quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Rsrsrsrsrs

O fim politicamente correto da opressão depende do começo da opressão politicamente correta. Acusar o humor como refúgio de racistas e fascistas é um exemplo. Perco a libertação que os politicamente corretos buscam, mas não perco a piada. Mas isto não é um manifesto.

O que aborrece nas almas sensíveis responsáveis pela instituição do politicamente correto como conduta crítica, e não como moralismo rasteiro – o que ele de fato é –, é, no mínimo, a falta de educação. É ser presunçoso da maneira mais grosseira possível. A certeza arrogante de sua própria justiça faz cada palavra sair de sua boca no familiar tom da ameaça. Você se faz juiz do seu irmão. Primeiro sobe num banquinho e do alto da sua superioridade moral recém-adquirida clama contra o fascismo e a discriminação nas entrelinhas de recados em porta de geladeira. Ô, ele está alimentado o ódio e o preconceito contra as minorias fazendo esse tipo de piada, temos que pará-lo, temos que denunciá-lo. Vem cá, nunca ouviu falar em: o sujo falando do mal-lavado?


Me deixa ser profético agora. Ser justo aos próprios olhos acaba sendo o único pecado que cristão e não cristão cometem que vai levá-los para o inferno, se não se corrigirem. Com toda a certeza. E o humor, que é justamente o remédio contra esse tipo de postura obtusa, é o que mais tem sido vigiado e atacado por essa gente justa.

A beatitude do humor se assenta em suas intenções. Quem faz uma piada não quer convencer ninguém da superioridade ariana e/ou masculina. A piada de loira não é um panfleto incitando as mulheres a saírem e afogarem oxigenadas, como no fundo e de fato elas querem fazer. Nem contar piada de português significa que você não vai deixar o Manoel operar o cérebro do seu unigênito. Aliás, se dermos ouvido a esse tipo de correção extrema – promovida pela hipersensibilidade moral dos politicamente corretos –, olhar de cima pra baixo racistas merece a guilhotina, já que contraria o postulado da igualdade entre os homens. E maldizer o indivíduo que preenche todos os requisitos do esteriótipo da loira burra vulgar que rouba namorado é preconceito.

O que estou dizendo é que todos estão condenados. Inclusive você. Inclusive eu. Então, seja mais humilde. E não um fascista ao contrário. Porque estão simplesmente inventando um fascismo arco-íris multiculturalista para combater o fascismo old school. É a mesma imposição que suprime, com simplismo desumano, o longo e difícil processo de aprender a viver e conviver, substituído pela força da lei.

O humor serve pra gente dizer o que não pode dizer. Num lance só, você confessa o pecado e se salva da hipocrisia. Porque, sob a chave do ridículo, as coisas se veem libertas de seu poder de dominação. O humor recontextualiza o mal e assim o neutraliza. Sua função é exorcizar. É uma verdade tão velha que é constrangedor ter que repeti-la. É hermenêutica básica, que estão jogando no lixo. Feminista acusando comediante é tão fascista como quem ri da piada porque é “assim mesmo que preto faz”. Porque ambos estão levando a piada a sério – que seria uma boa definição de fascismo: a piada levada a sério.


Rir não é o problema, e muito menos a piada. O problema é por que se ri. Eis a ambiguidade do humor. Que é a ambiguidade da arte. É perigosa porque a inteligência é perigosa. Esse perigo consiste em deixar que as pessoas tirem suas próprias conclusões, em não tomá-las pela mão com condescendência paternalista ou, se não funcionar, à força mesmo, para que pensem da maneira correta.

A piada não é inimiga. A piada é na verdade o diagnóstico de que as coisas não vão bem. Ela ridiculariza o opressor, e não o oprimido. Porque humor não é desculpa pra ser cretino sem censura. É, ao contrário, autorreconhecimento. A essência da ironia. Um instantâneo do ridículo, e do ridículo da nossa mediocridade. Quem faz a piada se inclui no problema na medida em que expõe o mal, e não o pratica. O piadista não se coloca acima, mas no lugar do opressor. Essa é a humildade do humor.

Estão querendo transformar falta de senso de humor em esclarecimento. Nunca pensei que ficaria do lado dos nazistas. Mas chegou a hora. Hoje vou sair e bater nuns pretos. E comprar minha Playboy.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Fomos ao Cinema ver Brüno

Sacha Baron Cohen é o melhor comediante em atividade no mundo do entretenimento. Seu timing cômico impecável não encontra pares entre os atores em atividade. Se falta ainda um Doutor Fantástico no currículo para podermos pensar em colocar o seu talento em disputa com o do lendário Peter Sellers, perdoamos Cohen quando lembramos que não existem muitos Kubricks dando sopa por aí nos dias de hoje. Mas preciso vir aqui lamentar a obviedade do seu mais novo longa, Brüno, baseado em um personagem do seu programa de comédia na TV inglesa, o The Da Ali G Show, um estilista austríaco gay e extravagante. Enquanto o seu longa anterior, o arrasa-quarteirões Borat, era extremamente bem contextualizado, e mantinha uma narrativa minimamente coerente, o que apenas fortalecia a sátira política presente no filme, Bruno carece pesadamente dos mesmos ingredientes, soando desde o primeiro minuto como um filme feito apenas para lucrar em cima do furor causado pelo filme anterior, e aproveitar o talento de Baron Cohen.

Os menos sensíveis podem matar as saudades do trema

A falta de foco do filme chega a ser vertiginosamente incômoda, visto que ele começa ameaçando seguir o caminho do personagem no programa de TV, fazendo troça do mundo da moda europeu e a sua conhecida superficialidade, voltando então as suas armas para o mundo das celebridades norte-americano e a sua busca insana pela fama, apontado para a batidíssima crítica sobre a adoção de crianças no terceiro mundo pelas celebridades, misturando a isso uma deslocada sátira política dentro do conflito palestino-israelense no oriente médio, para depois, e é ai que mora um dos fatores mais tristes do roteiro, apelar para um alvo fácil e preguiçoso: o choque provocado quando se expõe os valores conservadores do sul norte-americano em conflito com um personagem homossexual e de comportamento confrontador e subversivo.

Mais uma vez Sacha Baron Cohen aponta o canhão para o fanatismo religioso dos americanos, um alvo tão batido nesta década de 00, com os seus 8 anos de administração Bushiana nos EUA, e que já havia sido pintado com cores diferentes e com um efeito bem mais relevante e devastador no excelente Borat, quando Bush ainda morava na Casa Branca e a Guerra do Iraque estava em pleno vapor. Vi que a coisa ia ficar feia no filme quando, bem no seu meio, é anunciado que Bruno iria participar de um programa de televisão em Dallas, no coração do Texas. Sim, Sacha, nós todos estamos carecas de saber, o sul americano é um lugar de conceitos atrasados, valores ultrapassados e obscurantistas, e fanatismo religioso, e um lugar no qual obviamente um estilista europeu que gosta de desfilar por ai de calcinha de oncinha e flertar com congressistas republicanos não seria exatamente bem visto.

