À parte o reducionismo, segundo o qual alguém escreveria solamente sobre o que o afligisse, ignorando os cálculos e a frivolidade indispensáveis ao, hmm, escritor, confesso que, se existe algo que me interessa, além da eternidade, é a mulher, este erro cognitivo da humanidade. Pois não sei se com a mesma consciência que eu ou, inclusive, com o mesmo sentido verdadeiro que aponto, Lacan outrora disse que não existe esse negócio de mulher. Logo, ui!
Mas ameaçando o tom esquizóide de um Nietzsche, houve, por incrível que pareça, alguém que pôde me ensinar algo sobre as mulheres.
Colocando em dúvida o princípio da causalidade, David Hume “compreendeu” as mulheres. Na verdade, transferiu a suposta dificuldade do problematizado para a problemática mesma. As mulheres não são irracionais, porque o (ir)racional não existe. Alguns o acusariam de jogar fora o bebê junto com a água do banho; nós, no entanto, o saldamos. Grande Hume; te resignastes a tua Xantipa, afinal!
Nem Capitu era Capitu, porque Capitu não existe!
Falando a não-iniciados, a coisa funciona da seguinte maneira. Quando empurro uma bolinha, daquelas das aulas de Física do Ensino Médio que figuravam o Incondicionado, e ela se mexe, muito homo-sapiens-sapiensmente digo de mim para mim que a causa do movimento da bolinha sou eu, empurrando-a, e aqui ganho um biscoitinho, um mestrado e uma bolsa pra estudar na Alemanha. Ora – e por isso eu e Hume somos maiores que você –, pois quem garante que o simples fato de um evento se suceder a outro cronologicamente implica que estejam os dois, em alguma medida, necessariamente relacionados por este fantasma da razão chamado causalidade?
Derrubando a causalidade, cai junto toda pretensão de previsibilidade. Toda vez que tocamos a bolinha, ela se mexe, mas isso até hoje. Pois, sendo impossível até então provar qualquer nexo de necessidade entre uma coisa e outra, novamente nada nos garante que, da próxima vez, a bolinha sairá do lugar. O único tempo do conhecimento é o agora, e no amor devemos ser estritamente empiristas, por mais grosseiro que isso seja.
Logo, se em vez da bolinha, temos a mulher, e eu metaforicamente ou não empurro a mulher, e esta se mexe, não quer dizer que da próxima vez ela vai se mexer, se eu fizer o mesmo. O que de fato não ocorre. E todos os cuidados e angústias do amor têm razão de ser. E toda a Filosofia houvera sido senão uma busca por certificação, bem como o amor. Daí que eu te digo: mulher é só uma metáfora ancestral para a constatação de que a estupidez da insistência humana com o que não tem jeito – ou seja, consigo mesma – não tem limites, o que, se por um lado é um truísmo, por outro é mais uma lição até hoje não apreendida.
Camarada Fundamentalista perscruta seu objeto e intui a Solução Final.
Alguma esperança? Depois que nietzschianamente abolirem o feminino das gramáticas, conversamos. Ui!
Sr. Camarada,
ResponderExcluirdeixe de firulas teóricas e parta para a pesquisa de campo. Suas bonequinhas parecidas com a Amélie não valem. Você precisa mergulhar nos mares, em vez de estudar as paisagens, xuxu. Vai por mim, você vai confirmar o pressuposto do Lacan: a mulher não existe. E o homem também não existe. Feminino e Masculino são categorias inventadas por um burocrata inútil que, no mesmo dia, comprou etiquetas e gavetas na Kalunga para o seu escritório clean. A vida é mais bagunçada: é estrela explodindo; universos nascendo; cada furdunço. E no meio disso tudo esse pontinho denso e cheio de Destino chamado Humanidade. Se não o Próprio para nos salvar, sei não. A propósito, vocês escolheram o 4° elemento, isto é, a calcinha biônica? E outra: vamos combinar um dia do encontro dos Camaradas com o público-leitor. Promoção: um dia no cinema com os Camaradas. O que acham? E mais uma: esse moderado precisa aparecer com freqüência maior; não concordo totalmente com o guia do moderado (digo, com a classificação dos filmes do almodóvar - depois escrevo a respeito) e manda um beijão para o G. Fui.
Errata: com o guia do progressista.
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