domingo, 28 de dezembro de 2008

E esse final de ano ae

The Misfits (Os Desajustados) – não a banda, Google, mas o filme – é lindo. Não como um filhote de cachorro, digo. Faz uns quatro anos que eu queria assistir. Como a gente é bonzinho com as massas, condescendemente confessa que se devem fazer algumas ressalvas. Primeiro que somos cínicos demais e portanto John Huston é para sempre excessivo demais pro nosso gosto. É quase barroco, emocionalmente falando.

As fotos de Cartier-Bresson todo o mundo já conhece, todo o mundo já viu. Mas a gente posta de novo que é gostoso de ver.

E outra, que é menos ressalva que condição para se apreciar o filme como eu apreciei. É preciso gostar muito de mulher. Isto é, ser um homem orgulhosamente heterossexual e amante das mulheres, cheio daquela condescendência típica do machista esclarecido. Machismo esclarecido que é a definição clássica de charme masculino, fineza que o embrutecimento da época eclipsa. (É sempre positivo poder dizer que algo é eclipsado. Parece que tem de ser gênio para usar com pertinência o verbo.)

Arthur Miller era obcecado por Marilyn Monroe e escreveu um roteiro em que tudo é uma metáfora da personalidade de sua esposa. A protagonista Roslyn é uma neurastência que aspira a uma liberdade que de tão vaga é angustiante. E sofre de complexo de salvador e deixa a gente o filme inteiro apreensivo, isso porque somos machos sensíveis. Pobre Roslyn. Como Gable e Clift, vaqueiros no filme, e Miller, marido na vida real, a gente quer salvar Marilyn Monroe, mas não vai dar, não.


Quando Os Desajustados acaba, nada foi resolvido. É o happy end mais enganoso que eu já vi. Todas as personagens são trágicas, as mais trágicas de Hollywood, e era impossível que as coisas terminassem bem, mas terminam. É uma convenção da qual eu não reclamo. Mas me enganaram.

Chamam de filme maldito porque foi o último para Gable e Monroe, mas é na verdade sagaz e exato. Fala de um mundo belo com os dias contados. Que os atores principais tenham morrido em seguida é o terrível do símbolo. Gable sai pra caçar mustangues e assim tentar sustentar um meio de vida insustentável. Não quer ser um assalariado: quer ser livre. Que nem Roslyn. Tudo no filme e no contexto em que foi lançado (extended final da Hollywood charmosa e “ingênua”) trata do que uma vez li perfeitamente descrito como “beleza terminal”.

Essa fala de Roslyn diz tudo (e que linhas seu Miller escreveu!): “Because... we’re all dying, aren’t we? All the husbands and all the wives. Every minute. And we're not teaching each other what we really know, are we?”

Marilyn e os mustangues e os vaqueiros. E a gente fica com cara de macho triste. Aliás, nunca nós machos fomos tão sensíveis e tão tristes.

sábado, 27 de dezembro de 2008

Cinema em Casa - Jumper(2008)

Advertência: Esse post contêm spoilers e as opiniões nele contidas não condizem com a totalidade do "Fomos ao Cinema", assim todas as baboseiras e pseudo-intelectuliadades são de responsabilidade somente do autor.



A capacidade de teletransportar sempre foi um negócio bacana. A moçada que acompanhava a série clássica de Jornada nas Estrelas deveria delirar em pensar nisso. Nos quadrinhos nós temos Noturno um personagem bacana que quando se teletransporta deixa um cheiro de enxofre estiloso. Há referências na literatura também: quem lembrará autor e obra é o fundamentalista já que este livro eu peguei no seu nome numa biblioteca municipal há muito tempo.

Enfim, a concepção está na cultura, igual querer voar, na verdade até melhor. Voar ainda é limitador; pois, um espaço fechado pode te prender. Teletransporte acaba sendo mais libertador que ficar invisível, como também, amoral. O filme "Jumper" começa bem nesse viés: o protagonista rouba bancos depois que foge de casa aos quinze anos. Família desestrurada, bullying, loser: os elementos justificadores para a rebeldia estáo bem representados. Comecei a gostar do filme.

Nocaute, Billy!

O longa dá um salto de oito anos, mostrando que um misterioso cara, interpretado por Samuel "Mace Windu" L. Jackson, está no encalço dele e não na melhor das intenções: a partir daí os roteiristas esqueceram de escrever e o filme, a partir daí, parece feito todo no improviso de tão ruim que fica o roteiro. E vai piorando, pulando de um lado para outro, o filme, resultando numa participação de "Billy Eliot" e uma luta final tosquissíma.

"Anakin Skywalker" não parece ser um bom ator. O personagem de Mr. L. Jackson parece um mistura de Mace Windu com um Blade bêbado, nem a aparição do saltitante Billy Elliot salva a película, no final pareceu que tinha levado um chute no estômago. O que me deixa um pouco contente é que não paguei para ver Jumper no cinema e a locação foi de graça, posso até pular um pouco de alegria...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Retrospectiva 2008 - Um Ano Muito Louco

O ídolo Ayrton Senna morreu em pelo menos três oportunidades diferentes durante as Olimpíadas de Beijing, em uma delas acompanhado da sempre deslumbrante Carla Bruni, esposa do presidente francês Barack Obama, que foi eleito numa vitória histórica, obrigando a KKK a se preparar para uma nova turnê no próximo ano, quando Madonna já terá ido embora do Brasil, deixando muita saudade, a ponto de seus fãs irem para a frente do edifício dos Nardoni desde que as investigações do caso Isabella começaram a tomar um novo rumo e indicar que a morte da menina Eloá, que vestia um casaquinho e sumiu quando o casal jantava com amigos, em Portugal, num bar da Vila Madalena onde Mallu Magalhães se apresentava todas as quintas-feiras, amada em segredo por homens envergonhados e receosos de serem acusados de pedofilia, bem antes de Marcelo Camelo surgir, autorizando a coisa toda, que no entanto nunca pareceu nada demais para os comentadores de blog fãs do casal que sabem muito bem que quem não ama não pode ser completo, porque eu beijei uma garota e gostei, espero que o meu namorado não ligue pra Isaac Hayes, que foi encontrado morto em seu apartamento aos 28 anos, fazendo o melhor filme de todos os tempos faturar uma fortuna, usada para pagar um ingresso do show do Bob Dylan, que se divorciou do diretor de cinema Guy Ritchie, enquanto a Rainha Formiga, a Mulher Melancia e os demais mutantes do mal tentavam tomar o controle da empresa, e quase conseguiram, não fosse Paul Newman, que morreu aos 83 anos, tendo protagonizado clássicos do cinema, como The Dark Knight, em que o primeiro presidente norte-americano negro tenta salvar Gothan City da ameaça do psicopata Lindemberg (papel de Ingrid Betancourt, com indicação garantida para o Oscar 2009), que levou o mundo a uma crise financeira que não se via igual desde 1968, o ano que não acabou.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Abandonai toda Psicologia Barata, vós que aqui adentrais; nem levai a sério o que aqui se diz, sua besta!

Terei de ser FORTEMENTE contrário ao governo Lula para ter estilo? Será esse o preço a pagar pelo valor estético? Que é pouco, concordo; mas dá muito trabalho ser contrário a qualquer coisa. Ah, as coisas que me exasperam! Em vez de me tornarem mau, inspirando o espírito-de-porco, essa coisa tão benéfica ao estilo, elas me deixam é ridículo, enchendo-me de emoções mulherzinha. Isso me lembra que antes que termine o ano tenho de escrever um post sobre emoções mulherzinha, as minhas e as suas, leitor, que é tão cheio delas.

Por exemplo, quando você vem aqui e começa a dar chutes no ar, que nem o Chaves, porque a gente falou mal do Coldplay ou bem do Proust. Tudo porque você já tentou ler, mas se perdeu depois da terceira subordinada. Eu sei como é viver ressentido; a mesma coisa comigo quando as pessoas me falam de Desperate Housewives, e eu não consigo achar onde está a graça: começo a chutar o ar. Olha ele, mãe, olha ele! Ah, esse é o Kico, perdão.

E quando as pessoas dizem perdão sem realmente quererem perdão, não dá vontade de perguntar “perdão por quê?”? Não, realmente não dá.

Odeio fazer o social, mas odeio ainda mais quem diz que odeia alguma coisa ou diz fazer o social. Fazer o social parece uma combinação lingüística gay pedagoga. “Aí, eu disse que aquelas botas não ficavam bem nela, mas a bicha não entendeu, então tive de fazer a interdisciplinar e comparei com um fenômeno qualquer da Física; ai, amiga, como essa gente é burrinha”.

Mas tudo isso é pra desejar um Feliz Natal ae.

domingo, 21 de dezembro de 2008

Fomos ao cinema ver Rebobine, Por favor

Certos filmes precisam ser explicados pelas mais diversas razões. Às vezes por seus pressupostos teóricos ou estéticos pouco evidentes ou muito sofisticados; às vezes por suas contribuições tão fundamentais à cinematografia que hoje muito banais para serem reconhecidas e portanto apreciadas. Esse último é o caso de Cidadão Kane, que sempre que é citado antecede alguma cretinagem das grossas, expectativa que não frustraremos.

O novo filme de Michel Gondry, Be Kind Rewind, também precisa ser explicado. É que algumas piadas são simplesmente sutis demais. A operação Barbarossa, em 1941, por exemplo, ou a volta do Smashing Pumpkins, sem James Iha e D’Arcy, em 2007. E 24 Horas? E as novelas da Record? E o Dollynho? E toda a programação da RedeTV!? Alguém riu?

