A festa do Oscar foi a velha tortura de sempre. Como tem sido de praxe nos 81 anos de história do prêmio, somos submetidos a 4 horas de enrolações, constrangimentos, hipocrisias, números musicais inúteis, discursos sacais para, no final de tudo, vermos um filme horrendo sair com a estatueta de melhor filme. Tirando as 10 ocasiões nas quais um filme realmente bom saiu com o prêmio, em todas as outras 71 o mundo testemunhou belas atrocidades, o que já deveria ser configurado como genocídio da arte por parte de tribunais internacionais. Nesse ano, tivemos de ver um filme mela cueca, uma sessão de tarde com mais truques que a média e que rouba dos 10 minutos iniciais de Cidade de Deus na cara dura como Quem Quer Ser um Milionário sair com 8 prêmios. A Lista de Schindler saiu com 7 estatuetas em 94. É de deixar malandro com a bunda em pé mesmo. Pobre Schindler, e pobre Spielberg, que anunciou o prêmio de melhor filme com aquela cara de "por que eu não fiquei na minha mansão jogando Halo 3 on line?". Mas 2009 será sempre lembrado como o ano no qual os 5 indicados a melhor filme não mereciam estar na lista. Full house, fosse isso um jogo de cartas.
Os produtores da festa desse ano ( Bill Condon e Lawrence Mark) suaram a camisa para mudar o status quo de apresentações soporiferas, mas os filmes em disputa eram tão ruins que eles pouco puderam fazer. Lendo os periódicos hoje de manhã (estou me sentindo bem de época hoje, não sei o motivo), noto uma grande carga de elogios à apresentação de Hugh "Australia era uma droga de filme mas eu estou na moda" Jackman. Ok, a abertura com ele zoando os filmes indicados como se eles fossem feitos com as restrições da crise global foi inspirada, mas nada que se compare a momentos épicos como o Billy Cristal (volta, Billy!) entrando no palco como Hannibal Lecter em 1991. Na verdade, ele foi o apresentador oficial, mas depois da abertura voltou umas boas 4 ou 5 vezes apenas. Foi mais aquele esquema de "vamos colocar todos os astros que pudermos apresentando os prêmios para que ninguém note que nós não aguentamos mais colocar comediantes apresentando". A margem de boas sacadas (urgh, isso me lembra alguém...) da produção da festa foi bem maior que a dos anos anteriores. A idéia de colocar 5 vencedores de anos anteriores introduzindo os indicados das categorias de atuação foi até inspirada, já que gerou raríssimos momentos de verdadeira espontaneidade (como a Sophia Loren falando sobre a Meryl Streep e o Robert de Niro sobre o Sean Penn, o que gerou emoções genuínas nos dois indicados). Não que esteja imune a críticas totalmente, já que em alguns momentos era nítido que o ator que introduzia o indicado nada sabia sobre o outro, como quando o Ben Kingsley falava sobre o mito Mickey Rourke (que foi vestido como um cafetão barato e em nenhum momento deixou de mostrar o seu tédio com a situação toda), ou então a Shirley MacLaine falando sobre a Anne Hathaway. Mas o pior mesmo foi o Cuba Gooding Jr. falando sobre o Robert Downey Jr, e começando a gritar histericamente como na vez em que ganhou o prêmio longínquos 13 anos atrás. Downey Jr. não sabia onde enfiar a cara, e deve ter se arrependido de estar sóbrio, desejando loucamente uma carreirinha de pó para aliviar o sofrimento daquele momento patético. Parabéns Cuba, não bastassem os filmes trágicos que você nos enfia goela abaixo, agora vai mandar o Downy Jr. de volta para o mundo da bandidagem.
Mas o melhor momento foi a Jennifer Aniston apresentando os prêmios de animação com o Jack Black. Sabia. Eu cantei a pedra. Sério, as pessoas nesse mundo não têm orgulho mais? Hilário, tiveram a cara de pau de dar um close na Angelina Jolie, que ria polidamente. Aniston não via a hora de sair do palco, tanto que já ia caminhando para fora quando o Jack Black a pegou pelo braço e lembrou que faltava ainda o prêmio de melhor curta de animação. Pena que ela não xingou o casal Brangelina do palco. Mas que foi um momento precioso, isso foi.
Sem mais delongas, vamos aos premiados, que é para vocês poderem ler rápido e voltarem para a farra nesse Carnaval. Mas com responsabilidade, hein? Putz, a quem eu estou enganando? Caiam na sacanagem de uma vez. Ninguém é de ninguém!
Melhor Atriz Coadjuvante - Penelope Cruz, Vicky Cristina Barcelona
Essa talvez tenha sido a única premiação justa da noite. Cruz humilha no filme do Woody Allen, que é melhor que todos os 5 indicados na categoria principal. Foi feio quando a Anjelica Houston introduziu a atriz espanhola, dizendo que nos seus filmes, "mesmo não entendendo muito bem o que ela fala, podemos sentir tudo que ela expressa pelas emoções que ela transmite". Se fosse eu, ia lá e quebrava a cara da nariguda. Mas a Penelope é um docinho, e se mostrou realmente emocionada com o prêmio, afirmando que sempre assistia à cerimônia quando criança. Tocante.
Essa foto nos lembra um fato estarrecedor: Goldie Hawn já ganhou um Oscar.
