sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E se eu tivesse ido ao cinema ver Tropa de Elite 2? Eu teria uma desculpa para não admitir que eu fui ao cinema ver Comer, Rezar e Amar

Tropa de Elite 2? O que eu teria achado do filme? Vejo a minha irmã, que tentou pegar uma sessão do filme na noite de Domingo, em pleno feriado, e se deparou com sessões lotadas, e foi obrigada a apelar então para o mais novo atentado de Julia Roberts contra a arte contemporânea, Comer, Beber, e Rezar, filme que, segundo ela, a deixou "sufocantemente entediada". Filme esse que eu também tinha visto dias antes, em uma situação diferente. Pensei então em categorizar o filme como "arte de asfixiação", aquele tipo de realização artística (notando o alto número de citações ao prefixo art) que procura suprimir a existência dos afortunados que colocam os seus olhos nela através de uma pensada, lenta e gradual asfixiação, como aquele maluquinho que tentou se matar sufocado pelo escapamento do próprio carro, fechando as portas e janelas e esperando o monóxido de carbono realizar o seu serviço. Não que as cópias do filme tenham essa característica (nitrato, acetado e poliéster compôem o nome do crime), mas elas também guardam um segredo tão devastador quanto aquela fumacinha que destrói cada pedacinho do seu pulmãozinho (gay innuendo). Segredo esse que versa sobre a execução dos espectadores através dos 133 minutos mais longos já experimentados pelo ser humano. Mas eu nunca duvidei da Julia Roberts, essa vaidosa estrela hollywoodiana,  que jamais fez um filme na vida que merecesse uma nota 6, considerando uma escala de 1 a 10. Nenhum filme que tentasse minimamente não ofender a sensibilidade de qualquer espectador que não considere Uma Linda Mulher o marco zero do cinema, o Kid A da sétima arte (a criança original). Em todos os filmes que essa, uhm, pensando em um adjetivo não ofensivo para descrevê-la e não chegando a nenhuma conclusão melhor que BRUACA (caixa alta usada como ênfase a um sentimento odioso e destrutivo) realiza, todos os personagens que ousam  passar em frente às câmeras e soltar uma linha de diálogo que seja existem para alimentar o ego e a existência das suas personagens, que são sempre essas deploráveis mulheres de meia-idade (algo bizarramente aplicado tanto quando Julia tinha 26 anos de idade, e agora, tendo ela já 41 anos), que, sempre decepcionadas com os homens das suas vidas (essas criaturas patéticas e infantilizadas, que empalidecem perante a sabedoria e plenitude das Lindas Mulheres de Júlia), dão uma guinada de 180º nas suas vidas e partem atrás de uma busca  ofensivamente estúpida e egótica de amor, substância e conteúdo, e que termina normalmente com ela nos braços de algum galâ internacional, podendo ser um britânico e pretenso galâ se passando por britânico e galã (Hugh Grant) ou um espanhol sem ginga se passando por um brasileiro da gema (Javier Bardem), exemplo esse tirado do filme em questão.

Julia come
 Filme esse no qual acontecem as seguintes coisas (mesmo, coisas) com a personagem Liz Gilbert, interpretada por Julia: Liz está casada - nós não nos importamos. Liz acha que o marido "irresponsável" (sendo que o ato de irresponsabilidade cometido por ele foi ousar pensar em voltar a estudar e conseguir um diploma - o que mostra que, como dito antes, nenhum personagem em um filme da Julia Roberts pode buscar um crescimento pessoal que não seja ela própria) e o casamento a oprimem e ela se divorcia - nós não nos importamos. Liz tem um caso com um jovem ator - nós não nos importamos. Liz termina com o jovem ator - nós não nos importamos. Liz vai para a Itália, onde come; para a Índia, onde "reza"; e para a Indonésia, onde "ama", realizando então os três atos que dão o título do filme - e nós, oras bolas, não nos importamos.  O auge do sucesso de Júlia, leia-se anos 90, tenebrosa e assustadora era das comédias românticas, parecia já ser uma distante e amarga lembrança. Mas Julia tem um ego do tamanho da famosa pinta que grita do seu rosto em nossa direção, toda vez que nos atentamos a ele, e não vai morrer fácil assim. Comer, Rezar e Amar é uma resposta a uma equação que remete aos efeitos de um duelo da Idade Moderna, nos quais o mero instinto de sobrevivência obrigava os homens de honra a atirarem antes que os seus oponentes, escolha essa que carecia de ângulos e possibilidades. Uma questão de segundos.

