segunda-feira, 29 de junho de 2009

Y The Last Man e todas outras coisas

Brian K. Vaughan é um gênio. Não daqueles gênios com alta inteligência estressadinhos com direito a cabelo dessarumado. Muito menos aqueles superprodutivos que atuam em áreas diversas e parecem não dormir ou comer. Afirmo sua genealidade, pura e simplesmetente, graças a uma história escrita pelo autor: Y The Last Man. Minha argumentação baseia-se apenas num roteiro que ele escreveu durante 60 edições para linha Vertigo da DC Comics.

comentei brevemente o trabalho desse sujeito nesse blog. Naquela época não esperava que a história me surpreendesse tanto, sabia do bom argumento, da boa condução da narrativa. Logo na primeira edição ele nos mostra que domina muito bem uma condução da narrativa: apresentando primeiramente o fato maior, que todos os homens morreram, para depois apresentar os personagens principais momento antes do incidente e, em contagem regressiva, até o momento que todos os homens começam a morrer e apenas Yorrick Brown parece sobreviver, completamente ileso.

Ele trabalha muito bem também com conceito de mídia associativa e mídia convergentes. Esses novos autores de quadrinhos são carcterizados por esse estilo: conta uma história ao mesmo tempo que nós mostra vários outros materias relacionados; histórias ocultas, cultura pop; etc.

Mas ele amarra a história através das histórias pessoais daqueles personagens apresentados e não por fatores externos ou acessórios da trama. Todos os personagens principais são nos apresentados por algum trecho ou vários das suas respectivas infâncias. Esses flashbacks nunca são gratuitos, alías, são sempre elementos que nos fazem entender melhor as motivações daquelas pessoas e comprender melhor o porquê daquela atitude naquele momento.

No final das contas, a grande trama: o porquê morreram tantos homens, parece algo tão pequeno comparado a história daquelas pessoas numa situação caótica. A morte de quase todos os homens só serve para pano de fundo para contar uma história fantástica e bem amarrada sobre relacionamentos e fugas.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Por que Maria Antonieta é bom

Pelo espírito do Camarada Fundamentalista

(Oi, meu nome é Camarada Fundamentalista. Eu costumava escrever neste blog.)

É bom porque é bonito, poxa. E você pegar o Ancien Régime e fazer disso uma crônica adolescente merece as cinco estrelas vendidas e promíscuas do Pablo Villaça. E o século XVIII é bem indie mesmo.

This is Versailles!

Sei lá quando, mas em algum momento os críticos esqueceram de vez a arte para serem profundos. Foi quando a coisa ferrou mesmo. Daí que você lê resenhas e resenhas de filmes e livros em que a palavra beleza e seus derivados só aparecem entre aspas ou com muitas ressalvas, se não for a própria ressalva. "Apesar de ser bonito", "só é bonito", etc, etc. A ideia de algo "só ser bonito" bastava quando as pessoas tinham alguma sensibilidade ou quando os gostos eram educados e o espírito não era um cheque sem fundo.

Tá, culpa das vanguardas modernistas, culpa do Brecht, que pintaram o filisteu da cultura como aquele arrumadinho todo art nouveau.

Mas antes mesmo de começar o filme, decidi que ia gostar de Maria Antonieta, quando pensei na cara feiosa de todo o mundo que não tinha gostado. Gente que acha que cenografia é coisa de decorador e figurino, coisa de bicha. Gente feia, com os dentes todo estragados, que acha que higiene é coisa de burguês, que beleza é coisa de burguês. No fundo, essa gente é que é o próprio burguês, o único que existe hoje em dia como categoria estética, dos sem-gosto. Isso me leva ao ponto deste post, a saber: da necessidade do Ancien Régime e de filmes sobre o Ancien Régime. Com a morte de Luís XVI, meus filhos, veio a democratização da arte, esse negócio chamado cultura, com gente falando cuspindo na nossa cara.

Kirsten Dunst de Maria Antonieta ficou bem fofa, faz odiar a Revolução Francesa. E olha que eu gosto da ideia de armar barricadas, botar fogo em tudo e cortar cabeças ocas. Mas no fundo, a voragem assassina que conduz à guilhotina é alimentada por um espírito extremamente aristocrático. Afinal, trata-se de um privilégio. Cortar cabeças é o tipo de privilégio que a plebe criou assim que descobriu, ou coisa parecida, que a nobreza não podia ter privilégios, que era errado (sic), afinal todos os homens são iguais etc e tal. Mas o que seria do mundo se não houvesse privilégios? Emprego, mulher bonita, títulos dos mais variados tipos, tudo o que se faz se faz exclusivamente para alcançar algum privilégio, que é aquela posição na qual você pode dizer "eu tenho, mas você não". No caso, "Maria, eu tenho cabeça, e você não". Na autoajuda, é a vontade de se sentir especial; na autoajuda e nos cartões de feliz aniversário com o Snoopy.

Ai, que saudades de quando era indie ser indie...

O privilégio é a fina flor das instituições, o sentido profundo do poder, o estado a que toda experiência com a beleza conduz. (Se exalta.) Imagine você, espinhento e meio tonto, tendo que ler um livro, em vez de desfragmentar seu HD, poxa, qual a graça da vida? Pois a graça da vida está em resmungar, todo espinhento e meio tonto, que pelo menos "eles" não conhecem a verdadeira arte de um casemod da Enterprise. Um privilégio, criança.

Mas eu fico com Kirsten Dunst e trilha sonora 80’s very cool mais figurino e cenografia deslumbrantes, ai, sim, deslumbrantes. "Quer escrever deslumbrante, escreve, mas depois se mata, bicha, se mata" (Manual de Estilo do Estado de S.Paulo, p. 86). E onde mais a gente vai ver nobres franceses se empanturrando de docinhos e dançando ao som de Siouxsie and the Banshees?

Então, repetindo: filme bonito é bom. Punkt.