Ou de uma hora pra outra todas as pessoas se tornaram sérias demais, sérias demais como Fernando Bonassi, metaleiros, comentadores de blog malcriados e as irmãs do grupo de oração, ou algo estava errado. E muito errado.


Terei de dar o braço a torcer e admitir que algumas piadas têm que ser explicadas. Como os trinta minutos iniciais de Be Kind Rewind, e Jack Black girando no ar por força de um choque elétrico, e Jack Black. Trabalhando com hipóteses, vamos à fundamental: o filme começa sofrível, de dar vontade de levantar e ir embora no meio da sessão, de propósito. É o seguinte:

A tese:

A premissa idiota, genialmente idiota, a primeira meia hora, Jack Black e o final Cinema Paradiso: é tudo naïf de propósito.

Um dos tantos mantras de Hollywood, que Rob Lowe já tinha me revelado em sonho, é que, como o verde é o novo azul, Danny Glover é o novo Morgan Freeman. Anotado e conferido em Be Kind Rewind. Mas os senhores devem estar curiosos sobre meu sonho com Rob Lowe. Bom, ele vestia jeans preto e uma camisa I love NY, e tinha penas saindo de trás dele, e uma luz púrpura, que só não ressaltava as rugas no rosto dele por causa da maquiagem glam. Mas não foi um sonho gay, é o Rob Lowe que estava gay. De qualquer forma, muitos outros segredos e planos de Hollywood para a Terra me foram revelados naquela noite, e quando perguntei sobre mim, ele deu de ombros e disse que eu seria roteirista de uma série inspirada na vida de Philip Seymour Hoffman que só duraria duas temporadas e me casaria com Rachel Bilson, divorciada e frágil. Ah, bom, eu respondi.

My fiancée Rachel Bilson.

Me pergunto se daqui a cinco anos Rachel Bilson ainda será tchutchuca. Whatever.

Às vésperas do Natal, celebridades obscuras, por mais paradoxal que venha a ser a expressão, nos aparecem em sonhos auspiciosos. Foi assim quando Kennedy foi assassinado, foi assim comigo, antes de ir ver Be Kind Rewind.

I like nice, simple girls.

E Rob Lowe ainda me preveniu da seguinte maneira, colocando a mão no meu ombro e me fitando (isso mesmo, ele me fitou e tudo) com olhos paternais: - E antes de ir ao cinema ver o novo filme de Michel Gondry, não esqueça de entrar num mercadinho e comprar umas Ruffles. Quando eu perguntei por quê, ele ignorou e me respondeu com uma pergunta: - Você vai fazer isso? – e apertou o meu ombro até doer. Tá bom, falei.

Rob Lowe conhecia o Segredo. Rádios de supermercados de bairro tocando MPB e pop 90s pra trás. Por causa dos rituais pequeno-burgueses das Festas, você entra mais preocupado com o chester e a espumante Peterlongo e de repente se pega cantarolando “Ainda Lembro”, todo serelepe e sem culpa. Marisa Monte e Ed Motta num dueto lin-do. Rob Lowe sabia. Eu estava pronto.

“e quando eu perguntei

ouvi você dizer

que eu era tudo o que você sempre quis

mesmo triste eu tava feliz”

Mesmo triste eu tava feliz, entende? Pode vir Michel Gondry. Chamo a Bjork? Ursinhos! Kiss in your heart! Europeus pensam assim. Exatamente. Quando eu era europeu, pensava assim. Tinha relações com todo o mundo e pensava assim. A mesma coisa com um tio meu que também era europeu. Dizíamos relações. Quando se é europeu, naturalmente se pensa assim. Mas gosto da Capela Sistina, que fica na Europa. Eternal Sunshine of the Spotless Mind, por exemplo, era uma comédia de costumes, com o médico tarado e o perdedor pegando a Kate Winslet, que não estava gordinha nem nada; mas todo o mundo achou que era romance.

O filme é bom.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Com a palavra, meu daimon:

A burocracia sempre me choca. Gente que escreve como se fosse um flyer ou um banner. Tem que ser sempre informativo? Aliás, tem que ser alguma vez informativo? Os sem-talento erigiram a prosa jornalística como modelo do bem-escrever porque plenamente imitável, já que não tem cara nem gosto de nada, exatamente tudo o que poderia querer quem não sabe pensar além do que aí está, do pronto, facilitador da doença universal que é a preguiça, ou então da obtusidade ou quadradice.

Mas a quadradice. O cérebro, como sabem, é como uma mexerica, tem gomos; mas não é redondo, é achatado, isso nas pessoas normais, antes de pegarem burocracia em algum banheiro público por aí. Porque, tão logo infectadas, a massa cerebral vira um mingau, devido ao amolecimento que as fórmulas e os clichês acarretam, quando o indivíduo deixa de pensar por si mesmo, e o cérebro perde consistência. Ora, o mingau endurece depois de um tempo, mas incomestível, tornando-se um bloco azulado: nesse ponto é que as pessoas passam a dar boletins em vez de dizerem o que sentiram ou, pff, pensaram quando assistiram a um filme, leram um livro ou escutaram uma música.

***

É do caráter do gênio ser obsessivo. Reflexão que devo a Paul Newman, em The Hustler. Seu personagem, Fast Eddie Felson, simplesmente não sabia quando parar, porque tinha de ir até o fim. O problema todo é que o fim, para o obsessivo, se estende indefinidamente, porque ele visa à perfeição. É onde entra o gênio, que contempla idealidades, enquanto o resto se contenta com o corriqueiro, já alcançado e por isso mesmo real.

Até agora eu estou me perguntando o que é The Hustler? Corta-se o blablablá, e a substância é escondida no mais cotidiano. Filmes assim desapareceram; tornaram-se impossíveis? Nem existe mais Paul Newman pra estampar cenas que, meu Deus, não dá pra serem mais bem filmadas. Eu falava em gênio; no caso, da sinuca. Como qualquer jogo, é coisa pra quem, toda vez que tenta ler, dorme. Mérito do filme fazer a gente se envolver tanto que até esquece que é sinuca, que não é, no fundo não é.

E também não se escrevem mais diálogos como aqueles, em que a conversa fiada dissimula conflitos e frustrações shakespearianas. Também, quem vai entender essa banalidade aparente? Genial são diálogos espertinhos, Juno, com todo o mundo falando como a protagonista, sendo sharp e witty, do balconista do mercadinho até o papai-sabe-tudo. Ou então David Carradine explicando a mitologia do Super-Homem. Céus! E tudo porque não existem mais adultos, e os ditos artistas são um bando de jecas choraminguentos.

***

Todos os argumentos que se possam levantar para demonstrar a derrocada da civilização ocidental, talvez o maior dos hits da crítica cultural, podem se resumir a só um fato: não escrevemos mais cartas. “Agora, o dilúvio”, que eu cito sem dar nome ao boi.

***

O melhor do Brasil não é o brasileiro; é Machado.

Mas eu escrevi a lyric ao gosto popular:

He’s got no talent,
But he’s the coolest guy in the world.
And he turns and watches all the beautiful things
Burning softly
And gently elephants and penguins tread on his head
Full of flowers and other dirty things
That remain unconquered.


Porque é fácil ser poeta para os brutos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Chuck Barris, criatividade e um video

Em alguns momentos nesse blog nos falamos sobre cinema, em casos mais raros falamos de cinema e algo educativo. Não sei se cumprerei bem as duas premissas, mas não custa nada tentar.

Chuck Barris, cara esperto, geminiano(camarada progressista agora diria "a ha!"), foi um dos mais criativos produtores da tv yankee. Pérolas como Gong Show e Treasure Hunt são exemplos de suas criações, mas que diabos são esses programas e quem é esse indivíduo? Imagine o seguinte: todos aqueles enlatados de jurados e games-show que infestaram a televisão a partir da década de 80 no Brasil foram bastante "inspirado" nos quadros e programas idealizado por esse americano. Mais detalhes sobre sua carreira é só consultar a página da Wikipedia em inglês sobre Chuck Barris. Há alguns anos, saiu um filme inspirado em sua biografia não autorizada, Confissões de uma mente perigosa, dirigido pelo nem sempre competente ator e bom diretor George Clooney onde demostra que as idéias dos seus programas, muitas delas, foram tiradas de suas experiências durante o período que trabalhava para CIA. Suas experiências e treinamentos foram transformados em programas e games-show que todo mundo copiou durante muito tempo.

A criatividade aplicada a circustâncias sui generis sempre demostra que é possível tirar das banalidades algumas idéias geniais. De Chuck Barris parto para Syd Field, "guru de roteiros", que atualmente deu uma entrevista ao Fiz TV, canal de tv parecido com Youtube do grupo Abril, onde fala sobre roteiros e um pouco do processo de criação. Bem, assista e veja o que acha. Já que estamos nos aproximando do oscar, vale a pena cultivar os futuros bons roteiristas que ainda lêem nosso blog.



