quarta-feira, 30 de julho de 2008

Fomos ao cinema

Estética

Cinema 99% do tempo não é arte, mas vale a pena.

Para ser fiel a esta geração, teríamos que admitir que Curtindo a Vida Adoidado é o maior filme de todos os tempos. Qualquer outra conclusão é pura afetação passadista; mais correta, mas mentirosa. Me refiro às listas encabeçadas por Cidadão Kane, etc. Pobres e cegos, é isso que somos.


Vin Diesel revisitado

Operação Babá é mais honesto que Crash. É gratuito e vale pra toda a família. Crash é só gratuito.

Gratuito é tudo aquilo que diz, e não tem como não dizer, “só foi feito para...”. No caso de um filme que coloca o Vin Diesel de babá, “só foi feito para faturar uma graninha com gente que acha engraçado o Vin Diesel dando uma de babá, ha, ha, ha”. E Crash: “só foi feito para discutir, sob um verniz politicamente correto, as tensões sociais na América, criando um mosaico blargh! que pressupõe as contradições humanas e as nuanças intrínsecas ao social blargh-triplo!”.

Velozes e Furiosos é videogame. E Paul Walker é tipo o Zangief, que você tem que ser muito mala pra escolher como lutador. E o Vin Diesel é tipo o Bison, o vilão que a molecada acha legal.

Generalidades

Lavoura Arcaica tem no elenco Simone Spoladore em participações homeopáticas. Infelizmente, porque sua visão é um deleite ao espectador, que tem à frente um filme excessivo, para o bem e para o mal. Selton Mello magrinho, Leonardo Medeiros que é um ator com que simpatizo muito mesmo e Raul Cortez shakespeareano? Bem, não exageremos. A advertência filistina aos filisteus é de que é um filme para quem realmente gosta de cinema, supondo pois que haja filmes para quem não gosta de cinema. Sabemos todos que os tais existem, e em profusão; eu é que estou sendo chatinho ao querer parecer tão sofisticado a ponto de nem mais entender o funcionamento da mentalidade truculenta. Você, meu beócio leitor, esteja portanto avisado.

Em La Dolce Vita Anita Ekberg encarna ironicamente o ideal que redimiria Marcello de sua vida profissional e espiritualmente prostituída. Como todas as demais seqüências do filme, que avança em ciclos, esta se encerra melancolicamente com a negação do glamour de que se cercam as personagens. É o melhor de Fellini, que leva a cabo um filme que em nada deve à melhor tradição dos moralistas franceses, em denunciar a vaidade do mundo e a pusilanimidade do caráter.

Anedota

Robin Williams para Matt Damon, em Gênio Indomável:

“So if I asked you about art, you'd probably give me the skinny on every art book ever written. Michelangelo, you know a lot about him. Life's work, political aspirations, him and the pope, sexual orientations, the whole works, right? But I'll bet you can't tell me what it smells like in the Sistine Chapel.”

Damon fica calado. Alguém levanta no cinema:

“Mas eu sei: cheira a turista suado.”

Imediatamente um rapaz romântico começa a chorar baixinho num canto.

This is ourselves under pressure.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

80 Anos de Kubrick: uma Homenagem



Se não tivesse morrido em 1999, o diretor de cinema Stanley Kubrick teria completado 80 anos no dia 26 de Julho. Uma data tão redonda como essa merece uma comemoração. Então, o destemido Fomos ao Cinema resolveu ir atrás dos maiores diretores vivos, colhendo depoimentos espontâneos dos mesmos sobre a influência de Kubrick no mundo do cinema, e nos seus trabalhos como um todo. As declarações são surpreendentes. E como não poderiam deixar de ser? Com galhardia, docência e uma pitada de combativismo, damos aqui então as opiniões coletadas.

