias (aliás, quanto valem 20 milhões de rúpias?), mas 8 Oscar:

Que tipo de urso é o melhor?

a) Urso polar.
b) Urso branco.
c) Urso negro.
d) Battlestar Galactica.

Estava escrito que Slumdog Millionaire levaria 8 Oscar. E Slumdog Millionaire merece 8 Oscar, só não sei se 8 Oscar merecem uma ida ao cinema. Cerca de uma hora antes de ver o filme do Danny Boyle, eu estava em casa assistindo a Manhattan – desculpem a imagem lasciva a seguir, é puramente documental – sem camisa. Quem me dera nem tê-la vestido.

Churchill achava que os indianos precisavam dos ingleses pra cuidar da Índia. Ao passo que Gandhi dizia que os indianos podiam se virar sozinhos. Bom, a conclusão que eu tiro de Slumdog é que ambos estavam errados. Entrega tudo na mão do Papa ou da Disney. Porque quando o elenco começa a dançar no final do filme na melhor tradição Bollywood, as coisas realmente fizeram sentido e eu vi que tinha entrado numa sessão de Madagascar 2. No lugar de marsupiais, indianos se remexendo muito.

Durante anos assisti resignadamente às pessoas se entregando a um culto doentio aos pinguins. Claro que um engodo internacional armado pelos judeus. Pinguins = judeus, etc e tal. Mas agora são os indianos. Temo que, com isso, eu já não tenha liberdade pra dizer que indianos são inferiores. Não é que sejam, bom, talvez sejam, mas não é esse o meu ponto. Não é o momento pra tratar disso. O fato é que eu prefiro pinguins.

É óbvio que não acho os hindus inferiores. Respeito muito suas crenças. Se tivesse de escolher entre comer uma vaca ou um hindu, comeria o hindu. Além disso, sou uma pessoa muito espiritual. Costumo ter como que visões. Por exemplo, o Grande Pinguim me disse que eu podia escarnecer do hinduísmo e que, se eu matasse dez hindus, Kristen Bell se casaria comigo. Matei e comi os dez. Slumdog Millionaire, por outro lado, é obviamente um filme sem alma. E duvido muito que tenha sequer um corpo. Não importa, pois a Academia não parece ligar pra antropologia filosófica, reencarnação ou cinema.

20 milhões de rúpias, 8 Oscar e R$ 18 pelo ingresso: mais cara que Latika, só Eva.

Mas acho injusto acusarem Danny Boyle de plagiar a galinha do Fernando Meirelles. Em Mumbai existem muitas galinhas. Agora, é o Silvio Santos quem devia processar. Transformado em vilão do filme só porque é judeu. E é broxante descobrir que eles fizeram o pequeno Azharuddin (o garotinho que interpreta o protagonista na infância) afundar num monte de /palavrão/ pelo mesmo motivo que Peter Parker foi mordido por uma aranha radioativa e acabou interpretado por Toby Maguire, isto é, por causa de uma garota. Mas a essa altura do filme, a gente é que se pergunta o que é que está fazendo ali se nem tem uma garota envolvida no negócio.

"Eu me remexo muito!"

Não me entenda mal, se você estiver passando pelo cinema, ficar cansado e quiser pagar pra sentar, compre um ingresso pra Slumdog Millionaire. Nada é ruim. Se eu dissesse isso, não estaria fazendo crítica; estaria falando a verdade, mas não fazendo crítica. Tudo tem alguma coisa que preste. Sua vó vai gostar de Slumdog Millionaire. Está escrito.

Pra efeitos desse post, sou indiano e hindu.