Julia reza
 No caso, Julia resolve então se colocar à frente, limpando meticulosamente o cano do seu trabuco, e soltando o tiro de misericórdia em nossa direção. Não é a carreira dessa loba empolada que morreu; é a nossa dignidade como espectadores que foi para o chão, ensopada em meio a uma poça de sangue. E com ela, morremos nós. Como havíamos morrido de pouco a pouco, a cada vez que perdíamos tempo e dinheiro com os crimes anteriores da atriz, desde o horroroso Flores de Aço, que lhe garantiu a primeira e inexplicável indicação ao Oscar, com Julia ainda uma adolescente. E aquele filme tinha a Sally Field. Que foi a Julia Roberts dos anos 80. E que pelo menos teve a decência de de se permitir ser abatida pela nossa mira, aceitando grandiosamente a queda depois de ser humilhada com o discurso mais ridículo de um ganhador do Oscar em toda a história do prêmio (o maravilhoso "VOCÊS ME AMAM, VOCÊS REALMENTE ME AMAM!", feito na ocasião da sua vitória como melhor atriz em 1985). Muitos (muitos?) dirão que esse texto ataca a feminilidade, e as expressões artísticas que procuram refletir essa feminilidade. Da qual Julia Roberts e o seu filme, que por si só é baseado em um livro que também se propunha a refletir essa feminilidade, seria um pretenso expoente.

Julia ama
Mas eu ouso dizer que nenhuma criatura em todo esse mundo que se pretenda como "feminina" (biologica e metaforicamente também), e eu incluo aí mulheres, flores e o Mikhail  Baryshnikov, não tenha discernimento o bastante para querer ver a sua imagem convenientemente e inteligentemente afastada dos estereótipos de imbecilidade abraçados por Julia Roberts em sua carreira. Pois que a mulher em si nunca foi o objetivo final dessa mulher. Foi o ego. E o ego é masculino. É o homem falando mais alto onde ele não deveria nem existir. E chega, nunca mais, eu disse, NUNCA MAIS eu me prestarei a escrever duas linhas sobre a atriz Julia Roberts. Pois -caramba, vocês prestaram atenção ou não?- eu estou morto. Bang, bang, i'm dead.
E eu? Eu já fui, rapá

sábado, 2 de outubro de 2010

THE SOCIAL NETWORK THE SOCIAL NETWORK THE SOCIAL NETWORK GOOGLE OLHA PRA MIM Por que provavelmente a gente não vai postar por um bom tempo

Porque não tem nada que preste passando nos cinemas por aqui enquanto nos EUA estreou ontem The social network, que é o filme mais hypado de todos os tempos. É uma forma de os norte-americanos nos lembrarem constantemente de que somos terceiro mundo que os filmes de lá continuem estreando por aqui com meses de atraso. Alguém vai dizer que antigamente era pior porque os filmes chegavam por aqui não com meses, mas décadas de atraso, mas, pomba, antigamente era ditadura, antigamente era o Capitão Nascimento e as pessoas iriam presas se vissem um filme do Fincher. Aliás, eu vi a entrevista do Wagner Moura no Roda Viva com Marília Gabriela no comando mostrando a força da mulher brasileira e piriripororó. Ele é burro como qualquer outro ator que tente falar a respeito das coisas que existem no mundo em vez de encená-las. Bom ator (ele é) é aquele que é melhor interpretando uma árvore do que falando sobre uma árvore.

Os críticos norte-americanos disseram que The social network capta o espírito da época (queria que tivessem usado zeitgeist pra ver se a palavrinha alemã finalmente caía na boca do povo com a mesma gratuidade que soutien, só divagando). Não é pouca coisa, e seria a segunda vez que o Fincher consegue isso, a primeira com Fight Club nos 1990, que foi a melhor época das nossas vidas. Mas a gente vai ter que esperar até dezembro pra conferir a versão psicopata à Bill Gates que o filme entrega do criador do Facebook e que o próprio naturalmente desmente aonde quer que vá tentando bancar o bom moço. Mas, por exemplo, fiquei sabendo que se você quiser ou tiver, sei lá, de bloquear o Mark Zuckerberg por não sei que motivo idiota, não dá. Nossa! Não dá pra bloquear no Facebook o criador do Facebook! Mas o mais estranho é naturalmente que Zuckerberg, tendo a grana que tem e tendo chegado aonde chegou, ainda tenha um perfil no Facebook. LOSER! No mínimo, endossa a motivação que Sorkin, roteirista do filme, dá para a criação da rede social: dor de cotovelo. Zuckerberg era simplesmente um hacker judeu querendo ascender socialmente junto à aristocracia WASP de Harvard. Mas inadaptação social tem cura: você arranja uma namorada bem bonita, casa com ela, engorda, envelhece e fica bem feio e decadente, descobrindo que esse é o destino natural de todo o mundo, inclusive do casal Jolie-Pitt, que é a realeza e tal. Enfim.