A mensagem mais uma vez é clara: fazer humor com os Americans Idiots, como diriam os punks de delineador do Green Day. Não sei se isso é pensado por Cohen e o seu diretor, Larry Charles (que também dirigiu o Borat e era da equipe de roteiristas de um seriado ai, um tal de Seinfeld) para agradar o público alvo do longa, os monetariamente saudáveis norte-americanos dos estados azuis, majoritamente democratas e que adoram ver os sulistas serem alvos de escárnio perante o mundo, na melhor tradição do “esses caipiras são os culpados pelo imperialismo americano, que, se fosse por nós, tão progressistas e libertários, jamais existiria”. Já passou da hora do senhor Sacha Baron Cohen olhar um pouco para o seu próprio quintal. Que tal pegar o personagem Brüno e jogá-lo no coração das cidades industriais inglesas?

Sacha Baron Cohen adverte: a adoção de crianças do terceiro mundo por celebridades é errada, e visa apenas a auto-promoção das mesmas

As mesmas cujos habitantes permitem o crescimento incessante de grupos de extrema-direita, louquinhos para mandar os imigrantes darem um passeio para bem longe das terras da Rainha? E que são tão conservadores quanto os surrados sulistas norte-americanos? Mas Baron Cohen é um inglês orgulhoso. O seu país, que foi vital para o estabelecimento do conflito no Iraque, motivado pelo tórrido romance entre George W. Bush e Tony Blair (que foi curiosamente esquecido pelas armas de Cohen no Borat), está acima de tudo isso. Tem consciência política, social e ideológica, trata com respeito gays, lésbicas, imigrantes e minorias, e não merece ser o alvo das inteligentes e calculadas troças de Cohen. Nem as outras nações civilizadas da Europa, esse continente fantástico que jamais gerou atrocidades como o neocolonialismo, o fascismo e o nazismo. O negócio é todos darmos as mãozinhas e cantarmos que “ nós não queremos ser um idiota americano” com a banda punk de delineador, em vez de olharmos para o próprio umbigo. Bode expiatório melhor não há. Ah, antes que me esqueça: o filme é hilário. Cohen consegue tirar humor de pedra. Mas o incômodo gerado pelas suas intenções obscuras quase joga tudo pelo alto. Já passou da hora de Sacha Baron Cohen criar coragem e nos mostrar os idiotas ingleses, franceses, alemães, espanhóis, italianos... Vai virar homem ou não, rapá? Ops, acho que rolou aqui uma homofobia bem básica... Como todos sabem, os idiotas vivem dentro de todos nós. The answer is blowin' in the wind, como diria o orgulhoso idiota americano Bob Dylan.


Obs: em protesto contra o tratamento que ando recebendo por parte dos meus inimigos, tanto internos quanto externos, escrevi o texto com o punho esquerdo levantado. Não vou negar que não foi lá muito confortável teclar assim, mas a resistência se faz necessária. Se um dia eu aparecer morto em algum porta-mala por ai, vocês já sabem quem foi o meu algoz. E eu fiquei feliz, pois foi o meu primeiro texto em muito tempo no qual eu não cito o filme Grupo Baader-Meinhof.

Sério, Progressista, NINGUÉM AGUENTA MAIS ESSA PIADINHA INTERNA, POMBAS! SEU CRETINO!

domingo, 23 de agosto de 2009

Meu amigos e eu conversando sobre arte – tipo um poema modernista

Ih, indie.


I.

Fui lá na exposição do Degas.
Ôôô. E aí?
Degas, meu. Sensorial.
Cezanne.
Cezanne.
E aquele tecido lá da saia da escultura?
Pô, tecido de bailarina. De roupa mesmo.
Sacada do cara.
Pffff.

II.

Saca os pré-rafaelitas?
É, tipo vi uma vez numa aula de História da Arte na FAU.
É muita informação mesmo.
Matisse.
Puuuuuuutz, Matisse. Toca aqui.

III.

E Kandinsky.
Bauhaus, é.
Tem Dalí.
Velásquez.
Muita renascença.

IV.

Meu preferido é Van Gogh. Aquele fogo todo, tipo um fogo mesmo.
A pincelada que queima, né?
Éééé, toda uma mistura. A representação mesmo.
Arte é mesmo o que vem de dentro.

V.

Sabe do que eu gosto? De abstracionismo.
Meu, Pollock!
Pollock!
Tem aquele filme com aquele carequinha.
Issssssso.
O carequinha, como é que o nome dele?

Pô, Matisse.

Dá até uma fome.

Nota: a ausência de palavrões é puramente ficcional.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Curso de filosofia, salvo engano, brasileira

Quer ser filósofo?

1. Ó.

Ó.

2. Pressupondo.

O sonho de todo filósofo é dizer algo que não pressuponha nada. Mas o máximo que consegue é estar consciente de que está pressupondo algo e admiti-lo.

3. Pressuposto.

Heidegger disse que filosofar é dialogar com filósofos.

4. E agora?

Encontre um filósofo.

Heidegger não conta, porque era nazista.

5. Encontrando um filósofo.

Vou escolher outro aleatoriamente.

6. Reconhecendo um filósofo.

Existem muitas maneiras de se reconhecer um filósofo. Duas são canônicas e bastante práticas.

7. As duas maneiras.

7.1. Método do Queijo e da Cordinha.

Você vai precisar de 1 (um) pedaço de queijo, 1 (uma) cordinha, 1 (uma) caixa e 1 (uma) vareta.

Amarre a cordinha na vareta. Pegue a caixa e vire-a de cabeça pra baixo. Encaixe a vareta em um dos cantos da caixa de modo que se possa colocar o pedaço de queijo embaixo. Então espere o filósofo ser atraído pelo queijo. Quando ele estiver sob a caixa, puxe a cordinha.

7.2. Método Lula Lá.

A segunda maneira é Convite à Filosofia, de Marilena Chauí. Tão eficaz quanto a primeira, mas um pouco mais cara.

8. Escolhendo aleatoriamente.

Dessa vez, vou recorrer à segunda maneira. Pego meu Convite à Filosofia e abro em qualquer página. Aqui, racionalismo. Descartes.

Não tem problema ele ser francês. Franceses também são seres humanos. Só não tomam banho. (Pressuposto: Faz tempo que não ouço alguém falar que francês não toma banho. Piadas com francês que não toma banho estão em baixa desde que o mundo resolveu se assumir brega sem medo no coração.)

La raison dans la philo.

9. E agora?

Encontrado o filósofo, dialogue.

10. Como dialogar.

Dialogar é dizer que alguém disse x, mas que você diz y. Mostrar a língua é dispensável. Só blogueiros mostram a língua.

