Eu e o Brasil – uma das relações mais bonitas e delicadas que eu conheço. Tão delicada que chega a ser invisível para os olhos alheios, mesmo os dos meus íntimos. E como me acusam de ser insensível, de tratar mal a quem eu amo, de ser frio e distante! Ah, mas só o Brasil e eu é que sabemos: como eu lhe sou gentil e terno quando estamos a sós, como sou todo carinho com suas milhares de exceçõezinhas e caprichinhos. E pareço até o Manuel Bandeira, de tão emo que eu fico.
Eu, no ônibus lotado, logo de manhãzinha, com meu Grande Sertão: Veredas na mochila, sonhando com Riobaldo e Diadorim. Eu me trancando no banheiro do serviço pra matar tempo, e a hora do almoço chegar mais depressa – tão Macunaíma! E os blogs que eu leio, então! Especialmente o de um moço cheio de francofonices, zombando de Cansei de Ser Sexy e do cânone literário nacional, tsc, tsc, tsc. E não é que ele, fazendo assim, não podia ser mais Brasil?
Pois o Brasil é senão o impasse entre ser o outro ou simplesmente não ser nada. Veja lá: roupa de Papai Noel no verão, a Constituição Federal, a MTV, a Gisele Bündchen, e os exemplos não acabam mais. Tudo postiço, tudo coisa que não é daqui, porque, afinal de contas, o que é daqui, o que é aqui? O otimismo dos tropicalistas que me lêem talvez julgue o cenário exageradamente desolador. No entanto, não vou florear as coisas para poupá-los; mas posso pedir, como consolo, que atentem ao Latino: pois, apesar de tudo, há algo como o Latino. Dali há de nascer um novo país, sem Peri nem Ceci, e por isso certamente maior.
Nossa seção Brasil foi tocada de lado, principalmente por mim: confiram, minha última postagem é do tempo em que eu procurava consolidar minha candidatura à Câmara Estadual de São Paulo, amealhando apoio junto aos universitários. Pra isso, até briga com o Reinaldo Azevedo eu arranjei. Logo com ele, que eu amo tanto. E involuntariamente, poxa! Mas eu quero retomar meu compromisso, diante de vocês, de amar o Brasil, e de falar dele, e de beijá-lo na frente de todo o mundo, porque o que é que a gente leva da vida senão o que a gente faz de bom pra quem a gente ama, né?
E, bom, eu também estou atrás da minha brasilidade, tão empulhada pelos meus vícios indie e meus flertes com o mainstream. Ai, é tão hipócrita da minha parte falar assim do mainstream, como se eu também não estivesse interessado no que é que a baiana tem. Por exemplo o blogspot, que é tão establishment; sem dizer que, bom, não colocamos à toa uns anúncios do Google Adsense logo AÍ ACIMA, claro que sem ficar induzindo ninguém a ir lá clicar e ajudar a gente, pois, pessoal, a gente estamos aqui, pessoal, trabalhando honestamente, pessoal, mas a gente podíamos estar roubando e matando, mas, não, pessoal, a gente estamos aqui, trabalhando pra obter o sustento da gente honestamente, pessoal, e por isso, pessoal, a gente agradeceríamos a colaboração, pessoal, e quem puder ajudar, que Deus abençoe, mas quem não puder ajudar, que Deus abençoe também, pessoal, e desculpa por tudo, pessoal.
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