sexta-feira, 7 de março de 2025

 O cinema, o Oscar e o Brasil

Ganhamos o tal do Oscar (na verdade, quem ganhou foi a joint venture entre o Unibanco e Fernanda Torres. Aqui, meu ego explodiu logo no começo do texto. Sinto muito, é que faz tempo que não escrevo—sejam pacientes com o velho).

Podemos esquecer essa premiação de vez? Acabar com essa estranha obsessão de transformar um evento de cinema em um Majestoso ou Fla-Flu nervoso e tenso? Podemos abandonar essa fixação por premiações internacionais, em vez de focarmos na criação de boas produções e mais espaços de exibição para o cinema nacional em nossa própria terra?

É verdade, eu ainda queria que Fernanda Torres ganhasse o prêmio de Melhor Atriz. Entretanto, a realidade material indica que isso seria muito complicado. A justificativa para tal dificuldade reside no fato de que Anora também estava concorrendo—um excelente filme independente estadunidense que critica estrangeiros ricos e defende uma mulher lidando com problemas em seu respectivo trabalho.

Sem falar da atuação de Mikey Madison: natural, espontânea e jovial. Esse é outro ponto—uma atriz jovem e talentosa, num filme de superação em um contexto semelhante ao de Uma Linda Mulher. Além disso, há uma certa profundidade em sua interpretação, tornando-se mais tangível por meio de um realismo que, na verdade, se aproxima de um naturalismo. Esse naturalismo nos mostra o fim trágico de todos que se relacionam com alguém rico acima de qualquer moralidade. Desde o início, ele tenta provar a impossibilidade desse relacionamento, revelando indícios que vão sendo desvelados aos poucos na narrativa.

Da mesma forma que o pobre Ícaro, que se perdeu ao voar muito próximo do sol, talvez devêssemos nos afastar do foco dessa premiação para alcançar um horizonte melhor—embora, para o filho de Dédalo, isso não tenha funcionado tão bem. Mais do que tudo, parece necessário desviar nossa atenção dessas premiações.


Pobre Kid, digo Ícaro que ficou panguando no céu

Pois é assim que devemos enxergar a premiação estadunidense: um prêmio raro, que não devemos buscar incessantemente para as futuras produções tupiniquins. Trata-se de uma premiação voltada, em sua maioria, para o mercado de língua inglesa, com poucas exceções de lobby estrangeiro bem-sucedido (o diretor de Parasita deixou sua marca).

Essa é a realidade cruel dessa cerimônia: há pouco espaço para produções em língua não inglesa, disputado por todo o resto do mundo. Logo, nossa premiação nacional deve ter uma resposta focada em nossos problemas internos—ela deve servir para fortalecer o meio audiovisual brasileiro e, ao mesmo tempo, buscar uma relação mais sólida com nossa história (uma possível reconciliação com o termo "Golpe Militar"? Ou ainda haverá aqueles que chamam de "revolução" um movimento que ocorre de cima para baixo, uma quartelada—contrariando até o grupo musical As Meninas, banda que compreendeu o conflito de classes melhor que muitos acadêmicos).

Se o futuro nos reserva um grande cinema voltado para o nosso mercado, com nossas necessidades e para o nosso público—incluindo a criação de cinemas populares, comunitários e, por que não, estatais?—com a Tela Brasil ganhando corpo, força e oferecendo espaço tanto para o cinema comercial quanto para produções artísticas rentáveis, ficarei bem satisfeito.

Bem, prefiro esse sonho a outra estatueta (a menos que eu ganhe uma—nesse caso, tudo muda de figura, pois sou Camarada, mas Moderado)