sexta-feira, 20 de março de 2009

Vá ao show do Radiohead, mas não me chame.

É isso ai, cambada. A crise está batendo na canela de todos. O Fomos ao Cinema, esse blog mais procrastinado que aluguel de malandro, não será afetado pelo tumulto que assola a realidade econômica da geopolítica internacional, já que não somos uma sociedade anônima em busca de lucros fáceis, o que significa que nós não buscamos a renda de títulos, ações e capitais, e por isso não estamos sujeitos a cobranças de impostos,encargos trabalhistas e outras ferramentas. O máximo que poderia acontecer seria alguém confiscar os nossos computadores, mas ai nós poderíamos pedir uns trocados nos faróis para postarmos nas lan houses da vida. A velha rotina do "boa tarde senhores motoristas, eu poderia estar roubando, mas estou aqui, pedindo alguns minutos do seu tempo para mostrar para vocês essa deliciosa novidade, o Chocobis de morango e blá, blá, blá". Uma vez eu fiz uma piada assim para uma ex-namorada, e ouvi um "isso foi muito insensível da sua parte". Pô, fiquei constrangido. Mas o relacionamento estava indo para a tumba mesmo, e a menina tinha tanto humor quanto o Hitler, então tudo ficou bem depois.

Mas, já pedindo para vocês esquecerem essa digressão irritante, venho aqui colocar o dedo na cara do Thom Yorke e dizer que eu estou boicotando o show que a banda mais mala do hemisfério norte fará aqui na terra dos modernistas (nós te amamos, Oswald de Andrade) domingo. Sim, Radiohead, da minha bufunfa vocês não verão nem a sombra! Sei que a banda nem dormirá de preocupação com isso, mas preciso alertar todos os indies que se deslocarão até a longínqua Chácara do Jóquei (é tão longe que nem São Paulo é mais), no bairro da Vila Sônia. Todos vocês que atravessarão a cidade até as fronteiras do oeste precisam ter em mente que esse show poderá ter dois cenários distintos. Peguei a lista de músicas tocadas nos dois shows que a banda fez na Cidade do México (solto um estereotipado arriba para os mexicanos) dias atrás, e a coisa vai ser feia. Quer dizer, se a banda resolver seguir a lista do primeiro show, veremos um suicídio coletivo da indieaiada, no melhor estilo Reverendo Jim Jones, de tão chato que seria o negócio. Se a banda seguir o set-list do segundo dia, ai vai melhorar um pouco só, mas ainda sim veremos um "eu não aguento mais!" aqui e acolá. Lógico que ainda haverão os shows do Kraftwerk (o krautrock morreu, antes ele do que eu) e a volta do Los Hermanos, mas eu vou me concentrar no cardápio principal. Manda ai garçom, dois filés com fritas, morô? Vamos aos dois cenários então:



Radiohead, no melhor estilo Judas Priest. Breaking the law, Breaking the law

Primeiro Cenário
Set-List do primeiro show na Cidade do México

1. 15 Step
2. Airbag
3. There There
4. All I Need
5. Nude
6. Weird Fishes/Arpeggi
7. The Gloaming
8. National Anthem
9. Faust Arp
10. No Surprises
11. Jigsaw Falling Into Place
12. Lucky
13. Reckoner
14. Optimistic
15. Idioteque
16. Fake Plastic Trees
17. Bodysnatchers

Primeiro Bis
18. Videotape
19. Paranoid Android
20. House of Cards
21. My Iron Lung
22. Street Spirit (fade out)

Segundo Bis
23. Pyramid Song
24. Just
25. Everything In Its Right Place

Esse set-list é o mais comum na turnê da banda, e é provável que seja o seguido no show. A sequência inicial (as 17 músicas antes do primeiro bis) é assustadora. Sério, pagar 200 pilas para ver um show dominado por músicas dos soporiferos Kid A, Amnesiac, Hail to the Thief e In Rainbows (que tem TODAS AS MÚSICAS na lista) é de corar. As três do Ok Computer perdidas ali (Airbag, No Surprises e Lucky) são lindas de morrer (ui!), mas ao vivo provocam apenas o sono dos espectadores. Idioteque é uma excelente canção (a melhor do Kid A), mas ao vivo faz a galera toda procurar o bar. E Fake Plastic Trees... blergh. A pior música do The Bends é sempre tocada ao vivo pelo Radiohead como se a banda estivesse fazendo por pura obrigação, jogando para os fãs. Quando menos se espera, é ai que não sai nada mesmo.

