terça-feira, 27 de outubro de 2009

Fomos ao Cinema ver Amantes, Paris, Uma Prova de Amor, Se Beber Não Case, Distrito 9, A Verdade Nua e Crua e Novidades no Amor

É sério isso, cambada. Esses foram filmes assistidos por mim nos últimos tempos. Eu deveria ter falado sobre todos eles, mas, por motivos desconhecidos e que provavelmente envolvem até pitadas sobrenaturais, eu acabei falhando em trazer aqui os textos sobre os respectivos, e vou tentar recuperar o tempo perdido. Eu sei, é um absurdo, uma falta total de respeito com vocês, blá, blá, blá. Mas se vocês me perdoarem, eu prometo mandar fotos minhas jogando tênis na última viagem que fiz. É só vocês escreverem pedindo para o seguinte e-mail: cfundamentalista@gmail.com. O nosso Camarada não se importa com o incômodo, e tem todo o tempo do mundo para responder os e-mails enviados por vocês. Opa, opa, opa, talvez role até uma comigo bebendo uma dose de Margarita. Irc! Ocaso do futuro bem marcado em cartas de tarô!


Fomos ao Cinema ver Amantes

Amantes é um filme pretensioso, um estudo de personagem lento e reflexivo. O filme peca pelo roteiro pouco inventivo e corajoso, o que acaba jogando a sua trama na vala comum dos dramas românticos, mas merece elogios por não acelerar a sua narrativa e nem descuidar do tratamento dado aos seus personagens. O diretor James Gray ( Pequena Odessa, Os Donos da Noite) merece atenção, embora já esteja no ramo faz um tempinho (Pequena Odessa foi lançado em 94, quando ele tinha apenas 21 anos). No mais, Joaquin Phoenix é um excelente ator, e deveria parar com essas micagens de querer ser rapper e tudo mais e voltar a se concentrar no que sabe fazer, embora tenha dito que esse filme seria o seu último. Deixa de ser moleque, rapá! Os rapazes podem gostar da pior cena do filme, que tenta em um forçado toque de vanguarda européia mostrar ousadia ao revelar os seios desnudos da já milf Gwyneth Platrow (juro pra vocês que eu já tinha esquecido dela), no melhor estilo O Expresso do Oriente. Juro pra vocês, a cena remete a uma das mais famosas daquele filme.


Fomos ao Cinema ver Paris

Cedric Klapish, um francês cheio de ginga e malandragem, deu ao mundo dois filmes que são venerados pelos posers e deslumbrados da cena alternativa paulistana: Albergue Espanhol e Bonecas Russas. Tendo viva na memória os momentos tediosos que passei quando assisti a esses filmes, resolvi encarar uma sessão do mais novo engodo do cineasta. Paris é mais uma dolorosa mostra do universo equivocado e pouco interessante criado pelo cineasta, que joga uma trama frouxa e sem qualquer resquício de energia em intermináveis 130 minutos. Contando diversas histórias paralelas, o filme conseguiu a proeza de não me fazer se importar com nenhuma delas. Na verdade, o personagem que mais me causou comoção no filme fui eu mesmo, e o meu sofrimento ao aguardar pacientemente o fim da projeção, com dores no joelho (torci jogando bola ai, doeu pacas, mó tristeza) e tudo mais. Mas no final das contas sai com uma impressão válida ao menos: Juliette Binoche, com gloriosos 45 anos, ainda bota muita garotinha no chinelo.


