Lista honesta das minhas realizações mais importantes e não necessariamente incomparáveis:
Fiz quatro semestres de Grego lá na Universidade sem estudar direito e nunca fechei com menos de 8, porque os professores adiantavam o nosso lado; sei o que é um genitivo absoluto, sei o que é um caso de atração inversa; mas não sei identificá-los num texto desconhecido. Traduzi Isócrates, Górgias, meia dúzia de versos da Odisséia, mas gosto mesmo é de ler Adorno, e não sei alemão, que é fichinha perto de Grego, que se escreve caixa alta mesmo, apesar de haver coisa bem mais difícil, tipo Sânscrito. Sim, Sânscrito: tremei, filisteus.
Fiz a Universidade lá.
Leio Adorno e abraçaria a Teoria Crítica de todo o coração, se não tivesse um poucochinho de bom-senso, aquela coisa mais mal-distribuída do mundo. Mas Adorno é bom porque é difícil de ler, então faz crescer cabelo, exceto nele. Minima Moralia é meu livro de cabeceira quando eu esqueço de ser cristão.
A Carol, minha namorada burra, sempre me pergunta por que eu gosto de coisas chatas. Coisas chatas como filosofia.
As pessoas me perguntam por que eu sempre cito Adorno. Hmm..., porque ele é o mais chato dos chatos.
“O problema do conhecimento é o Édipo do pensamento moderno.”
Mas as modelos sempre me perguntam por que eu gosto de coisas chatas. Coisas chatas.
As coisas não podem ser divertidas. Se forem, algo está errado. Ser divertido é o erro. Daí a modernidade.
Sempre me perguntam de eu citar tanto Adorno. Ora, porque ele é meu inimigo. Ele é o meu superego descartado. Ele é bom, e eu sou mau.
Toda vez que alguém dá razão ao Adorno, cai morto um executivo no mundo. Por isso, todos juntos – “Adorno estava certo”. Ai, que subversivo que eu sou. E depois dizem que ninguém mais luta contra o Sistema, isso, aquele programa da Fernanda Young, com o Selton Mello e o Chiquinho Scarpa, cancelado, pena, pena.
Fernanda Young come cocô e não toma banho. Pronto, falei.
Pra que falar (e mal) de Fernanda Young, meu Deus?
Sempre preferi Filosofia, porque meu coração é feito de sal, mas tenho quedas eventuais para Literatura, durante as quais me tranco no banheiro com O Vermelho e o Negro, e eu sei que essa separação estanque é dose, mas explica bem.
Adoro Grande Sertão: Veredas, que li no ônibus, na linha Rio Pequeno-Ipiranga, os motoristas estão de prova e podem testemunhar sobre o rapaz com o livro grosso na mão; e adoro, porque é das maiores aventuras que eu já li, uma Ilíada em português arrevesado, e é emocionante; e acho o Zé Bebelo o personagem mais, er, legal de todos, mas não estou em busca da brasilidade perdida, não gosto de Chico e não participo de saraus concretistas.
E pulo da cadeira toda a vez que toca as Bachianas Brasileiras na Tupi FM. O brilho, a pompa, a grandeza absolutamente irrefletida, burra: o Brasil em música. Eu curto. Villa-Lobos foi gênio.
Faz uns quatro anos que estou em busca do belo estilo. O belo estilo é como uma panela mágica que fazia sopa pra alimentar uma família pobre de uma cartilha minha de quando eu tinha acho que 10 anos.
O belo estilo também fica bem em fotos de família, com melissas e carne vermelha.
Acho o teclado de “Kiss them for me”, do Siouxsie and the Banshees, uma coisa da ordem do sublime.
O problema das mulheres bonitas é que elas não são só bonitas. Elas insistem em querer ser algo mais. Ouviram falar do algo mais e da necessidade do algo mais e não sossegaram desde então. Algumas querem ser inclusive inteligentes, imaginando que o algo mais é ser inteligente. É um absurdo, um terrível engano. Se eu encontrar o cretino que começou com essa história do algo mais, juro que mato.
"Carácolis, esse post não faz sentido. Que blog ruim!"
Outra distribuidora à Continental apareceu no mercado com um monte de títulos do Ozu até então indisponíveis. O meu protesto, agora. O meu protesto é naturalmente contra o preço: R$44,90. Quarenta e quatro reais e noventa centavos por uma capa cujo, pff, projeto gráfico perde pra mim no Word Art. Quarenta e quatro reais e noventa centavos por legendas revisadas pelo Camarada Disléxico. Agora eu começo a gritar “QUARENTA E QUATRO REAIS E NOVENTA CENTAVOS!”:
- QUARENTA E QUATRO REAIS E NOVENTA CENTAVOS!
