Anos 80. Que delícia. Época dourada. Diversão pura. Nós não vivíamos; nós escrutávamos. O que isso significa? Não tenho a menor idéia. Mas aquela foi uma era de megastars. Megastars, e ainda por cima engajados. Sim, as preocupações com o meio ambiente, hoje tão em voga, começaram a existir naquela época. A África também ardia as estrelas de preocupações, e um sem-número de eventos dedicados a cobrir as necessidades básicas do continente mais negligenciado do planeta foram colocados em prática. Tudo lindo mesmo. Mas, olhando agora, de maneira isenta, passados tantos anos, quais foram os maiores sacrifícios feitos pelas estrelas daquela época, que vive febril e mais viva do que nunca nas nossas mentes, assoladas pela impessoalidade da era da internet? Cabe a mim, Progressista, revelar a verdade, num Top-5 justo e imparcial. Porque eu sou justo e imparcial. Namasté.
5- Nome do Popstar: George Michael
Nacionalidade: Inglesa
Hits mais bacanudos naquela década: Faith, I Want Your Sex, Careless Whisper, One More Try
Façanha: manter sua homossexualidade escondida por propósitos comerciais
Vamos fazer um exercicío básico de administração voltada para o mundo do entretenimento. Qual o target, o alvo, a parcela de consumidores mais procurada pelo mundo pop? Sim, são elas, as garotas aborrescentes, ainda longe de se ocuparam com algo mais produtivo como trabalho e contas para pagar, e que torram a mesada dada pelos pais em discos, ingressos para filmes e tudo mais. George Michael tinha atingindo em cheio essa fatia do público nos loucos anos 80. Vamos, então, ir mais longe nesse exercício. Normalmente, o apelo das canções pop para essa parte do público implica numa espécie de, digamos, "cooptação de papéis" por parte das jovens donzelas. Elas ouvem as canções, como se o alvo das lamúrias cantadas pelo seu ídolo fossem dirigidas para si próprias. Sim. Elas não separam as coisas. A música ouvida versa sobre elas, e tão somente elas, e pronto. "Ai, que romântico!", ouvimos por ai. Agora, então, vem a última parte do exercício. Imaginem que uma garota devote sua existência em torno de um determinado cantor. Ai, então, ela descobre que todas aquelas músicas que lhe provocavam rios de lágrimas, na verdade não eram cantadas para "ela". Nem para outra mulher, que o seja. Eram cantadas para outro homem. Pois o seu ídolo, na verdade, é gay. Não, a tonhice delas jamais permitiria tamanha "traição". E lá se iam os dólares embora. George Michael enfrentou essa condição até onde pôde para poder seguir sua carreira. Deixou pistas aqui e acolá (como na música Freedom do seu segundo álbum, Listen Without Prejudice), evitava gravar clipes em determinado ponto de sua carreira, brigou com gravadoras e tudo mais. Só foi sair do armário, como se diz da famosa expressão, em 1998, quando foi pego no escândalo do banheiro no parque em Los Angeles. Foi por um triz. Hoje, Michael está quase esquecido, mas o seu sacrifício em nome dos dólares sempre será lembrado. Outros como Montgomery Clift não suportaram. Ele ficou em pé. Ponto pra ele.
4-Nome do Popstar: Paul McCartney
Nacionalidade: Inglesa
Hits mais bacanudos naquela década: No More Lonely Nights, Take It Away, Spies Like Us, Ebony and Ivory (é, não foi uma década das mais brilhantes para o Macca)
Façanha: Virar vegetariano
A carreira de Paul McCartney nos anos 80 foi como a grossa maioria das estrelas das duas décadas anteriores (Eric Clapton, David Bowie, Rolling Stones e outros mais): constrangedora no âmbito artístico, muito mais voltada para factóides e ativismos do que para a criação de músicas e álbuns minimamente decentes. McCartney aborreceu o mundo na época com seu ativismo barulhento em favor dos direitos dos animais, campanha que abraçou ao lado de sua mulher, Linda McCartney (in memorian). A consequência mais profunda desse comportamento foi sua conversão para o vegetarianismo. Como eu não posso sequer imaginar como deve ser uma vida na qual alguém abre mão de comer carne, digo aqui que imagino, sim, o ato de Macca como uma grande façanha. Mas precisava ter aporrinhado tanto? Lembram do show dele no Maracanã, em 90? Proibiu a venda de hamburgeres e outros produtos derivados de carne bovina, suína ou o escambau. Mala. Mas repito: foi uma façanha.
