segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cinecontraste: A orfã/ Arrasta-me para o inferno

Não é de hoje que o cinema nos dá suspense e terror, fazer as mocinhas pularem no colo dos seus acompanhantes é truque antigo do cinema, se pensarmos, as mocinhas pulam no colo dos rapazes muito antes do próprio cinema(ainda bem). O cinema funcionando como catarse e ajudando namoros: quantos relacionamento não se firmaram ou se formaram depois de uma sessão de sustos? Incontáveis...
Hoje estamos infestados dos ditos cujos “filmes de sustos” e no pacote aqueles filmes ultra violentos como Saw e seus derivados. Cansado de assistir Saw 5 e ficar sem entender nada porque não assisti os quatro anteriores, cansado das seqüências e das pré seqüência de O grito, como também de todos aquelas variantes copiadas de filmes japoneses onde tem uma menina morta que sair de um poço, TV ou qualquer buraco que um alma penada pode sair. Enfim, fui ao cinema e acabei pegando um sessão dupla: um filme atrás do outro, lembrando muito aquilo que existia na remota década de 70 que tentou ser revivido por Tarantino e Robert Rodriguez em Grindhouse. Tal projeto aqui, na terra brasilis, foi retalhado pelos nossos adorados e venerados distribuidores... vergonha e idiotice, pois uma pessoa em sã consciência e com posse das suas escolhas dificilmente se aventura a assistir um filme que seja dirigido somente pelo parceirão 100% do Tarantino.

Lado “A”: A menina má.com conhece o anjo malvado
Filme de suspense que se preze, além de uns sustinhos guardados em cada momento, precisa ter um bom vilão: carisma e afeição pelo público são quase requisitos mínimos. O problema foi quando Hollywood achou que poderia colocar qualquer criança com uma faca de rocambole e provocar sustos no público. É o seguinte; se ela não estiver possuída por nenhum demônio/alienígena/serial killer , como alguém que não alcança a prateleira de cima do armário da cozinha pode ser terrivelmente perigoso e fatal? No máximo a criança é uma peste insuportável, você dá um bica que ela se afasta, pode ser mais cruel e afastá-la segurando a cabeça: a pobre coitada vai tentar te pegar, mas com aqueles braços curtinhos vai ser difícil.


Pensava que o argumento da “A órfã” era esse: pais desgraçadamente azarados adotam uma criança que na verdade esconde um terrível segredo que prejudicará todos os alicerces desta já fragilizada família que acabara de perder um filho. De certa forma, não é bem esse, eles não apelaram para ocasional e freqüente possessão. Ainda sim o filme escorrega em muitos erros bobinhos, de gente pequena. A menina que adotaram, expatriada do Leste Europeu, começa a fazer suas estripulias e o filme vai ganhando ares de suspense, até tentar assustar a platéia com uma menina de onze anos, soa cômico e não é que a menina não é convincente; as crianças são o que há de melhor no filme, ótimas interpretações desses pequenos atores, com especial destaque para a protagonista; agora, os pais, estes deveriam fazer algum cursinho de verão de Artes Cênicas urgente.


No final das contas o filme não é tão ruim, comparado aos filmes de terror que se levam a sério, está numa boa posição. E o que aprendi com esse filme? Nunca adotar refugos do Leste Europeu...


Lado B, que lado B por sinal: o feijão com arroz de Sam Raimi
Homem Aranha 3 estreiou em algum período funesto de 2007: um filme que mostra a transformação de Peter Parker em revoltado(emo?) ao mesmo tempo que quase acabara com jovem carreira do diretor do filme, Sam Raimi. Dizem que o dedo de Tobey Maguire contribuiu para aquela merda que foi e é o terceiro filme do aranha, discussões a parte, depois disso nunca mais ouvira falar de Sam Raimi. Até anunciar que resolvera abandonar por um tempo a viúva emo, Peter Parker, e recomeçar realmente da onde parou e fazer o que sabia fazer melhor: filme de terror com grandes sacadas de humor negro.


Sam Raimi começou sua carreira de cineasta de fato com a trilogia de Ash, interpretado pelo fantástico Bruce Campbell. O protagonista de Noite Alucinante era cativante, o filme tinha monstro, zumbis, demônios e sempre com um tom de certa irreverência: apresentando cenas inusitadas e muito engraçadas. Ao fazer um filme de terror se aproveitava e zomba descaradamente da fórmula que nos fazia engolir, até o começo da década de 90; Jason, Freddy, Hallowen com sua safra interminável de sustos e seqüências que demonstravam que nem se o universo se extinguisse, aquelas monstros continuariam voltando. O ponto mais fortes nas obras de começo de careira de Raimi era nunca se levar tão a sério, atitude que não fez quando realizou o terceiro filme do cabeça de teia.

Grande filme sem ser poser e nem se levar a sério


Arrasta-me para o inferno é um roteiro manjadíssimo: mulher que recebe uma maldição de um cigana tem três dias( chupa essa, garotinha do Chamado) para tentar se livrar antes que um demônio surja e faça o que diz no título. Todas as convenções e clichês são utilizados e abusados de maneira criativa, inclusive para provocar risos: o filme é uma grande montanha russa alternando altos picos, onde impera o gênero terror com grandes declives, onde apresenta cenas fantásticas de humor negro.

Com uma trilha muito boa, assim vem pergunta: um filme faz a trilha ou seria o contrário? Com duas teclas Steven Spielberg teve seu vilão apresentado no melhor filme da sua carreira. Hitchcock com cenas rápidas e uma trillha dramática, um dos melhores momentos do cinema. Sam Raimi extremamente auxiliado pela trilha consegue fazer Arrasta-me para o inferno um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos, sem se esforçar, trazendo o seu já manjado feijão com arroz sangrento.

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