Martin Scorsese


"Kubrick? 80 anos? Que maravilha, que alegria, que data especial! Isso me lembra quando fui fazer o Caminhos Perigosos, e tinha que escalar alguém para interpretar o amigo maluco do protagonista, e eu liguei para todo mundo, e só o Bob De Niro, que eu conhecia de relance das ruas do Bronx - o Bronx, sim, o Bronx- e ele disse sim, e nós trabalhamos por dias no papel, e eu liguei para do diretor de fotografia, e nós ajeitamos locações maravilhosas para as filmagens, os detalhes, a noite do Bronx - o Bronx, sim, o Bronx- e... err.... do que eu estava falando mesmo?"

Woody Allen

"Sim, sim, 80 anos! Ele era um perfeccionista! Como o eram Schubert, Nietzche, George Gershwin, Vicent Van Gogh, a diferença é que todos esses acabavam sem encontros para um sábado à noite, ainda que não tivessem que lidar com mosquitos, insetos, pragas infestando seus apartamentos e lhes impedindo de dormir, como acontece comigo, que não pretendo, de maneira alguma, ser um intelectual, ainda que queira ler Dostoievski para poder ter algo que conversar com as mulheres que se atrevam a sair comigo, pelo menos aquelas que ignorem todos os preceitos da chamada filosofia ocidental em prol de um relacionamento não obstantemente focado em vultuosidades sexuais. Por falar isso, sabe aquela piada do psiquiatra que foi assistir o 2001-Uma Odisséia no Espaço e ficou sem dinheiro pra voltar pra casa? Ok, ok, Kubrick foi importante para mim. "

Quentin Tarantino

"Espera aê, cara! Espera um pouco! Não, não, deixa eu falar, por acaso, em algum filme do "Grande Kubrick" tinha alguma personagem com o nome de A NOIVA? Hein? Hein? Cara, genial! Meu, Esquadrão das Víboras Mortais! ESQUADRÃO DAS VÍBORAS MORTAIS! Laranja Mecânica? Tá, gostei, tinha violência, sexo, mas o resto? Brrr.... Quem transformou o Quarteirão com Queijo em arte? Quem? Pai Mei! Pai Mei! Tinha algum Pai Mei no Doutor Fantástico? Tinha? Lógico que não tinha! O que, só falei de mim? Se você está bravo, desliga então! Desliga na minha cara! "


Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Steven Spielberg

"Lógico que fiquei magoado quando falaram que eu esculhambei com o A.I. - Inteligência Artificial, e quando zoaram dizendo que eu era muito infantil para tentar adentrar no mundo sombrio e adulto dos filmes do Kubrick. Mas, cara, lembra do relacionamento do Jack com o filho no Iluminado? Eu teria feito diferente. No final, ao invés de tentar cortar a cabeça do moleque com um machado, eu teria feito todos sentarem e entenderem que fantasmas e surtos psicóticos-sanguinolentos não são nada perto do calor de uma família, e todos teriam terminado jantando, rindo e dando um talk to the hand para os fantasmas pervos. Teria sindo um lindo final feliz. Como eu fiz no A.I.. Ok, ok, eu, sei, pareço uma criança de 12 anos de idade. Mas alguma criança de 12 anos tem um bilhão de dólares na conta? Entendeu o ponto? "


George Lucas


"2001 poderia ter sido uma baita aventura espacial. Se o computador Hal tivesse um nome mais bacana, tipo Chumbawamba, e os astronautas fossem um pouco mais engraçadinhos, e tivesse uma heroína no meio, uma mulher bem independente e voluptuosa... Lógico que eu achava a Carrie Fisher um avião! Por quê o espanto? E nada dos 100 minutos sem diálogos, todo mundo ia falar o tempo todo. Blá, blá blá, inimigos interestelares, blá, blá, blá, força isso, força aquilo, blá, blá, blá, trilhões de dólares nas bilheterias. Entendeu o ponto? O quê, outra pessoa falou nos mesmos termos? "