Oscar 2009 - Os Favoritos

É isso ai, cambada. A temporada do Oscar já começou. O anúncio das indicações ao Globo de Ouro na semana passada já deram uma prévia dos filmes que provavelmente dominarão a premiação da estatueta bunduda. Como o Fomos ao Cinema tem acesso irrestrito aos círculos de influência Hollywoodianos, além de podermos sempre usar o poder da força e da tortura para conseguirmos certas informações, podemos nos dar ao luxo de vir aqui e dar em primeira mão para vocês a relação de filmes favoritos à estatueta mais cobiçada do cinema. Putz, eu disse "estatueta mais cobiçada do cinema'? Clichês dão um bode do cacete. Mas vamos aos filmes, então.

O Curioso Caso de Benjamin Button - Dirigido por David Fincher (yeah!), estrelado pelo Brad Pitt e a Cate Blanchet
Data prevista de estréia no Brasil: 16 de Janeiro de 2009

A crítica gringa aponta o filme como favorito ao Globo de Ouro, o que por consequência o faz também o principal pleiteador ao Oscar. Dito como um Forrest Gump mais intimista e bem menos ingênuo (o roteirista dos dois filmes é o mesmo, Eric Roth), o que faz todo o sentido quando notamos que Fincher é o Robert Zemeckis da nossa era. Os dois dividem o mesmo brilhantismo técnico, mas o pessimismo cínico de Fincher anda de mãos dadas com a época em que vivemos, em contraponto ao otimismo tipicamente oitentista de Zemeckis. Baseado em um conto de F. Scott Fitzgerald (o malandrão que escreveu O Grande Gatsby, seus jões!), o filme provavelmente fará finalmente justiça a Brad Pitt e Fincher, que já mereciam faz um bom tempo um reconhecimento que fizesse jus aos seus talentos. Mas como Fincher provoca uma estranha ojeriza na Academia, estou desde já prevendo uma cena dantesca na premiação, tipo um certo diretor enganador, que fez coisas do calibre de Splash-Uma Sereia em Minha Vida e Código Da Vinci, e de cujo filme eu falarei ai embaixo, ganhando o prêmio e deixando o diretor do Clube da Luta chupando o dedo mais uma vez. Esperemos então a estréia do filme, em meados de Janeiro. Mas eu já vou avisando: se a Academia ignorar o Fincher mais uma vez, as coisas vão ficar feias. E se ignorarem ele em favor daquele palhaço do Mente Brilhante cujo nome deve ser evitado, ai então eu vou mandar algumas pernas serem quebradas. Mafiosi style.


Apenas um Sonho - Dirigido pelo Sam Mendes, estrelado pelo Leonardo di Caprio e a Kate Winslet
Data prevista de estréia no Brasil: 30 de Janeiro de 2009

Eu acho incrível. Nós estamos em 2008, e ainda tem gente nesse mundo que acredita no Sam Mendes. Vocês não foram ao cinema (copyrights by Comrades ltda) ver o horroroso Soldado Anônimo? Sério, se aquilo não era um final de carreira, então me digam o que é. E, cá entre nós, sem ninguém ouvir: Beleza Americana não era nada mais além de um bom filme. Como Mendes provavelmente não confiava mais o próprio taco, resolveu aproveitar o aniversário de 10 anos do filme mais chato da história, Titanic, e reunir o Leonardo Di Caprio e a Kate Winslet (sua mulher na vida real) pela primeira vez em um filme desde a breguice do James Cameron. Não contente, chamou ainda a Kathy Bates para a festinha. Só faltou mesmo o Billy Zane e a múmia da Gloria Stuart. Para acabar de vez com a discussão, comunico um fato sobre o roteiro do filme. Ele é baseado num livro do Richard Yates. Ou, em uma versão que eu prefiro mais, Richard "eu queria ser que nem o Tennessee Williams e escrever um monte de peças que virassem filmes de sucesso para eu encher os burros de dinheiro, mas era um chato de galocha e tive que me contentar com os livros mesmo, e só agora, quando eu já fui dessa para melhor faz tempo, que eles resolveram fazer um filme importante com algum livro meu" Yates. É, não deu. Lembram do pai da Elaine no Seinfeld, um escritor assustadoramente mala que faz o Jerry e o George Constanza darem no pé de medo? O sujeito era baseado no Richard Yates, cuja filha o Larry David namorou e acabou passando por um momento parecido quando teve de conhecê-lo. Era um sujeito bem sensível, mesmo. Eu sei, fiz uma digressão brava aqui. Mas eu a achei DEVERAS necessária. YADA, YADA, YADA.


Frost/Nixon - Dirigido pelo Ron Howard - Dirigido pelo Ron Howard - Dirigido pelo Ron Howard - Dirigido pelo Ron Howarrrrrrrrrddddddddddddddd#55#2@3@32#2#23@3@3 - estrelado pelo Frank Langella e o Martin Sheen
Data prevista de estréia no Brasil: 20 de Fevereiro de 2009

Esse filme é dirigido pelo Ron Howard. Repito: esse filme é dirigido pelo Ron Howard. Mais uma vez: esse filme é dirigido pelo Ron Howard. Se você não entendeu: esse filme é dirigido pelo Ron Howard. Ron Howard dirigiu esse filme. Esse filme foi dirigido pelo Ron Howard. Ninguém pode gastar um centavo sequer pagando para assistir qualquer coisa filmada pelo Ron Howard. Ron Howard = lixo. Ok, ok, deixando a paranóia lavagem cerebral-style de lado, devo notar que esse filme refaz as entrevistas dadas pelo ex-presidente-republicano-defunto-norte-americano Richard Nixon ao apresentador de talk-show inglês David Frost, no período imediatamente pós-escândalo de Watergate. A atuação do veterano Frank Langella como Nixon tem sido elogiadíssima, e provavelmente garantirá uma indicação ao Oscar para o velhinho batuta, mas ai lembramos do que o Anthony Hopkins fez no Nixon do Oliver Stone, e com certeza ficará difícil esquecer das comparações. Mas embora o filme esteja sendo elogiadíssimo e tenha grandes chances de indicações, ainda sim preciso relembrar uma coisa para vocês: esse filme é dirigido pelo Ron Howard. Ron "Splash-Uma Sereia em Minha Vida" Howard. Ron "Luta pela Esperança" Howard. Ron "ED TV" Howard. Ron "Código Da Vinci" Howard. Ron "Cocoon Howard". Ron "Willow - Terra da Fantasia" Howard. Sim, eu poderia ficar até amanhã só nisso. E se alguém ai falar que Mente Brilhante é um bom filme, vai ter que falar na minha cara também. Eu tenho 1,90 de altura. A escolha é de vocês.


The Reader - Dirigido pelo Ron How... ops, errei, quer dizer, dirigido pelo Stephen Daldry e estrelado pelo Ralph Fiennes e um montão de alemães.
Data prevista de estréia no Brasil: 6 de Fevereiro de 2009

A vida é miserável. Mas perto dos filmes do Stephen Daldry, ela vira uma festa. Sério. Quem não se constrangeu assistindo ao inacreditável Billy Elliot? Quem não puxou um belo ronco durante o As Horas? Vamos admitir uma coisa: todo ano a Academia coloca entre os indicados um filme de época passado na Europa. Isso é fato. Esse filme se passa na Alemanha pós-Segunda Guerra, e conta a história do reencontro de um casalzinho que passou anos separado, ele um estudante de direito e ela se defendendo de um caso de crime de guerra. ZZZZZZZZZZZZZZ. Sim, você já viu esse filme um bilhão de vezes. Mas deve ser engraçado ver o Ralph Fiennes, que já passa bem longe de ser um jovem, interpretando um estudante. Mas é um filme de época europeu, com uma reconstituição de época impecável, figurinos milimetricamente modelados, e toda aquela pataquada. Eu quero a vanguarda européia de volta! Volta, Bunuel! Putz, eu disse vanguarda européia? Alguém ai me dá um soco na cara, vai.

Gran Torino - Dirigido pelo Clint Eastwood e estrelado pelo próprio e os lábios da Angelina Jolie.
Data prevista de estréia: 6 de Fevereiro de 2009

Em um belo dia, no início dos anos 2000, a Academia acordou e resolveu acreditar que o Clint Eastwood era um baita diretor. Depois disso, nada foi o mesmo. Qualquer peido que o velho solta já ganha duzentas indicações depois. Ok, ok, Sobre Meninos e Lobos era uma bagunça, mas tinha o seu impacto, o Menina de Ouro era um filme certinho, o Cartas de Iwo Jima era um tocante filme de guerra, mas vamos parar por aqui, né? O Globo de Ouro ignorou o filme, dando apenas uma indicação para a trilha sonora, mas não vamos nos iludir. É bem provável que o filme seja lembrado pela Academia, sim, como vem sendo ventilado na imprensa gringa. Veremos, quando o filme estreiar por aqui, se todo o hype é válido. Mas eu ainda acho que tudo vai na conta da bocuda da Jolie.

Slumdog Millionaire - Dirigido pelo Danny Boyle, e com um monte de simpaticíssimos indianos no elenco
Data prevista de estréia no Brasil: não existe uma ainda. Parabéns às nossas distribuidoras, desde já.