Fomos ao Cinema ver Uma Prova de Amor

Nick Cassevetes é filho do mito John Cassevetes. Só por isso, deveria ser cuidadoso e dirigir filmes que fizessem jus ao sobrenome que carrega nas costas. Mas aparentemente o pequeno Nick está pouco se lixando. Uma Prova de Amor é o filme mais manipulador que eu já vi na minha vida. Com cinco minutos de projeção já está querendo levar os seus espectadores (leia-se mulheres) às lágrimas, e segue nessa toada infernal até o seu derradeiro minuto final. A trama por si só já traz o alerta de “perigo: água com açúcar à vista” por toda ela, contando a história de uma família cuja filha mais velha tem leucemia, e que usa a irmã mais nova dela como doadora constante, uma prática absurda e que poderia gerar um interessante drama com explosivos conflitos morais, mas que bizarramente é deixado de lado em nome das lágrimas fáceis. Cameron Diaz já está pronta para a vala comum das quarentonas de Hollywood, e Abigail Breslin consegue fazer a experiência ser menos massacrante com sua graça natural. Assustadoramente, uma das melhores atuações do filme é do canastra-mor Jason Patric. Imagino o velho John, cujos filmes eram marcados por narrativas classudas e corajosas, assistindo a essa porcaria. Ia querer dar uns belos e merecidos croques na cabeça do filho. Por isso que eu digo sempre: jamais tenham filhos.

Fomos ao Cinema ver Se Beber Não Case

Hollywood está tomada pelas chamadas bromedies, comédias que mostram grupos de amigos já beirando os 40 anos e que apresentam conflitos de maturidade e dificuldade em aceitarem as responsabilidades da vida, o chamado Arrested Development. Judd Apatow é considerado o pai do gênero, embora eu, Progressista, o filho predileto de Rajneesh, considere o marco zero do gênero o filme Dias Incríveis, de 2003, que foi dirigido pelo Todd Philips e tinha o Vince Vaughn, Will Ferrel e Luke Wilson no elenco. Se Beber não Case também é dirigido por Todd, e foi o sucesso mais inesperado do verão americano, gerando inacreditáveis 250 milhões de dólares nas biheterias, além de ter causado boas impressões nos críticos. A trama é redondinha, apostando em um bem amarrado clima de mistérios e surpresas para arrancar risadas dos espectadores. O maior mérito do filme é não amenizar a sua narrativa em nenhum momento, carregando em um humor rude e corajoso em tempos politicamente corretos. Mas não sei se é uma boa coisa quando o maior mérito de um filme é ele encarar de frente a sua vulgaridade. Teria de pensar sobre isso. Vou passar um mês em um retiro espiritual pensando sobre isso, e trago no fim a resposta para vocês.


Fomos ao Cinema ver Distrito 9

Filme que causou comoção quando lançado na gringa, sendo cogitado para o Oscar e tudo mais. Feito em formato de mockumentary (se você não sabe o que é isso, ô burraldo, significa que é um documentário falso. Lembre de produções como Spinal Tap e séries como o The Office, mané), é um dos filmes mais brutalmente energéticos que vi nos últimos tempos. Apostando no climão “realidade nua e crua com favelas e violência”, popularizado pelo coisa nossa Cidade de Deus e visto até me produções como Quem Quer Ser Milionário? nos últimos tempos, é uma fábula sobre o Apartheid sul-africano, mostrando um grupo de alienígenas cuja nave-mãe acabou ficando suspensa no céu de Johannesburgo, e que é discriminado socialmente e legalmente pela sociedade sul-africana, em algo que remete à revoltante situação enfrentada pelos negros nos tristes 30 anos de Apartheid. O diretor Neill Blomkamp é nativo de Johanesburgo, e conta a história lembrando-se dos fatos por ele presenciados em sua infância na cidade, assistindo àquela realidade horrorosa como espectador privilegiado, já que era morador das chamadas zonas brancas (blergh!) da cidade. O formato do filme e a sua sufocante atmosfera (realçada ainda mais pelo formato, que capta a energia da narrativa de maneira eletrizante) são um sopro de ar no combalido universo das ficções científicas do cinema, assolada nos últimos tempos por tramas nada estimulantes e com temas cansados e batidos. Mérito também do diretor na descoberta de Sharlto Copley, amigo de infância que, a pedido do diretor, assumiu o papel principal do filme. Nenhum ator badalado traria o pulso que Copley emprega na sua atuação.