Oliver Stone


"Não, sei, algumas coisas no trabalho do Kubrick não me descem bem. Por exemplo, o 2001. Será que ele REALMENTE acredita que o homem seria capaz de ter chegado a tal grau de sofisticação espacial? Eu particularmente nem acredito que nós chegamos na lua! Obviamente aquilo foi fruto de uma alta conspiração governamental perpetuada pelo governo Nixon para entreter e distrair os norte-americanos do que realmente importava naquele momento, a Guerra do Vietnã e os milhares de americanos que estavam sendo mortos em nome de um conflito estúpido. Falando nisso, vocês sabiam que eu lutei lá? Ok, eu fiz 987 filmes sobre o tema, mas eu não sei se todo mundo sabe, mas, sim, eu lutei num dos regimentos. Foi traumatizante, e eu acho que a única maneira de exorcizar esse traume é dividi-lo com o meu público, atormentá-los até eles entenderem, realmente, o que foi estar no meio daquela insanidade. E o Laranja Mecânica? Obviamente o Alex era um junkie. Kubrick ignorava todo o narcotráfico mundial? As bases colombianas, os Contras, os sandinistas, o embargo em Cuba? E vocês sabiam que eu fiz um documentário com o Fidel Castro? Sim, eu fiz! Chama O Coman.... "
(nesse momento, nós desligamos o telefone. Pena)


Walter Salles


"Ok, Kubrick era um bom cineasta, mas eu sou muito superior. Algum filme dele tem a relevância política da minha obra-prima, Os Diários de Motocicleta? E por acaso algum filme dele tem o poder intimista da minha outra obra-prima, Central do Brasil? E qualquer pessoa minimamente inteligente sabe que o Água Negra, minha obra-prima do terror, é infinitamente superior ao Iluminado. Ponto. "

Kevin Smith


"Pô, cara, sou ligadão nos filmes do Kubrick! Tipo, toda a galera de New Jersey se reúne todo ano pra viajar legal assistindo ao Laranja Mecânica! Tipo, acho que poderiam ter uns palavrões mais cascudos, umas garotas gostosas, mais maconheiros pra gente se identificar, mas tá limpo! O problema é que, tipo, nunca entendi muito bem as idéias dos filmes dele. Mas, sei lá, tá limpo. Quero lançar em breve uma linda homenagem pra ele, vai se chamar "Jay e Silent Bob - Uma Odisséia Cannabissal". Altas viagens e discussões siderais, motivadas por altas trips, na santa paz de jah. E, tipo, acho que nos filmes deles, os personagens deveriam fazer referências aos outros personagens dos outros filmes dele, que nem acontece nos meus! Já pensou, o Alex do Laranja Mecânica falando que "tinha saudades do seu robô drug favorito, o Hal 9000? E o Jack do Iluminado sendo assombrado pelo Barry Lyndon? E o Joker do Nascido pra Matar lembrando os pegas que deu na Lolita? Cara, seria demais, mó viagem! Agora desculpa, a galera tá chamando, parece que chegou um do bão ai. E eu sei que já tenho 38 anos! Não joga na cara! "

Guillermo Del Toro


Infelizmente não falo espanhol, e não entendi patavinas do que ele me disse, apenas pesquei algumas palavras e expressões, tipo "Hobbits", Hellboy, nerds, faunos, quadrinhos, e coisas do tipo. Blergh.


Christopher Nolan

"Não acho que certos aspectos dos enredos Kubrickianos sejam satisfatórios. A chamada desumanização. Aquele mundo asséptico, distante, frio, tão longe da nossa realidade, isso nunca desceu bem comigo. Sempre entendi o Alex do Laranja Mecânica como um personagem absoluto, o que nunca achei ser o tom certo a se usar. Seria mais correto se Kubrick tivesse mostrado todo o background do personagem, seus problemas psicológicos motivados pela opressão do ambiente pós-apocalíptico que vivia, a omissão da família, sua entrada num mundo de violência e depravação, as motivações e medos secretos do personagem. O mesmo com os astronautas do 2001. Da onde vieram? Por que conspiraram contra o computador, ao invés de usarem seu eminente estado de destruição robótica-psicótica ao seu favor? Mostraria todo o passado desses personagens, suas motivações, e... putz, me sinto tão entediado falando sobre isso... tá, admito: ia filmar tudo de trás pra frente. Pronto, falei. "

