Eu gosto do Radiohead. Embora esteja muito longe de poder ser considerado fã da banda, gosto um bocado de alguns discos e músicas do grupo do loser e freak de plantão Thom Yorke. Já que essa banda não me provoca arroubos de paixão, mas também passa longe de ser um estorvo para os meus ouvidos, deveria nutrir com ela uma relação saudável, que trouxesse momentos agradáveis em dias soturnos, que é quando a elegante sombriedade da banda se faz necessária. Mas acontecimentos bizarros com esse Camarada que vos fala mostram que a história não é bem essa. Voltemos no tempo então, no modo Mc Fly de ser da coisa (vai que é sua, Michael J. Fox!).
2001. Ensino Médio, terceiro ano do colegial. Compro numa loja vagabunda perto do meu colégio o cd OK Computer, terceiro álbum do Radiohead. Preço: 35 pilas. Sabe-se lá o motivo, resolvo levar o disco para a escola, no dia seguinte. Mostro para os meus colegas, que ficam alvoriçados, já que muitos gostavam da banda. O primeiro a pedir emprestado o Cd é o nosso conhecidíssimo Camarada Moderado, que tinha se juntado naquele ano à nossa classe. Empresto. Uma semana depois, o Camarada traz o cd de volta, como combinado. Mas outro amigo nosso, cuja identidade manterei em sigilo, pede o disco emprestado. Cedo o mesmo, mais uma vez, nos mesmos termos do acordo feito com o Moderado. Mas depois de uma semana, quando fui cobrar o nosso amigo (nossa relação nunca foi exemplar, então a conversa foi rude), ele disse que tinha emprestado para outro amigo nosso, aí esse outro amigo disse que já tinha devolvido o cd para ele, e nesse acusa de cá, acusa de lá, a verdade é que eu nunca mais vi a cor do cd. OK para o computador, mas não para mim, ó trágico destino. Mas deixei para lá e segui minha vida adiante.
Um ano depois, quando fazia Cursinho numa famosa instituição de ensino numa avenida mais famosa ainda (glamour é pouco), resolvo comprar o cd Pablo Honey, primeiro álbum do Radiohead, aquele que tem a mítica canção Creep. Nem me atrevi a levar para o cursinho, sabe como é. Pois bem, ouço o cd por dois dias, moderadamente, já que tinha que estudar pra porcaria do Vestibular. No terceiro dia, quando pego o disco e coloco para ouvir, noto que o mesmo estava travando logo na primeira música. Não acreditava, um cd comprado a meros três dias, dando pau. Pego o cd na mão e noto um gigantesco risco, ocupando um raio inteiro do cd. Eu tinha tido todo o cuidado do mundo para manusear o disco, ele não veio com risco nenhum, ele não caiu no chão em nenhum momento. Nada poderia ter causado tamanho rombo naquele pequeno círculo de plástico e alumínio. Até hoje guardo o disquinho riscado na caixa original do cd, ele sempre a rir da minha incurável patetice. Rá, rá, rá, não deu nem pra três dias, jão, já entrei nos pormenores das danificações, certo truta? Cdzinho abusado....
Depois dessas duas pauladas seguidas em menos de um ano, resolvo dar um tempo. Fico bons cinco anos sem nem pensar em comprar um cd do Radiohead, só ouvindo algumas faixas baixadas por mim na internet. Mas depois de tamanho hiato, andava por uma Americanas da vida, observando atentamente as famosas promoções da loja, quando me deparo com algo surpreendente. Os cds The Bends e Hail To The Thief, 10 pilas cada. Aí não deu pra resistir. Gastando 20 reais, quase a metade do que tive de desenbolsar para comprar o OK Computer seis anos antes, teria em mãos o segundo e sensacional cd do Radiohead (meu favorito da banda) e o disco mais recente lançado por eles, respectivamente. Essa oferta tentadora ativou minha temida impulsividade (canceriano babão) e lá fui eu pro caixa. Voltei lépido e feliz para casa, acreditando que finalmente poderia curtir em paz as adornadas músicas de Thom e cia. Ledo engano. A maldição iria se fazer presente, pela (acredito eu) última e derradeira vez. Ouço os discos por toda uma semana, principalmente o The Bends. Num belo dia, me disponho a ouvir mais uma vez os cds, pego o meu case e procuro pelos mesmos. Acho o Hail to The Thief, ouço um pouco, depois resolvo colocar o outro. Procuro no mesmo case, onde jurava que tinha colocado o The Bends, e não acho. Olhos nos outros cases, e nada. Reviro o quarto inteiro, olho em todas as caixas de cds, gavetas do armário, embaixo da cama, enfim, coloco o quarto de cabeça pra baixo e não acho o bendito. Depois expandi minha busca para o resto da casa, olho em todo os cantos possíveis e imagináveis, e nada de achar. Passado um ano todo, mesmo eu procurando com frequência, mesmo tendo olhado cinquenta vezes em todos os lugares onde o cd pudesse estar, não tive qualquer êxito na minha busca. O cd, mais rápido do que veio, sumiu sem deixar qualquer rastro. A caixa original ainda está comigo, esperando, como a esposa que tolamente aguarda a volta do marido que, tendo um dia saído para compar cigarros, nunca mais deu as caras. Corna, sabe bem ela que não existe volta. Que ache outro disquinho para completar a tampa da sua panela.
