sexta-feira, 15 de junho de 2007

Funeral, do The Arcade Fire (e Lindsay Lohan)

Agora sim, comento Funeral, do The Arcade Fire. Aí, você me diz: “Ah, mas esse disco é velho, e eu já ouvi ele inteirinho; não preciso que você me diga o que esperar.” Aí, eu te respondo: “Egocêntrico! O mundo agora gira ao seu redor, e eu não sabia? Deixa eu curtir essa minha descoberta abortiva, pomba!”

Bom, pra começar, eu fiquei me perguntando por que é que esses caras não estão fazendo sucesso, que nem os Smashing Pumpkins um dia fizeram, com Mellon Collie and the Infinite Sadness, que, apesar de alguns hits de rádio, era, além de duplo, no geral um álbum bem difícil de se escutar. Eu sei que Funeral vendeu bastante, mas bastante pra uma banda indie. Puxa, se eles agradam um séquito tão eclético de chatos famosos, como Chris Martin, Michael Stipe e Bono (que sono... zzzzzzzzzzzzzzz...), mereciam mais do que o sucesso de uma banda indie.

O Camarada Progressista aponta, a propósito da dificuldade de romper com essa relativa obscuridade, o barroquismo. Mas o fato é que, por causa ou apesar desse barroquismo, dá vontade de sair cantando com eles. Você ouve e fica pensando “mas que banda legal!”; e, olha, pelo que eu sei, é nessa locução simplória, boboca mesmo, que se esconde o pote de ouro. Imagina a molecada pelo mundo todo falando “mas que banda legal!”: 3 milhões de cópias vendidas e por aí vai. Mas aí o Progressista vira e me diz assim: “Mas, camarada, isso é você, que é muito refinado e tudo; mas o povo, o povo é tosco!” (Às vezes, ele é muito elitista.) E aí eu respondo: “É, camarada, eu sei disso, eu sei que eu sou muito refinado.”

Um cenário ganha forma em nossa mente, ao longo do conjunto Neighborhood: crianças brincando na neve, enquanto os adultos velam o falecido em casa. E não brincam – ou melhor, cantam – porque ignoram o que está se passando, mas porque, como em muitas culturas, cantar é a melhor forma de enfrentar a morte. Funeral é uma celebração da vida atravessada pela morte: quem disse que a morte é silêncio? No entanto, esta atitude não exclui a melancolia, por isso cabe a paradoxal formulação – festividade melancólica – pra sonoridade da banda. Porque, se eles te chamam pra cantar e os vizinhos pra dançar, é porque a tristeza está presente, a ponto de se tornar desespero.

Mas o que eu mais gosto em Arcade Fire é o caráter postiço deles. Explico: por mais que o som pareça, a gente sabe que não é anos 80. É uma versão elegante pra uma época kitsch, apelando pra outro paradoxo, que talvez possamos resolver respondendo à seguinte pergunta: o barroco é kitsch?

Outra coisa que foi decisiva, pra mim, pra dar o meu restritíssimo selo de qualidade pra banda foram as viradas do álbum. Olha, fazia tempo que eu não ouvia uma virada que não passasse de engodo, de picaretagem: sabe, só pra encher lingüiça e esticar alguma música que ninguém vai ouvir mesmo, porque não é o hit do disco. Une Année sans Lumière e Wake Up, por exemplo, contêm genuínas viradas, coesas, finalizações apoteóticas que, no caso deste álbum, acenam para uma grande catarse.

E, aí, você, muito astuto, me pergunta: “E a Lindsay Lohan, onde é que ela entra nessa história?” Bom, e aqui eu vou ser simplesmente genial, talvez haja nesse elemento postiço do Arcade Fire outra chave para compreender o encantamento que Lindsay exerce sobre nós: como rainha dos anos 80 desencontrada, seu charme é do tipo nostálgico, que, mesmo vestindo-se das cores do presente, sugere uma Idade de Ouro que infelizmente nunca existiu, mas que teimosamente insistimos deslocar para essa década, em que todos os exageros eram desculpados, na verdade, estimulados, porque éramos todos inocentes, infantis e bobos.

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