Dialogar com a tia Lurdinha não vale. A desagregação das discursividades onto-teológicas faz o bolo de fubá queimar. (Pressuposto: A tia Lurdinha é um esteriótipo do familiar insensível às Grandes Questões da Humanidade, mas que espero que o advento do Twitter venha a desmentir nas próximas décadas.) Precisa dialogar com filósofos.

11. Dialogando com filósofos.

Descartes disse que o bom-senso é a coisa mais bem distribuída do mundo. É óbvio que nunca esteve no Brasil. Nem leu um livro do Richard Dawkins. Eu digo que o bom-senso é a coisa mais mal distribuída do mundo. E no Brasil é um pouquinho pior. Um lema que resume muito bem o que a gente pode chamar de metafísica brasileira é o seguinte:

Quando tudo fica feio e ruim, aí tudo fica bonito e legal.

E dá sistema. A metafísica brasileira explica também por que o coração do brasileiro transborda de misericórdia. A reeleição vitalícia de toda aquela molecada bagunceira do Legislativo é simplesmente perdão. Quem perdoa vive mais e mais feliz. Então. E depois dizem que esse país não é cristão. Perdoar político é uma prática tããão cristã. Cristianismo brasileiro, claro. Parece que o que faz do Brasil Brasil é a capacidade de dar sua própria versão de qualquer coisa que caia aqui. As más línguas dizem que uma versão piorada. A elite golpista, claro.

Pra vocês entenderem, vocês que não sabem nada de teologia, cristianismo brasileiro é como se o Anticristo fosse o Sérgio Mallandro. No fim dos tempos, o mundo inteiro se curvará perante a Besta, que gritará: “Rá, pegadinha do Mallandro!”

12. E agora?

Quem chegou até aqui é quase um filósofo. Basta depositar a quantia de R$ 50,00 na conta bancária abaixo que eu enviarei por e-mail seu certificado. E parabéns.

Banco do Brasil ag. 0646-7 conta 21.153-2

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Perguntas e Respostas - Camarada Progressista

Pergunta: Camarada Progressista, Bastardos Inglórios será um bom filme? Ou Tarantino continuará nos enganando, como vem fazendo desde o Jackie Brown?

Resposta: a pergunta é complexa, e permite diversas abordagens. Tarantino é inegavelmente um diretor talentoso. E um roteirista talentoso. Mas acha que é o Sergio Leone dos alternativos. E acha que é o Martin Scorsese dos alternativos. E acha que é o Godard dos alternativos norte-americanos. E acha que é o Quentin Tarantino dos alternativos norte-americanos, franceses, ingleses e alemães e também italianos e russos e latinos em geral. Logo, o sujeito acha que qualquer arroto que solta é divino. Logo, ele passa a ser desprovido de qualquer espécie de autocrítica. Logo, ele passa a realizar filmes carregando na mistureba e nas referências aos seus diretores favoritos, montando verdadeiros Frankesteins narrativos, que não conseguem disfarçar a sua falta de substância por baixo da embalagem luxuosa. Logo, contente-se com a dura realidade: Bastardos Inglórios será uma porcaria. Alugue o Cães de Aluguel e entupa o rabo de pipoca, que você ganha mais.

O bastão e o capacete

Pergunta: Seu cretino. Já que é tão engraçadinho, diz ai quais são as notas dos filmes dirigidos pelo Taranta na sua opinião, então!

Resposta: Cães de Aluguel – 8,5

Pulp Fiction – 9,5

Jackie Brown – 6

Kill Bill Volume 1- 7

Kill Bill Volume 2- 6,5


Pergunta: Aproveitando o ensejo, diga ai a nota de todos os filmes dirigidos pelo Sergio Leone!

Resposta: Colosso de Rodes – 6

Por Um Punhado de Dólares – 9

Por Um Punhado de Dólares a Mais -8,5

Três Homens em Conflito – 10

Era uma Vez No Oeste- 10

Quando Explode a Vingança- 8

Era Uma Vez na América – 10



Pergunta: Progressista, o que você acha do Black Eyed Peas?

Resposta: eu acho o will.i.am (se escreve assim, com minúsculas mesmo), líder da banda, um cara inteligente. Acho mesmo. O minimalismo melódico-estúpido das músicas do grupo é obviamente calculado. E ele é um sujeito que certamente teria condições de fazer um trabalho mais ambicioso, já que, como se vê nas entrevistas que dá, entende bastante de música, e não o faz por escolha própria. Quer ganhar dinheiro, e não existe nada de errado nisso. Colocou dois rappers espertinhos, uma loira Raimunda (já espero os fãs da Fergie colocando um contrato na minha vida), batidas óbvias e melodias onomatopédicas, mas de apelo imediato. Outro dia eu ouvi Boom Boom Pow tocando no último volume de um carro aqui perto de casa, e fiquei com a droga da música uma semana na minha cabeça. Estava quase metendo uma bala nos cornos para aliviar o sofrimento. Mas é a vida, meus caros. E o will.i.am vai enchendo a burra de dinheiro. E não há nada de errado nisso, repito. Podemos dizer que o will.i.am é o Liam Howlett dos anos 00? Não, isso seria uma injustiça. Black Eyed Peas é mil vezes melhor que a porcaria do Prodigy. Sem falar que chama as pequenas para dançar, em vez de pedir para nós darmos uns tapas nelas. Em mulher não se bate nem com uma flor, morô?

I’m so 3008, you so 2000 and late

Pergunta: Progressista, o que o Senhor achou do novo disco do Green Day, 21st Century Breakdown?

Resposta: o Green Day é a segunda pior banda punk da história, perdendo o trono apenas para aquele troço chamado Offspring. O Rancid era melhor, pois roubava a melhor parte da obra do The Clash, pelo menos. E o ativismo político da banda é constrangedor, pois na verdade é uma mera ferramenta de marketing, que foi muito bem-sucedida ao conseguir tirar a banda de anos de ostracismo e reconduzi-la de volta para as paradas de sucesso com o American Idiot. Melodias banais, letras tiradas diretamente de diários de adolescentes na puberdade, e as mesmas e batidas estruturas musicais. Ainda bem que esse disco não está fazendo tanto sucesso quando o anterior. Acho que agora podemos finalmente dizer que o Green Day já era. Já não era tempo.


Pergunta – o que você achou da Academia ter decidido indicar 10 filmes para a categoria de Melhor Filme no Oscar de 2010?