Ok. Vamos deixar bem claro uma coisa. Assim como todo ano a Academia indica um filme de época europeu, eles também adquiriram, depois do Pulp Fiction, o hábito de reservar uma indicaçãozinha sempre para um filme independente. Parece que a vaga nesse ano é de um diretor velho conhecido nosso, que começou fazendo barulho com o Trainspotting e que até hoje não mostrou ainda para que veio. Sim, Danny Boyle is in the house. A não ser que vocês tenham achado os dois Extermínios, o Sunshine, o A Praia e o Por Uma Vida Menos Ordinária (argh!) belos filmes. Ok, eram divertidos e tudo mais, mas sempre faltava alguma coisa (ou muita, mas muita coisa mesmo, nos casos do A Praia e do Por uma Vida Menos Ordinária) para qualificá-los como algo além de uma diversão acima da média. Parece que agora, com esse filme feito na Índia, ele finalmente conseguiu. O filme tem sido elogiado pra valer, e é dito até como superior aos outros candidatos. Como não existe uma data prevista de estréia ainda no Brasil, a única chance é o filme ser mesmo indicado para um monte de Oscars para o filme entrar em circuito. Fazer o quê. Torçam ai. Melhor do que torcer para o Ron Howard. Eu disse Ron Howard? Ron Howard é ruim. Ron Howard é uma enganação. Os filmes do Ron Howard fedem. A filha do Ron Howard é bonitinha. Mas ninguém pode casar com ela, pois o legado horrendo da família Howard não pode ser transmitido. Não casem com a Bryce Dallas, seus especuladores ricos do cacete.

Milk - Dirigido pelo Gus Van Sant e estrelado pelo Sean Penn
Data prevista de estréia no Brasil: 6 de Fevereiro de 2009

Gus Van Sant andou pisando na bola depois do bom Elefante, lançado em 2003. Lançou o horroroso Últimos Dias (Michael Pitt como um falso Kurt Cobain? Não, obrigado), o desapercebido Paranoid Park, e ficou por isso mesmo. Agora, volta aparentemente à boa forma com o assunto que mais domina: opressão aos gays. Sean Penn está um ARRASO como o primeiro político abertamente gay dos EUA, que acaba sendo morto depois de muita discriminação. Nossa, que uó, santa! Esse filme é um luxo. Abalou Bangu, Van Sant! Não, isso está errado. Falemos sério agora. Esse é um filme que vem sendo muito elogiado, com um enredo de imenso impacto e com uma atuação que já vem sendo marcada como "definitiva" em termos de excelência da parte do Sean Penn. Eu sempre dizia que esse cara era uma coisa, mona... ui!


Cavaleiro das Trevas - Precisa mesmo dizer?
Data prevista de estréia: já foi faz tempo, Jão! Julho, lembra?

Muita gente boa tem apostado que a Academia dará um lugar entre os indicados a melhor filme para o filme do Coringa. Mas como o Globo de Ouro lembrou apenas do Heath Ledger, dando mais indicações até para o Trovão Tropical (filme mais hilário do ano, mesmo hilário sendo um adjetivo cretino), fica a dúvida. Mas a Academia deve estar vendo no filme do Nolan uma grande oportunidade de audiência. Como a última edição conseguiu ser a menos assistida da história, fica aqui a lembrança. Dizem que o Batman faz uma participação especial nesse filme, mas não sei se isso é verdade. Ok, ok, já parei.

Ron Howard 666. Ron Howard tem um pacto com o capeta. Os filmes do Ron Howard são piores do que a Peste Bubônica. Os filmes do Ron Howard nos lembram que coisas como a Bomba Atômica e a Segunda Guerra Mundial não foram tão ruins assim. Ron Howard não toma banho. Ron Howard era ofuscado pelo Fonzie no Happy Days. Ron Howard acabou com a carreira do Russel Crowe, e agora está tentando acabar com a do Tom Hanks também. Ron Howard é quando o cinema se transforma em algo muito, muito errado. Ron Howard. Ron Howard. Ron Howard.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Buscemi & Proust Investigações

Steve Buscemi e Marcel Proust são dois detetives muito atrapalhados que vivem se metendo em altas confusões. Um dia cruza o caminho deles uma mulher que vai deixar os detetives fora de órbita: Elisha Cuthbert. Essa gata de arrasar está numa grande enrascada com bandidões superperigosos, e esses dois malucos vão ter que ajudá-la e ainda por cima salvar a própria pele.

Buscemi & Proust Investigações: foto promocional para jornais (Proust tingiu só pro anúncio).

Manhã chuvosa. No escritório Buscemi & Proust Investigações, Marcel Proust sentado em sua escrivaninha, com fones de ouvido, cantava “Disorder”, do Joy Division: “I’ve got the spirit, but lose the feeling”, quando chega Steve Buscemi, com uma cara horrível. “FEELING, FEELING, FEELING, FEELING, FEEEEEELING!”

- Pomba, Marcel! Vê se faz alguma coisa. Estive a manhã toda tratando de negócios, e você aqui sem fazer nada! – Proust ouve quieto, os olhos baços como naquelas fotografias dele blasé; Steve vai tirando o casaco e o chapéu de detetive, e depois vai até a garrafa de café: - Pomba, nem o café você fez!?

Tirando os fones, Proust responde:

– É que eu ando mó triste. Além disso, acho que finalmente cheguei àquela intuição artística de que te falo, através da qual vou poder amarrar todos os eventos da minha vida até aqui numa obra imortal de sete volumes que ninguém irá ler – olhos brilhantes, mas estranhamente ainda baços.

- Que ninguém irá ler. Pô, você ainda insiste com essa história de escrever? E como é que ficam os negócios? Estive conversando com Mr. T durante quase duas horas. Duas horas! Tá aqui o relatório que eu rascunhei. – Buscemi, exasperado, joga sobre a escrivaninha de Proust uma pasta amarelada; dentro, apenas uma folha, que Proust lê em voz alta:

“Mr. T, née Theodor Wiesengrund Adorno, não gostou das recentes declarações. Encontrei ele num bar sujo da Baixa Augusta, porque ele queria me dizer que ia pegar quem andou falando mal dele. Ele me mandou dizer: “EU VOU TE PEGAR!”. Quer a nossa ajuda pra apanhar os comédia que andaram falando mal dele.”

Apesar dos garranchos, a leitura fluiu, mas Proust pensou consigo mesmo que Buscemi escrevia muito mal. – Tá, e aí, por onde a gente começa? – respondeu Proust, canceriano, afetando iniciativa e prontidão inexistentes.

- A gente começa por algum lugar quando você tirar a sua bunda daí, parar de ouvir Joy Division e fizer uns telefonemas.
– Mas é que Joy Division me inspira; além disso, você sabe que eu odeio telefone, eu me atrapalho todo.
– Pomba, Marcel, você é detetive!

Foi então que, no meio de mais uma discussão dos dois grandes detetives, a porta do escritório se abriu e entrou a delícia suprema dos fãs de 24 Horas, Jack Ba..., quer dizer, Elisha Cuthbert. Esse é aquele momento em que a câmera corta para os detetives: um olha apalermado, no caso Buscemi; e o outro, mais dissimulado, finge indiferença, no caso Proust, que nesta história não é gay.

Eis a expressão de Buscemi:

Eis Elisha Cuthbert no escritório da Buscemi & Proust Investigações:

Com olhar malicioso, mas num tom inocente, a beldade fala:

- Detetives Steve Buscemi – dirige-se a Buscemi – e Marcel Proust – dirige-se a Proust –, preciso da ajuda dos senhores.
- Por favor, sente-se – Buscemi oferece sua cadeira, que ele arrasta de trás da mesa, e se senta na mesa. – Pode falar. Quer beber algo? Infelizmente não temos café – diz enfaticamente, virando-se para Proust, que entende a indireta e se encolhe bem bunda-mole na cadeira. – Mas pode falar, senhorita...
- Cuthbert, Elisha Cuthbert. Não, muito obrigada – ela responde, doce, doce, e os detetives suspiram bem bichas paradoxalmente por serem bem machos.
- Vou direto ao assunto, detetives. Eu paguei pra escreverem um “artigo” bem ofensivo contra Mr. T. Sei que ele já os procurou.
- CASO ENCERRADO! – grita Proust.
- Você é um idiota – Buscemi fala por todos nós. – Por favor, prossiga, senhorita.

Ela se ajeita na cadeira, tirando um lenço da bolsa, enquanto lágrimas começam a rolar pela pele jovem e lisa de seu lindo e resplandecente rosto. A seda do leço roçando de leve a face branca e pura, apenas as lágrimas delicadas se interpondo ao tecido amarrotado em suas mãozinhas de anjo enluvadas. Ai, ai.

- Mr. T disse que ia me ajudar num momento muito difícil da minha vida. Eu acabei me apaixonando por ele. No começo, ele realmente me ajudou. Mas depois, quando ele começou a fazer sucesso com Esquadrão Classe A, me deixou de lado, esquecendo todas as suas promessas.
- Maldito! – interrompe Proust, sinceramente comovido e alterado.
- Com toda certeza, Marcel, com toda certeza – completa Buscemi. – Nós vamos dar um jeito nisso, senhorita Cuthbert.
- Eu estava sozinha, perdida. Fiquei arrasada. Então, me vinguei. Paguei um moleque pra escrever umas bobagens contra Mr. T, mas a situação, como os senhores vêem, saiu do controle. Ele deixou claro para seus capangas que, palavras dele, “acabaria com a raça de quem quer que fosse o responsável pela produção do falso, ainda que o chiste, mesmo sofrível, seja em si mesmo portador do conteúdo crítico responsável por retirar o véu da coisa”, e partiu a mesa em duas com seu braço poderoso.

Foi então que Mr. T apareceu, o ébano luzidio de seus braços poderosos à mostra.

– Que palhaçada pré-crítica é essa! O gesto atraiçoador movido de homem para homem como pressuposto universal do assassínio!