Quanto ao Hail To The Thief, esse acabou tão riscado em poucas semanas de execução, que já hesitava em funcionar. Algumas poucas vezes ia, outras muitas mais emperrava, empacando feito mula parruda. Numa dessas irritantes vezes que o cd teimava em não funcionar, travando logo nos primeiros acordes da primeira canção (Humberto Gessinger, descanse em paz), 2+2 = 5, me enfureci de tal maneira, que peguei o disco e taquei na parede, colérico como um cão, babando e espumando toda a sua raiva. Era o meu eu lírico, tortuoso e vingativo, levantando-se contra a maldição. E a maldição, tinhosa como só ela, aspiciosa e malévola, devolveu o ataque despedaçando o disco em diversas partes, o contato violento com o reboco da parede sendo o juiz e mediando os termos. A maldição saía vitoriosa, e eu recebia a condenação definitiva. No Radiohead for me. Se vocês estiveram achando tudo isso coincidência, deixem-me pegar outra banda inglesa da mesma geração, britpop por excelência, para fazer uma comparação: Oasis.
Tenho todos os cds da banda, alguns, como o What's The History Morning Glory e o Definitely Maybe, comprados há mais de uma década. E todos eles funcionam perfeitamente até hoje. Um deles, o Be Here Now, mesmo estando totalmente riscado (não por culpa minha, mas essa é uma longa história, eu cuido bem dos meus cds), muito mais até do que estava o Hail to the Thief, funciona sem problema algum, jamais travando qualquer segundo que for. Somente com os disquinhos da bandeca do Thom Yorke é que o bicho pega. O motivo da existência dessa maldição, eu jamais saberei. Vou chutar um motivo bem tosco e idiota, e vocês julguem se falei groselha ou não. Li uma vez numa revista (acho que foi a mais uma vez extinta Bizz, se não me engano), em meados de 2000, uma matéria que falava sobre uma suposta sincronia entre o disco Kid A, lançado naquele mesmo ano pelo Radiohead, e o chatíssimo filme Bruxa de Blair. Que, nos mesmos moldes da famosa sincronia Mágico de Oz/Dark Side of the Moon, garantia que as músicas do disco correspondiam com absoluta precisão às cenas do filme, com as letras do senhor Yorke descrevendo cenas que ocorriam, partes instrumentais sincronizando com danças dos personagens, entre outros fatores. Pois bem, eu fiquei tão impressionado, que resolvi fazer o teste. Peguei emprestado o Kid A com um amigo meu, que fazia um curso técnico comigo na época e para o qual eu sempre emprestava discos, e aluguei o filme e fiz a sincronia. Correspondia mesmo com as descrições da revista. Mas talvez esse ato de curiosidade pode ter custado, vamos ver, 35 mais 30 (preço que paguei no Pablo Honey) mais 20, ou seja, 75 reais. E, pelo teor desse texto também, parte da minha tão prezada sanidade, e muitos de vocês com certeza concordarão com isso. "Esse progressista é um bebum ambulante mesmo, maluco que só ele". Há: devolvi o Kid A inteiro para esse amigo, sem problemas, o negócio é comigo mesmo. This is what you get, when you mess with us...
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