O primeiro bis pode acordar finalmente a galera, já que Videotape é a melhor música do In Rainbows (e ao vivo normalmente soa muito bem), My Iron Lung garante boas guitarradas, e Paranoid Android é espetacular, e ao vivo, por mais letárgica que a banda seja, sempre fica apocalíptica. House of Card é um lixo e Street Spirit é uma musica que jamais deveria ser cogitada para se tocar em qualquer show. Mas o Radiohead... Mas o Thom Yorke...
O último bis tem Just apenas para salvar os incautos, já que Pyramid Song é música de elevador da pior qualidade, e Everything in Its Right Place encerrando um show é uma ofensa de uma banda que acha que qualquer arroto que solta é divino. Sério, é piada. Isso é um show, caramba, não um funeral. Se esse for o set-list do show em Sampa, eu repito, temo pelo pior. Mas as coisas podem ser um pouco melhores.




Segundo Cenário
Set-list do segundo show na Cidade do México

01-- 15 Step
02-- There There
03-- The National Anthem
04-- All I Need
05-- Kid A
06-- Karma Police
07-- Nude
08-- Weird Fishes/Arpeggi
09-- The Gloaming
10-- Talk Show Host
11-- Videotape1
12-- You and Whose Army?
13-- Jigsaw Falling Into Place
14-- Idioteque
15-- Climbing Up The Walls
16-- Exit Music (For a Film)
17-- Bodysnatchers

Primeiro Bis
18-- How to Disappear Completely
19-- Paranoid Android
20-- Dollars and Cents
21-- The Bends2
22-- Everything In Its Right Place

Segundo Bis
23-- Like Spinning Plates
24-- Reckoner
25-- Creep

Não é um grande alívio, mas os mexicanos que foram no segundo show tiverem muito mais sorte que os seus conterrâneos que foram no primeiro. Esse set-list é melhor. Longe do ideal, mas um cenário menos catastrófico. Tirando a mania da banda de começar os shows com a inqualificável 15 Step (zzzzzzzzz), temos 3 grandes canções do OK Computer que soam bem ao vivo (Karma Police, Climbing Up The Walls e Exit Music), as músicas dos quatro últimos discos estão melhor colocadas, Paranoid Android permaneceu na lista (se a banda não tocar, quebrem tudo por lá) e, por um milagre divino, a banda incluiu The Bends, canção que garante um bom momento "vamo pulá", como diria SandyeJunior, e Creep. E é aqui que mora o grande mistério do negócio todo. Todo mundo sabe que a banda detesta a música que a lançou ao estrelato, que eles tocam raríssimas vezes ao vivo (normalmente em cidades importantes), e que, quando o fazem, normalmente rola uma má vontade do tamanho de um bonde, ou eles esculhambam tudo de uma vez mesmo, mudando o ritmo e andamento, o Yorke mudando a letra, entre outras molecagens.

Ainda sim, Creep é a única canção do Pablo Honey (primeiro disco) que a banda vem tocando esparsamente nos últimos 10 anos. O resto do álbum simplesmente é ignorado em todas as turnês. Realmente, é de emocionar o carinho que a banda trata o álbum que fez os seus integrantes poderem pagar as suas contas. Só porque ele tem uns clichezinhos do rock alternativo (a velha alternância calmaria-distorção da cartilha Nirvanista assola as músicas) e umas letras meio "mamãe, o mundo é feio", a banda tem vergonha dele. Mas vocês virariam as costas para um filho? Mesmo que, sei lá, ele fosse boca suja, ou batesse em vocês e tudo mais? NÃO! Já passou da hora do Radiohead perder a guarda do moleque. Mas voltando à grande questão, o negócio é saber se eles vão tocar Creep em São Paulo ou não. Se tocarem, por mais safada ou não que seja a execução, vai ser o bicho.

Vi uma vez um vídeo bem maltratado com eles tocando a canção num festival chumbrega dos Estados Unidos em meados de 94, e foi, usando uma expressão batidíssima, catártico. Se eu fosse apostar, colocaria o show do Rio (que será hoje) na questão. A banda vai tocar Creep no Brasil, mas apenas em uma das cidades. Portanto, caso amanhã, meu caro indie paulistano, você leia nos periódicos (momento de época do dia) que a banda tocou Creep na Praça da Apoteose (arrepia Salgueiro!) no Rio, pode colocar a cabeçinha nos braços e chorar. Se não, esfregue as mãos. Aviso do seu melhor amigo, Camarada Progressista, esse insuspeito detrator de Yorke e cia.


Essa foto prova as minhas intenções de amizade com os fãs dos Los Hermanos.

Notas dos discos do Radiohead:
Pablo Honey - 7
The Bends - 9
OK Computer - 10
Kid A - 7,5
Amnesiac - 0
Hail To The Thief - 2,5
In Rainbows - 5

Obs: em breve, tudo sobre os shows da Liza Minelli no Brasil. Músicas, reação do público, depoimentos dos famosos presentes, bastidores, e muito mais.

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