Sofia Coppola


"Kubrick bom, papai melhor. "



Francis Ford Coppola


"Sofia está correta: Kubrick bom, papai melhor. "



Michael Bay


"Os filmes dele eram muito silenciosos. Você entende, eu tenho um sério problema de déficit de atenção, então somente consigo prestar atenção em filmes que tenham acima de dois mil decibéis de altura, e que tenham cortes a cada dois segundos, e que também tenham coisas grandes e barulhentas e coloridas na tela. E, tipo, ter de pensar sobre o enredo e sobre as questões levantadas no filme? Personagens que não sejam baseados em arquétipos de qualquer espécie? Não, ai não rola. Nunca aguentei mais do que dez minutos nos filmes dele. Sou burraldo, o que posso fazer? E 90% da humanidade está nessa comigo. E eu sou patriota, e o Kubrick não era. Viva W. Bush! Viva a América! "

Jean-Luc Godard


"Então, quero, antes de começar a falar sobre Kubrick, lembrar um importante ponto relacionado ao marxismo moderno e o pós-modernismo, e.... "
(Desligamos)

sábado, 26 de julho de 2008

Pai e Filha

Pai e Filha, de Yasujiro Ozu, só porque eu decidi ser mais japonês, pelo menos abstratamente. Note a expressão dos rostos, o sorriso forçado, e a lentidão calculada dos movimentos. Isso é ser japonês?

Aprecio em Bresson o mesmo que é de Ozu, essa tendência à imobilidade, à estaticidade. Uma qualidade propriamente oriental, o despojamento que visa à essência, a ponto de reduzir atores a modelos, expressão de Bresson, que empregava não-atores em seus filmes, porque o pessoal passa a ser visto como interferência à comunicação do espiritual. E por isso é tudo muito abstrato e severo. Mas Ozu é um romântico, que ama a tradição e faz do casamento um sacrifício de amor do pai pela filha.


O Pai aconselha a filha a como ser feliz no casamento; falando que a felicidade não deve ser esperada, mas criada, que é ela a própria criação. E, em vista do que é a cultura japonesa, quando ele diz felicidade, entendamos nós sossego – cada um na sua, com algo em comum, mas bem pouco.

A Filha de repente entende que casar é uma forma de continuar servindo a seu pai, tudo o que ela quer. Quando ela, uma linda noiva japonesa, ajoelha-se e agradece ao pai pelos anos que passaram juntos, é como se renunciasse a um sacerdócio. [E eu quase chorei.]

Os japoneses são engraçados aos olhos ocidentais, porque, muito contidos, se expressam subitamente, como se deixassem escapar, sem que se entreveja a razão do choro ou do riso, já que são estes senão a superfície do que nunca deve ou vai ser exposto.


Volta e meia se ouve por aí um suspiro que romantiza o matriarcado, imaginando-se que um mundo governado por mulheres seria mais justo e menos opressivo. Mas a civilização só não descamba para a barbárie por causa das convenções sociais, que condenam tudo o que em nós é mais sincero, intenso e, portanto, agressivo, como já constatava a psicanálise. E por uma questão de sobrevivência, porque são elas o sexo frágil, ao menos fisicamente, é que as mulheres são também as mais interessadas em zelar pela manutenção dessas mesmas convenções sociais, que tanto nos oprimem, mas principalmente a elas. (No caso do filme, falo é claro que da tia casamenteira.)

No entanto, não poderiam ser mais subservientes. Enquanto os homens lúdica e levianamente relativizam o código social por meio de palavras e comportamento, relevando descortesias e higiene, por exemplo, as mulheres se aborrecem e protestam, sendo elas as educadoras primárias dos filhos, fazendo do pai senão uma figura simbólica da lei e da ordem que elas ensinam.

