sábado, 20 de dezembro de 2008

Com a palavra, meu daimon:

A burocracia sempre me choca. Gente que escreve como se fosse um flyer ou um banner. Tem que ser sempre informativo? Aliás, tem que ser alguma vez informativo? Os sem-talento erigiram a prosa jornalística como modelo do bem-escrever porque plenamente imitável, já que não tem cara nem gosto de nada, exatamente tudo o que poderia querer quem não sabe pensar além do que aí está, do pronto, facilitador da doença universal que é a preguiça, ou então da obtusidade ou quadradice.

Mas a quadradice. O cérebro, como sabem, é como uma mexerica, tem gomos; mas não é redondo, é achatado, isso nas pessoas normais, antes de pegarem burocracia em algum banheiro público por aí. Porque, tão logo infectadas, a massa cerebral vira um mingau, devido ao amolecimento que as fórmulas e os clichês acarretam, quando o indivíduo deixa de pensar por si mesmo, e o cérebro perde consistência. Ora, o mingau endurece depois de um tempo, mas incomestível, tornando-se um bloco azulado: nesse ponto é que as pessoas passam a dar boletins em vez de dizerem o que sentiram ou, pff, pensaram quando assistiram a um filme, leram um livro ou escutaram uma música.

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É do caráter do gênio ser obsessivo. Reflexão que devo a Paul Newman, em The Hustler. Seu personagem, Fast Eddie Felson, simplesmente não sabia quando parar, porque tinha de ir até o fim. O problema todo é que o fim, para o obsessivo, se estende indefinidamente, porque ele visa à perfeição. É onde entra o gênio, que contempla idealidades, enquanto o resto se contenta com o corriqueiro, já alcançado e por isso mesmo real.

Até agora eu estou me perguntando o que é The Hustler? Corta-se o blablablá, e a substância é escondida no mais cotidiano. Filmes assim desapareceram; tornaram-se impossíveis? Nem existe mais Paul Newman pra estampar cenas que, meu Deus, não dá pra serem mais bem filmadas. Eu falava em gênio; no caso, da sinuca. Como qualquer jogo, é coisa pra quem, toda vez que tenta ler, dorme. Mérito do filme fazer a gente se envolver tanto que até esquece que é sinuca, que não é, no fundo não é.

E também não se escrevem mais diálogos como aqueles, em que a conversa fiada dissimula conflitos e frustrações shakespearianas. Também, quem vai entender essa banalidade aparente? Genial são diálogos espertinhos, Juno, com todo o mundo falando como a protagonista, sendo sharp e witty, do balconista do mercadinho até o papai-sabe-tudo. Ou então David Carradine explicando a mitologia do Super-Homem. Céus! E tudo porque não existem mais adultos, e os ditos artistas são um bando de jecas choraminguentos.

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Todos os argumentos que se possam levantar para demonstrar a derrocada da civilização ocidental, talvez o maior dos hits da crítica cultural, podem se resumir a só um fato: não escrevemos mais cartas. “Agora, o dilúvio”, que eu cito sem dar nome ao boi.

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O melhor do Brasil não é o brasileiro; é Machado.

Mas eu escrevi a lyric ao gosto popular:

He’s got no talent,
But he’s the coolest guy in the world.
And he turns and watches all the beautiful things
Burning softly
And gently elephants and penguins tread on his head
Full of flowers and other dirty things
That remain unconquered.


Porque é fácil ser poeta para os brutos.

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