Melhor Ator Coadjuvante - Heath Ledger, O Cavaleiro das Trevas
Favas contadas desde a morte do ator; um ano e meio atrás. Pai, mãe e irmã receberam o prêmio em nome do ator. Lógico, é muito fácil ser aplaudido em pé pelos maiores astros do mundo e receber um prêmio como esse em nome do seu filho. Agora, ajudá-lo quando ele ainda estava vivo, ai não, né? Tentar interná-lo em alguma clínica, lutar para livrá-lo dos vícios, nada disso, né não? Bela família tinha o Ledger. Começo a entender melhor os motivos da sua morte.
Família de Ledger praticando necrofilia. Não, vocês não leram aqui eu escrevendo que a irmã dele é uma formosura.
Melhor roteiro original e roteiro adaptado - Dustin Lance Black - Milk e Simon Beaufoy -Quem Quer Ser um Milionário, respectivamente
Que beleza. Uma biografia e um filme que rouba descaradamente Cidade de Deus ganhando os prêmios de roteiro. Isso apaga a bela idéia que tiveram para apresentar os indicados, com o Stevie Martin e a Tina Fey (que deveria ser proibida de ser tão bonita, merecidamente ovacionada quando entrou no palco) agindo de acordo com um roteiro que ia sendo escrito no telão.
Melhor Atriz - Kate Winslet, O Leitor
O filme é tão ruim que é meio que difícil aceitar esse prêmio, mesmo sabendo que a perfomance da Kate Winslet é a melhor coisa nele. E ela já teve momentos muito mais brilhantes que foram ignorados em anos anteriores. A Academia tem essa maldita mania de premiar atores pelas suas atuações mais convencionais, ignorando as melhores perfomances dos mesmo. O discurso dela foi histérico, o que prova que ela sempre quis ganhar o prêmio mesmo ( e a cara feia dela em 98 não foi por nada mesmo). Perdeu pontos comigo. Quer dizer que o seu negócio e ganhar Oscar, né, minha filha? Meio que patético mesmo. E a Meryl Streep é a velha piada de sempre. 15 indicações e apenas 2 prêmios, um principal e um de coadjuvante. Até o dragão de Komodo da Hillary Swank tem mais. L de Loser na testa da mulher, por favor.
Kate Winslet dando uns pegas no Stephen Daldry, com o seu marido Sam Mendes observando no fundo. Cof, cof, cof, corno, cof, cof. Putz, que tosse...
Melhor Ator - Sean Penn, Milk- A Voz da Igualdade
A Academia realmente esnobou o mito Mickey Rourke. Palhaçada. Sua perfomance no belo O Lutador coloca o Penn no chinelo. Mas como ele caiu no gosto dos votantes (ele mesmo disse isso no discurso) ultimamente, junta-se ao seleto rol dos atores com dois prêmios principais (já dei a lista ano passado, mas repito mais uma vez: Gary Cooper, Spencer Tracy, Tom Hanks, Daniel Day-Lewis, Marlon Brando, Dustin Hoffman e Jack Nicholson). Mas preciso falar sobre algo digamos, err, bizarro que notei no comportamento de Penn na noite. Achei-o muito mais sensível que em anos anteriores. Nitidamente derramou lágrimas quando anunciado pelo Robert de Niro, sempre que mostrado pela câmera sorria desavergonhadamente, e no seu discurso derramou manteigagens e sutilezas gestuais que não poderiamos esperar de alguém como ele. Será que a sua perfomance no Milk deixou aflorar algo na sua personalidade que estava escondido na sua rígida figura de bad boy? Realmente, esse filme é mesmo inspirador. Ui!
Um meigo Sean Penn, mostrando tudo o que aprendeu na composição do seu Harvey Milk. No fundo é possível ver o Anthony Hopkins boquiaberto com o popô de Penn. Pagou um pau!
Melhor Diretor - Danny Boyle, Quem Quer Ser um Milionário
Parem o mundo que eu quero descer. Danny Boyle ganhou um Oscar. Os incautos que votaram nele deveriam ser submetidos a exibições seguidas e ininterruptas do A Praia. Por anos a fio. Lavagem cerebral e tortura mental, no melhor estilo Laranja Mecânica mesmo.
Corta a estatueta na metade e manda para o Fernando Meirelles, seu plagiador barato.
Melhor filme - Quem Quer ser um Milionário?
Quer dizer então que isso é o melhor filme de 2008? Entre todos os filmes lançados no ano passado, em todos os cantos do mundo, essa porcaria foi o melhor? A Academia é uma piada mesmo. Cansei dessa merda. Sugiro que eles troquem a estatueta no ano que vem. Ao invés de um careca pelado, que façam logo uma bunda de ouro mesmo. É a melhor homenagem para uma instuição que resolve que filmes como Gladiador, Mente Brilhante, Crash, Paciente Inglês, Conduzindo Miss Daisy, Chicago, Rain Man, e uma lista infinita de filmes sejam considerados os melhores dos anos em que foram lançados. Quem Quer ser Um Milionário? se junta a essa lista, o que no final acaba sendo justo. Burro sou eu, que perco o meu tempo ainda com essa palhaçada. Mas tenho de dizer que a vitória do Quem Quer Ser um Milionário? ao menos serviu para algo. Podemos dizer agora que Gandhi já não é mais o pior filme a ter vencido o Oscar de melhor filme e ser passado na Índia. Parabéns, Boyle!
2 bilhões de indianos no palco, recebendo o prêmio com o Danny Boyle e o produtor Christian Colson
realmente eu li rapidinho pra voltar à farra do Carnaval...
ResponderExcluirainda bem que ler seu post não levou 4 horas...hahaha. sorte minha!
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