A velocidade e a competitividade do mundo contemporâneo são formas inevitáveis de exclusão. Quem mais sofre nisso são os idosos, os popularmente chamados velhinhos. Somos levados a crer que a democracia não é, afinal, para todos quando os membros mais frágeis de nossa sociedade são submetidos ao descaso das autoridades, em filas quilométricas de hospitais ineficientes, e à indiferença da sociedade civil, enredada em sua sanha consumista que não leva a lugar nenhum.
É nesse cenário desolador, no entanto, que mudanças são sempre possíveis, por mais incrível que pareça. É tempo de refletirmos juntos, reconhecermos deficiências e encontramos soluções. Abrir-se-á então uma grande oportunidade de nos colocarmos no lugar do outro e vivenciarmos a experiência do abandono e da tristeza. E, perplexos, nos perguntaremos: será que não somos também os culpados? Será que, no fim das contas, não tratamos o velhinho como um animal, que deve se contentar com os nossos restos de afeto e – por que não dizer? – de comida?
Basta um dia nas ruas de uma metrópole rica e impessoal como São Paulo para sermos confrontados por uma realidade muito mais atroz que aquela pintada nas cores opacas da mais pungente obra literária. Eu mesmo fiz essa experiência e percorri, em nome dos jovens muito ocupados com seus estudos e suas carreiras, os becos absurdos a que idosos são empurrados pela marcha desumana dos negócios. Em suas fisionomias, contemplei as escolhas que fizemos, escolhas que passam por cima de direitos que qualquer legislação do mundo supõe inalienáveis. Em suas fisionomias, a decadência de nosso modo de vida estava escrita com traços irregulares e fibrosos que apenas o silêncio e a reflexão nos permitem ler.
Os idosos são hoje subumanizados, são cidadãos de segunda classe, vivendo numa marginalização sem nome. A verdade é que convenientemente esquecemos que também nós seremos idosos um dia. Mas, em vista de como vão as as coisas, também nós seremos vítimas de uma sociedade que não valoriza a experiência de vida, que não cuida dos fragilizados. O individualismo insano que praticamos é a sentença de morte futura que pesa sobre nossas cabeças. Quem nos acolherá? Quem olhará por nós quando somos incapazes de olhar por estas criaturas inúteis em que se transformaram os jovens de outrora? Rezemos para que nossos filhos e netos demonstrem a compaixão que nós mesmos não demonstramos.
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