Fomos ao Cinema ver A Verdade Nua e Crua

Um dos piores filmes que eu vi em toda a minha vida. Um festival de oligofrenias, obscenidades e dubialidades morais. Se eu fosse ator e lesse um roteiro desses, eu iria me esconder embaixo da cama por meses. Mas aparentemente Gerard Butler e Katherine Heigl (que as meninotas devem conhecer da horrenda série Grey's Anatomy) não têm exatamente muita vergonha na cara, e embarcam nessa bomba com gosto. No mais, Butler achou que estava no set de 300, e atua exatamente da maneira como fez naquele filme homoerótico. Cheguei até a esperar o momento no qual ele gritaria no ouvido de Katherine o famoso “THIS IS SPARTA!”, tal o tom equivocadamente gutural que ele deu para a sua atuação. Já Katherine, que é a cara da Rachel McAdams, é obrigada a desferir alguns dos diálogos mais vulgares jamais conferidos a uma dama em uma produção mainstream hollywoodiana. Mas como eu disse antes, vergonha é pra quem tem, obviamente. Se o Framboesa de Ouro ignorar esse lixo, eu vou ficar meio que bravo.


Fomos ao Cinema ver Novidades no Amor

Filme que, de tão bom, nem foi lançado em circuito no mercado americano. Catherine Zeta-Jones precisa demitir urgentemente o seu agente, e Justin Bartha tem me perseguindo incessantemente, já que o vesguinho (que maldade!) também estava no Se Beber Não Case. Acho que, se eu fosse ele, procuraria não ficar no mesmo espaço que o Michael Douglas por muito tempo. Umas passadas de mão nervosas ai, moro? O moleque conferiu com gosto tudo o que a quarentona e ainda divina Zeta-Jones tem para oferecer. Que coisa... De resto, o filme não é engraçado, não desenvolve os seus personagens suficientemente para que nos importemos com os seus futuros, e aparentemente não sabe como resolver a sua narrativa, apostando em um final preguiçoso para juntar as pontas. Para falar a verdade, eu mal lembro qual foi a história contada pelo filme, tive que fazer um baita esforço mental para conseguir relembrar os detalhes contados pela história. Acho que ninguém envolvido nessa produção deve lembrar de muita coisa também. Se não me falha a memória, era um musical sobre um grupo de coristas na Chicago dos anos 30, que alcançavam a fama de maneira bizarra quando eram presas por algum crime que cometiam, e eram defendidas por um advogado charmoso e que dançava também. Acho que era isso.
Ufa! Só para terminar dizendo que eu vi também o Bastardos Inglórios, e pretendo fazer um texto sobre ele em breve. Texto que poderá ser o canto de cisne do.... (a sua conexão caiu, reinicie a sessão).

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O bom, o mau e o bobo

Bastardos Inglórios é um filme do Tarantino. Não há dúvida, assim como A Prova de Morte e Kill Bill. Agora, saber se Pulp Fiction e Cães de Aluguel pertencem ao mesmo diretor, ao menos, merece uma explicação para fazer tal afirmação.

Cães de Aluguel foi pé na porta de um atendente de videolocadora no mainstream de Hollywood. A trama é simples: quando um assalto dá muito errado; a trama se desenvolve, pois e somente, num galpão velho onde vemos os diálogos transcorrerem rapidamente, como também magistralmente. Um porra de um galpão se desenrola um bom filme. Simples, sem muitos exageros e nem fala espertinhas: assim como uma boa piada: rápida e, porque não, rasteira.

Sua segunda direção foi Pulp Fiction, filme que impressiona pela montagem. Um filme pode ser definido em três elementos: roteiro, direção e montagem. Dessas diretrizes e das suas relações pode-se fazer um bom filme ou concorrer a uns prêmios Framboesa. Pulp Fiction abusa e utiliza da montagem a seu favor. Apresenta uma boa história, sim; direção de um novato bem executada e engraçadinha, sim; mas é na montagem que o filme se define e revela sua beleza, Cannes percebeu isso, assim como todos aqueles que costumam citar quando lembram de Tarantino.

