domingo, 27 de setembro de 2009

Pra coisa não esfriar

1 Descobri que todas as frases que eu escrevo são esquisitinhas, mas tudo bem, que isso é estilo. Eu, como aqueles motoristas que, obrigados pela empresa, colocam um adesivo na traseira do veículo perguntando como estão dirigindo, pergunto: como estou escrevendo? As minhas frases são esquisitinhas mesmo? Ou estou só tendo mais um surto de TOC, se é que é adequado falar em surtos, mas é o que eu sinto.

2 Aí depois eu invento um esquema e me acalmo. A frase – sim, falo como Flaubert, “na frase” – fica ok, e eu descanço até ser novamente tomado de uma desconfiança horrível até do artigo “a”, que não devia ser usado. Logo estarei como Perec, que, segundo ouvi, mergulhou tão fundo naquele experimento de escrever um romance inteiro sem usar a letra “e”, que no francês é onipresente, a ponto de começar a achar que a letra estava perseguindo-o. Sim. Mas vocês já viram a cara do Perec? Explica muita coisa.

3 Mas eu queria mesmo era me sentar e escrever algo bombástico sobre o amor. Queria escrever O Segredo do amor, O Código da Vinci do amor, A Cabana do amor, o Ninguém é de Ninguém do amor. Pessoas no metrô lendo sobre o amor segundo eu. Que contribuição. Que megalomaníaco. Mas minha, er, vida amorosa está parada desde janeiro. Isso não é bom nem ruim. Nesse meio-tempo pessoas muito próximas, que acreditavam no amor, deixaram de acreditar ou pelo menos sossegaram, e outras que não acreditavam, se não passaram a acreditar, pelo menos ficaram bem promíscuas em nome do amor. Quer dizer que todo o mundo continua tateando, literalmente ou não, nos relacionamentos. Eu vos lamento, senhores.

4 A única coisa que nos tem salvado, como sempre, é a amizade. Se em todo o resto nós somos absolutamente desastrosos, o que não chega a ser verdade, pelo menos – o que é muito – temos sido amigos. Se querem uma definição de amor honesta, é isso: amor é amizade, amizade é amor. Um amigo é a expressão do amor desinteressado e incondicional que esperamos dos relacionamentos amorosos, até agora sem sucesso, quase sempre por nossa culpa. CULPA.

5 E essa semana eu vi A Onda, um filme alemão excessivamente esquemático. É um High School Musical sobre as origens e natureza dos regimes fascistas. O problema é que é uma obra de tese. E teses são carnívoras: comprometem desde complexidade psicológica até desenvolvimento dramático. Os personagens não são pessoas, de carne e osso, mas ideias. Eles ilustram pontos. Em vez de se expressar, eles argumentam. Todas as suas palavras e atos são silogismos. Tudo se curva ao esquema. É a única forma de comunicação da tese. E é raso demais. Mas aprendi que é fácil ser Führer. Semana que vem, tento.

3 comentários:

  1. Hahahahahahahahahahahaha!!!
    O amor existe. O problema é a idealização.

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  2. Descanso, Fundmentalista, descanso.

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  3. Faz-me um favor? Publica a bibliografia pra eu entender seus posts

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