Você jamais poderá considerar a sua experiência de vida na Terra completa se jamais tiver assistido a um dos filmes do Ernest. O Rei do Cinema em Casa, sessão de filmes vespertina do SBT. Criado em meados da década de 80 pelo ator Jim Varney, que nos deixou em 2000 vitimado por um câncer de pulmão (era um fumante inverterado), aparecendo inicialmente em comerciais de TV, o personagem acabou protagonizando a mais improvável série de filmes da história do cinema, começando em 1986 com o inacreditável O Acampamento do Ernest e terminando em 1998 com o mais inacreditável ainda Ernest vai ao Exército, a série teve mais de 10 exemplares. O mais lendário de todos esses é, sem dúvida, O Natal Maluco de Ernest, lançado em 1989. Custou 6 milhões de dólares e rendeu quatro vezes mais. É dele que falarei, logicamente.
Basicamente, as "tramas" dos filmes do Ernest consistiam em premissas totalmente implausíveis, meros pretextos para criar as situações cômicas dos filmes. Idéia roubada do lendário comediante W.C. Fields, estrela dos anos 30 e 40 e que cujos filmes também dispensavam qualquer tipo de lógica em nome do humor. No caso do Natal Maluco de Ernest, penso que eles chegaram perto da perfeição. Tem de ser muito, mas muito corajoso mesmo, para levar à frente um roteiro desses. Papai Noel (sim, ele, o pobre velhinho) resolve que não quer mais trampar no Natal, e vai até Orlando, na Flórida, lugar no qual mora o sucessor que ele escolheu. Sim, Orlando, Flórida. Não, não é por ser a casa da Disney, produtora dos filmes do Ernest. Mas voltando, as coisas dão erradas, o suposto substituto cria diversos empecilhos, o Papai Noel começa a perder a memória, e sobra então para o Ernest, no filme trabalhando como taxista, salvar o Natal. Sim, o Ernest. Salvar o Natal. Sensacional. Logicamente que todos os fatores que fizeram os filmes do Ernest clássicos supremos do trash estão lá: a atuação inacreditável de Jim Varney, algo para o qual não existem palavras capazes de se descrever; os coadjuvantes saídos direto do elenco do Estranho no Ninho, desprovidos de qualquer tipo de contato com aquela coisa chamada realidade; a direção gloriosamente camp de John Cherry, que dirigiu todos os filmes do Ernest. Considero o personagem uma clara alusão ao então presidente norte-americano Ronald Reagan. Sim. Reagan foi um ator pavoroso dos anos 40 e 50, uma espécie de Ben Affleck da época, desprovido de qualquer tipo de refinamento intelectual ou inteligência (algo fatal, já que atores bons normalmente são indivíduos de maior Q.I. que a média) , mas que pela cara apalermada e pelo jeito simpático e abobalhado acabou agariando a simpatia do público, até a insanidade suprema de ser eleito e reeleito para o cargo de presidente. Os anos 80 foram marcados por uma recessão brutal no país, enquanto Reagan jogava golfe para os jornalistas e fazia piadas com o também abobalhado imperador japonês Hirohito. Ernest foi um tapa na cara bem dado do ignóbil Ronald. Com o advento do Governo Clinton e com o fim da estética oitentista na cultura pop no meio dos anos 90, Ernest acabou perdendo o seu público. Mas pena que Varney tenha morrido justamente em 2000. Ano que um certo presidente também limítrofe assumiu a Casa Branca. Mas não lamentemos o fato de jamais podermos ver um hipotético Ernest vai à Faixa de Gaza. Ele foi para a Prisão, foi para a escola, foi para o acampamento de jovens infratores, foi até para o exército. Mas é do seu Natal que jamais esqueceremos. Em breve, mais memórias dos filmes Ernestianos, pelos outros camaradas, quem sabe.
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