Parla! Pero no mucho.

Taranta teve outras empreitadas, onde o roteiro era a peça fundamental do filme: Assassinos Por Natureza e True Romance. Assim como Cães de Aluguel histórias bem amarradas onde a trama é bem desenvolvida e o clímax bem executado.

Temos dessa forma uma mudança nos filme dele: primeiro se priorizou o roteiro; em um instante depois a montagem, qual seria a evolução? Logicamente os leitores adivinharam, a porcaria da direção e todos os seus filmes tributos oriundos dessa fase. A partir de Jack Brown, ele se apoiou em uma sólida direção que trabalha todas as suas influências misturadas em uma única embalagem.

Jack Brown foi o seu filme blackexplotation mal executado: pegou o pior de todos os filmes da década de setenta e reuniu de uma só vez, ainda acho que Jackie Brown foi dirigido por um quarto do cérebro dele, algo tão ruim, mas ruim. Kill Bill é uma mistura de kung fu com wester spaguette. Divetido, plástico. Mas fica por aí. Muito bom, mas quando comparado aos seus trabalhos iniciais ele parece um tanto regular. Não gosto de falar de A Prova de morte, filme bizarro e pronto.

Continuando sua senda, onde há valorização da direção, temos Bastardos Inglórios: tributo a Segunda Guerra e a Sergio Leone. Antes vi que todos os críticos elogiavam essa nova película, TODO lugar que li algum rascunho de crítica rasgava seda para Bastardos Inglórios. Não gosto de ser diferente, só porque todo mundo fala bem, logo eu blogueiro, vou falar mal? Resolvi assistir o filme novamente e ainda assim não me surpreendeu, não é um filme ruim, entretanto até quando Quentin Tarantino ficará preso na sua obsessão por direção, obsessão boba: Um bom roteirista que fez miséria na edição, se prende nesse tipo de direção, até quando?

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fomos ao cinema ver Bastardos Inglórios Vol. 1

(aka The 209th Post by Camarada Fundamentalista)

Bastardos Inglórios é filme pra quem gosta mesmo de Tarantino. Gostar mesmo de Tarantino tem a ver com baixar as trilhas sonoras dos filmes dele e ser burrão de achar Kill Bill melhor que Pulp Fiction. Já não gostar mesmo de Tarantino deixa ver que Pulp Fiction nem é do Tarantino. Pulp Fiction é bom demais pra ser do Tarantino. Muita gente, inclusive eu, faz campanha pra que Pulp Fiction não seja do Tarantino. Pra que seja do Robert Zemeckis. Ou do Cameron Crowe. Ou do Robert Redford. Ou pra que volte a ser do Danny DeVito. Tudo menos do Tarantino. Pode ser até do Liev Schrieber. Só tira pelamor o nome do Tarantino dos créditos. É que Pulp Fiction criou um mito. Criar mitos é a segunda pior coisa que pode acontecer no mundo do cinema, e acho que da literatura, se eu lesse livros. Só perde pra ressuscitar carreira de astro decadente. Tipo John Travolta ressuscitado em Pulp Fiction graças ao diretor Danny DeVito pra depois produzir A Reconquista, eeeeeeeee. Esse mito se chama Quentin Tarantino.

Mas Bastardos Inglórios pode ser do Tarantino. Faço questão de que todo o mundo saiba que Bastardos Inglórios foi escrito e dirigido por Quentin Tarantino. Porque Bastardos Inglórios tem 150 minutos. Porque Bastardos Inglórios tem uma cena em que a cara do Hitler é metralhada até virar pudim. Porque eu saí do cinema mais preocupado com a cara do Hitler transformada em pudim na base do tiro que com a intertextualidade. Porque teve muito neguinho crítico de cinema que deu cinco estrelas pro filme por causa da homenagem a toda a porcaria da história do cinema. E eu acho muito bom as pessoas homenagearem toda a história do cinema. Mas o cara não pode fazer isso só porque acha que dirigiu Pulp Fiction. Porque quem dirigiu Pulp Fiction foi o Danny DeVito. Aquele gordinho baixinho e careca.