3-Nome da Popstar: Tina Turner
Nacionalidade: Americana
Hits mais bacanudos naquela década: We Don't Need Another Hero, What's Love Got to Do With It
Façanha: dar um belo chute no traseiro do seu marido insano e violento, Ike Turner
Tina Turner já era um mito da música quando a década de 80 chegou, mas sua imagem ainda permanecia presa ao lado da do seu marido, Ike Turner, que controlava sua carreira a ferro e fogo, e com algumas bolachas na cara também. Cansada de apanhar do maluco, e querendo escrever sozinha seu nome no rol das estrelas, Tina resolveu bancar um improvável divórcio, pessoal e profissional, do abusivo Ike. A sua coragem se pagou, e Tina acabou vendendo quintilhões de discos na época, disassociando de vez seu nome da figura sombria de seu ex-marido. Embora ele alegasse até a hora de sua morte, no ano passado, que batia, mas também apanhava um bocado dela. A sua auto-biografia foi apropriadamente entitulada "Quero o Meu Nome de Volta". Mas a vingança de Tina contra os abusos cometidos por ele foi doce. A imagem de Ike Turner sempre será a do marido violento, em detrimento dos seus dotes como compositor, uma imagem que traz antipatia à simples menção do seu nome, enquanto Tina terá sempre seu nome colocado ao lado das lendas da música. A verdade? Jamais saberemos.
2-Nome do Popstar: Michael Jackson
Nacionalidade: Americana
Hits mais bacanudos naquela década: Thriller, Billie Jean, Bad e o escambau
Façanha: abrir mão da sua sanidade
Não deve ser fácil ter o seu nome na capa do disco mais vendido da história da humanidade. Isso deve trazer muita pressão para o indivíduo em questão. Michael Jackson, jogado desde criança sobre a luz dos holofotes, e sempre sofrendo abusos físicos e psicológicos do pai, não poderia jamais ter sido o sorteado, por culpa de sua baixíssima auto-estima. Mas alguém tinha que ser dono dessa marca. Jackson então resolveu o que fazer depois de ter atingindo tal nível de estrelato. Despediu-se de sua sanidade, e resolveu assumir as vestes de Napoleão Bonaparte. Sim, Michael ficou é maluco de uma vez, daqueles de carteirinha, que ficam olhando por horas seguidas para uma parede, rindo indefinidamente. Sua insanidade persiste firme até hoje, e provavelmente será sempre dominante na vida do cidadão que possue o nome escrito na capa do disco mais vendido da história da humanidade. Pois alguém tinha de assumir essa marca. Mesmo que às custas da sua sanidade. Michael entendeu o jogo. Mas não posso parabenizá-lo, por motivos óbvios. Mas fica aqui o registro.
1-Nome da Popstar: Sinéad O'Connor
Nacionalidade: Irlandesa
Hit mais bacanudo naquela década: Nothing Compares To You (a música é de 1990, então faz parte tecnicamente dos anos 80)
Façanha: raspar a cabeça, ficando carequinha da Silva
O clipe abria com uma bela cantora com o cabelo raspado, em close-up, na frente de um desolador fundo negro. Um arranjo arrastado de cordas entrava quase que ao mesmo tempo. Segundos depois, uma voz cristalina e poderosa emendava os seguintes versos: "It's been seven hours and fifteen days, since you took your love away". Sim, meus amigos, foi uma devastação. Nothing Compares to You, música escrita pelo também popstar Prince (ausente desse ranking, embora também tenha cometido suas façanhas) especialmente para ela. Ele deve ter pegado. Mas a música tocava em todos os cantos. Lembro-me claramente de uma vez, quando minha mãe levava eu e minha irmã para a escola, e a música estava tocando no rádio de um boteco fétido pelo qual nós sempre passávamos em frente no caminho. Mesmo tão criança, pude jurar que os bebuns estavam mergulhados na melancolia classuda da canção, que hoje percebo ser perfeita para esse tipo de ambiente. Mas por que Sinéad O'Connor, irlandesa tão lindinha que poderia ter facilmente virado Tetéia (e por que não virou, então, Progressista?), resolveu cortar suas melenas e assumir a imagem de "cantora-rebelde-confessional-careca" para o mundo? A explicação é simples: sua crença no budismo, e na imagem de pureza que ela imagina passar uma cabeça sem cabelos. Seria lindo se houvessem explicações mais intricadas, mas no caso de uma louca de pedra como O'Connor (queimou a foto do Papa João Paulo II num episódio do Saturday Night Live, ato que arruinou sua carreira), a explicação mais simples é a mais correta. Com as tretas envolvendo a independência do Tibete e o governo chinês, e o boicote às Olimpíadas de Pequim em solidariedade ao Dalai Lama, podemos dizer que O'Connor, além de tudo, foi visionária? Não. Seria um exagero. Mas um brinde à maior façanha dos popstars oitentistas.
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