- Com licença, senhor. Algum problema?
- Quem é você?
- Eu sou um guardinha qualquer passando casualmente que ouviu o senhor gritando. Algum problema?
- Na verdade, sim. Na verdade, agora são dois. Primeiro que R$44,90 é caro demais pra um DVD da Continental; e segundo, que é inverossímel um guardinha me parar para saber se eu tenho algum problema. Aqui não é a Inglaterra.
- Nesse caso, o senhor está sugerindo que minha validade ôntica deveria ser abjudicada?
- Se o senhor coloca nesses termos..., sim.
- Naturalmente, posso colocar nesses termos e em muitos outros, desde que os esclareçamos previamente. Acho melhor chamarmos Martin.
- Quem?
- Martin.
- Mas quem seria esse Martin?
- Ele é meu primo e FILÓSOFO ALEMÃO.
- Não, peraí. Não precisamos envolver um FILÓSOFO ALEMÃO nisso, não é pra tanto.
- Senhor, devo dizer que, antes de guardinha cuja individuação ontológica é contestável, sou um homem. E minha honra foi maculada, o que exige retratação imediata.
- Nesse caso, eu também chamo Martin.
- Então, eu chamo Martin e Theodor.
- Então, eu chamo Martin e Gwyneth.
- Mulher não pode.
- Gwyneth não é nome de mulher.
O primo Martin em Sussex.
(Intermezzo. O senhor Heidegger, Martin, que podemos ver junto à entrada de uma rica residência no condado de Sussex (desde que ingleses geralmente moram em Sussex), toca a campainha e espera, checando papéis dentro de uma pasta preta. Um cavalheiro abre a porta; vejamos – sim, trata-se do senhor Martin, Chris.
Heidegger, Martin, pergunta a Martin, Chris:
- É o senhor Martin? Chris Martin?
- Sim. Pois não?
- Muito prazer, senhor Martin. Sou Martin Heidegger. O senhor me concederia alguns minutos? Tenho algo a dizer que certamente lhe interessará.
Nisso, a senhora Martin, a.k.a. Gwyneth Paltrow, grita lá de dentro: - Quem é?
- Martin Heidegger, querida – responde o músico, submisso.
- O nazista?
- Não, o filósofo alemão – envergonhado, volta-se para Heidegger: - Desculpe minha esposa, senhor Heidegger. Mas é interrompido novamente por Gwyneth: - Isso mesmo. Ele era nazista.
Chris Martin, muito embaraçado, continua desculpando-se a Martin Heidegger, que procura tranqüilizá-lo:
- Não é nada. É um erro comum.
- Entre, por favor.
Os dois cavalheiros se dirigem para a sala, e Martin, Chris, convida Heidegger, Martin, a sentar-se no sofá fofo que a senhora Martin acabara de adquirir. Simpático, o filósofo comenta: - Muito confortável este sofá.
- Obrigado, senhor Heidegger. Gostaria de beber algo?
- Suco de goiaba, por favor.
- Querida, poderia nos trazer uma jarra de suco de goiaba?
A senhora Martin vem da cozinha receber o convidado: - Olá, sou Gwyneth Paltrow. Martin Heidegger levanta-se e a cumprimenta.
- Além do suco, o senhor gostaria de mais alguma coisa?
- Não, muito obrigado – ela sorri e se vai.
- Mas o senhor dizia... – retoma Chris Martin.
Fim do Intermezzo.)
- É, sim. Gwyneth é nome de mulher.
- É nada. É nome de coisa. Tipo, uma sacola de gwyneths.
- Ah, é? Bom, então além do Martin e Theodor, eu chamo o Schlegel.
- Se você acha que isso vai adiantar, então eu chamo o Owen Wilson. Sempre quis chamar o Owen Wilson pra alguma coisa.
(...)
- Tá, são onze contra onze. Os seus onze FILÓSOFOS ALEMÃES contra os meus onze.
***
Pessoal, esta situação é meramente ficcional, e eu e esse guardinha somos apenas personagens de um post de blog chumbrega. Mas estamos aqui para conscientizá-lo do perigo das chamadas pretensões intelectuais. No fundo, no fundo as pessoas gostam mesmo é de futebol. Isso explica por que a ignorância é a maior multinacional do mundo, como dizia o Chacrinha. Não usem drogas, não fumem maconha, não leiam Nick Hornby, a vida passa depressa. E camisinha sempre.
me parece que as pretenções pythonianas foram alcaçadas. agora é só juntar com a fernanda young e fazer um especial pra globo. será exaltado como a versão de monty phyton brasileira que superou tv pirata.
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