Etiqueta e bons modos carregam em si o signo da opressão e da dominação, e isso é frankfurtianamente inevitável.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Resenha: Coldplay - Viva la Vida

Mês passado, no meio do nosso recesso, o Coldplay, vulgo "banda de rock mais importante do planeta", lançou o seu mais novo petardo (seria essa a palavra correta?). Viva la Vida (Or Death And All His Friends), nome inspirado numa obra da pintora mexicana-bigoduda Frida Kahlo. O nome apenas, já que na capa do CD a banda colocou uma pintura do artista do romantismo francês, Eugene Delacroix, inspirada na revolução de 1830. Nossa, o nome do disco e o fato da pintura na capa corresponder a uma cena de batalha, e não à pintura da senhorita Kahlo, indicam dualidade! Quanta inteligência! Chris Martin, que já pode ostentar o título de maior burocrata do rock (e o fato de sua banda ser a mais famosa hoje diz muito sobre a era que vivemos), provavelmente deve querer lançar uma batida discussão sobre os valores de vida e morte ante um mundo doente e carente de amor. Amor, meu! Lógico que ninguém poderia ligar menos ou dar a mínima para isso, mas pelo menos temos que reconhecer que o nosso compositor abobado favorito tentou, digamos, ser mais ambicioso. Não deu, mesmo. A banda tem sido acusada de chupar vergonhosamente o U2 da fase Joshua Tree, inclusive contando com o produtor dos discos da banda irlandesa na época, Brian Eno. Eno, ex-membro do grande Roxy Music, era um músico de grande relevância. Nos anos 70 e 80. Hoje, soa deslocado demais, e sua produção obviamente não consegue o mesmo efeito, já que tecnicamente falando o Coldplay é muito inferior ao U2 (pois é, acreditem se quiser). O álbum falha miseravelmente no âmbito artístico apenas, já que comercialmente falando, o disco fez um barulho danado.
O single Viva La Vida conseguiu a façanha de liderar a parada americana e inglesa ao mesmo tempo, algo não conseguido por uma banda de rock desde... desde... é, faz tempo mesmo. Mas chega de papo furado, farei um faixa-a-faixa para entender melhor o que Martin e seus asseclas quiseram passar com o disco. Não que isso faça muita diferença. Sério, alguém sabe o nome dos outros três integrantes do Coldplay além de Martin? No meu tempo, banda boa de rock era aquela a qual nós sabíamos o nome até dos roadies. Hoje... Bom, vamos lá, faixa-a-faixa para essa galera linda, esperta, bacana, malhada e parruda, e que faz, sim, a diferença. Ergh...

Life in Technicolor
Instrumental que usa desavergonhadamente a introdução de Where The Streets Have No Name como mote para a canção inteira. Sim, os órgãos de igreja e o climão "senta que o pregador vem aí". Como o Coldplay não poderia bancar uma reprodução do que vinha depois na música do U2, ficou mesmo somente com a intro. Banda de categoria é assim mesmo, rói os ossos e pede mais.

Cemeteries of London

Música morosa, que usa uma cama preguiçosa de teclados para versar sobre cavaleiros medievais. Cavaleiros medievais. É, tá difícil mesmo. Quando Dylan usava do mesmo artifício em músicas como All Allong the Watchtower, era fácil entender o ponto. Mas Martin... Ele soava melhor quando cantava as velhas bobagens sobre consertar a parceira e tudo mais. Era meio doentio, mas ia de acordo com o "talento" do mesmo como compositor.

Lost!

Outra música construída em cima de órgãos. Tem um clima hipnótico, nada memorável, mas que ao menos mexe com algo. Eno deve ter os méritos. Méritos? Uhm..

42
Lembra Keane, Damien Rice e outras coisas de igual calibre. "Vamos tocar um piano e cantar sobre aquele amor lá?". Sabe aquele filme irlândes, o Apenas Uma Vez? Vocês viram?

