quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Oscar 2008: Indicações

É, cambada, não teve jeito mesmo. A Academia ignorou o filme do moleque do Bom Retiro, e O Ano Que Os Meus Pais Saíram de Férias não foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Mas temos que manter a cabeça erguida, já que no ano que vem veremos o Tropa de Elite ser o primeiro filme não falado em inglês a ser o vencedor do Oscar de melhor filme. Viajei? É claro que não. Cês acham que os velhinhos da Academia serão loucos de contrariar o Capitão Nascimento? E como o Oscar é válido apenas para filmes lançados em circuito nos EUA, e o Tropa será lançado por lá em meados desse ano, o negócio vai ficar feio. E também tem a dor de cabeça deles não terem dado nenhum prêmio para o Cidade de Deus, considerado por muitos o melhor filme da década de 00 até agora. Como o gênero "tráfico-de-favela-carioca" está tomando o lugar das sagas de mafiosos na preferência dos críticos, então podemos esperar muito. Mesmo se o Tropa tivesse sido o representante brasileiro na categoria de filme estrangeiro, não teria tido chances, já que os eleitores dessa categoria são diferentes dos das outras, um bando de velhos babões que adoram filmes com lições de valores familiares. Um Capitão Nascimento teria sido muito para eles. Mas no ano que vem não escapa, e como diz a bela música do Tihuana, agora o bicho vai pegar.
CAO HAMBURGER, PEDE PRA SAIR! PEDE!