Três fãs do Tarantino me esperando na saída do metrô.

E o problema é que quem gosta mesmo de Tarantino acha que ele é tipo o Messias. A história toda do cinema convergindo nele. E o pior é que o Tarantino acha mesmo que é o Messias. Senão não fazia um filme que faz convergir em si a história toda do cinema de um jeito todo atrapalhado. E todo o mundo acha o Tarantino um cara muito doido. E deve ser mesmo. Mas fazer pudim da cara do Hitler é uma coisa que ainda me choca. Apesar de muita gente me responder na hora que, pô, é um filme do Tarantino. Então tá. Só que eu fico chocado. Mas não com todo o mundo olhando. Fico chocado e quietinho. Pode me chamar de filisteu. Pode me chamar de tonto. E eu acho que alguém devia apresentar o Tarantino a um ser humano de verdade. Não ser humano de filme de luta. Ser humano ninja. Tarantino, esse aqui é o ser humano. Ser humano, esse aqui é o Tarantino. Porque tem gente que morre em Bastardos Inglórios, e a gente não está nem aí, gente que devia morrer com a gente gritando pelamor não mata ele, não mata, ahhhhhhhhhh.

Eu não sou fã do Quentin Tarantino a ponto de achar Kill Bill, os dois volumes, o máximo. Achar Kill Bill, os dois volumes, o máximo é coisa de adolescente que quer ser cineasta quando terminar o Ensino Médio daqui a dois anos. É o sujeito que lê O Guia do Mochileiro das Galáxias hoje, aos 15, e acha o melhor livro do mundo, e vai ler O Guia do Mochileiro das Galáxias aos 45 e ainda vai achar que é o melhor livro do mundo. Porque Kill Bill é bem legal e tudo. Mas é fase. Eu tive a minha. Assobiei a musiquinha. Comprei a caixa The Box Deluxe Sweet Child of Mine Edition. Curti a Uma Thurman. Namorei uma japinha com cara de protagonista de filme de terror japonês e chamava ela de Gogo. Dei até com uma arma mortal na cabeça dela. Comprei um macacão amarelo e um tênis de alpinista amarelo. Fui pra Liberdade atrás da japonesada pra lutar e tudo. Etc, etc. Mas, sei lá, passou.

O filme é tipo meio que a história de uma menina e um cara que tipo persegue e não persegue ela, mas não é nada pessoal. Aí a menina foge, e o cara continua perseguindo outras pessoas enquanto ela não aparece, mas aí quem aparece são os Bastardos Inglórios, que tipo não têm nada a ver com a menina, porque eles nem conhecem ela, e tal, mas o cara meio que conhece os Bastardos, que também perseguem uns caras, no caso os nazistas, e, ah, a menina é judia e tudo. E tem aquela mesma estrutura em capítulos dos dois Kill Bill. Mas mais preguiçosa. Uns enquadramentos classudos. David Bowie. E eu queria que o Tarantino voltasse a ser objetivo como em Cães de Aluguel.

Bang bang, she shot me down.

Isso até me lembra de outro dia quando um amigo meu me perguntou sobre o que é que era Kill Bill, que o extraterrestre não tinha visto. Aí eu disse que era tipo meio que uma paródia, mas mais do que isso, de filmes de artes marciais. Mas aí eu vi que dizer que era tipo meio que uma paródia de filmes de artes marciais não convencia muito de assistir o filme como eu queria que ele assistisse. Mesmo que fosse mais do que isso, de filmes de artes marciais. E aí eu continuei falando que tinha uns lances de câmera que ele ia perceber de cara porque o negócio era bem filmado e tudo. E uns enquadramentos e tal por ser bem filmado e tudo. E aí ele se convenceu e disse que veria um dia. E aí eu fiquei satisfeito e aliviado. Nem sei por quê. Acho que não queria parecer burro.