Lovers in Japan/Reign of Love

O Radiohead anda com a mania de dar o nome de suítes para todas as suas canções. Como o Coldplay segue todos os passos da banda de Thom Yorke, acharam bom repetir essa rotina em algumas canções do Viva la Vida. Essa é a primeira delas. A primeira parte, Lovers in Japain, tem um bom tema de guitarra, mas a melodia é elíptica demais (roda, roda, e não sai do lugar) para nos envolver. Algo que é uma constante na carreira do Coldplay. A segunda parte, Reign of Love, é uma arrastada balada levada por um piano e a famosa cama de teclados de Eno, em cima da qual Martin murmura as bobagens de sempre.

Yes
A primeira parte da canção nada tem demais. A parte escondida, entretanto, Chinese Sleep Chant, é um dos poucos pontos altos do disco. Único momento do disco dominado por guitarras, e o punch de canções como Yellow se faz sentir aqui.

Chris Martin, e sua equipe de guarda-costas. Não que alguém se importe.



Viva la Vida

Melhor música já feita pelo Coldplay. O que, em termos práticos, não significa absolutamente nada. Mas, deixem eu tentar ser bonzinho. O trabalho de Eno na música é o seu melhor desde a sua fase áurea como produtor, com um bom trabalho de cordas e dando o tempo exato para Martin encaixar a sua letra mais ambiciosa da carreira em cima de uma bela melodia. Há apenas um problema: eu duvido que Martin realmente tenha o domínio sobre as metáforas e figuras de linguagem que ele levanta na música. Vejamos o refrão: "Eu ouvi os sinos de Jerusalém tocando/Coros de Cavalarias Romanas cantando/seja o meu espelho, minha espada, meu escudo/meus missionários em campos estrangeiros/e por algum motivo que não posso entender/eu ouvi São Pedro chamando o meu nome/nunca uma palavra honesta/ e foi ai que eu dominei o mundo". Sério, alguém ai acha que ele realmente tem o total domínio sobre a suposta complexidade dos temas levantados? As supostas alegorias políticas (Bush Jr. como alvo, obviamente). Acho que ele pegou umas imagens bonitas e misturou tudo. Usar Bob Dylan como inspiração é, repito, perigoso. Principalmente para um chorão como Martin. O Oasis tentou no Be Here Now e quebrou a cara lindamente. Mas darei o benefício da dúvida.

Violet Hill

Primeiro single e clipe do disco. Dizem que Violet Hill é uma rua que fica próxima da Abbey Road. Entenderam? Abbey Road? Mas a escolha é inexplicável, a música tem uma boa batida de piano e um surpreendente trabalho de guitarras, mas perde muito sua força no fraco e diluído refrão. Viva La Vida é uma música bem mais forte, tanto que quando foi lançada em seguida, produziu um impacto bem maior nas paradas.

Strawberry Swing

Música que mais lembra o velho Coldplay. Que não era nem melhor, nem pior que esse novo sobre a aba do Brian Eno. O que também, como sempre quando tratamos da banda, não faz a menor diferença. O negócio é vender cds (o que der no mercado combalido dos dias de hoje) e garantir um bom número de downloads para se conseguir dar suporte a uma turnê gigantesca, que é aonde as bandas realmente ganham dinheiro hoje em dia.

Death and All His Friends

Música que fecha o disco no melhor estilo "vamos cantar todos juntos sobre a morte e todos os seus amigos". Destaque para a bonita (bonita?) frase de guitarra que acompanha a melodia. Depois ainda tem uma faixa escondida, The Escapist, que é verdadeiramente a última faixa do disco. Momento no qual o climão Brian Eno se faz sentir com mais força, com camadas de teclados vindo de todos os lados, enquanto Martin diz um monte de coisas que, sério, não fazem a menor diferença.