Resposta: a última vez que a Academia havia indicado 10 filmes na categoria principal tinha sido em 1943, longos 66 anos atrás. O vencedor naquele ano foi o Casablanca, o que deveria ser um ótimo presságio, mas ai lembramos que do lado do clássico concorreram negações como Canção para Bernadette, Madame Curie e Por Quem os Sinos Dobram. Vemos então que eles não aboliram as 10 indicações à toa. Mas ai, seis décadas depois, a Academia, assolada com a audiência cada vez mais baixa da premiação e pressionada pela ausência do O Cavaleiro das Trevas entre os indicados de 2008, resolve retomar essa nada brilhante ideia. Muito obrigado, Christopher Nolan. Se com 5 filmes eles conseguiam indicar coisas como O Leitor, Juno, Babel, Crash, Sideways, Ray, Seabiscuit, Chicago, As Horas, Gangues de Nova York, Uma Mente Brilhante, Gladiador, Chocolate, Erin Brockovich, O Tigre e o Dragão, Regras da Vida e À Espera de um Milagre, isso para ficar apenas em filmes indicados nos últimos 10 anos, imaginem as porcarias que eles vão indicar agora. Não sejamos ingênuos achando que eles tomaram essa decisão esperando poder indicar filmes verdadeiramente bons, aproveitando o maior espaço. Se eles quisessem, fariam isso com as 5 indicações mesmo, mas isso implicaria na indicação de filmes muitas vezes nada populares, e que baixariam ainda mais a já claudicante audiência da festa. A medida foi tomada para indicar blockbusters de apelo popular mesmo. Já aguardamos ansiosos as indicações para Transformers 2 e G.I. Joe. E quisera eu estar brincando. Quisera mesmo. Me cobrem no ano que vem. Quanto ao O Cavaleiro das Trevas, eu prometo um dia fazer um post mostrando os 858 buracos no roteiro, alguns de fazer o Homem-Aranha 3 parecer o Cidadão Kane. E pensar que, caso o Heath Ledger não tivesse tomado algumas pílulas a mais no seu quarto em Nova York, nada disso estaria acontecendo. Uma dica para os diretores que estiverem lançando um filme que esteja sendo minimamente hypado: matem os seus astros principais. E depois, contem os dólares e mandem uma parte para o seu amado Camarada Progressista.


Pergunta: Progressista, meus pais falam sempre de um tal de Tom Hanks, dizendo que ele foi o maior astro do mundo um dia, que os filmes dele sempre arrastavam multidões para os cinemas, que ele chegou a ganhar 2 Oscars em anos seguidos. Mas quem é esse cara? Eu nunca ouvi falar dele!

Resposta: os seus pais têm razão, moleque peidorrento. O Tom Hanks foi mesmo o ator mais famoso do mundo em meados da década de 90. Ele foi o Zac Efron daquela época, para você ter uma ideia.

Filme mais famoso protagonizado pelo Tom Hanks. Pede pros seus pais, moleque.

Pergunta: Progressista, 10 anos atrás, em 1999, o Beleza Americana era agraciado com o Oscar de melhor filme. Aproveitando a data redonda, diga para nós se o hype do filme na época se justifica hoje em dia, com um julgamento mais justo proporcionado pela distância do tempo.

Resposta: Depois de 10 anos, podemos dizer hoje, sem medo, que Beleza Americana é um cocô. Enorme e fedido. Fuja como se fosse a Peste Bubônica.



Pergunta: Qual é o pior filme dos anos 00?

Resposta. Até Quinta-Feira passada, eu responderia a essa pergunta citando um empate técnico entre 4 produções: Pearl Harbor (2001), Bad Boys 2 (2003), O Filho do Maskara (2005) e O Fim dos Tempos (2008). Até que, naquele fatídico dia, eu fui praticamente obrigado a assistir ao filme G.I. Joe. Saindo da sala de cinema depois dos mais longos 118 minutos da minha vida, percebi logo a verdade nua e crua: G.I. Joe supera todos eles, e é o pior filme desta década. E acho difícil que até o final do ano venha algum pior.


Pergunta: e o melhor?

Resposta: Os Excêntricos Tenenbaums (2001) , O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (2001), Cidade de Deus (2002) ou Sangue Negro (2008). Um dos quatro, mas estou com preguiça de apontar qual deles é o melhor. E se achou ruim, enfia a cabeça na privada e dá a descarga.



Pergunta: seu imbecil, o melhor filme dos anos 00 é O Cavaleiro das Trevas! Só mesmo um recalcado e mal-amado para negar uma verdade tão óbvia! Tanto que haverão 10 indicações para melhor filme no Oscar justamente pelo frisson causado pela não-indicação do filme!

Resposta: é verdade. Acho inclusive que o filme deveria ter inspirado mais as pessoas. Cadê os milionários playbas que combatem o crime vestidos de morcego com uma cueca por cima da roupa? É uma pena. Mas ainda está em tempo. Fico imaginando o quartel do PCC sendo invadido por um malucaço vestido assim e dando porrada em todo mundo.


Pergunta: E a trilogia Senhor dos Anéis, Progressista? Não só são os melhores filmes da década, como também são dos melhores de todos os tempos!

Resposta: Desculpe magoar os seus sentimentos, mas eu acho os filmes um porre, e com aquele ar de auto-importãncia tão característico dos filmes do Peter Jackson, que se acha o David Lean neo-zelandês. Mas eu sei que faço parte de uma minoria. Mas eu sei de outro cara que também acha O Senhor dos Anéis insuportável. Não sei se você já ouviu falar dele, ele se chama Sean Connery. Segundo palavras do próprio: "eles me mandaram o roteiro, queriam que eu interpretasse o Gandalf, mas eu nunca entendi. Eu li o livro. Eu li o roteiro. Eu vi o filme pronto depois. E eu continuei não entendendo. Bobbits? Hobbits?". Mas ele é um zé-ninguém, então a opinião dele não deve valer muito.

Foto do cartaz do filme O Grupo Baader Meinhof, utilizada por mim no meu texto anterior

Pergunta: o amor existe, Progressista?

Resposta: talvez sim. Mas eu acho que também existe uma grande possibilidade dele não existir. Mas talvez na verdade ele possa vir fragmentado. Mas também ele pode aparecer aqui e ali. A verdade mora em uma dessas possibilidades.


Pergunta: Por que o Fomos ao Cinema não muda para o WordPress? É tão melhor que o Blogspot...

Resposta: Vem fazer a gente mudar, seu palhaço. Bate na cara! NA CARA, MALANDRO!



Progressista: um pessoal ai jura de pés juntos que você era o maior fã de Love Hina da paróquia, Progressista. E ai, vai negar?

Resposta: Eu jamais fugiria do meu passado. E do meu futuro?


Te o nobashite, ryoute agete

Datafolha: 74% querem o afastamento de Sarney

José Sarney não é judeu. Nem mesmo marrano. O y no nome faz desconfiar. Mas Britney também é com y e não é judeu. Mulheres judias são geralmente magras. O caso é que nazistas perseguem judeus. Ouvi dizer que também negros e homossexuais. Mas acho que não. Assisti A Lista de Schindler, e não tinha o Morgan Freeman nem o Rupert Everett. Só se forem judeus negros homossexuais. Tipo o 50 Cent. Aquilo na cabeça dele é um kipá, né? E o clipe em que ele e o Eminem estão presos em clima de rebelião lembra Oz.

