domingo, 2 de março de 2008

The deep profound philosophy and other issues

Eu sou a favor de auto-ajuda se ninguém estiver ganhando dinheiro em cima, o que é – a sátira começa aqui – uma contradição em termos, eu sei, você sabe. Anyway, auto-ajuda pode funcionar, mudando algum aspecto da sua maneira de pensar. Mas para que isso aconteça, um poucochinho de auto-análise é indispensável, e o conhece-te-a-ti-mesmo volta com tudo, suuuupertendência. Mas não demais, que senão carrega o visual.

Profundidade, esse acessório tão superestimado, por exemplo, é resultado direto de auto-análise, mas que já cansou, tenho que te dizer. E, ao contrário do que o pessoal fala, profundidade não tem nada a ver com inteligência. Já vi muito estudante de Letras que entende o outro e a si mesmo, cheio de sensibilidade e ética. Em compensação, a maioria dos matemáticos que eu conheci era louca pra fazer uma ponta na Malhação. É a diferença entre pessoas como Antoine Saint-Exupéry e Ludwig Wittgenstein. A lacrimosidade e o espírito emo de O Pequeno Príncipe versus a insensibilidade e a aridez do positivismo lógico.

Day-Lewis: indivíduo profundo num momento de pouca profundidade.

Gente que nem Oscar Wilde também, que defendia que “O artista é um criador de belas coisas”, ou que “Um livro é bem ou mal escrito: eis tudo”, e que “A Arte é superfície”; enfim, que acha que tudo se resume à Beleza, trata-se de pessoas extremamente frívolas, sem amor nenhum no coração, sem S2 mesmo :o(.

O sistema educacional austríaco é célebre pela formação de indivíduos pouco profundos e superficiais. Acima, Hitler pequerrucho: eugenia e limpeza étnica como meios para o estabelecimento do III Reich à luz do ideal clássico de Beleza; e Wittgenstein: goleiro medíocre.

Profundidade que, como eu li outro lia, folheando um manual de Psicologia, depende de como o indivíduo elabora as próprias emoções. Aquele que, quando está triste, pergunta por que está assim, é profundo. Já o superficial é aquele que está triste porque está triste. Os primeiros estão sempre insistindo nos assuntos dos quais os segundos estão sempre fugindo. Wittgenstein, que era uma pessoa assim muito superficial, escreveu que perguntar a razão de se estar sentindo de uma determinada maneira não tem resposta, porque é uma pergunta sem sentido. Diz ele, no aforismo 6.5 do Tratactus Logico-Philosophicus: “Para uma resposta que não se pode formular, tampouco se pode formular a questão. O enigma não existe” E tem mais:

5.6 Os limites de minha linguagem significam os limites de meu mundo. Ou seja: se eu não disser que te amo, então eu não te amo; se eu não disser que estou triste, então eu não estou triste. O mesmo para o contrário: se eu disser que te amo, então eu te amo; se eu disser que estou feliz, então eu estou feliz, eeeehhhhh. Pensamento positivo é TU-DO!

5.631 O sujeito que pensa, representa, não existe. Ou seja: viver a vida, moçada: quem pensa demais, não vive.

6.43 O mundo do feliz é um mundo diferente do mundo do infeliz. Ou seja: geeeente, que deprê! Vamô parar com esse papo bravo, que tá tudo muito down, e vamô animando aí, que hoje eu vou causar, u-huuu!

7 Sobre aquilo de que não se pode falar, deve-se calar. Ou seja: rsrsrsrs.

Toda a chamada primeira fase de sua obra, representada pelo Tractatus, é uma crítica à suposta profundidade dos profundos, que se envolvem em intermináveis discursos vazios. Arrasô.

2 comentários:

  1. Uma coisa é o conhecimento técnico, outra a personalidade dela, ou inteligência emocional. Não tem médico entrando em cinema e metendo chumbo por ai? Generalização não pode ocorrer... e cada é cada um.

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  2. "O sujeito que pensa, representa, não existe." isso me lembrou muito o trabalho do ator... pois se ele pensa antes de falar ou agir, ele não vai atuar bem... e por isso, o personagem não existe...
    acho q por isso o daniel é tão bom... encarna os personagens, como se fosse ele na realidade... e na verdade, ele mesmo, não existe...

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