Veredicto: sério, who cares? O Coldplay quer ser o novo U2, porque o U2 vende bem e o Radiohead é complicadinho demais para ser copiado. Mas é impossível desassociar a imagem do Coldplay com coisas como a Apple, Steven Jobs, Pixar, Bob Geldof, Bono, Bill Gates, Al Gore, dívidas dos países do terceiro mundo e aquecimento global. Esse é o mundo asséptico, limpinho e babaquento. E ai, lembramos que existem coisas como a Guerra do Iraque, George W. Bush, Osama Bin Laden, Kim Jong II, Silvio Berlusconi, tsunamis, terremotos em São Paulo. Viva La Vida, ou Death and All His Friends? Não que alguém se importe.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

As good as it gets

Deu pau no Orkut e sobrou tempo pra eu blogar. Jack Nicholson VS Heath Ledger? Dar uma de gentinha me colocando na ordem do dia? Nããããõ. Vamos olhar algumas fotos.

Não que seja o caso de sugerir com a iconografia abaixo que já fomos melhores, porque não.

Amante histérica de filme do Woody Allen


O problema entre homens e mulheres sempre foi naturalmente um problema das mulheres, que insistem em exigir dos homens atitude. Ao som de Schubert, despacham Angelica Huston. Satisfeitas?

Mr. Deeds


Questão de signos. Jean Arthur era libriana e Gary Cooper, taurino. Winona Ryder é escorpiana e Adam Sandler, virginiano. Consultando diversas fontes competentes, conclui-se que a primeira é uma combinação mais verossímil. Logo, ponto pro Capra. (Mas o amor é uma caixinha de surpresas.)

Mr. And Mrs. Smith


Um mundo melhor não é necessariamente mais inteligente. Arrematar crianças em saldão terceiro-mundista? Não tem preço. Angelina Jolie é a idéia que elas fazem da mulher ideal. Senhoras, eu sei que pode parecer antiquado, talvez até regressivo, mas deixem pros homens definir a mulher ideal. Aqui, ó.

Mulher

Feirante.

O povo tem fome. Então que coma.

domingo, 20 de julho de 2008

A Volta do Progressista? E ele Foi ao Cinema ver Cavaleiro das Trevas? Onde?

Shake it up now, funk soul brothers. Fomos ao Cinema, o blog mais gingado da net está de volta. Oh yeah, baby. Os dias nebulosos se foram. A manhã desperta, cheia de promessas, e... putz, esgotei o estoque de clichês. Peço desculpas pela longa ausência dos Camaradas, problemas logísticos, pessoais, físicos, e também (pelo o que consta à boca pequena, finjam que não fui eu que falei) fiscais. Tipo, foi mal ai mesmo. Cogitamos mudar o nome para o inglês, e colocamos na ferramenta de tradução instantânea do google, mais uma dessas belas facilidades do mundo contemporãneo. O nome dado? We Went to the Movie Theather. Se o Google fosse uma pessoa física, e não um site de buscas da internet formado em sua maioria por códigos binários e hexadecimais, eu juro que quebrava a cara dele. Esse título soaria como uma gincana, um monte de gente babada e suja indo pro cinema para encontrar os seus sensos de comunidade. Malditos hippies!

Como essa volta bacana (adjetivo do tempo dos seus avós) coincide com a bombástica estréia do filme Cavaleiro das Trevas, nada mais justo do que eu dissertar sobre aspectos do filme que estão me deixando enraivecido. Como a insanidade coletiva que faz uma boa parte dos críticos colocaram essa porcaria como um dos melhores filmes já feitos. Aspectos esses que encontram ressonância com a própria história do blog, que também teve Camaradas que morreram ao mergulharem na depressão depois de interpretarem bandidos- psicóticos- com- maquiagem- de- palhaço.

Por isso, antes de começar a falar sobre o filme, gostaria de deixar um pequeno pensamento sobre a morte para vocês:

" In the shadowplay, acting out your own death, knowing no more"
Profundo. Agora, vamos aos aspectos que quero abordar sobre o Cavaleiro das Trevas, uma rápida e subserviente análise sobre os efeitos que o filme causa na nossa sociedade, sejam eles justos ou não. Tudo dividido em três categorias. 3 é um numero cabalístico, assim como o são o 2, 5, 6,8, 9, 4, 1 e 7. Haja numerologia.