Costumava desprezar gente que se impressionava com 50 Cent e sua trajetória de superação da bandidagem ao estrelato. “Sou durão porque levei uns tiros.” Não fosse o fato de ser judeu, negro e homossexual, ele seria nazista pensando desse jeito. Olhar as pessoas de cima pra baixo só porque levou uns tiros é o mesmo que eu esnobar alguém porque estou com o braço engessado. Militares fazem isso com civis. Esses civis aí. Tá, eu nunca quebrei o braço, nunca assinaram o meu gesto e eu já me sinto diminuído o bastante sem ter de tocar nesse assunto.

Minha reflexão profunda de hoje é que política é uma espécie de moralização do poder. Em vez de barbarizar geral sem dar satisfação a ninguém, você barbariza geral e depois pede desculpas. Você barbariza geral limpando a boca com o guardanapo. Alguém aí pode dizer que, se for assim, então a única diferença entre a civilização e a barbárie ou o chavismo é que na primeira o tapa na orelha é previsto em lei. Então.

Um ato secreto seria então a exposição necessária da coisa podre que é a nossa alma?

Mas eu estou preocupado com a desumanização que o debate político pode implicar. Queremos ter razão e acabamos enxergando do outro lado apenas a parte equivocada, faltosa, desonesta. O inimigo a ser combatido e derrotado. Um alvo. Sabe, desumanizar o outro é desumanizar a si mesmo. Por isso quero fazer algo diferente hoje.

Veja isso:



Lembra?

Bom, vou contar uma história. Fechem os olhos. Quero que me ouçam. Quero que ouçam a si mesmos.

É a história de um garotinho brincando numa praia. Pensem nesse garotinho. Imaginem o enorme sorriso em seu rostinho de bolacha e ele correndo de um lado pro outro. Imaginem esse garotinho fugindo das ondas, que avançam gentis sobre seus pezinhos bronzeados. Esse garotinho está feliz. Ele é feliz. Porque é uma criança pura e inocente. Ele nunca ordenou um ato secreto. Tirando aquela vez em que a priminha Clarice foi em casa. Mas essa vez não conta. Ele gosta de bolo de fubá. Principalmente do bolo de fubá da vó dele. Esse garotinho tem uma vó. Uma avozinha toda tortinha com um buço que espeta quando ela beija o garotinho. Agora imaginem esse garotinho de volta da praia. Ele está saindo do casarão da vovó pra ir brincar, com a boca cheia de bolo de fubá. Mas, em vez de encontrar a criançada de pé descalço esperando, ele se depara com uma multidão de caras-pintadas. O garotinho não sabe o que está acontecendo. Imaginem sua cara de bolacha ficando vermelha e seus olhinhos se enchendo de lágrimas. Ele começa a chorar daquele jeito que as crianças choram como se alguma coisa muito horrível estivesse acontecendo. E está. A multidão avança sobre ele gritando que ato secreto é crime. Ela pede que o garotinho vá embora do casarão da vovó. Da avozinha dele. Que ele vá embora e fique pra sempre sem o bolo de fubá da vovó. O garotinho corre pra debaixo da saia da vovó e se agarra nas pernas dela. Ele está tão aterrorizado que quando for adulto vai ter que escrever um romance de qualidade duvidosa sobre esse episódio e depois conseguir uma cadeira na ABL. Imaginem todos aqueles estudantes de humanidades gritando “Fora!”. Todos sem tomar banho. Imaginem o cheiro. É uma mistura de cecê e livro de sebo. O garotinho está tremendo. Suas pernas fininhas balançando. Seu coraçãozinho batendo cada vez mais depressa, parecendo que vai explodir. Vocês conseguem ver seu pequeno toráx subindo e descendo debaixo da camisetinha? Vocês conseguem ver o garotinho apertando os olhos muito forte como se isso pudesse fazer aquela gritaria horrível parar? Conseguem ver? Eu quero que vocês imaginem esse garotinho. Imaginem que é o Sarney.

Podem abrir os olhos.

domingo, 16 de agosto de 2009

Fomos ao Cinema ver O Grupo Baader-Meinhof

Passividade é fatal para nós. O nosso objetivo é fazer o inimigo passivo.

Mao Tse Tung


Eu não sou um libertador. Libertadores não existem. São as pessoas que libertam a si mesmas

Che Guevara


Na prática da tolerância, o seu inimigo é sempre o melhor professor

Dalai Lama


O Capitalismo exige brutalidade

Manic Street Preachers


Que comam brioches!

Kirsten Dunst. Ops, er, que dizer, Maria Antonieta


Vejam só essa tacada!

George W. Bush


Perguntei pro céu, perguntei pro mar, pro mágico chinês, mas parece que ninguém sabe, aonde a felicidade, resolveu de vez morar

Xuxa


O Capitalismo morreu para o ex-blog Fomos ao Cinema no segundo que se encerrou uma sessão do filme Grupo Baader-Meinhof, numa noite de Quinta-Feira em um cinema burguês (1) no centro da Cidade de São Paulo. Depois do encerramento do filme, Camaradas Fundamentalista e Progressista, que estavam entre as estimadas 35 pessoas que compareceram à sala naquela histórica sessão (80% homens e 20% mulheres, segundo estimativas dos mesmos) tiveram uma epifania violenta, chocante e absolutamente necessária. Análises de filmes são ferramentas burguesas (2) de manipulação das massas, lavagens cerebrais destinadas a distrair o operariado das causas que realmente importam para o homem e seus semelhantes. A cultura, com sua subjetividade tipicamente antropocentrista, é inimiga do coletivo. Mas para vocês entenderem todo esse processo, darei um breve resumo do que foi o Grupo Baader-Meinhof e do filme, mas evitando o uso de vírgulas e pontuação, quebrando assim a gramática e o senso de organização morfológica que gera a unidade chamada texto, um valor que nesse caso seria de uso burguês (3).

o Grupo Baader Meinhof foi uma organizacao terrorista de extrema esquerda formada na Alemanha na decada de 60 e que pregava que o crescente imperialismo norte americano era uma revitalizacao dos valores nazistas que assolaram a Europa anos antes e a proposta do grupo era atraves de taticas violentas e imediatistas exigir a saida americana do Vietna e o fim da participação alema no conflito alem de defender o fim do sistema capitalista na Alemanha que era considerado por eles o principal culpado pelos horrores nazistas e a instituicao do sistema socialista que seria responsável por uma organização mais justa e menos opressora dos trabalhadores o nome oficial do grupo era Faccao Exercito Vermelho sendo Baader Meinhof o nome dado pela imprensa burguesa (4) que evitava chamar o grupo pelo nome verdadeiro por medo de compactuar com suas ações sendo Baader o ex ladrão de motocicletas convertido em revolucionário Andreas Baader e Meinhof a ex jornalista esquerdista de sucesso convertida em revolucionária Ulrike Meinhof mas mesmo com a fama de Meinhof os verdadeiros cabeças do grupo eram Andreas Baader e a sua namorada Gudrun Ensslin o grupo aterrorizou a Alemanha por quase trinta anos com bombardeios a órgãos oficiais como delegacias de polícia comandos militares e embaixadas estrangeiras resistindo a prisão de seus principais integrantes e a morte controversa dos mesmos

O cartaz burguês do filme que, embora muito bom, peca pela falta de coragem no final.