Indicações aos prêmios principais e comentários:
Melhor filme:
Conduta de Risco (Michael Clayton) - Elogiado filme de estréia do roteirista dos filmes do Jason Bourne (Identidade, Supremacia e Ultimato Bourne), Toni Gilroy. George Clooney interpreta um advogado bonzão envolvido num caso de proporções dantescas. Vai ganhar? É lógico que não. Então pra quê perder tempo falando? Vocês que me dizem.
Desejo e Reparação (Atonement) - É batata: todo ano, a Academia enfia um filme britânico de época entre os indicados a melhor filme. Deve ser o sotaque, talvez. Esse esforço do diretor Joe Wright fez bela carreira de prêmios nos festivais, tem belos truques narrativos, mas vai sair de mãos vazias. Explico: o diretor não foi indicado. E em apenas duas ocasiões na história do Oscar, o prêmio de melhor filme foi para uma película a qual o seu diretor não tinha sido indicado (uma delas em 89, quando o soporífero Conduzindo Miss Daisy foi premiado, mesmo com o seu diretor Bruce Beresford ignorado). E nem a Keira Knightley foi indicada. É, foi só pela lembrança mesmo...
Juno (Juno) - Esse cumpre o papel que foi desempenhado primeiramente pelo Pulp Fiction e nas últimas edições pelo Encontros e Desencontros, Sideways e Pequena Miss Sunshine: representar o circuito alternativo. Tipo, a Academia dizendo, "ei, continuem aí, fazendo esses belos filmes, quem sabe um dia não chega a vez de vocês, ao invés de se conformarem com um roteiro original aqui e um ator coadjuvante ali". Chances de ganhar? As mesmas do Corinthians ganhar a Libertadores desse ano. Ou seja, zero. Pelo menos, fizeram justiça à nossa querida Ellen Paige. TETÉIA! TETÉIA!
Onde os Fracos Não Tem Vez (No Country For Old Men) - Agora sim, entra um favorito. Alardeado como melhor filme dos ~irmãos Coen desde Fargo, unanimidade entre os críticos, pode representar finalmente a glória suprema para os irmãos. E eu que pensei, depois de ver uma sessão de meia noite do horrendo Matadores de Velhinha com o estimado Moderado, que a carreira deles tinha acabado. Mea Culpa?
Sangue Negro (There Will Be Blood) - Imaginem um filme de 158 minutos. Agora, imaginem que os primeiros 15 minutos desse filme transcorrem sem diálogo algum. Agora, imaginem que esse filme não se chama 2001 - Uma Odisséia no Espaço e que o seu diretor não se chama Stanley Kubrick. Paul Thomas Anderson arriscou nessa, e pelo jeito se saiu bem com a história de um homem lutando para enriquecer no início da indústria petrolífera yankee. Daniel Day Lewis resolveu parar de ser engraxate na Irlanda para trampar um pouquinho. Bom para nós. Muito bom.
Melhor Diretor:
Tony Lelroy - Conduta de Risco: Ganhou na loteria, se tornando um dos raros diretores a serem indicados logo no seu primeiro filme. Seu próximo filme será sobre uma dupla de espiões interpretados pelo Clive Owen e pela Julia Roberts. É, já vi que o cara se amarra numa espionagem. Bocejos.
Jason Reitman - Juno: Filho do diretor Ivan Reitman, rei das comédias oitentistas (fez Os Caça-Fantasmas, Um Tira no Jardim de Infância entre outros). Imagine o bode do cara. Rala por duzentos anos em Hollywood, fazendo um monte de filmes (uns bons, outros abomináveis como o horrendo Júnior) sem nunca ter passado nem perto do Oscar, ai vem o seu fedelho e já no seu segundo filme importante é indicado. É a sina da vida, fazer o quê.
Julian Schnabel - O Escafandro e a Borboleta- Por favor, alguém liga pro cidadão e avisa que ele foi indicado pelo seu filminho francês (embora ele seja americano). Liguem lá, vai! Não custa nada, pô! Até hoje não ligaram pro John Singleton para avisar que ele tinha sido indicado pelo Donos Da Rua. Não repetiremos o erro, por favor.
Joel e Ethan Coen - Onde os Fracos Não Têm Vez - A Academia finalmente acertou. Depois de ter indicado somente o Joel para melhor diretor pelo Fargo em 96 por problemas trabalhistas, agora indicou os dois irmãos, que nunca custa relembrar, não são siameses. Quer dizer, vai saber, né... Dessa vez eles levam. Aposto o que quiser com vocês, eles vão ganhar. Arizona Nunca Mais, finalmente.
Paul Thomas Anderson - Sangue Negro: Pronto, seu mala! Foi indicado finalmente. Dá pra parar de encher o saco de todo mundo agora? Seus filmes são muito bons, mas você é um porre, hein? Custava ter deixado o Burt Reynolds falar nas coletivas de divulgação do Boogie Nights? Teria te evitado uma bela duma surra, com certeza. E vai perder pros Coen, jão.
Melhor Ator:
Daniel Day-Lewis - Sangue Negro: Podiam evitar desperdícios e já dar o prêmio para ele agora. Todo mundo sabe que é dele a estatueta. Vai se igualar ao seleto grupo de atores com dois prêmios principais, ao lado dos Marlons Brandos, Spencers Tracys e Tom Hanks da vida (ganhou seu primeiro Oscar no Meu Pé Esquerdo, longínquos 19 anos atrás). A não ser que fiquem com pena do Tommy Lee Jones... Aliás...
Tommy Lee Jones - No Vale das Sombras: Surpreendente não foi a sua indicação em si, mas ela ter vindo pelo filme do maleta do Paul Haggis, ao invés de sua atuação no Onde Os Fracos Não Têm Vez. A Academia medrou, apenas na primeira década da cerimônia, década de 30, ocorreram casos de um ator ou atriz receberem duas indicações por filmes diferentes na categoria de melhor ator/atriz, algo que ocorreu com Ronald Colman, Maurice Chavalier e Greta Garbo, entre outros. Lógico que isso era facilitado por na época 10 nomes serem indicados na categoria, ao invés dos costumeiros cinco que perduram dos anos 40 até os dias de hoje( depois disso, ocorreram apenas indicações para um ator por filmes diferentes no mesmo ano para a categoria principal e de coadjuvante, o que aconteceu nesse ano com a Cate Blanchett como veremos depois). Será que vão ter dorzinha de consciência e dar pro Tommy Lee o que é o Day-Lewis por direito? No Country For Old Men.
Viggo Mortensen - Senhores do Crime: Lembram da minha lista de atores mais insuportáveis, que tinha dez nomes? Bom, se eu tivesse colocado um décimo primeiro, teria sido esse. Indicado pelo filme do David Cronenberg, outro que deve ter cansado de esperar ser lembrado apenas pelos roteiros e já deve ter encomendado o seu suicídio. Se ele ganhar, eu cuspo no chão. Cuspo mesmo.
George Clooney - Conduta de Risco: Um belo dia, a Academia acordou e resolveu acreditar que o George Clooney é um excelente ator. Outra indicação para ele, então. Que sempre interpreta a si mesmo em todo santo filme que faz, seja sendo um espião, um advogado ou um golpista com um monte de homens do lado (11, 12 e depois 13). Humphrey Bogart fazia o mesmo, diriam alguns. Nessa, eu já emendava com uma muqueta no meio das fuças. Dobrem a lingúa quando pronunciarem o nome de Bogart, seus jões!
Johnny Depp - Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet: Pronto, virou esculhambação. Essa nem o Depp esperava. Aliás, vamos fazer um favor para o Johnny? Vamos contar para ele que o Tim Burton não é o único diretor de cinema que existe no mundo? Há, tá, ele conhece outro, o Gore Verbinski. Nossa, tinha me esquecido, que diretores para se trabalhar, né não?

Melhor Atriz:

Cate Blanchett - Elizabeth: A Era de Ouro - Dez anos depois de ser indicada pelo Elizabeth, Cate Blanchett marca de novo, na continuação daquele filme. Inexplicável, já que o filme é um lixo e Blanchett apenas repete os maneirismos de dez anos atrás. A Academia foi absurdamente generosa com ela esse ano, já que nem essa nem a outra indicação que ela ganhou (que comentarei em seguida) eram previstas.

Julie Christie - Longe Dela: O quê, a Julie Christie tá viva ainda? Aonde?