- Ãããããhhhhh??? - perplexidade geral.

Foto (Elisha Cuthbert perplexa):

Antes de continuar, uma foto de Mr. T durante seu exílio nos EUA, em 1944:


- Não, peraí - me interrompe Buscemi. Então, todos dizem:

- Pô, Fundamentalista, aí já é demais!

domingo, 7 de dezembro de 2008

Notas sobre notas

Adorno não faz minha cabeça, nem como antagonista. Antes de tudo Adorno é um chato, agora ele tá morto, infelizmente ele fora chato antes de morto, esta situação seria mais aceitável caso ocorresse o contrário: quando há morte somos condescendentes ao defunto, mesmo ele sendo chato, pois morto ele está.

Excluindo as possibilidades de alguém ser chato depois de morto(diga que isso não existe para a máfia e profissionais do ramo), volto aqui para deixar de lado todo essa dialética negativa, herança hegeliano que Adorno leva na bagagem, essa mala que o fundamentalista tanto adora. Ora, no lugar que vamos não precisamos de tanta bagagem assim, meus caros leitores, não, a bagagem que necessitam está já dentro de vocês.

E não sou nenhum Capitão Planeta ou assecla de uma filosofia de auto-ajuda. Digo que até poderia, pois parece que filosofia é tanto futebol como arte é culinária, não é? As coisas se misturam, e Kant agora me dá um tapa na cara quando digo essa frase: "As coisas se misturam". Flap!(barulho de um tapa de um alemão). Verdade, deixei meu imperativo categórico de lado, mas tenho um? Nunca disse isso, enfim, abandonando outra vertente do pensamento clássico alemon e toda as repercussão e influência que Emmanuel deu ao ciclo cibernético e derivados, resta-nos um membro, nosso amigo Hurserl.

Agora volto a minha premissa do segundo parágrafo: pra que diabos você precisa saber algo sobre "Notas de Literatura"? Adorno fala que a pontuação textual aproxima o léxico da música, parabéns, qualquer analfabeto com um pouco de ensino perceberia isso( escrevendo bem menos já que aprendera a escrever faz pouco tempo), como já abandonei o velho Theodor e não é possível se falar de filosofia sem incluir um germânico nos autos; no meu time o capitão seria o bom e velho Husserl, Edmund. Pronto. Está escalado.

Husserl, Walter Benjamin, Flusser, Goethe, Heidegger. Mais alguns e coloco o Sarte para dar os petardos nos penâltis, já disse, filosofia é futebol, agora grite gol, mas antes saia desse torre de marfim e sem usar o maldito elevador.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Pythonesque

Lista honesta das minhas realizações mais importantes e não necessariamente incomparáveis:

Fiz quatro semestres de Grego lá na Universidade sem estudar direito e nunca fechei com menos de 8, porque os professores adiantavam o nosso lado; sei o que é um genitivo absoluto, sei o que é um caso de atração inversa; mas não sei identificá-los num texto desconhecido. Traduzi Isócrates, Górgias, meia dúzia de versos da Odisséia, mas gosto mesmo é de ler Adorno, e não sei alemão, que é fichinha perto de Grego, que se escreve caixa alta mesmo, apesar de haver coisa bem mais difícil, tipo Sânscrito. Sim, Sânscrito: tremei, filisteus.

Fiz a Universidade lá.

Leio Adorno e abraçaria a Teoria Crítica de todo o coração, se não tivesse um poucochinho de bom-senso, aquela coisa mais mal-distribuída do mundo. Mas Adorno é bom porque é difícil de ler, então faz crescer cabelo, exceto nele. Minima Moralia é meu livro de cabeceira quando eu esqueço de ser cristão.

A Carol, minha namorada burra, sempre me pergunta por que eu gosto de coisas chatas. Coisas chatas como filosofia.

As pessoas me perguntam por que eu sempre cito Adorno. Hmm..., porque ele é o mais chato dos chatos.

“O problema do conhecimento é o Édipo do pensamento moderno.”

Mas as modelos sempre me perguntam por que eu gosto de coisas chatas. Coisas chatas.

As coisas não podem ser divertidas. Se forem, algo está errado. Ser divertido é o erro. Daí a modernidade.

Sempre me perguntam de eu citar tanto Adorno. Ora, porque ele é meu inimigo. Ele é o meu superego descartado. Ele é bom, e eu sou mau.

Toda vez que alguém dá razão ao Adorno, cai morto um executivo no mundo. Por isso, todos juntos – “Adorno estava certo”. Ai, que subversivo que eu sou. E depois dizem que ninguém mais luta contra o Sistema, isso, aquele programa da Fernanda Young, com o Selton Mello e o Chiquinho Scarpa, cancelado, pena, pena.

Fernanda Young come cocô e não toma banho. Pronto, falei.

Pra que falar (e mal) de Fernanda Young, meu Deus?

Sempre preferi Filosofia, porque meu coração é feito de sal, mas tenho quedas eventuais para Literatura, durante as quais me tranco no banheiro com O Vermelho e o Negro, e eu sei que essa separação estanque é dose, mas explica bem.

Adoro Grande Sertão: Veredas, que li no ônibus, na linha Rio Pequeno-Ipiranga, os motoristas estão de prova e podem testemunhar sobre o rapaz com o livro grosso na mão; e adoro, porque é das maiores aventuras que eu já li, uma Ilíada em português arrevesado, e é emocionante; e acho o Zé Bebelo o personagem mais, er, legal de todos, mas não estou em busca da brasilidade perdida, não gosto de Chico e não participo de saraus concretistas.

E pulo da cadeira toda a vez que toca as Bachianas Brasileiras na Tupi FM. O brilho, a pompa, a grandeza absolutamente irrefletida, burra: o Brasil em música. Eu curto. Villa-Lobos foi gênio.

Faz uns quatro anos que estou em busca do belo estilo. O belo estilo é como uma panela mágica que fazia sopa pra alimentar uma família pobre de uma cartilha minha de quando eu tinha acho que 10 anos.

O belo estilo também fica bem em fotos de família, com melissas e carne vermelha.

Acho o teclado de “Kiss them for me”, do Siouxsie and the Banshees, uma coisa da ordem do sublime.

O problema das mulheres bonitas é que elas não são só bonitas. Elas insistem em querer ser algo mais. Ouviram falar do algo mais e da necessidade do algo mais e não sossegaram desde então. Algumas querem ser inclusive inteligentes, imaginando que o algo mais é ser inteligente. É um absurdo, um terrível engano. Se eu encontrar o cretino que começou com essa história do algo mais, juro que mato.

"Carácolis, esse post não faz sentido. Que blog ruim!"

Outra distribuidora à Continental apareceu no mercado com um monte de títulos do Ozu até então indisponíveis. O meu protesto, agora. O meu protesto é naturalmente contra o preço: R$44,90. Quarenta e quatro reais e noventa centavos por uma capa cujo, pff, projeto gráfico perde pra mim no Word Art. Quarenta e quatro reais e noventa centavos por legendas revisadas pelo Camarada Disléxico. Agora eu começo a gritar “QUARENTA E QUATRO REAIS E NOVENTA CENTAVOS!”:

- QUARENTA E QUATRO REAIS E NOVENTA CENTAVOS!

- Com licença, senhor. Algum problema?

- Quem é você?

- Eu sou um guardinha qualquer passando casualmente que ouviu o senhor gritando. Algum problema?

- Na verdade, sim. Na verdade, agora são dois. Primeiro que R$44,90 é caro demais pra um DVD da Continental; e segundo, que é inverossímel um guardinha me parar para saber se eu tenho algum problema. Aqui não é a Inglaterra.

- Nesse caso, o senhor está sugerindo que minha validade ôntica deveria ser abjudicada?

- Se o senhor coloca nesses termos..., sim.

- Naturalmente, posso colocar nesses termos e em muitos outros, desde que os esclareçamos previamente. Acho melhor chamarmos Martin.

- Quem?

- Martin.

- Mas quem seria esse Martin?

- Ele é meu primo e FILÓSOFO ALEMÃO.

- Não, peraí. Não precisamos envolver um FILÓSOFO ALEMÃO nisso, não é pra tanto.

- Senhor, devo dizer que, antes de guardinha cuja individuação ontológica é contestável, sou um homem. E minha honra foi maculada, o que exige retratação imediata.

- Nesse caso, eu também chamo Martin.

- Então, eu chamo Martin e Theodor.

- Então, eu chamo Martin e Gwyneth.

- Mulher não pode.

- Gwyneth não é nome de mulher.

O primo Martin em Sussex.

(Intermezzo. O senhor Heidegger, Martin, que podemos ver junto à entrada de uma rica residência no condado de Sussex (desde que ingleses geralmente moram em Sussex), toca a campainha e espera, checando papéis dentro de uma pasta preta. Um cavalheiro abre a porta; vejamos – sim, trata-se do senhor Martin, Chris.

Heidegger, Martin, pergunta a Martin, Chris:

- É o senhor Martin? Chris Martin?

- Sim. Pois não?

- Muito prazer, senhor Martin. Sou Martin Heidegger. O senhor me concederia alguns minutos? Tenho algo a dizer que certamente lhe interessará.

Nisso, a senhora Martin, a.k.a. Gwyneth Paltrow, grita lá de dentro: - Quem é?

- Martin Heidegger, querida – responde o músico, submisso.

- O nazista?