Dito isso, declaramos aqui a total e absoluta rejeição dos valores capitalistas. O capitalismo, que gera aberrações como a desigualdade, a miséria, a exclusão social, fãs de White Stripes, filmes da Hasbro, Hebe Camargo, Dado Donabella e Tom Clancy, precisa ser combatido firmemente, e não somente com palavras vazias destinadas a agradar o mesmo público moderado que permite a desigualdade dos homens. Dentro dessa nova doutrina do ex-blog e atual organização terrorista chamada Fomos ao Cinema, damos aqui então uma lista de tudo aquilo que passamos a aprovar ou não, dentro da nossa nova proposta. E agora todos os textos serão assinados em conjunto pelos Camaradas, já que o indivíduo não mais se sobressairá ao coletivo. Eis aqui a lista.

A verdadeira Gudrun Ensslin, mãe da Guerrilha Urbana alemã. Erguemos o punho em sua homenagem. E cortaremos as cabeças dos leitores que olharem para essa foto e pensarem que "nossa, com essa ai eu quero é fazer uma revolução do amor, que gata!". PORCOS MACHISTAS!


Coisas de cunho burguês (5) e ferramentas de dominação das massas rejeitadas por nós:

Hannah Montana – Hannah é loira, e os povos brancos vêm sistematicamente oprimindo os povos de outras etnias. Por isso, rejeitamos essa garota, por simbolizar a opressão branca. O homem branco é o inimigo. Logo, Hannah Montana é inimiga da revolução.

Selton Mello – Selton Mello quer aparecer em todos os filmes lançados no Brasil. A sua gana e insaciável vontade de aparecer perante os holofotes do cinema nacional nada mais são do que uma representação perversa da onisciência da burguesia (6) empurrando goela abaixo do proletariado as suas muletas culturais descartáveis e vazias de valor. Por isso, rejeitamos o Selton Mello.

Starbucks – A Starbucks é considerada um dos exemplos mais admirados em matéria de valorização de marca e modelo de negócios. Nada poderia ser mais burguês (7), pegar uma bebida do povo como o café e dar um verniz de sofisticação e futilidade. Por isso, queremos a saída imediata da Starbucks do Brasil.

Chistopher Nolan – A bilheteria obscena conquistada pelo filme O Cavaleiro das Trevas em tempos de crise simboliza o eterno assalto promovido pela elite branca em cima do proletariado, que despejou o seu suado dinheiro ganho às custas de uma luta injusta e insana em nome de um filme não muito bom. Rejeitaríamos também o Heath Ledger, mas ele já morreu, então não faz sentido rejeitá-lo.

Angélica – Angélica ganha um milhão de reais para trabalhar quinze minutos por dia. Um milhão de reais equivale a 2 mil salários mínimos. É a matemática do diabo branco. Por isso, rejeitamos a Angélica. Por outro lado, Xuxa Meneghel, com sua história de luta marxista e a sua constante intenção de passar os valores da causa para os jovens, criando assim um importante imaginário coletivo infanto-juvenil, não pode ser desprezada. Por isso que lá embaixo nós aceitaremos a Xuxa.

Luciano Huck – Mesma coisa. Mas no caso dele, são duas horas de trabalho por semana.

Cartaz que os porcos publicaram por toda a Alemanha no auge da atividade da Baader-Meinhof, no início dos anos 70. Punhos levantados em homenagem à resistência dos camaradas.


Coisas que não consideramos serem inimigas da revolução

Black Eyed Peas - o fato dos seus 4 membros representarem a mistura de raças e a igualdade entre os sexos torna esse importante grupo norte-americano amigo da causa revolucionária, embora eventualmente eles se alinhem com ideais burgueses (8).

Morgan Freeman – Por sempre representar toda a dignidade existente na resistência das minorias contra a opressão em nome dos seus inspiradores no cinema, em filmes como Conduzindo Miss Daisy (embora a resistência do personagem nesse filme possa ser considerada moderada) e Apanhador dos Sonhos, Morgan Freeman é aceito por nós, e não é inimigo da revolução.

Commander in Chief – Geena Davis renascendo das cinzas para comandar a nação mais poderosa e burguesa (9) do mundo, subvertendo a noção de comando existente dentro da elite branca, que oprime também as mulheres, é um fator que faz essa série de curta existência, que foi cancelada em nome de uma pressão tipicamente burguesa (10) ser amiga da revolução, e importante material de inspiração para as mulheres.

Oprah Winfrey – A sua atitude tipicamente Robin Hoodiana de, através de uma vida de lutas e resistências contra a elite branca e machista, e que culminou na sua vitoriosa campanha de extração monetária das mesmas mãos que a oprimiam, distribuindo os seus bilhões com as mulheres negras, mostram claramente que Oprah Winfrey é uma aliada da revolução.

O personagem de Adam Sandler em O Paizão – Ele obviamente subverte o paradigma da família burguesa (11), ao constituir uma improvável família com um moleque engraçado e ensinar valores de resistência para ele, como mijar na rua, um típico espaço burguês (12). Que esse moleque engraçado viva no coração de todos os jovens que assistirem a esse filme, e que o personagem do Adam Sandler, que muito se parece com o revolucionário Andreas Baader seja lembrado como um exemplo de atitude benéfica para a revolução.

Em breve soltaremos mais comunicados, revelando ações posteriores e mais doutrinas a serem seguidas. Desejamos a todos os camaradas no mundo toda a sorte, e a luta continuará.

Obs: esse texto é dedicado à memória do casal Andreas Baader e Gudrun Ensslin, cujo fervor revolucionário e coragem de desafiar o sistema eram tão gigantescos quando o amor que sentiam um pelo o outro. O vídeo abaixo, editado pelo nosso Camarada Fundamentalista, é a nossa singela homenagem aos dois. Punhos ao alto, companheiros!


Adicionar vídeo

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Como a minha mente funciona about conservadorismo

É muito fácil ser conservador quando você é velho. Você não precisa explicar por que você é conservador. Você é conservador porque você é velho. Isso é evidente. As pessoas acham isso evidente. Tudo o que as pessoas acham evidente é evidente. Então você é velho e pode ser conservador em paz. Alguém poderia dizer que você pode ser conservador em paz porque as pessoas não te levam a sério. E que as pessoas não te levam a sério porque você é velho. Então seria difícil ser velho porque as pessoas não te levam a sério. Mas não é disso que eu estou falando.

