Eu sou muito jovem e heterossexual pra ter, ao invés de simular, bom-gosto. No futuro, quando eu for tiozinho, num casamento frustrado ou na solteirice indesejadamente prolongada, aí sim vou dar o devido valor a ouvir Station to Station, a ler Declínio e Queda e a assisir a Irma, la Douce. Por enquanto, eu sou indie. E entre as constantes hesitações, que me fazem duvidar seriamente da minha capacidade crítica e intelectual, como o Marcel de (e esfrego na tua cara o engodo só mais uma vezinha) À sombra das raparigas em flor, blogo, reunindo em torno da persona que agora você sabe por que difusa do Camarada Fundamentalista um fã-clube que não ousa dizer o nome.
Mas Sangue Negro (There Will be Blood, 2007) estréia 16 de fevereiro por aqui. O novo filme do Paul Thomas Anderson é favorito ao Oscar, considerado por muitos melhor que o prodigioso No Country for Old Men, dos irmãos Coen. Mas como é a PTA feature, há muito a ser descontado daí, vai por mim. Relembrando sua filmografia em conjunto, a impressão mais forte que eu tenho é de um cinema campy e muito glamour estudadamente blasé.
Stand-up de Tom Cruise em Magnolia (1999): "Então, um sujeito chegou pra mim no Planet Hollywood e me perguntou se eu era cientólogo, e eu respondi que sim. Daí, ele falou que também era, e só aí eu vi que estava falando com o John Travolta." (Risos.)
Mas é um cinema de sensações, já ouvi dizer. Sensações com o William H. Macy, no entanto, o que passa bem a idéia do constante anticlímax (ai, essa linguagem sem vergonha de ser involuntariamente ambígua) que a gente experimenta, por exemplo, em Magnolia, que entra pra lista dos filmes-quase, porque é cheio de coisinhas que não deixam a gente se envolver com todas aquelas personagens, a não ser que você nunca tenha visto na vida, ou tenha visto mas não prestado atenção, uma pessoa de verdade frustrada ou sofrendo. Sem dúvida, o maior obstáculo entre nós e os personagens e seus dramas é o próprio PTA, cuja sensibilidade dramática se formou com canções pop de três ou quatro minutos, como em parte ele já confessou atribuindo à música sua principal fonte de inspiração. Muita Aimee Mann, então.
William H. Macy cercado de pessoas que, como eu, não dão a mínima pra ele.
"And the rain is coming, oooooh..."
Antes que você proteste contra o que acredita ser preconceito meu, deixa eu colocar assim. Tem a música, tem a literatura, tem o teatro e tem também o cinema. Música é música. E na música tem às vezes letra, que é parecido com poesia, que é literatura. E teatro tem literatura também. Tem. Só tem. Porque literatura é literatura. Teatro nasceu com música. Então, tem música no teatro. Tem. Só tem. Porque teatro é teatro. E música é música. Mas teatro e cinema são bem parecidos, mais que música e teatro. No cinema, também tem música. Tem. E tem literatura, menos que no teatro. Mas também só tem. Porque cinema é cinema. O que leva a gente a concluir que: 1) música é música, 2) literatura é literatura, 3) teatro é teatro e 4) cinema é cinema. E essa forma de exposição é quirky que nem um filme do PTA, e por isso me dá raiva, mas tem gente que adora.
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