Dos Aspectos Positivos - Parrudagens


Cavaleiro das Trevas é melhor do que o Howard The Duck. A disputa é acirrada, mas no final das contas é melhor. Pouquinho, mas é. Espera ai, pensando melhor... uhm.... difícil.


Dos Aspectos Negativos - As Quedas nas Casas de Usher


Christopher Nolan é o maior engodo da história. Isso não é bom. Merecerá algum dia todo um texto estudando o fascínio cego que seus filmes despertam nos críticos. É como o cheiro de sangue, enlouquecendo os Lobos nas pradarias. Pradarias!


Cristian Bale? Alguém lembra que ele está no filme? Qual é o papel que ele interpreta? Dizem que ele é aquele maluquinho que se veste de morcego, mas não sei se seria verdade. Nem o Michael Keaton foi tão ofuscado assim. Talvez se ele também tivesse dado um jeito de ir dessa pra melhor... Não, Bale vale mais vivo do que morto, ao menos por enquanto.


Maggie Gylenhaal é feinha e sem sal. Um cone com peruca teria feito melhor o serviço. Repito: eu ajudava, se tivesse faltando bufunfa pra trazer a Natalie Portman. Há, não, ia ser mais uma pra roubar o filme do loser Bale. Ficou melhor como estava, então.


152 minutos de duração. Sério, deveriam existir leis contra filmes de super-heróis (pelo o que saiba, o Batman ainda é um) com mais de 90 minutos de duração. Passou disso, era cadeia para todos os envolvidos. Agora, quando um megalomaníaco como Nolan vai fazer um filme assim e acha que deve se inspirar num espetáculo carnavalesco do quilate de um Fogo Contra Fogo (que tinha excruciantes 170 minutos), ai estamos perdidos mesmo. Michael Mann e Christopher Nolan, que dupla de farsantes.




E repito, pela milésima vez: se um filme com um bilionário que se veste com uniforme de morcego com uma cueca por cima da roupa que combate os criminosos mais perigosos da cidade apenas no muque devesse ser focado na realidade, então eu realmente estou perdido. Mundo, você venceu. Mas continuem ai, falando que Dark Knight é melhor que o Poderoso Chefão. Um dia eu irei acreditar. Falaram até que a Dercy Gonçalves morreu! Se eu acreditei nisso, acreditarei em tudo.

Dá logo um tiro nele e acaba com essa palhaçada. Palhaçada, pegaram? É, foi mal

Do Coringa - Era Jack, agora é Ledger, que morreu


O Coringa do Jack Nicholson era melhor. Nossa, depois dessa, acabei de assinar minha sentença de morte. Então, repito com maiúsculas: O CORINGA DO JACK NICHOLSON ERA MELHOR. Bem mais de acordo com o universo do personagem. Ledger era um ótimo ator, provavelmente ia ser o melhor de sua geração, e o seu Coringa é adequado. Mas, pelo amor... O cara morre, vira mito, e é sempre a mesma desgraça. Se ele não tivesse tombado, aposto o que vocês quiserem que o filme e a atuação dele não iam ter nem 10% do impacto e furor de agora. Cansei dessa porcaria. Toda vez que um tonho morrer e largar mulher e filha ao Deus-dará, e o pessoal colocar o cara como gênio, eu vou vir aqui esculhambar. Respeito aos mortos? Não, respeito à minha e à sua inteligência. Estou pronto para apanhar! A morte é minha conhecida! Huhuahuaauhauahuhaua!

O Coringa de Ledger é melhor, porque ele está morto e o Jack vivo.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Alguns incovenientes, desculpem!

No meio do caminho havia uma casa

Fatos isolados. Fim de semestre. Confusões e brios acalorados: resultou em transtorno para nosso panteão de proto-blogueiros ativistas. Carrego uma epístola de desculpas aos nossos raros mas teimosos leitores que acompanharam nosso percurso até agora. Desculpem-nos, o transtorno é passageiro e em breve voltaremos a normalidade, agradecido pela atenção.