Difícil mesmo é ser conservador se você é jovem. Se você é jovem, as pessoas não acham evidente que você seja conservador. As pessoas acham isso diferente. As pessoas acham isso estranho. Porque as pessoas esperam que alguém jovem seja libertário. Esperam que você seja libertário. Moral e politicamente libertário. Ser moralmente libertário significa acreditar que as pessoas são livres. Acreditar que as pessoas são livres significa acreditar que cada um tem o direito de viver a própria vida do jeito que achar melhor. Acreditar que cada um tem o direito de viver a própria vida do jeito que achar melhor significa acreditar no amor livre. Acreditar no amor livre significa acreditar que o amor tem muitas formas. Acreditar que o amor tem muitas formas significa apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo significa que você é gay.

Se você é gay, é natural que você seja moralmente libertário. Mas você não precisa ser moralmente libertário pra ser gay. Você pode ser gay e ser moralmente conservador. Você se sentiria muito original. As pessoas que você conhece te achariam muito original. E você seria muito original se ser muito original não fosse uma falácia. Porque não existe ninguém muito original. Todo o mundo é muito parecido. Todo o mundo pensa quase as mesmas coisas. Qualquer coisa que você pensou e que aparentemente nunca foi pensada por ninguém na verdade nunca foi pensada pelas pessoas que você conhece. As pessoas que você conhece não são todo o mundo. Mesmo que você conheça muitas pessoas. Mesmo que você tenha dois perfis de orkut lotados de pessoas que você conhece. E nem todo o mundo que você conhece é seu amigo. Mas não vou entrar nesse assunto.

Eu discutindo pressupostos com Olavo de Carvalho (à direita) na minha mente.

Eu estava dizendo que, se você é jovem, as pessoas esperam que você seja não só moralmente libertário, mas também politicamente libertário. As pessoas que sabem o significado da palavra libertário acham que politicamente libertário significa discordar da ordem estabelecida. Discordar da ordem estabelecida significa que você é de esquerda. Ser de esquerda significa (querer) lutar por um mundo melhor. (Querer) Lutar por um mundo melhor significa lutar contra o patriarcado e a opressão patriarcal. Lutar contra o patriarcado e a opressão patriarcal significa ser contra a Igreja Católica. Ser contra a Igreja Católica significa acreditar no amor livre. Acreditar no amor livre significa acreditar que o amor tem muitas formas. Acreditar que o amor tem muitas formas significa apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo significa que você é gay.

Olavo de Carvalho não acredita que discordar da ordem estabelecida significa que você é de esquerda. Porque, pra ele, a ordem estabelecida é apenas uma invenção da esquerda e que ser de esquerda significa que você não é libertário. Olavo de Carvalho acredita que ser libertário é ser de direita e que não existe direita no Brasil. Pra ele, ser de direita é acreditar no primado do individual sobre o coletivo e ser de esquerda é acreditar no primado do coletivo sobre o individual. Olavo de Carvalho diz que o primado do coletivo sobre o individual é a própria definição de totalitarismo. As pessoas que sabem o significado da palavra totalitarismo acham o totalitarismo ruim. Por isso é que Olavo de Carvalho diz que ser de esquerda é ruim.

A maioria das pessoas discorda de Olavo de Carvalho. Porque a maioria das pessoas o acha muito conservador. Conservador e maluco. A maioria das pessoas é conservadora, mas se acha muito libertária. Se achar muito libertário faz com que as pessoas achem ruim ser muito conservador. Mesmo sendo conservadoras e se achando libertárias. Mesmo sem saber o que significa ser libertário. Mesmo sem se decidir se ser libertário é ser de esquerda ou ser de direita.

Na minha mente eu e Olavo de Carvalho somos parceiros de dança.

Algumas pessoas acreditam mesmo que nem exista esse negócio de direita e esquerda. Elas querem dizer que isso não existe no Brasil. Elas estão se referindo à corrupção política e ao fisiologismo. Fisiologismo significa que você não acredita nesse negócio de direita e esquerda e que por isso só quer o poder. Só não acreditar nesse negócio de direita e esquerda não significa que você apoia o fisiologismo. Tem que também só querer o poder. Essas pessoas que não acreditam nesse negócio de direita e esquerda sem só querer o poder não estão necessariamente discordando de Olavo de Carvalho. Talvez porque nem mesmo o leram. E se lerem, talvez o achem muito conservador. Conservador e maluco. Porque ele apoia o papa Bento XVI. Apoiar o papa Bento XVI significa estar do lado da Igreja Católica. Estar do lado da Igreja Católica significa que você é conservador. Ser conservador é muito difícil quando se é jovem. Por causa das pessoas. O problema do mundo são as pessoas. Não haveria guerras nem crianças passando fome se não houvesse pessoas no mundo. Olavo de Carvalho diria que é justamente assim que a esquerda pensa, com a diferença que ela não está nem aí pras guerras e crianças passando fome. Ela só odeia que haja pessoas no mundo. E que por isso ela é totalitária. Olavo de Carvalho é contra coletivismos porque é contra o totalitarismo. Por isso ele se considera moralmente libertário. Ser moralmente libertário significa acreditar que as pessoas são livres. Acreditar que as pessoas são livres significa acreditar que cada um tem o direito de viver a própria vida do jeito que achar melhor. Acreditar que cada um tem o direito de viver a própria vida do jeito que achar melhor significa acreditar no amor livre. Acreditar no amor livre significa acreditar que o amor tem muitas formas. Acreditar que o amor tem muitas formas significa apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Apoiar a união civil entre pessoas do mesmo sexo significa que você é gay.

Continua indefinidamente.

sábado, 8 de agosto de 2009

Fomos ao cinema ver Inimigos Públicos

Inimigos Públicos é filme de macho pra macho, segundo uma estética muito macha que Mann veio aperfeiçoando até chegar aqui mais sóbrio e nos entregar sua visão do romantismo macho, essa modalidade original dos romantismos. Mulheres deveriam mesmo acreditar senão no romantismo macho, que é claro que cobra seu preço em que talvez seu amante não volte, garota, porque o romântico macho crê que prova de amor é indispensável e que é dada apenas sob a forma de algum heroísmo, que como todo heroísmo é estritamente inconsequente e perigoso. É meio sexista, pois propõe que o mundo é o mundo do herói, no qual a mulher só pode ser aquela que precisa ser salva. Sexista, condescendente, etc e tal, mas muito bonito, como mostra Mann.

Pelamor, alguém me salve do mal!

Cada cena é obra de ourivesaria, ou coisa que o valha, latejando em nossas cabeças depois da sessão e nos garantindo que se trata de um espetáculo, de muito bom gosto, conforme deveriam ser dois em cada quatro filmes lançados, os outros dois sendo um de mau gosto intencional e o outro de mundo cão em estética modernista. Isso até vir algum gênio sob a inspiração de Shiva para restabelecer o Espírito desencarnado das artes nas artes e assim nos tirar do atoleiro de cinismo que matou John Hughes, acho eu, se é que não foi a Baader-Meinhof 15ª geração.

