segunda-feira, 16 de junho de 2008

Fui ao cinema ver Shine a Light, e fiquei triste. O por quê? Explico.

"Shine a Light é um documentário que retrata uma performance artificial de uma banda de sexagenários milionários sem muito mais o que dizer, dirigido por um diretor abastado que a muito tempo desistiu de tentar, preferido se acomodar perante a ribalta dos caminhos seguros e previsíveis. Quando a idade deveria ter produzido sapiência, reflexão e contemplação, produziu conveniência. Rolling Stones e Martin Scorsese, antes artifícies de uma revolução, hoje são burocratas de uma máquina de lucros, marcial em sua implacável eficiência."



Se eu fosse um daqueles idealistas -utópicos- ingênuos -tontos, teria começado esse texto com a descrição acima. Mas eu não sou. Então, vou mandar a real. Martin Scorsese e Rolling Stones, vocês são velhos e não possuem mais relevância alguma. Considerem seriamente a possibilidade da aposentadoria, por favor. Vou transcrever algumas impressões que tive no decorrer do filme, devidamente anotadas no meu bloco de notas favorito, que é todo amarelo e tem uns números irados em cima. Meu, se eu tivesse scanner, mostrava pra vocês. Mas eu não tenho, então, para dar uma idéia de como ele é, achei uma foto que dá uma idéia da composição do bloquinho. É mais ou menos assim:


É, eu sei. Demais mesmo, ligadão nele. É como se eu escrevesse diretamente em cima do Sol. Sim, o nosso astro-rei. Podem me chamar de Ícaro, the writer? Ya bet, dawg. Ok, ok, chega, ai embaixo vão algumas impressões instantâneas do filme. Vou colocar todas aqui, das mais idiotas até as mais... é, todas eram idiotas, mas não vou esconder nada! Há que não vou!

"Nossa, que tanto o Martin Scorsese tinha que aparecer no documentário? Parece o Michael Moore. Tipo, olha eu aqui, sou um diretor mitológico e sou fã dos Rolling Stones, então, aplausos, por favor!".

Essa primeira anotação denota já um grande desconforto (podem chamar de constrangimento mesmo) com a sutileza de elefante com a qual Martinho conduziu o documentário. Nos últimos anos, Scorsese tem feito de tudo para embaraçar ao máximo possível seus fãs, que um dia viram as glórias de um Taxi Driver e um Touro Indomável e agora aguentam o velho babando. Antes seus filmes nos deixavam sem fôlego. Hoje, olhamos para o relógio, esperando os exercícios de futilidade do melhor amigo do Robert De Niro acabarem.

"O Keith Richards é um guitarrista subestimado, e o Charlie Waitts é um baterista subestimado, o Ron Woods é um guitarrista-base subestimado, e o Mick Jagger é um cantor subestimado, e eu sou um cínico deveras (YES!) subestimado"

Talvez seja culpa do marketing brutal da banda. Fazem décadas que não prestamos mais atenção em como os Stones tocam ou deixam de tocar, de tanto que eles querem que compremos suas camisetas com a bocona. Deixem rolar as pedras que não criam limbo?

"Mick Jagger é um ser amoral. Merece uma antologia da maldade bussiness-type. Nada deve a um Gates da vida"
Sim, toda vez que via Jagger falando alguma bobagem no filme, não podia deixar de notar seu olhar demoníaco, suas feições perversamente dissimuladas, sua alegria milimetricamente calculada. E também impossível não notar seus comparsas de banda, Richards principalmente, olhando com um ar de descrédito para o seu vocalista. Eles sabem que tocam com o capeta. Pobres almas.


"Onde eles gravaram esse show? No teatro Procópio Ferreira? Sério, cadê as marcações? To be or not to be?"Apertado demais! Os velhos parecem que vão trombar e capotar, de tão perto que tocam"

Sei que é difícil fazer show em lugares amplos quando a média de idade da sua banda é 2.000 anos, mas realmente o impacto que o show poderia ter foi pelo nariz do Keith Richards, junto com o seu estimado pai.


", o documentário sobre o grupo The Band que ele fez nos anos 70, The Last Waltz, dá de 10 nesse. Havia um distanciamento naquele, algo vital para qualquer documentário que se preze"

É, essa anotação ai foi meio, tipo, pagando um pau pro The Last Waltz mesmo. Será que eu precisaria de um distanciamento, também? Não, lógico que não. É cada uma que eu digo, que vou te contar...

"NÃO, JACK WHITE NÃO! MIL VEZES NÃO! MISERICÓRDIA! EU FAÇO O QUE VOCÊS QUISEREM! EU FAÇO A DANÇA DO QUADRADO! JURO!"

Sim, escrevi com maiúsculas. Foi como tomar a famosa anestesia do dentista do bairro. Parece que ele ficou umas três horas, ao invés dos reais poucos minutos. Se eu soubesse, nem teria... bom, vocês já sabem.

"A Cristina Aguilera lembra uma Betty Boop platinada."

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"Nossa, aquelas duas minas no canto são bem decentes.. o que fazem assistindo um documentário de cunho geriátrico, como esse?"

Putz, esse ai escapou, não tem muito a ver com o tema, e desconsiderem, e, tipo, olha, não foi de propósito, e... é, não deu.

"Bill Clinton não gosta de rock, é um entusiasta do Jazz, então mais uma vez estava brincando de ser popstar. Lewinski perva"

Alguém ai acha que a Hillary daria uma boa tetéia? Eca! O quê, a Tetéia da Semana acabou? Por que ninguém me avisou? Quem fez isso? Sério, dá o endereço do palhaço que eu vou lá fazer a vida dele ficar um pouco mais triste. I can't get no! Pampam, paranam, parararapam!

"Eu era neném; não tinha talco; mamãe passou açúcar em mim"

E alguém ousaria discordar?


Antes de encerrar, mais uma vez, a foto de um bloquinho amarelo que lembra o meu bloquinho amarelo, só para vocês verem mais uma vez o quão irado ele é:

3 comentários:

  1. a gente poderia fazer uma vaquinha pra te comprar um bloquinho melhor, tipo aqueles da moleskine. Tem uns genéricos bacanudos, acho que você ficaria mais feliz com um bloco mais de mocinhos jornalecos, o que acha?

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  2. fiquei com vontade de comprar um bloquinho amarelo pra mim também. imagina? escrever sobre o sol? que loucura! será que abrir um bloquinho amarelo é luminoso como abrir a mala misteriosa de Pulp Fiction? aliás, será que dentro da tal mala (ao invés dos diamantes de Cães de Aluguel) não tinha um bloquinho amarelo aberto também? será que o bloquinho amarelo não é feito de trítio (o material que geraria um reator de fusão nuclear que seria um segundo sol na Terra, segundo o Otto Octavius de Homem Aranha 2)?
    e como você fez pra enxergar o bloquinho dentro do cinema? ele é magicamente iluminado, mesmo? ou você tem uma daquelas canetinhas com lanterna como a de uma das garotas que largou o Rob Gordon de Alta Fidelidade quando ele era adolescente e que virou crítica de cinema quando cresceu?

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  3. acabei esquecendo:
    a hillary eu não sei, mas a monica lewinsky até que daria uma boa tetéia. betty boop, digo, cristina aguilera, também. apesar dela ser meio vulgar. e o titio jagger, poderia inaugurar a era dos tetéios, que tal? ele pode ser o capeta (simpathy for the devil vem daí?), mas até que tá bem apanhado prum "tinhoso" da idade dele, não acha?

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