segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Eu te Amo, Kevin Smith

Saiu recentemente na gringa o mais novo filme do genial diretor americano Kevin Smith, Zack and Miri Make a Porno. Saudado como uma volta à velha forma do diretor pelos críticos e fãs de plantão, o filme marca uma suposta nova fase na carreira de Smith, que poderia ser chamada (sem que ninguém nos ouça) de era "Ben Affleck-free". Smith resolveu desassociar de vez, na cara dura, a sua imagem da do seu amigo queixudo, e pelo jeito já colheu os frutos por isso. Certíssimo. Melhor mesmo Mas o que realmente me motiva a escrever sobre o gorducho é a sua lista de filmes favoritos, revelada no site Rotten Tomatoes (link aqui). Proponho aqui para vocês um exercício então. Vamos pegar os cinco filmes mencionados por ele como fundamentais na sua vida e analisar a influência deles na obra do cidadão. Sim, veremos como podemos encontrar o impacto desses filmes em obras-primas como O Balconista, Barrados no Shopping, Procurando Amy, O Império do Besteirol Contra-ataca, entre outros.


Chamego puro

A Última Tentação de Cristo
Essa influência é perfeitamente palpável. Afinal estamos falando do homem que produziu Dogma, o filme de cunho religioso mais importante de todos os tempos, e que coloca esse A Última Tentação de Cristo no chinelo. Imagino que Smith tenha citado o filminho do Scorcese apenas por uma relação de causa-efeito, já que sem o Cristo imaginado por Scorcese nesse filme pobre, jamais poderíamos ter desfrutado o banquete trazido por Smith em Dogma. E, cá entre nós, quem nasce para Martin Scorcese jamais poderá ser um Kevin Smith. Mas a lembrança é válida.


Faça a Coisa Certa
Na sua análise do filme, Smith comenta as similaridades de Faça a Coisa Certa com a sua obra-prima O Balconista, dizendo que os dois filmes se passam em um dia, num mesmo quarteirão e em uma cidade específica. Nada mais justo. Afinal, Faça a Coisa Certa causou uma leve brisa no mundo cinematográfico quando lançado, mas nada perto do furacão avassalador trazido pelo filme de Smith. Não pode-se querer que um filme que trata das tensões raciais que infestam os EUA e dirigido por um cineasta pouco conhecido como Spike Lee tenha o mesmo impacto de um outro que mostra dois funcionários vagabas e nerdescos de uma loja de conveniência discutindo sobre Star Wars e quadrinhos. Mas a influência aqui também se mostra palpável.


JFK - A Pergunta que não Quer Calar
É notório o peso político nos filmes de Smith. Seus filmes traçam de maneira brilhante um panorama minucioso e gloriosamente polêmico da política americana contemporânea. Qualquer realização sua merece não somente ser colocada do lado do filme de Oliver Stone, como também de outras obras clássicas como Todos os Homens do Presidente, Sob o Domínio do Mal, Maratona da Morte e Missing. Esperamos ansiosamente um libelo a Barack Obama, de preferência com muitas piadas com maconha (perfeitamente identificáveis com os liberais democratas). Seria plenamente palpável.


Tubarão
Os filmes de Smith são conhecidos, como já vimos aqui, pelas brilhantes alegorias religiosas e pelo ativismo social e peso político que exalam. Mas o fato dele citar o Tubarão como um dos seus cinco filmes favoritos nos lembra de outro fator importante na sua obra, sempre presente nos seus filmes, que é o suspense constante. Smith sabe como poucos criar um clima exasperante de tensão. Percebemos essa influência de maneira (UEBA!) mais palpável no grande épico romântico de Smith, Procurando Amy. Como todos sabem, no filme de Steven Spielberg o bicho aparece apenas no final do filme, com Spielberg trabalhando todo o clima apenas em cima da expectativa causada pela presença ou não do tubarãozinho. No Procurando Amy, vemos o mesmo cenário com resultados muito mais eficientes. Ben Affleck é assolado pelas lembranças de sua paixão por uma sapatona, e a sua presença em todo o filme se dá apenas no campo das memórias, como um fantasma assombrando a vida do nosso herói. Brilhante. Alguma alegoria complexa de Smith entre tubarões e lésbicas? Deve ter, com certeza, de uma maneira palpável.




Mó cara de sapata tem esse Tubarão, né não? Zagueiro do Bangu!



O Homem que Não Vendeu a sua Alma
Acho que reside aqui, verdadeiramente, o filme de maior impacto na obra de Kevin Smith. Explico, bebês. O Homem que Não Vendeu a sua Alma é um dos filmes mais classudos da história do cinema. Daqueles que merecem ter o seu roteiro envolvido em capas de veludo e tudo mais. Ter Paul Scofield e Robert Shaw humilhando todos os atores do mundo também ajudava bastante. Além do filme se dar ao luxo de ter um Orson Welles como um dos conspiradores. Orson Welles. Sério. Agora, voltemos ao universo de Smith. Se vocês pudessem pensar em apenas uma palavra que definisse o espírito dos filmes do diretor, qual viria às suas mentes? Sim, como eu bem imaginei: classe. A linguagem talhada, milimetricamente construída, a riqueza dos diálogos, a ausência de palavrões chulos, as atuações eletrizantemente elegantes... E se Kevin não pode ter um Welles, se dá ao luxo de trazer um Ben Affleck para as equações (quer dizer, pelo menos até pouco tempo atrás...). É IMPOSSÍVEL assistir a qualquer filme de Smith e não sentir a influência do filme dirigido por Fred Zinemann (outro que não chega aos pés de Smith) neles. Palpável.

Jay e Silent Bob

Nenhum comentário:

Postar um comentário