Bastardos é uma sátira de guerra. Isso porque tem o Hitler falando cuspindo meio histérico. Como é uma sátira de guerra, as pessoas vão logo lembrar de Doutor Fantástico. Mas pomba! Doutor Fantástico não foi dirigido pelo Tarantino. E não é qualquer guerra. É a Segunda Guerra Mundial. Mas a verdade é que o Tarantino passa que nem um trator por cima disso. Porque podia ser sobre qualquer guerra. Qualquer coisa. Podia ser sobre a guerra da Indochina. Podia ser sobre a Escola de Sagres. Que dava na mesma. Tudo porque é um filme do Tarantino. Com um carimbo gigante na testa dos atores e nas cenas dizendo Tarantino’s movie. E tem também um gordo que nem dizem que querem que a gente ache que é o Churchill. Mas é. E o Mike Myers na mesma sala com esse gordo que deveria ser o Churchill. O que é muito inverossímil. Porque o Churchill nunca ficaria na mesma sala com alguém como o Mike Myers. O Mike Myers que é o, er, astro decadente da vez a ser ressuscitado. Mas sinceramente acho que não vai rolar. E eu acho que o Tarantino devia logo refilmar Era Uma Vez no Oeste do jeito que o Gus Van Sant refilmou Psicose. Aí ele parava de enfiar Sergio Leone goela abaixo da gente, que é bem legal e tal, mas pô.

Agora meu TOP 5 dos filmes do Danny DeVito:

5. Morra, Smoochy, Morra
4. Matilda
3. Hoffa
2. Pulp Fiction
1. Era Uma Vez no Oeste

sábado, 10 de outubro de 2009

joaquimnabuco.wordpress.com

Este post sofreu o patrocínio da Monsanto Company.

O que a sabedoria manda fazer? Nunca confessar que se gosta de Los Hermanos gostando-se de Los Hermanos. Não discordar dos amigos em pontos que envolvam paixões virulentas. Afastar-se diante de paixões virulentas. Evitar paixões virulentas. Esconder paixões virulentas.

Mas hoje estou particularmente preocupado com generosidade e com os empecilhos para sua prática. Pois, como todas as outras virtudes, ser generoso não é talento, mas ação. Direto e reto como os bons comunicadores, vou dizer o que penso. Acho que o principal obstáculo para a generosidade é o detalhe. Deter-se nos detalhes.

Em estética, isso é fundamental. Dizem que o gênio está nos detalhes. Obras de arte são invariavelmente um acúmulo absurdo de detalhes, resultado da preocupação maníaca do artista com detalhes. Pensem num quadro. Pensem num livro. Não, O estrangeiro, não. Pensem em A educação sentimental. Remeto-me ao cancioneiro popular: “Quando Deus te desenhou, ele tava namorando”. Escrevam-me suas conclusões.

Mas, moralmente, o detalhe amesquinha. Estranho, não? Não, nem um pouco. Estética e ética são dois ramos do cerumano onde o lóbulo frontal e o dianteiro diferem. Aqui tem um esquema:

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Woody Allen me ensinou que é possível driblar a percepção de uma pequena multidão se apelarmos para as conhecidas pretensões intelectuais. Retrospectivamente falando, foi o que fi-lo quando citei A educação sentimental em detrimento de O estrangeiro. Se tivesse dito Tolstoi, o efeito diminuiria, porque não o tendo dito supus que sabiam que foi Tolstoi que escreveu A educação sentimental. Formou-se, metaforicamente falando, um pequeno clube, e a chamada cumplicidade autor-leitor foi estabelecida. Agora piscarei meu olho esquerdo, quero que o imaginem: Flaubert, Flaubert, Flaubert.