Laura Linney - The Savages (sem título em português ainda, o que indica a bela carreira que fará nos nossos cinemas): Parece que a Laura Linney tem sorte quando faz filmes nos quais suas personagens dividem a cena com um irmão problemático. Sua outra indicação para melhor atriz (foi indicada também para coadjuvante pelo Kinsey) foi pelo filme Você Pode Contar Comigo, quando contracenou com o Mark Ruffallo (argh), e agora é indicada por um filme no qual divide a cena com um irmão interpretado pelo Philip Seymour Hoffman. Se eu fosse ela, só fazia filmes nesse estilo, quem sabe um dia ela chega na Meryl Streep em número de indicações.

Marion Cotillard- Piaf – Um Hino ao Amor: esse filme ficou em cartaz por meses nos cinemas de arte da Avenida Paulista, sem ninguém dar a mínima. Agora, a atriz francesa que interpretou a Edith Piaf no filme é indicada. Custava vocês terem dado mais atenção ao filme? Custava? Agora vão lá, correr atrás do tempo perdido.

Ellen Page - Juno: Vamos lá, todos juntos: TETÉIA! TE-TÉ-I-A! Não falei, pô? Kitty Pryde, quem te viu, que te vê, hein?

Melhor Ator Coadjuvante:

Hal Horbrook - Na Natureza Selvagem: Ator de 265 anos, conseguiu ser indicado por um filme dirigido pelo Sean Penn. O bom velhinho não merece apenas o Oscar, merece também um belo dum Nobel da Paz. Aguentar o mala-mor (quando eu digo que o Sean Penn é o mala-mor, eu quero dizer que ele é O MALA-MOR, de verdade) é para poucos e bons e puros de coração.

Javier Bardem - Onde os Fracos Não Têm Vez: Já é dele o prêmio. Fazer o quê, o espanhol é bom mesmo.

Tom Wilkinson - Conduta de Risco: A Academia gostou mesmo desse filme, hein? Eu nunca vou entender tanta puxação de saco em cima do Tom Wilkinson. Maldito Ou Tudo ou Nada, que lançou esse inglês mala nas raias do estrelato.

Philip Seymour Hoffman - Jogos do Poder: roubou a cena do Tom Hanks nesse filme do Mike Nichols, o que nem chega a ser grande mérito, já que ultimamente o senhor Hanks tem tirado belas sonecas nas películas que protagoniza. Cadê a alma, caramba? O Tom Hanks arte, o Tom Hanks moleque? Mas o Seymour Hoffman é o único que pode tirar o prêmio do Javier Bardem, então respeitemos.

Casey Affleck - O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford (ufa) - Como esperado, a Academia vergonhosamente preteriu esse filme, indicando-o apenas para categorias técnicas e nessa. Mais um grande filme chutado. Mas o Casey Affleck, se houver justiça, deveria ser o ganhador, já que humilha em toda cena que aparece. Preciso zoar o Ben Affleck e seus dez anos de carreira e Framboesas de Ouro enquanto seu irmão mais novo logo no seu quinto filme já vai para as cabeças? Como dito no caso Reitman: a vida é assim mesmo. O talento que falta em alguns sobra naqueles tão próximos de nós.

Melhor Atriz Coadjuvante:

Amy Ryan -Medo da Verdade: indicada pelo filme dirigido pelo Ben Affleck. Como contracenou com o Casey Affleck, já dá para imaginar de quem realmente é o mérito dessa indicação.

Cate Blanchett -Não Estou Lá: Cinco pessoas interpretaram o Bob Dylan (inclusive o Heath Ledger, sniff) nesse filme maluco, e apenas a Cate foi indicada. Foi merecido? Sim, a interpretação dela está sensacional. Mas não dá pra engolir a outra indicação dela. Injustificável.

Ruby Dee- O Gângster: Veteraníssima atriz (seu primeiro trabalho é de 1939!), indicada pelo justamente ignorado filme do Ridley Scott. Não vai ganhar, já que normalmente a categoria de atriz coadjuvante é reservada para atrizes iniciantes. Eu se fosse ela, nem ia na festa, ficava em casa comendo bolinhos e assistindo E O Vento Levou pela enésima vez.

Saoirse Ronan- Desejo e Reparação: Humilhou a Keira Knightley nessa. Ficou chato mesmo. Tem apenas 13 anos de idade, será que repetiria a façanha alcançada pela Tatum O'Neal e pela Anna Paquin, que foram premiadas nessa categoria ainda crianças? É provável.

Tilda Swinton-Conduta de Risco: se tem uma atriz que não fede nem cheira, é essa. Tá sempre lá, nos Constantines e Crônicas de Nárnia da vida, mas se você bobear, nem nota a presença dela. Mas como a Academia adorou esse filme, então teremos de aturar.


Outras categorias: vai no Google e digita: "indicações Oscar 2008", ou então, "2008 Oscar Nominations". Melindrou, né?

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