- Não, o filósofo alemão – envergonhado, volta-se para Heidegger: - Desculpe minha esposa, senhor Heidegger. Mas é interrompido novamente por Gwyneth: - Isso mesmo. Ele era nazista.

Chris Martin, muito embaraçado, continua desculpando-se a Martin Heidegger, que procura tranqüilizá-lo:

- Não é nada. É um erro comum.

- Entre, por favor.

Os dois cavalheiros se dirigem para a sala, e Martin, Chris, convida Heidegger, Martin, a sentar-se no sofá fofo que a senhora Martin acabara de adquirir. Simpático, o filósofo comenta: - Muito confortável este sofá.

- Obrigado, senhor Heidegger. Gostaria de beber algo?

- Suco de goiaba, por favor.

- Querida, poderia nos trazer uma jarra de suco de goiaba?

A senhora Martin vem da cozinha receber o convidado: - Olá, sou Gwyneth Paltrow. Martin Heidegger levanta-se e a cumprimenta.

- Além do suco, o senhor gostaria de mais alguma coisa?

- Não, muito obrigado – ela sorri e se vai.

- Mas o senhor dizia... – retoma Chris Martin.

Fim do Intermezzo.)

- É, sim. Gwyneth é nome de mulher.

- É nada. É nome de coisa. Tipo, uma sacola de gwyneths.

- Ah, é? Bom, então além do Martin e Theodor, eu chamo o Schlegel.

- Se você acha que isso vai adiantar, então eu chamo o Owen Wilson. Sempre quis chamar o Owen Wilson pra alguma coisa.

(...)

- Tá, são onze contra onze. Os seus onze FILÓSOFOS ALEMÃES contra os meus onze.

***

Pessoal, esta situação é meramente ficcional, e eu e esse guardinha somos apenas personagens de um post de blog chumbrega. Mas estamos aqui para conscientizá-lo do perigo das chamadas pretensões intelectuais. No fundo, no fundo as pessoas gostam mesmo é de futebol. Isso explica por que a ignorância é a maior multinacional do mundo, como dizia o Chacrinha. Não usem drogas, não fumem maconha, não leiam Nick Hornby, a vida passa depressa. E camisinha sempre.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Gênio de Michael Bay - Parte 1 - A Rocha e Antígona


Uma direção sempre genial. De filme a filme Michael Bay nos brinda com explosões cataclísmicas, estética maravilhosa, roteiros bens costurados, direção de atores sempre eficiente. Enfim, grandes obras de arte que humilhariam até os nossos velhos amigos helenos barbudinhos. E é justamente aonde nosso grande diretor tira as idéias para suas melhores peças cinematográficas; afirmo, pois, foi onde o garoto Benjamin passou suas tardes no gramado da sua casa: lendo. Da costa ensolarada da Califórnia todos seus amiguinhos divertiam-se na praia enquanto ele transitava sua mente pelas maiores peças clássicas gregas e justamente Antígona foi a influência de sua primeira obra de destaque: A Rocha( The Rock [1996]).

Logo no início a trama prende o espectador, não se sabe o que acontece direito, nem mesmo o que vê, mas já se anucia a ação que vingará mais breve onde as duas frentes se digladiarão: a primeira vem através de militares insatisfeitos, chefiado pelo sempre expressivo Ed Harris, pois muito deles não recebem todas as glórias que merecem, pior, alguns nem são enterrados como americanos já que estavam em missões secretas; a outra representa o governorepresentantes, oriundos dessa parte temos uma missiva composta de Nicholas Cage e "o ex-james bond" Sean Connery: o novato idealista e o velho sábio. O esquema composto por estas duas frentes representa a dicotomia indivíduo/coletivo onde Bay sempre demostra que bebeu da fonte de Sófocles: enquanto Antígona/Ed Harris defende os direitos individuais clamando justiça e do outro lado temos Creonte/Sean Connery afim de assegurar sua sobrevivência e o status quo.


O filme elimina todas as bobagens que contêm as tragédias gregas, optando por uma ação desenfreada e diálogos espertos e rápidos; uma mistura do melhor de John Woo com Quentin Tarantino, mas mantém a principal característica das tragédias gregas, ora o bom e velho banho de sangue quando o desfecho se vislumbra. Uma discussão acalorada, e por sinal, muito condizente com militares desobedientes ocasiona a vitória inesperada de um velho espião e um jovem cdf do FBI contra o melhor das forças armadas. Assim sem nenhum erro de continuidade e um roteiro bem costurado. Benjamin Bay eleva a já velha dramaturgia grega trazendo a atmosfera helênica para o pragmatismo americano, mas com certa sutileza que pouco se percebe tal relação

sábado, 29 de novembro de 2008

Elementos para uma História do High-five

[Prólogo à História do High-five entre os Povos do Ocidente, circa este sábado, à tarde.]

Dentre tantos que já pensaram em escrever sobre tantos assuntos que há, jamais houve quem se interessasse por escrever uma história do High-five, tendo eu pesquisado muito e nada encontrado, o que muito me surpreendeu, se não chocou de fato. Porque o High-five é coisa que precede em valor e importância a muitas outras a respeito das quais, no entanto, muitos livros já foram escritos por homens nobres. Foi pensando nisso que decidi escrever esta história do High-five entre os povos do Ocidente porque, se não há livros, não se poderá ler a respeito de assunto algum, seja lá como for. E porque grandes homens praticaram este High-five em momentos que agora e sempre serão lembrados pelo benefício que trouxeram aos homens, uma história do High-five é a história dos homens que o fizeram para que sem o High-five o mundo não afundasse em discórdia e mexerico. Mesmo havendo quem torcesse o High-five e dele fizesse veículo da injustiça e da opressão, porque o que é bom foi feito mal para que o mal fosse muito pior do que é e se mostrasse sumamente mau, como as escrituras dizem. Mas o High-five, todos o sempre souberam desde que há na terra homens, é paz, justiça, amor, fraternidade, união, igualdade, dancinha, liberdade, e porque é tudo isso é que resolvi escrever e assim garantir que jamais outra vez o High-five seja usurpado pelos homens ímpios que há aos montes.

E para que esta história do High-five seja devidamente composta, achei por bem visitar todos os locais onde o High-five foi feito em momentos decisivos, conforme me fosse possível, e quando não, procurei documentos e testemunhos de outros que porventura testificassem quem e por que fez o High-five em qualquer circunstância que me parecesse importante que o tivessem feito, e dessa maneira conferir por mim mesmo a veracidade do High-five. E é nesse grande espírito que é o do High-five que dou fé de que o que aqui vai escrito não é só verdade, como também não mente, e se o faz, é por engano meu; e por isso peço que quem o note o corrija, porque isto me será bem, e não mal, para que o High-five seja conhecido como deve ser, não só aqui, mas em toda a parte em que é feito, e mesmo onde não o é, para que assim passe a ser, e faça o seu bem conforme é.

***


Também o High-five pode ser vítima da institucionalização, esfacelando-se seu espírito de celebração democrático e fraterno. A alegoria imperial nazifascista, tirada diretamente à mente do Führer, sabidamente fascinado pela Antiguidade Clássica, apropriou-se do já apropriado High-five romano. O nazifascismo só se beneficiou em sua mística com o ancestral apelo do cumprimento, cuja origem é incerta, remontando à Palestina abraâmica.


Churchill era adepto do hoje ultrapassado High-two, de natureza aristocrática (note-se que não há contato físico). Não podia imaginar ele que o High-two seria descaracterizado justamente pelo movimento hippie. Imagem oportuna para lembrar que o estabelecimento do High-five contemporaneamente não se fez sem a concorrência de um sem-número de gestos a que, embora exercendo perfeitamente seu papel comunicativo, falta a energia e riqueza simbólica do que se tornaria uma postura face à vida, transcendendo o mero cumprimento.


A recuperação do pequeno Timmie sem dúvida alguma não seria possível sem o suporte terapêutico do High-five, como a comunidade médica vem experimentando com sucesso cada vez maior entre os mais diversos pacientes.

Nesta ilustração extraída de um manual de medicina, ensina-se como fazer o High-five corretamente, de modo a não lesionar qualquer músculo ou prejudicar a coluna, obtendo um efeito eufórico pleno.

A grande influência do High-five sobre a cultura pop. Neste episódio de Seinfeld o High-five é recontextualizado e apresentado como sinal de parvoíce, imbelicidade, inépcia, obtusidade. Era a consagração do personagem David Puddy, intepretado por Patrick Warburton. Nada mais afinado com o espírito democrático e aberto do High-five que a sátira social inteligente.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mallu Magalhães e Marcelo Camelo - Uma Farsa em dois atos

Folsom Prison Blues

Ato Um: Samba a Dois

Mallu Magalhães chega em casa. Marcelo Camelo está sentado no sofá, ouvindo um disco velho do Weezer no último volume. Mallu não reconhece a banda, mas nota a sonoridade pesada e as melodias babaquentas. Curiosa, resolve perguntar:

Mallu Magalhães: -Ouvindo rockinho, hein, amor? E a sua procura pelas raízes da música popular brasileira? Achei que você estivesse em outra.

Marcelo Camelo: -Faço o melhor do que sou capaz, só para viver em paz

M.M: -Essa capinha azul... nossa, é o blue album, do Weezer! Quando esse disco saiu, eu tinha dois anos de idade, né? Eu realmente estou estranhando, achei que você tivesse amadurecido essa coisa emepebista dentro de si, que tivesse deixado a sua fase ska-roqueira no passado, mas pelo jeito, está tendo um ataque de nostalgia, né?