Mas isso ainda é o detalhe. Cinematograficamente falando, volto a Woody Allen. Dizia eu que ele fez algo que, a título de ilustração, mostra que a estética se fundamenta na ética. É o liame diáfano do raciocínio. Mas ó, atenção, que dá pra entender. Sem um posicionamento ético – testa no chão, tronco num ângulo de 45º em relação ao mesmo chão, pé esquerdo tocando a base da nádega e perna direita recolhida junto ao estômago – que releve o detalhe, qualquer empreendimento estético no sentido de produzir detalhes (já que é essa a natureza estética par excellence) gorará. Sim, senhores, temo que gorará.

Por exemplo Woody Allen ter filmado Manhattan, que é lindo, com Gershwin logo de cara, fotografia p&b maravilhosa e citações eruditas a cada cinco linhas de diálogo (rate fornecido pelo AFI Crazy Nuts Quotations Index). Tudo pra dissimular o fato de que Woody Allen era um judeu baixinho de 42 anos dating uma Mariel Hemingway de 17 anos. Premissa doida do caramba.

(Anatomicamente falando, prevejo dificuldades para entender o que seja a base da nádega. Ora, nada mais que o ponto em que se encontra a dita coxa com a sobredita polpa.)

Mas a audiência vulgo nós bate palmas porque funcionou graças ao fato ético de havermos esquecido detalhes como as conveções sociais sobre beleza, atração sexual e lógica clássica e acreditado na ilusão dramática de que o amor pode tudo. Os filmes do Woody Allen são sobre isso, não são? Quase todos os filmes são. Mas há filmes que falham justamente em embasar detalhes de ordem estética com a ausência de detalhes de ordem ética, compreende? Aqui cumpriria falar de Bastardos Inglórios, que era de fato o meu objetivo. No fundo da coisa toda, estava um filme de Tarantino, este gênio contemporâneo. Convém preambulá-lo.

Muita gente se engana ao dizer que Quentin Tarantino é o exato oposto de Glória Kalil, que, conforme sua descrição pessoal no twitter, é uma “jornalista, empresária e consultora de moda brasileira”, que se dedica “à consultoria de estilo e negócios ligados ao campo da moda e do comportamento”. E, a propósito, a minha descrição é: “um colchonete entre colchonetes”, que na época achei muito espirituosa. E ainda acho. Mas, praticamente falando, Quentin Tarantino e Glória Kalil são praticamente a mesma pessoa quando percebemos que ambos são interessados em estilo. Agora uma palavra sobre estilo.

Clodovil ou Pedro Bial, talvez os dois, não sei ao certo, disse que “O estilo é o homem” ou "O estilo é homem". Se a frase é do Clodovil, tendo à segunda opção. Ora, eles estão estão certos. Porque o estilo é isso aí. Mas o estilo é também a coisa mais perigosa do mundo quando priva o homem daquilo que ele tem de mais precioso: a vontade de construir um mundo melhor. Quer dizer, escrever certo por linhas tortas. Isto é, ser feliz ao lado de quem se ama. Trocando em miúdos, ganhar muito dinheiro e namorar modelos ajudando a comunidade.

O estilo pode ser o homem, mas também pode ser o que mata. E o que mata o homem.

Um soco no estômago da mesmice do consenso.

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Aos 7 anos, eu já catava lixo na rua pra ter um futuro melhor, cursando Letras e me apaixonando por você (coloque o seu nome aqui:_________). A nossa trajetória é uma história de desafios. A mesma de Tarantino. Nossos pais não nos liam Baudelaire à mesa de jantar. Nós nem tínhamos uma mesa de jantar. Nem posso imaginar mamãe, com sua sensibilidade romântica, fazendo vômito ao ouvir o lirismo da carne putrefeita da amada do Poeta. O saldo de nossa (de)formação é que hoje gostamos de cantar junto. E o critério de Tarantino é um só: fazer filmes que ele gostaria de ver. (Vide lista dos filmes favoritos de Tarantino nos arquivos imundos deste blog.)

