Dentre todos aqueles filmes que estavam em exibição (vc pode conferir aqui) alguns eu estava curioso há muito tempo: O ano que meus pais saíram de férias e Bem vindo a São Paulo, sobretudo. Ambos filmes que denotam e esboçam a verdadeira retomada do cinema brasileiro, qual já comentei neste blog. O primeiro é uma história de um garoto dirigida por um cara especialista no universo infantil, Cao Hambúrguer, que foi responsável por entreter as tardes das crianças brasileiras, basta citar que esse moço é responsável por nada menos que Castelo Ra-Tim-Bum e derivados da grade da Cultura; por isso quando o filme entrara em cartaz, no grande circuito, sugeri aos meus camaradas que assistíssemos, porém eles refutaram minha idéia, como sempre fazem; ouvidos moucos ao camarada moderado(olha eu reclamando disso); interessante pensar que o filme ganhou alguns prêmios nos festivais afora e tem possibilidade de concorrer ao Oscar, ironias da vida. O segundo é um estigma que carrego desde a mostra de cinema de 2005, onde o filme estreara de fato; documentário feito por vários cineastas famosos(bons ou não) sobre nossa adorada cidade paulistana e mostrando, cada diretor, sua visão sobre a metrópole; parecia também uma boa escolha para aquela noite de segunda-feira, porém qualquer planejamento meu foi por água abaixo.
Acabei não assistindo a nenhum dos dois (vida cheia de reviravoltas e acasos, não?), fui ao cinema naquele dia ver O homem que desafio o diabo, dirigido por Moacyr Góes e produzido pela Globo Filmes (PERIGO! PERIGO! PERIGO!). É fato que não sou um grande entusiasta da Globo Filmes, como também de Moacyr Góes; ainda longe de qualquer pedantismo, não sou fã de Godard ou Win Wenders, sou partidário do cinema de terceira via(moderado?), assim por dizer.
Resolvi dar uma chance(novamente) a Globo Filmes, mas esperava o pior: algo entre um filme da Xuxa(sem os duendes) e algum longa dos extintos Trapalhões, lógico que recheado de efeitos especiais e atores globais de segundo escalão. Resolvi até olhar o Guia da Folha para ver se restara um fio de esperança, pelo menos um filme divertido a la sessão da tarde, infelizmente a Folha havia concordado com minha intuição sobre o filme. Quando o estupro é inevitável, relaxe e goza; olhei para minha amiga, apertei a mão dela e me aconcheguei na poltrana, estava pronto, podia ser o que for, estava pronto.
A sinopse é a seguinte: Zé Araújo (Marcos Palmeira) é um homem boêmio que gosta de freqüentar cabarés e ouvir cantadores de viola. Após tirar a virgindade de uma turca, ele é obrigado pelo pai dela a se casar. Durante anos Zé passa por seguidas humilhações, provocadas por sua esposa. Um dia, ao ouvir uma piada sobre sua situação, ele se revolta, destrói o armazém do sogro e ainda dá uma surra na esposa. Ao terminar ele monta em seu cavalo e parte sem destino, decidido a ter uma vida de aventuras. A partir deste dia Zé Araújo passa a ser conhecido como Ojuara, enfrentando inimigos e vivendo situações inusitadas.
O veredicto: filme deveras interessante, um filme quase; quase bom, quase sempre engraçado(com momentos de bom humor), quase com geniais interpretações( atente para a aparição de Otto), quase com genial fotografia, etc. Não sei, porém o filme falta alguma coisa, algum elemento que carece ao todo. Pensava qual problema poderia ser, até minha companheira, genialmente, constatar:
“O filme não tem um ritmo definido, acho...”
Deveria ter dado um beijo na boca dela, brilhante dedução; o longa apresentava uma história longa, uma trama cheia de elementos. Quer dizer, havia uma necessidade de pelo menos amarrá-las bem e nem isso o diretor consegue, os muitos elementos criam uma história fora de ritmo que incomoda, algumas vezes durante o filme, pelo menos. Contudo o filme não é de todo mal: tem boas situações; Marcos Palmeira segura bem o filme como protagonista; outra pérola é o ator que interpreta o Tinhoso, Nei Leandro Castro, em atuação formidável. Fora algumas escolhas erradas de elenco e o problema de ritmo(“ajudado” pelas escolhas dos planos, sobretudo os em câmera lenta). O filme ainda desce bem. E é sempre bom ver o que sendo produzido nas terras brasilis.
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