Marion Cotillard pode negar o 11 de Setembro e, dependendo do dia, o Holocausto, contanto continue sendo bijuzinho como aqui, emocionando o fundo do peito amigo macho mediante sua presença francesa exportação, naturalmente kitsch, mas por isso mesmo incrivelmente consumível. E Johnny Depp é o John Dillinger romantizado que Mann pediu a Deus, caindo morto covardemente varado de bala com a gentileza de galã hollywoodiano que se acha mais do que isso, talvez um tipo de Dillinger legalizado, como se Depp cumprisse os desejos consumistas de bon vivant do assaltante de 1930 estrelando num blockbuster como a versão bucaneira de Keith Richards, mas eu posso estar enganado.

No banco de trás, a mulher observa os homens sendo homens.

Como o eixo narrativo é a história de amor de Dillinger com Billie Frechette, pode levar a namorada, que mais gostará quanto menor for seu coeficiente libertário, mas lembrando que, segundo Michael Mann, namorar mulher libertária é o mesmo que namorar homem.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Preenchendo o perfil

Percebi que eu não dou a mínima. Assim, absolutamente, em geral. A totalidade da indiferença ou indiferença à totalidade. Radicalismos assim pedem explicação. Bom. Estava lendo uns blogs; é sempre assim, a pessoa está bem, mas de repente entra em crise porque foi à academia, ou porque estava lendo uns blogs, ou porque tomou um sorvete de casquinha. Bom, lendo uns blogs, notei como as pessoas se interessam pelas coisas. Poxa, as pessoas se interessam mesmo, e muito, pelas coisas. Escrevem posts enormes sobre notas de escândalos com parlamentares. Linkam matérias de revistas científicas norte-americanas sobre como os gays estão tentando dominar o mundo (verdade). Analisam, em profundidade, cretinices em textos postados por outros blogueiros. Divulgam bandas obscuras, com faixa a faixa de toda a discografia, que você nem podia imaginar que já vem desde a década de 1970. Enfim, é “de uma grande efervescência cultural essa blogosfera”, pra arremedar estilo novela das oito.

Mas eu não dou a mínima. Não tenho vontade nem de escrever sobre filmes, que eu vejo só por prazer. Sem profissionalismo nem disposição maníaca. Escrever sobre filmes me dá um bode terrível justamente porque milhões de pessoas estão fazendo isso com muito mais vontade e instinto assassino. Se empenhando mesmo em analisar e fundamentar suas impressões sobre um filme. Ou seja, fazendo a coisa com aquela seriedade que te faz levantar da mesa e dizer que está ficando tarde.

Na faculdade o pessoal está aprendendo justamente isso, né? Esse instinto assassino que também chamam de paixão pela vida, mas que eu no fundo só acho uma obrigação autoimposta de ser intrometido porque disseram que isso é sinal de inteligência. E porque disso depende seu emprego. Daí o sujeito ler muito pouco, e com mínima retenção de conteúdo, mas ter um milhão de referências, como verbetes que ele saca numa conversa, só por uma muito contemporânea compulsão por citar. Você quer conversar com um ser humano, mas ele só tem nomes, e não ideias próprias, coisas que geralmente não têm muito glamour, porque ainda não foram devidamente lapidadas. Ou seja, não são bonitas de se dizer. É preferível dizer alguma platitude pomposa disponível no Wikipedia.

A ideia é que você lê Dostoievski e assiste filmes do Bergman porque assim que entrou na faculdade descobriu que é isso que pessoas do seu curso fazem. Você está preenchendo lacunas de seu perfil. Você está preenchendo um perfil. Nossa. No fundo, gosta de literatura beat, que é o mesmo que não gostar de literatura, e de filmes como Magnolia. Filmes sensíveis assim. Assuma-se então. A verdade é que fomos criados diante da televisão, certo? Isso faz de toda esta geração uma farsa no que diz respeito à arte. Mas isso é justificar, o que eu não quero. Vou pular isso então.

Camarada Moderado, Rogério L. e Paulo Nishihara com umas meninas esquisitas do tempo do colégio.

Gente como a gente não deveria fazer faculdade. Deveria vender coco na praia, entardecer de calção, essas coisas que não forçam muito e que constituem a vida boa. Certas vocações não se expressam em carreiras profissionais. Mas disseram que a gente tem que ser diplomado. Então...

Mas naturalmente são os blogs bons, com ideias e pensamento autônomo, bem escritos e divertidos que me fazem me sentir mal por ser tão desinteressado. Inclusive as pessoas interessantes têm mais interesse que eu. Uma pista? A maioria é católica. Precisa então defender o papa. O nível geral de estupidez do mundo se mede pela quantidade de ataques ao papa, ou mesmo pelo fato de atacarem o papa. É o common sense da intelectualidade: pra ser intelectual, você tem que “apreciar” Godard (até você sabe que Godard no máximo se aprecia; Godard e umas tantas outras coisas foram feitas não para serem amadas, mas apreciadas) e ser contra o papa. Ser contra o papa é o tipo de ideia tão idiota que mesmo a forma de enunciá-la te constrange a não o fazer. Afinal, o que é que você é? Baygon? Contra moscas e baratas. Bom lembrar que gente como a Madonna protesta contra o papa. De que vale ter um QI de 150 quando você o usa como a Madonna? Protestar contra o papa, pff.

Mas essa é a minha tese. Ter de estar contra um mundo contra o papa e de certo modo defendê-lo de seus terríveis detratores (estou pensando na Madonna; quantos jovens católicos apostataram por causa dela? Certamente toda uma geração.) é que torna as pessoas interessadas. Mas eu não sou católico nem a favor do papa. Tem gente que é a favor do papa, que é tão idiota quanto... Nesse nível de reflexão e inteligência, o melhor é ser o papa. Ele tem curso superior e fala várias línguas.

E os não católicos? Os protestantes sem medo no coração, como eu, e os designers, e as cheerleaders que leem Gatsby às escondidas no quarto depois da meia-noite, e as menininhas mordazes em geral que vão se casar com um cara bem goiaba, com cara de pochette e cérebro de pudim? E gente que ouve Rossini da única maneira que dá pra ouvir Rossini – sorrindo? Estes não terão interesses nem a segurança de se enquadrarem, ao mesmo tempo sem serem desajustados, com o privilégio boboca de ser um desajustado, de ser incompreendido, snif, snif.

A coisa mais legal em designers, pelo menos os que eu conheço na base da idealização, é não terem o compromisso de ser intelectualizados. São como eu, querem entreter. Um dia você desencanta, disse a tia Judite. Nem quero, tia.

Nham, será que ele tem mesmo uma tia chamada Judite?