É inegável que Tarantino é um exímio. Mas será que ele tem algo a dizer? Pois será que nós mesmos temos algo a dizer e, por que não dizer, a ouvir? Encerro aqui, deixando estas perguntas aos senhores, que espero meditarem com escrúpulos redobrados na clausura de suas cabeças.

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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vivre sa vie

Prometem demais pra gente com esse lance todo de amor. Quando é a nossa vez, pra valer, nos decepcionamos pra vida inteira. Divórcios são só o mais comum, mesmo entre aqueles que não aprova(va)m. Trata-se de uma geração terrivelmente mal preparada para se sacrificar, para admitir que a vida não é curtição, Coca-Cola, etc e tal.

Quer dizer, na maior parte do tempo estaremos só tranquilos, depois entediados, aliás muito entediados; e se não estivermos entediados, então será um inferno e estaremos à procura de paz, porque alguém ou alguma coisa nos enche muito o saco, talvez nos atormente mesmo. É, a alternativa será essa, ou tédio, ou perturbação. Mas às vezes felicidade, pura e simples, algum sucesso, aquela sensação de triunfo, que tem de ser ocasional, e depois a morte. As vidas são assim, todas iguais, e pelo que eu sei não mata, ou quase.

Frustrar-se é inevitável, os mais sensíveis se frustram por completo, terminando amargos; e quem diz que não é frustrado, é conformista, talvez cínico, talvez conivente. “O mundo está contra nós” é papo de adolescente, mas que não colobora, isso não.

O amor é das maiores promessas jamais cumpridas. Depois vem trabalho, formando os dois eixos fundamentais da vida; realização profissional, dizem. Quer dizer, depois que você descobre que não devia se casar, porque achava que era uma coisa que não era, e inventa de ter filhos pra “preencher a vida”, volta-se pro serviço, se pode. Às vezes, antes mesmo de se casar, ou em vez de se casar. É uma tentativa válida, alguns conseguem, como sempre existe quem consiga alguma coisa, levando o resto a imaginar que também pode.


O romântico em mim diz que há uma saída, que tem a ver com os idealismos mais inconsequentes, porque desprovidos de cartão de crédito, estabilidade financeira, implicando algum tipo vago de revolução social, não socialista, mas mais puxada pra ação social, tipo aquele desejo fofinho e nem um pouco prático de “ajudar as pessoas”. Se você conseguir transformar esse slogan em algo parecido com uma vida em tempo integral, talvez seja menos frustrado e egocentricamente entediado que a maioria acima descrita. Boa sorte.

E tem que a gente só acha o mundo tão tosco por causa das pessoas nele. Isto é, não são os furacões e terremotos que nos aborrecem, ou câncer, ou crianças nascendo sem braços e outras deficiências, isso tudo a gente aceitaria muito bem. O que torna a vida eventualmente miserável são os outros, que somos nós. Por isso, a conclusão é que a maioria das pessoas está contra nós, que estamos contra as pessoas, pela razão de sempre: por nós mesmos. Yes, that same old song, chap: a tragédia do nosso egoísmo em quantos atos você queira.

Minha tendência é achar que 70% das pessoas são toscas e que as poucas pessoas legais que existem são exatamente aquelas que eu chamo de amigos, com algumas exceções, que reconheço porque sou muito razoável a ponto de saber que nem todo o mundo que presta vai gostar de mim, porque nem todo o mundo combina e então é melhor seguir cada qual o seu caminho. A tosquice das pessoas consistindo não tanto em maldade intencional, ou seja, crueldade, mas ignorância e acomodação diante do sofrimento e do mal com argumentos incrivelmente razoáveis e superficiais. Amém.