sábado, 3 de novembro de 2007

Camarada Fundamentalista escorregando no tomate

As pessoas não acreditam que eu sou romântico, elas riem quando eu digo que sou carinhoso. Pra ser sincero, não entendo por que tanto ceticismo a meu respeito. É o fundamentalismo? É o esnobismo fake? Ou só porque eu escrevo que não gosto de fã do Chico Buarque?

Chega uma hora em que todo homem cede e admite que é fraco, de alguma maneira fraco. Acho que a minha vez chegou. Porque vocês aprenderam muito de mim. Vocês ouviram muitas coisas a respeito do amor e das mulheres, coisas que por força do medo, da ignorância ou da má-fé das pessoas costumam ser caladas. Mas mesmo um mestre como eu, um Sócrates no amor, mais cedo ou mais tarde, há que se confessar limitado, possivelmente ignorante. Até mesmo, estúpido. Mas qual seria a minha estupidez no amor, a minha estupidez acerca das mulheres? Eu vou lhes contar.

Tem a ver com Edward Hopper. Vocês sabem, aquele pintor norte-americano, que, por causa de Paris, Texas, do Win Wenders, acabou caindo nas graças da molecadinha. Eu podia me gabar, dizendo que já gostava de Edward Hopper antes de ter assistido Paris, Texas. Mas seria medíocre, seria desnecessário; além do mais, gostar de Edward Hopper, pelo que eu sei, não é lá muito highbrow.

De qualquer forma, é a pintura de Hopper que alimenta as minhas maiores ilusões em relação às mulheres. Daquelas ilusões que fazem John Wayne corar. Contemplar uma de suas telas me faz suspender, momentânea e inadvertidamente, minha misoginia aguçada, criada a leite e ovos. Talvez eu devesse parar por aqui. Já me expus o bastante. Mas não, prossigamos.

Outro dia eu estava olhando pra New York Movie (1939).

E comecei a imaginar que talvez esta moça gostasse de assistir Charlie Brown, não porque o Snoopy era uma gracinha; que talvez ela já tivesse visto Persona mais vezes do que eu, mas sem essa história de se identificar com a Elisabeth ou com a Alma, uma distinção extremamente duvidosa; que talvez ela só gostasse de sentar num banco de praça e ver as nuvens e as pessoas passarem. Mas aí, quando você começa a tecer idílios em bancos de praça, que fica até parecendo poema do Manuel Bandeira, é que a coisa tá feia; aí, você sabe que está perdendo o juízo, que está querendo ser lírico, quando não tem um pingo de lírica no seu coeficiente de gênio. E o contra-senso se revela como tal: uma mulher que seria, tipo, um homem. E aí eu achei que a coisa tava ficando muito esquisita, parei e fui assistir as Quebradeiras, na MTV.

Um comentário:

  1. É impressionante como a obra de Hopper desperta a imaginação das pessoas. Eu mesmo já ouvi meia dúzia de histórias diferentes sobre o por que esta mulher está de pé no corredor de um cinema em NY.

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