Quando eu vejo Coração de Cavaleiro (A Knight’s Tale), torço que nem uma menininha pra que o mocinho vença no final e dê uma boa lição naquele vilão malvado. E, ai, como eu sofro, até parece que há alguma chance real do mocinho não se dar bem. Mas eu tenho toda a razão pra agir assim, pois foi pra isso que fizeram esse filme: foi pra isso que transformaram a Idade Média em cenário pra um Dez Coisas que Eu Odeio em Você do amor cortês, inclusive com o mesmo Heath Ledger que havia protagonizado o original. Sabe, o Heath Ledger, o vaqueiro afásico e trans-viado (tsc, tsc, tsc...) de Brokenback Mountain?
Mas, então, só que eu mesmo, que achava que Coração de Cavaleiro era só entretenimento miguxo, fui na contramão do propósito do filme e achei uma das caracterizações mais objetivas e fidedignas do gênero feminino que eu já vi na minha vida. O que, pra nós, quer dizer mais uma lição essencial do Camarada Fundamentalista sobre as mulheres.
Estou falando da Lady Jocelyn (Shannyn Sossamon, um genuíno nome havaiano), é claro. Pra vocês que assistiram ao filme, mas não estão associando o nome à pessoa, trata-se da donzela cujo coração e partes adjacentes o nobre e bravo Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland (Ennis del Mar, quer dizer, Heath Ledger) se desdobra para conquistar. E é a esse trabalho que o amor lhe impõe que quero me ater, nessas considerações muito oportunas. Mais especificamente, às reações de Lady Jocelyn a certa altura do relacionamento; de fato, no momento decisivo, em que Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland finalmente dá prova, e definitiva, de seu amor pela jovem.
Acontece o seguinte. Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland pisou na bola com a menina (como todo homem cedo ou tarde pisa) e, pra remediar a situação, diz que vai ganhar cada uma das disputas do torneio de justa por ela. Ah, e aqui começa o calvário do homem – quando ele está por baixo, e quando ela está por cima, e ela sempre quer ficar por cima, porque ela sempre se faz de vítima, e porque ela, afinal de contas, tem algo que ele quer (e que, pelo menos supostamente, naquela época, era guardado atéééééé depois do casamento: imaginem, pois, o poder das mulheres de então; bobas as de hoje, que já vão entregando o ouro, de primeira). Então, Jocelyn, aproveitando-se do fato de que ele está comendo na mão dela, lhe pede justamente aquilo que não só ele, mas todo homem, mais valoriza, sua masculinidade. Sim, Camarada X, cedo ou tarde, as crescentes exigências dela acabarão inevitavelmente incidindo sobre o seu bem mais precioso, que até então você julgava inalienável: sua masculinidade. Ela pode tirar isso de você e não hesitará em fazê-lo, seja forçando-o a usar gola alta ou, como no caso de Lady Jocelyn, pedindo ao Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland que perca o torneio. É, que ele perca. Ah, a pérfida, sabendo do orgulho de Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland, para quem perder era, como para todo homem, no mínimo desonroso, lhe pede que perca, a fim de provar o seu amor por ela.
E ele, ingênuo, tolo, idiota, como todos nós, homens, somos, ainda que num primeiro momento relute, obviamente aceita a exigência. Como todos nós, ele se rende a ela e a suas romantizações cruéis e desumanas. Daí, o que se segue, em ritmo de videoclipe, é a série de derrotas e violências a que ele se submete sob o olhar satisfeito (e tímida e ternamente sádico) de Jocelyn, que, afinal, tem certeza de que Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland a ama. Ah, perva. E aqui está o momento genial de um filme tão despretensioso: na caracterização de Lady Jocelyn, fruindo sua vitória, sua castração do ser amado: ela sorri gostosamente. E ainda que vire o rosto nos momentos em que a lança explode contra o peito ou contra o elmo de Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland, fazendo-o cair do cavalo violentamente, ah, ela jamais deixa de sorrir, plenamente realizada.
Acontece o seguinte. Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland pisou na bola com a menina (como todo homem cedo ou tarde pisa) e, pra remediar a situação, diz que vai ganhar cada uma das disputas do torneio de justa por ela. Ah, e aqui começa o calvário do homem – quando ele está por baixo, e quando ela está por cima, e ela sempre quer ficar por cima, porque ela sempre se faz de vítima, e porque ela, afinal de contas, tem algo que ele quer (e que, pelo menos supostamente, naquela época, era guardado atéééééé depois do casamento: imaginem, pois, o poder das mulheres de então; bobas as de hoje, que já vão entregando o ouro, de primeira). Então, Jocelyn, aproveitando-se do fato de que ele está comendo na mão dela, lhe pede justamente aquilo que não só ele, mas todo homem, mais valoriza, sua masculinidade. Sim, Camarada X, cedo ou tarde, as crescentes exigências dela acabarão inevitavelmente incidindo sobre o seu bem mais precioso, que até então você julgava inalienável: sua masculinidade. Ela pode tirar isso de você e não hesitará em fazê-lo, seja forçando-o a usar gola alta ou, como no caso de Lady Jocelyn, pedindo ao Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland que perca o torneio. É, que ele perca. Ah, a pérfida, sabendo do orgulho de Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland, para quem perder era, como para todo homem, no mínimo desonroso, lhe pede que perca, a fim de provar o seu amor por ela.
E ele, ingênuo, tolo, idiota, como todos nós, homens, somos, ainda que num primeiro momento relute, obviamente aceita a exigência. Como todos nós, ele se rende a ela e a suas romantizações cruéis e desumanas. Daí, o que se segue, em ritmo de videoclipe, é a série de derrotas e violências a que ele se submete sob o olhar satisfeito (e tímida e ternamente sádico) de Jocelyn, que, afinal, tem certeza de que Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland a ama. Ah, perva. E aqui está o momento genial de um filme tão despretensioso: na caracterização de Lady Jocelyn, fruindo sua vitória, sua castração do ser amado: ela sorri gostosamente. E ainda que vire o rosto nos momentos em que a lança explode contra o peito ou contra o elmo de Sir Ulrich von Lichtenstein de Gelderland, fazendo-o cair do cavalo violentamente, ah, ela jamais deixa de sorrir, plenamente realizada.
Ah, Camarada X, jamais o cinema, nem mesmo com Bergman, foi tão fundo no que a alma feminina tem de mais infantil, e que elas costumam chamar de romantismo. E nós, psicólogos astutos e implacáveis que somos, sabemos como as crianças podem ser cruéis, como podem humilhar e fazer sofrer, e que esse “romantismo” é na verdade a defesa (e, de certo modo, todo instrumento de defesa é igualmente um instrumento de ataque, de contra-ataque) mais dura e perniciosa das mulheres contra os homens. Sim, não nego que as mulheres sofram os homens, que possam se ver à mercê da brutalidade masculina (ah, sinto que escrevo um libelo contra toda a forma de opressão, dissimulada ou manifesta...). Mas, justamente porque reconheço a ameaça representada pelos homens, não posso ignorar que as mulheres revidam, isto é, que se entregam à violência e destruição do próximo, e com armas terríveis, absolutamente terríveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário