sábado, 19 de julho de 2025

DISCOGRAFIA COMPLETA DA BANDA PHIR JAMAH

Uma das bandas mais seminais do meio alternativo completa 25 anos. Formada na Escola Técnica Getúlio Vargas, no já longínquo ano de 2000, a banda Phir Jamah vem assombrando o meio alternativo brazuca com seu grunge bem brasileiro, carregado de crítica social, recusando de sobremaneira a sair da filosofia. Esses moleques-adultos, que adoram rimar amor com dor, terão toda sua discografia analisada, para comemorar esse marco tão importante.

 

A Pipa Virou Reflexão – 2000 



As faixas do disco eram: 1- Começou de Novo; 2- Atlântica da Nostalgia; 3- Jorge do Mercado; 4- As Luzes Sem Ribalta; 5- Eu Te Amo Pra Cacete; 6 – Dó de Nietzche (Super-Homem em Reverso); 7-Você e o Padre; 8 – Alegria do Arlequim em Ré Menor;  9-Mais Tarde o Pranto; 10- Quase Sem Querer (cover da Legião Urbana).

O disco, que lançou o desafio tipicamente Phir Jamahniano de combinar o peso de guitarras distorcidas com o suor dos instrumentos de percussão e xilofones característicos, tomou de assalto o mainstream pop-rock do país. O primeiro hit foi Eu te Amo Pra Cacete, cujo clipe, que contava com um casal fazendo uma road trip (viagem pé na estrada) pela Chapada Diamantina a bordo de um fusca, explodiu no país todo, com seu inesquecível refrão “como pode eu te amar tanto pra cacete assim, você que está em todos os lados e eu que sempre estou dentro de mim”. A música foi tema da novela Laços de Família e puxou o carro para o resto do disco. Em seguida, veio o sucesso da cover de Quase Sem Querer, que causou controvérsia pelo fato da banda, que sempre adotava um discurso vanguardista e prafrentex, aceitar seguir uma tendência constante do pop-rock brasileiro na época, que era de chupinhar o legado de Renato Russo em troca de espaço nas rádios. 

O vocalista e vanguardista RL deu a seguinte declaração na época, defendendo a atitude da banda: “- O Renato é sequência e consequência, então entra no conjunto de possibilidades verticais da banda, no discurso biológico desse organismo chamado Phir Jamah”.  O terceiro hit foi Começou de Novo, basicamente um pop-punk versando sobre as aspirações comerciais da banda e o amadurecimento de seus integrantes. Nas palavras de RL: “-A gente não era sapo como o Silverchair, mas éramos o menino procurando sua pipa e encontrando o mundo”. Os críticos receberam a banda e o álbum de maneira morna, com uma crítica em particular, de uma revista de música, afirmando que “essa merda de disco veio para provar que certos músicos deveriam ater-se às privadas de suas casas imundas”.

 

Comoção Urbana – 2002 



As faixas do discos eram: 1- Proto Humano; 2 – Diadorim; 3 – Você Sente Vergonha da sua Dor; 4- Maior que Eu; 5 – Massas Hiperbólicas; 6- Tem Amor na sua Panela; 7- Todos Estão Ouvindo; 8- Phir Jamah e seu Deus; 9- Rambo da Classe Operária; 10 – Pensei em Você e Lembrei de Pasolini; 11 – Phir Jamah Olhando Para o Espelho (cover de Man in the Mirror, de Michael Jackson)

Sucesso de vendas e repercussão e desastre de crítica, o álbum continua controverso até os dias de hoje, com sua mistura ousada e bizarra de temas sociais com pretensões mercadológicas e radiofônicas. O maior hit foi “Maior que Eu”, balada com guitarra preguiçosa e desafinada e cuíca chorando que conquistou o país, sendo parte da trilha sonora da novela O Clone. O refrão “eu tô com essa dor/ essa dor que é maior que eu” e o climão de banda tocando baladas de amor em bar à beira mar conquistou a nação. O segundo hit foi a pesada Massas Hiperbólicas, na qual a banda “clama por uma revolução de chinelos contra o status quo e as incertezas do planejamento urbano”, algo que estava escrito no release do disco. O refrão “nós vamos descer para o asfalto/pirambeiras com pedras rolando/a sua cabeça rachada com meu contralto/ o sangue derramado e você ouvindo Wando” virou piada para toda a mídia especializada, mas conquistou o coração dos roqueiros complicados e perfeitinhos da época. A crítica social do disco também não passou desapercebida, com um crítico de um caderno de música de um jornal afirmando: “a crítica social das letras desse disco possui a mesma consistência das obras de arte que deixo nas porcelanas dos banheiros por aì”, algo que reforça mais uma vez o fato constante de críticos associando os discos da banda com retórica verborrágica fecal. O último sucesso foi a bizarra cover de Man in the Mirror, de Michael Jackson, intitulada “Phir Jamah Olhando no Espelho”. O vocalista, vanguardista e prosateiro RL declarou na época sobre a cover: “se você sentar na cadeira e pensar, você vai perceber que Michael promove autocrítica com a canção, e aí nós como banda também nos sentimos na obrigação de olhar para o mesmo espelho e berrar que o problema está EM NÓS, NO PHIR JAMAH” (RL proferiu as palavras em berros, por isso a caixa alta).

 

Revolução Amável do Amor – 2005 



As faixas do disco eram: 1- Eu Amo Você Com Toda a Tristeza do Vazio Existencial no meu Coração; 2 – O Doce Champagne que Você Jorra na Sua Boca não Vai Apagar a Culpa que Tira o Seu Sono; 3 – Criaturas Apaixonadas; 4 – Você Quer Sexo mas não Entende Que Estão Todos Fugindo de Você; 5 – Ainda Que Ande Pelo Vale das Sombras Eu Recusarei a Culpa pelo Assassinato Da Sua Reputação; 6 – Vem para a Praia; 7 – De Preto Você Conquista Tudo; 8 – Amor no Supermercado (Corações no Carrinho, Mentes em Balões); 9 – Vingança Contra Todos que Atiraram nas Pernas da Minha Liberdade; 10 – Eu Escrevo sobre Pecados, Não Tragédias (cover de I Write Sins Non Tragedies, do Panic! At the Disco)

 

E do nada, o Phir Jamah resolveu abraçar o emo. A banda caiu de boca no movimento, com figurinos típicos do gênero e uma total mudança de vibe. O choque foi geral, com críticos mostrando preocupação com o estado mental dos integrantes. O vocalista, vanguardista, prosatista e polemizador RL defendeu a escolha da banda com a seguinte declaração: “o emo veio e mostrou para o Phir Jamah que nós estávamos todos tristes com tudo o que tem e existe no mundo. O emo abraça a dor, o emo cria a matéria do sofrimento coletivo e desfere golpes na consciência do eu isolado, esmagado pelas forças vetoriais que emergem por todos os lados”. Os integrantes adotaram uma postura pública bem aproximada do movimento também, participando de eventos de mídia com cabeça baixa e uma aparente depressão e desinteresse. Sobre as músicas, nenhuma foi um hit, algo que acendeu o alerta vermelho na gravadora. Somente Criaturas Apaixonadas fez um buzzinho (barulho), com seu refrão “amar é ser um monstro/atacando seu coração/mas quem cai de verdade sou EUUUUUUUUUU”. A mesma crítica de uma revista que massacrou o primeiro disco soltou o seguinte review (crítica): “ouvir esse álbum te leva a questionar toda a raça humana. Se um grupo de seres humanos é capaz de cometer junto um crime como esse, então seria melhor nós sermos extintos e os dinossauros tomarem conta de novo. Duvido que cinco dinos juntos produziriam uma merda dessas”.

 

Trovões Cibernéticos – 2007 



As faixas do álbum: 1- Abertura dos Portais (Desfile das Almas); 2- A Nova Cria do Imperador; 3 – Johnny Thunder e suas Galochas de Couro; 4 – Despertar de Osíris – Parte 1: I- Osíris no Palácio; II- Guardas em Revolta; III- Arte nas Balas do meu Revólver; 5 – Povo nas Vielas; 6 – Tragam Nosso Mártir; 7 – Despertar de Osíris – Parte 2: I- Esse Mundo não é Nosso; II- Atravessando o Mar Hexadecimal; III – Canhões e Piras; 8 – Que Caiam as Cabeças; 9 – Meu Nome é JOÃO MARIA; 10 – Canção da Paz (Pássaros Cantando, não Cagando).

Depois do desastre emo que foi Revolução Amável do Amor, o Phir Jamah entrou em seclusão absoluta para conceber e criar um álbum que resgataria a popularidade da banda e ao mesmo tempo traria a crítica especializada para o lado dos garotos da Zona Sul de SP. O resultado foi a Ópera Rock “Trovões Cibernéticos”. Com a ajuda de uma instrumentação complexa e caríssima e muito input (apoio) da gravadora, vimos todos o nascimento da épica história de Johnny Thunder, um rapaz do povo que vivia em um mundo distópico futurista dentro de um reino opressivo. O rapaz acaba eventualmente descobrindo que aquele mundo no qual vivia era uma projeção virtual do verdadeiro mundo, com opositores ao regime e criminosos e crianças com potenciais ligações a rebeldes sendo enviados como punição, vivendo nessa realidade com as memórias do mundo antigo apagadas. Ele também descobre que seu verdadeiro nome era JOÃO MARIA. Ele vira então instigador de uma gigantesca revolução popular contra o sistema, liderando seu povo para destruir os portais que ligavam uma realidade à outra e trazendo todos de volta para o mundo verdadeiro.

Tudo soou complexo demais para o público e mega inconsistente e trêbado para os críticos, que até elogiaram a ambição da banda, mas ressaltando que eles estariam muito fora dos seus elementos para conseguir escapar com algo tão complexo assim. Um crítico de um jornal não poupou palavras: “eles estão achando agora que são o The Who? Para criar uma ópera rock decente esses pobres integrantes dessa merda de banda deveriam antes aprender como usar a descarga. Cada passo de uma vez”.