M.C.: -O mal vai ter fim, e no final assim calado, eu sei que vou ser coroado rei de mim.

M.M: -Ah? Bebeu de novo, amor? Se o meu pai souber... já foi difícil convencer ele que seria uma boa idéia namorar um barbudão com o dobro da minha idade e sem muito gosto para banhos e outras ferramentas de higiene pessoal, mas isso ainda... Olha, eu sei que o seu álbum solo está sendo malhado, o meu elogiado e o do Amarante com o cara dos Strokes também, mas isso não é motivo para desespero. Não é porque você se enfiou nessa persona "compositor quietamente angustiado das bossas-ressaquentas-contemporãneas" que significa que está num beco sem saída. Entende?

M.C.: -Dá-me luz, ó Deus do tempo, dá-me luz.

M.M. -Eu estou te entediando com essa conversa, né? Eu sei que não sou muito madura. Mas olha, se você quiser, eu posso fazer uns desenhos nossos! É, seria legal, desenhar eu e você barbudos, com pêlos em baixo dos braços, essas coisas que fazem a sua cabeça! O que você acha?

M.C.: -Tiro sarro só pra ver se eu consigo despertar o seu amor. Deixa estar.

M.M.: -Ah, eu sabia, amor! Você estava apenas de brinks! Olha, deixa eu pegar o meu violãozinho, você ai com o seu, ai você desliga esse disco feio, que nós vamos compor juntinhos! Já tenho um teminha, mesmo sabendo que você não gosta de compor em inglês, seria algo como "My Beard Love"! O que você acha da idéia?

M.C.: -Eu que nunca amei ninguém, pude, então, enfim, amar! Vai!

M.M.: -Está me mandando embora, môr? Quer saber de uma coisa? Cansei! Fica com a sua melancolia roqueira, que eu vou embora! Fui!


É de lágrima



Ato 2: Tchubaruba

Marcelo Camelo está sentado na varanda de casa, esperando notícias. Enfim, depois de uma espera angustiante, o telefone toca.

Marcelo Camelo: -Olá, amor! Desculpe pelo meu comportamento naquele dia, estava de pá virada. Olha, eu adoraria passar ai na sua casa, se você e os seus pais não se importassem, logicamente. E ai, posso?

Mallu Magalhães: -If you come over i will say tchubaruba

M.C.: -Ok, já entendi, você está se vingando de mim. Isso não é uma atitude madura. Sei que você tem apenas 16 anos, mas espero ensinar você sobre certos aspectos no seu comportamento que denotam uma clara e sensível falha emocional. Vamos crescer juntos?

M.M.: -Well i have to try again. Say papapapapaaaa, for you to understand.

M.C.: -Ok, eu estou bem hoje. Estou muito paciente, com um astral muito bom. Por isso, sinto que tenho toda a neutralidade e calma para poder voltar a dizer que, sim, estou muito incomodado com esse seu comportamento. Nós não podemos responder a comportamentos errõneos daqueles que amamos com uma sublimação tão desproposital. Entende?

M.M.: Old, old sissy, tries, tries, tries, i know he can't.

M.C.: -OK, agora chega! Já deu, mina! Eu era um Los Hermanos, eu apanhei do Chorão, mas eu sou macho! Se o seu pai não te educou, é a minha vez, moleca! Respeite a minha barba! Fala comigo, MORENA! Fala comigo! Diz pra mim, diz! Moleca malvada! Sem criancices, se não faço contigo o que o Dado fez com a Luana!

M.M: -Uhm...Me tá subindo uma coragem... levantar minha bandeira, de tão simples tecelagem.

M.C.: -TALK TO THE HAND!


Dromedário cala. Pena.

Obs: Esse texto é dedicado aos proletariados do sul. Viva o Rio Grande. Viva.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Educativo, apenas:

Mas deixa eu me mostrar antes que as festas venham a me constranger a ser bonzinho, abandonar o estilo arrevesado e passar a escrever como jornalista, isto é, murchinho e acessível, com listas de lugares aonde você pode ir comprar os ingredientes pra uma ceia de Natal bem baratinha e gostosa.

O Word é tão inteligente que sabe o que quer dizer “capitulo”. Tanto que quando eu, que sou bem mais simplesinho que o programa, quero dizer “capítulo”, mas me esqueço de acentuar a proparoxítona, ele fica quietinho, imaginando que eu na verdade quisesse dizer que capitulei. E capitulei mesmo.

A seguir, cenas do próximo capítulo:

Em que tento lhes explicar por que Igor Stravinsky é absolutamente necessário para entender quem somos.



Aqui temos o primeiro link (ah, os precedentes que abro) do YouTube deste blog (porque aprecio pioneirismos), sob protestos apaixonados de todos quantos sempre nos viram como um blog arte, praticamente artesanal e resistente a modinhas, com nojo de Orkut e tudo. Mas descobri o prazer de ver concertos e balés pelo YouTube. E o link é necessário e justificável, uma vez que nenhum de vocês, saudáveis e filistinos, sentirá o mínimo interesse por ver um balé que inaugurou a música moderna, sabe, David Bowie, pós-punk, Britpop.

Trata-se da tentativa pelo The Joffrey Ballet de reconstituir a estréia da Sagração, com coreografia de Nijinsky e cenários de Stravinsky.

A Sagração da Primavera é a música da catástrofe que no ano seguinte se iniciaria com a Primeira Guerra Mundial e que até hoje não terminou, porque finalmente compreendemos, graças a Stravinsky e ao século XX, que a civilização é um adiamento cada vez menos eficaz e convincente de um fim prometido desde o início.

O balé de Stravinsky é a imagem exata do legado do século XX à história subseqüente. A saber, a consciência da catástrofe e um sentido histórico que não é senão uma escatologia. Já não podemos ignorar que sempre estivemos e que sempre estaremos a caminho do desastre. Não é pessimismo, contudo. Pessimista seria dizer que as coisas já foram melhores. É necessário dar ouvidos a Benjamin e rejeitar progresso e decadência, conceitos que se implicam. O que existe é a miséria na qual temos vivido muito bem. Mas que ainda é miséria. E a ruína completa é sempre iminente.

Sensibilidade moderna, de que todo artista deve ser dotado para de fato ser um artista, é isso. E por isso todo político honesto, por mais inteligente que fosse, seria burro: ele quer mudar o mundo, ele acha que pode. Que é só uma hipótese o tempo verbal empregado deixa claro.

Mas não existe redenção. Neste ponto, discordo de Benjamin. Redenção é algo anistórico. Significaria, de fato, o tão falado fim da história. Jesus descendo em glória com seus anjos para julgar a humanidade.

Aliás, o Richard Dawkins que me ler certamente me lançará em rosto o inconfessado estofo cristão dessas considerações. XP



E aos quarenta e cinco do segundo tempo, enfim a beleza. Não, não Hilary Hahn.

Aqui, puro impressionismo meu. Em seu Concerto para violino #1, Prokofiev manifesta o embate entre a emoção intelectualizada, tipicamente moderna, e o arrebatamento senão pela retomada da tradição melódica popular, freqüentemente folclórica.

O segundo movimento disseca essa tradição, cuja melodia é mutilada, servindo suas partes a um procedimento comum aos modernos. Trata-se de destacar o detalhe e torná-lo maior que o todo, provocando o efeito do grotesco recorrente nas obras. Operação que é responsável pelo caráter intelectual da poética moderna. Tanto que a concessão ao belo clássico, o belo por excelência, ocorre apenas a custo de uma elaboração que o argumente. Na peça de Prokofiev surge senão aos dois minutos do último movimento, sob muitas ressalvas. Daí esta definição: É moderno tudo que se veja obrigado a justificar a beleza.

Mais um pouco de arte, agora:


Aqui temos um palhaço fumando num café. É um quadro de Hopper de um palhaço fumando num café. Próximo slide.


Sim. Podemos ver que Yeats tinha mesmo, além do nome, cara de literato. Um homem com essa fisionomia certamente haveria de consolar velhotas com poemas imortais.




Por fim, Vanessa Carlton ao vivo, “A Thousand Miles”, que é absolutamente emocionante, absolutamente apaixonante.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

O que ando lendo - Um pouco de quadrinhos

Há tempos que não falo de quadrinhos nesse espaço. Lembro de promessas não cumpridas, resenhas fracassadas, enfim, todos meus projetos de tornar este blog talvez algo que se comprometesse mais com o universo da arte sequencial.

Deixando as mágoas pessoais de lado, consegui, depois de muito esforço, escolher alguns
quadrinhos bem curiosos que ando lendo. Algo de bom gosto, na pior, pelo menos, meu gosto.

Planetary - De Warren Ellis e John Cassaday
Imagine um quadrinho onde os protagonista estão a procura da história secreta do mundo, essa busca é realizada por seres com algumas habilidades sobre-humanas e tais seres, no decorrer da saga, se deparam com situações que remetem a vários elementos da cultura pop do século vinte: de personagens de histórias pulps, teorias de física surreais até personagens bem conhecidos. Inclusive, os vilões da trama, são inspirados no Quarteto Fantástico.

Apresentados os clichês e um pouco da trama pode-se imediatamente pensar que dessa história não se tirará muita coisa, nada muito interessante. Pelo contrário, Ellis é competente no andamento da narrativa: cada elemento da grande trama é apresentando cuidadosamente, lembra um jogo de xadrez onde o embate final dos protagonistas contra os Quatros(os personagens inspirados no Quarteto que são os grandes vilões) é, num dado momento, eminente, e como tal, anucia-se como grande motor do enredo e o desfecho da obra.

