“Somos todos coadjuvantes de Woody Allen.”
(As pessoas.)
"Tal como o capital, ele só busca a si mesmo."
(Crítico marxista sobre Woody Allen.)
O problema com Woody Allen, com seus filmes: ele é muito suburbano, isto é, muito judeu. Se eu fosse judeu, seria só judeu; nunca muito judeu. Mas se eu morasse em Nova York, também sentiria esse prazer exagerado em ser suburbano.
Poderosa Afrodite não é ruim. É um filme do Woody Allen com a Mira Sorvino. O que eu acho da Mira Sorvino? Faz uns três anos que eu tento achar alguma coisa dela, inclusive se eu acho ela bonita; mas, vou te dizer, tá difícil chegar a alguma conclusão.
Woody Allen é um cineasta tal que faz um coro trágico virar um número de stand-up comedy. Muito, muito suburbano.
(Se Woody Allen fizesse uma adaptação de Édipo Rei, seria assim: Édipo desistindo de levar adiante as investigações, e a peste dizimando Tebas inteira, só por causa da chantagem emocional de Jocasta. Não mostrariam as pessoas morrendo, e é óbvio que o Woody Allen seria o Édipo, que fugiria com a Jocasta pra, sei lá, a Ásia Menor, onde criariam algum tipo de bicho que se criava por lá. A Jocasta seria, hmm, [suspension of disbelief] a Monica Bellucci.)
A mulher do Poderosa Afrodite com o Woody Allen.
Existe uma virtude em Woody Allen que é tão evidente que transparece na própria forma de ele compor uma cena, o que é surpreendente, já que não se trata de uma virtude estética, mas moral, virtude-virtude: generosidade. Todo o mundo tem direito de ser como é. Mas o engraçado é que todo o mundo escolhe ser do jeito que mais convém à promoção do próprio Woody Allen, fim último e indireto de sua própria generosidade. Daí que todo filme dele seja só uma desculpa pra ele faturar alguém. Isto é, ele faz o que todo homem faz, só que, em vez de dissimular sua motivação primária para ser um artista (como Fellini, Bergman, Antonioni), ele a esteticiza.
Mulher com Woody Allen.
Todos são incrivelmente respeitosos com ele, cheios de dedos. Em Poderosa Afrodite, Helena Bonham-Carter, que faz o papel de Esposa da Woody Allen, diz assim: “Mr. Allen, aguarde aqui com nosso filho, enquanto eu vou buscar as fraldas: muitíssimo grata.” Afinal, é o Woody Allen.
As pessoas falando sem parar, Mira Sorvino apanhando do namorado, mas tudo bem, porque acontece, e é até bom que aconteça, pra ela acabar na cama com o Woody Allen, afinal foi pra isso que fizeram o filme. Tudo muito bonachão. Resisto a atribuir a razão disso ao fato de ele ser sagitariano.
Só sei que, depois de ver o filme, eu queria que as pessoas sofressem mais, queria ver alguém chorando, desesperado, porque terminou com o namorado, porque está com cárie, sabe, gente mais expressionista, com emoções mais “mulherzinha”, real life.
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