O projeto previa também um espetáculo teatral, um filme e até uma possível performance de rua, com tudo isso levando a história para novos caminhos e possibilidades, mas eventualmente a gravadora cortou brutalmente o projeto e forçou os integrantes a venderem as músicas como um álbum normal. Nisso, eles até conseguiram encaixar um hitzinho (sucessinho) com Canção da Paz (Pássaros Cantando, não Cagando), que virou trilha da novela Os Mutantes, da Record.

 

Deserto da Imaginação (ÁLBUM 5) – 2010 



Faixas do álbum: 1 – Calvinistas, Graças a Deus; 2 – Amor não Vai Pagar a Escola dos seus Filhos; 3 – Impostos Sobre a Alma; 4 – Força-Tarefa Alfa Masculina; 5 – Da Pesca vem a Fartura (Iates da Imaginação); 6 – Amor é Parceria (Casas para o Céu); 7 – Homens e Mulheres ; 8 – Papai Não Dê Sermão (versão de Papa Don’t Preach, de Madonna)

Depois do fiasco da Ópera Rock, rumores começaram a voar falando sobre o possível fim da banda. Inspirado, porém, pelo movimento neoconservador, o vocalista, vanguardista, prosatista, polemizador e galvanizador RL deu a seguinte declaração: “o Phir Jamah não vai acabar, porque temos de ensinar o povo a pescar”. Rumores também circularam sobre a possível entrada de RL em um culto, algo que nunca chegou a ser confirmado. Nisso, a banda lançou em 2010 o disco Deserto da Imaginação (ÁLBUM 5). O álbum chocou na época o status quo ao defender posições econômicas e sociais mais conservadoras, afastando a banda do esquerdismo combativo característico. Foi mais um massacre da crítica, então, culminando na horrenda cover de Papa Don’t Preach, que fez a banda ser acusada de ser contrária ao aborto. RL declarou na época o seguinte: “entre o vazio e a vida, o Phir Jamah vai sempre escolher a vida!”. Protestos de ativistas assolavam os shows da banda, que viu sua na época já velha e desmotivada fanbase (base de fãs) perder totalmente qualquer entusiasmo pela banda. O fim se aproximava.

 

Incubadoras de Adultos de Proveta – 2013 



Faixas do Disco: 1- Humano, Demasiadamente Humano; 2 – Eu Te Amo Pra Caramba; 3 – Twitter é Pra Gente; 3 – Acabou a Pesca (voltamos, Marx); 4 – Desculpas pela Obra; 5 – Pedreiros sem Amor; 6 – Você Veio do Passado; 7 – Desespero, Dor, Vigilância; 8 – Não Pode Ser o Fim; 9 – Caindo de Pé (É o Fim); 10 – Construção (cover de Chico Buarque de Hollanda)

Último álbum lançado pela banda, Incubadoras de Adultos de Proveta foi o epílogo, o fim de uma era para esses rapazes tão perturbados e perturbadores. Embora soe como um álbum conceitual, a banda jamais assumiu em público se as faixas eram conectadas ou não. O vocalista, vanguardista, prosatista, polemizador, galvanizador e cronista RL declarou o seguinte: “Se é álbum com conceito, com ideia ou não, aí vocês decidem, porque o Phir Jamah tá cansado”. O álbum também claramente pediu desculpas pela guinada conservadora do álbum anterior, até de maneira enfática demais, com faixas e faixas pedindo para os fãs esquecerem o passado. O cenário musical também tinha mudado horrores desde que a banda surgiu no longínquo ano de 2000, algo que RL jamais deixou de se mostrar espantado: “como vou saber se estamos fazendo sucesso se ninguém mais compra disco nessa porra? Visualização não vai encher nossas barrigas famintas!”. Nenhuma música passou perto de ser hit (sucesso) e o álbum foi rapidamente esquecido. A única faixa que causou alguma repercussão na net (rede) foi a bizarra cover de Construção, na qual uma voz feminina repetia, com apenas um acorde dramático de piano tocando em repetição à exaustão, a seguinte frase: "Foi ao show do Phir Jamah, subiu no palco e morreu, atrapalhando o público". A voz começava de maneira sussurrada e discreta, para aumentar gradualmente de tom, até chegar no fim a um registro gutural e animalesco. Chico Buarque não foi achado para comentar sobre a cover, mas pessoas próximas ao cantor teriam testemunhado a perplexidade de Chico, seguida de supostas idas a terapeutas, talvez para lidar com o trauma de ver sua canção terminando nas mãos de uma banda moribunda. Outra canção muito criticada foi Eu Te Amo Pra Caramba, obviamente uma tentativa desesperada da banda de emular o primeiro sucesso, a icônica Eu Te Amo Pra Cacete. Nas palavras de RL: "alguém culpa a gente por tentar?". A banda acabou então, de maneira silenciosa, um fim que não deixa de soar melancólico e irônico, considerando o barulho e combatividade que a banda exibia quando surgiu na cena. Um crítico não deixou passar em branco, porém, escrevendo em um twit (comentário na rede social) que “o fim do Phir Jamah é o fim dessa odisseia fecal que fez dessa combalida nação uma gigantesca e fedida privada”. Sutil.