Planetary foi publicado por duas editoras no Brasil: a Devir publicou dois encadernados que ainda estão em circulação e abrange os 12 primeiros números. O resto do material foi publicado pela Pixel na sua revista mensal Pixel Magazine até a número 14 da mesma revista.

DMZ - De Brian Wood e Ricardo Burchielli
A Colômbia enfrenta uma guerra civil; as Farcs e o governo vigente travam uma batalha espaço por espaço, uma batalha minuciosa pelo território colombiano e o mais importante nele: os civis que tentam levar um vida normal em meio ao caos da situação bélica.

Agora vamos aumentar esse exemplo; transportando uma guerra civil para o coração do Estados Unidos da América e a Ilha de Manhattan como uma zona desmilitarizada, palco das ações da trama. Temos de um lado os exércitos do Estados Unidos; de outro, os Exércitos Livres, uma milícia que funciona como uma idéia e não apresenta um centro passível de ser aniquilado pelo exército americano, contudo o avanço da milícia foi barrada em New Jersey. No centro desse impasse temos uma ilha de Manhattan habitada por 400.000 pessoas que ficaram depois da evacuação da ilha.

Matthew Roth, aspirante a jornalista, se depara com esse universo caótico e devido a eventos acidentais será a fonte de notícias para aqueles que ainda são americanos. O autor, inclusive, trabalha muito bem com o cotidiano das pessoas que tentam sobreviver em DMZ; um ponto forte da obra: ao mesmo tempo que somos apresentados a lugares que conhecemos(pelo menos em fotos) completamente modificados, a civilização yankee que conhecemos modificada pela guerra parecendo um terra de ninguém de fazer inveja a muitos filmes apocalípticos; ele traça a evolução do próprio protagonista durante o percurso, pois ele é obrigado a tomar decisões éticas e morais muito difíceis para sobreviver e continuar escrevendo as notícias sobre DMZ.

DMZ é publicado pela Pixel na Revista Pixel Media.

Y: The Last Man - De Brian K. Vaughan e Pia Guerra
Os seres com cromossomo Y foram exterminadas da face da Terra. Além de quase 50% da população humana estar extinta, muitos cargos e funções vitais para a sobrevivência da humanidade eram redutos quase exclusivo dos homens. Contudo, e para infelicidade de algumas mulheres, sobrou um ser do sexo masculinio: Yorick Brown. Na verdade dois, ele e seu macaco de estimação Ampersand.

Por enquanto, pelo menos o que foi publicado pela Pixel na sua pérola Pixel Media, temos Yorrick, auxiliado pela única agente mulher da Culper Ring afim de tornar possível a reabitação dos homens na Terra enquanto é perseguido pelas amazonas(sim, elas tiraram um dos seios) e também por outras radicais(que permanecem com os gêmeos intactos).

Uma conclusão, se possível.
Além do espaço de publicação comum, pelo menos aqui, esses quadrinhos compartilham um mesmo universo de referências; trabalhando com elementos da cultura pop de maneira coesa. Não só colocando referência atuais como construindo outras através desse processo. Os autores são pessoas bastante modernosas, inclusive eles tem blogs pessoais e até, pasmem, twitter. Quem sabe após dar um olhada, nem que seja via pdf ou jpeg nesses quadrinhos, quem sabe se não vai encher o saco dos autores com perguntas específicas sobre episódios particulares? Isso me lembra outra referência e uma outra história em quadrinhos, mas esta fica para outro post.

Um pouco mais, talvez?

sábado, 8 de novembro de 2008

Barack Obama: Discurso da vitória

Discurso da vitória do senador Barack Obama, proferido esta semana, em Chicago, Illinois.

Neste fim de semana, esta nação [This nation] fez uma de suas mais importantes escolhas. Tinha diante de si a tarefa de dizer que tipo de país é este. A tarefa de decidir, de uma vez por todas, que tipo de país quer ser. E esta escolha, que definirá não só o futuro deste povo, mas o futuro de todos os povos, esta escolha foi feita. E como me alegro em dizer que não poderia ter sido mais sensata nem mais brilhante.

"High Schooool..."

High School Musical 3 – Ano da Formatura bateu Jogos Mortais V nas bilheterias. Quando o primeiro episódio de Jogos Mortais foi lançado, em 2004, creio que todos se lembram do tamanho da comoção que causou. Naquela época, era impensável o que hoje testemunhamos: que a esperança e o otimismo de High School Musical levasse mais pessoas ao cinema que a desesperança e o pessismismo de Jogos Mortais.

Que a vontade de mudar [change] nossas vidas triunfasse sobre nossa culpa e nosso medo. Que a doce mensagem de que devemos ser nós mesmos e de que, só assim, seremos felizes fosse, afinal, mais eloqüente que todos os nossos acusadores, que diziam que não éramos capazes de ser melhores. Que não poderíamos mudar [change].

Porque o sucesso da série Jogos Mortais é senão mais uma prova de que este país era prisioneiro da culpa e do medo. De que estávamos tão confusos e desesperados a ponto de aceitar a ajuda de qualquer um. De que simplesmente não conseguíamos nos libertar dos erros que havíamos cometido. Jigsaw representa nossa enorme culpa e a necessidade que tínhamos de nos punir. Estávamos envergonhados de ser quem éramos. Estávamos envergonhados de ser americanos.

Mas se erramos, estamos arrependidos. Se nos enganamos, finalmente o reconhecemos. Porque somos americanos. Somos um povo que, por mais enganos que tenha cometido, jamais perdeu de vista a liberdade e a justiça como objetivos. E hoje finalmente nos reconciliamos com estes valores. Deixamos a culpa e o lamento para trás. É hora de agir. É hora de mudar [change] as coisas. Porque esse é o tipo de país que somos, um lugar onde ainda existe perdão para todos.

Jigsaw, não precisamos mais de suas lições. Não somos mais as pessoas que um dia precisaram de suas lições. Jigsaw, dispensamos seus métodos, sua tortura e seu moralismo. Esta nação tem uma nova consciência e, portanto, novos professores. Finalmente percebemos que não é por violência e coação que corrigiremos nossas falhas e superaremos nossas limitações. Não, a única maneira de conquistarmos tudo aquilo que sempre sonhamos é ouvir a mensagem de High School Musical.

Troy, Gabriella, Sharpay, Ryan e Chad representam a América que decidimos ser quando fomos ao cinema ver High School Musical 3 – Ano da Formatura. Uma América em que as diferenças já não podem mais nos separar. Uma América em que os sonhos são respeitados e realizados. De fato, uma América que é feita justamente destes sonhos. A única América que sempre existiu.

Minhas filhas Sasha e Malia são fãs de High School Musical. Um dia, quando elas assistiam ao filme pela décima vez – eu tinha de colocar o DVD para elas, por isso sei que foram dez vezes, eu contei –, perguntei do que elas mais gostavam em High School Musical. E sabem o que elas me responderam? Não eram as músicas, as coreografias, Zac Efron ou o cabelo de Ashley Tisdale. Elas me disseram que gostavam das pessoas. E eu perguntei “como assim, das pessoas?”. E Sasha se apressou em explicar que gostava do modo como as pessoas eram felizes, porque não tinham medo de ser quem eram.

Nós, pais, nos comovemos com qualquer coisa que nossos filhos fazem ou dizem, porque sabemos que não são bobagens. Mas naquele momento eu fiquei comovido não como pai, mas como ser humano. Minhas filhas haviam entendido a mensagem de High School Musical. Uma mensagem que eu demorei anos para compreender.

Vocês já ouviram falar da minha busca por uma identidade. E de como, confuso e irresponsável, eu me envolvi com drogas, na juventude. Mas minhas filhas, ali sentadas do meu lado no sofá, vendo um filme da Disney, tinham a oportunidade de aprender uma lição que havia me custado tantos erros, tanto sofrimento. Por isso, reconheço, por experiência própria, a importância e a verdade da mensagem de High School Musical.

Precisamos ser quem somos, porque somos grandes, somos capazes, somos melhores. Sim, nós podemos [Yes we can].

Troy, Gabriella, Sharpay, Ryan e Chad demonstram a coragem que nós teremos de demonstrar de agora em diante para assumir todos os riscos e sacrifícios que a realização de nossos maiores e mais belos sonhos exige. Neste terceiro episódio da série, os personagens vão se formar. É o momento da passagem da vida escolar para a vida adulta. É o inevitável processo de amadurecimento, no qual nós também nos encontramos e no qual – agora eu vejo – finalmente avançamos.

Não é a graça de Vanessa Hutchens, irresistível como a de Ginger Rogers, nem o charme de Zac Efron, comparável ao de Gene Kelly, que nos levaram aos cinemas; mas a mensagem de que, sim, nós podemos [yes we can].

Com Troy, Gabriella, Sharpay, Ryan e Chad, nós também amadurecemos. Nós também vencemos nossos medos e realizamos nossos sonhos. Já não precisamos ter vergonha de ser quem somos e querer o que queremos, porque hoje sabemos que estamos no caminho certo. Porque, sim, nós podemos [yes we can].

Obrigado. Que Deus os abençoe. Que Deus abençoe os Estados Unidos da América.

Tradução: Camarada Fundamentalista.