sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Código Hays: 40 anos sem você - Parte 2

O texto a seguir foi liberado para públicos de todas as idades, e eu vou ser sacana e não lembrar vocês dos spoilers que possam existir aí embaixo. Repito, o texto é inofensivo como uma canção do Jonas Brothers. Eu disse Jonas Brothers? "Look me in the eye, say that you love meeeeeeeee"

Trago aqui a segunda parte do texto "Código Hays: 40 anos sem você", imaginando como ficariam filmes contemporâneos se o Código Hays ainda fosse vigente e a pré-censura ainda existisse em Hollywood. As palavras são escassas, mas o sentimento é abundante. Hã?


PULP FICTION

Filmes protagonizados por bandidos não eram permitidos, já que afrontavam frontalmente a moral e os bons costumes. Isso fez James Cagney protagonizar até musicais nos anos 40, ele que era o rei dos filmes de gangsters na era pré-código. Por isso, nada de assassinos protagonizando o filme. Pulp Fiction ia virar um noir épico daqueles, já que o gênero esfumaçado era o mais próximo dos filmes de gangsters que conseguiu-se produzir na Classic Hollywood. Vicent Vega e Marsellus iam virar dois detetives parrudos e pervos, investigando o submundo das drogas em Los Angeles e citando passagens fictícias da bíblia (aparentemente Tarantino se acha tanto que resolveu criar seu próprio verso bíblico)enquanto mandavam os bandidos para aonde jamais deveriam ter saído. A Mia Wallace ia deixar de ser uma mob girl junkie e ia virar uma femme fatalle daquelas, atentando Vega e subvertendo a conduta do nosso herói. As referências à cultura pop, massagens e quarteirões com queijo continuariam lá, já que não seriam necessariamente interceptadas pelo código, por não atentarem contra muita coisa além de direitos de imagem e reputações de casas de bem. E o boxeador do Bruce Willis? Iria se redimir como no filme, mas sem tanta violência, ia ser uma daquelas retomadas de consciência súbitas e baratas que tanto assombravam os roteiristas da era do código. Quanto aos palavrões, esses teriam de sumir. E a cena da dança seria considerada lasciva demais, então em vez do Chucky Berry, Tarantino teria de usar uma música mais lenta e suave. Quem sabe um Wilco, ou um Yo La Tengo? Vega e Wallace dançando ao som de "I'm Trying To Break Your Heart". Sim, ia ser exatamente assim. Não sei se seria necessariamente melhor, mas daria um bom caldo.


É das camaradagens!

MATRIX

Vixe, aqui o bicho pega. Esse negócio da humanidade estar presa num mundo virtual e do pessoal ter de tomar uma pílula para acordar para o mundo real soaria como para os censores? Sim, exatamente como vocês estão pensando: ALEGORIA COMUNISTA! Êêêêêêêêêê!!!! Não,não, não, não, não. Ia ser diferente: Neo se chamaria Andersov, e seria um americano com amnésia morando em Moscou sem saber do seu passado ou de onde veio, com um emprego enfadonho numa das ramificações da máquina estatal Soviética, que um dia recebe a visita de um americano badass chamado Morfeo, que iria lhe mostrar todos os prazeres e delícias do Capitalismo, como as cadeias de fast-food, os filmes do John Waters, o pensamento individual, a liberdade de expressão, as revistas de mulher pelada e tudo mais. Neo e Morfeo seriam perseguidos por um implacável agente duplo da KGB chamado Smith, que teria a mania de chamar Neo pelo seu nome russo, Senhor Andersov. Nós perderíamos as cenas de ação do filme original, já que as leis da física ainda se aplicariam nos dois mundos, mas ao menos poderíamos verter lágrimas e lágrimas com a consagração do ideal americano. E os censores dariam pulos, como faziam toda vez que saia um dos filmes patrióticos do John Wayne. Quando o espirito americano prevalece, a alma se engrandece.

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

Como o Ang Lee não tem a malandragem do Alfred Hitchcock, teríamos sérios problemas. No final das contas, ele teria de colocar uma peruca no Jake Gylenhaal (cujo personagem era obviamente o passivo no filme) alá Quanto Mais Quente Melhor e fazer o filme com um cowboy e uma cowgirl trabalhando juntos na montanha e se apaixonando. Adultério não era proibido pelos censores, então ele poderia focar o choque e o segredo do filme nisso. Mas ele poderia espalhar alguns pequenos protestos. Tipo, dar um nome masculino para a cowgirl, que nem naquele filme chato do início dos anos 90, Três Formas de Amar, ou realçar a estranha preferência da personagem em fazer xixi de pé (obviamente algo feito somente por meio dos diálogos, já que os censores não iriam permitir mostrar ninguém fazendo o número 1 na frente da câmera). Ia ser um lindo diálogo. Há, última coisa: iam proibir o Heath Ledger. Atores deprimidos e potencialmente suicidas eram um problema, vide Montgomery Clift. Um mais positivista - tipo o Ben Affleck-seria o indicado para alegrar os censores. Ia ficar bem legal.



Cadê a peruca? Traz a peruca agora!




CLUBE DA LUTA

A violência era mais aceita em faroestes na época do Código, já que o contexto histórico dos mesmos aliviava as proibições, e cenas de brigas homéricas eram comuns nos filmes de John Ford e Howard Hanks, por exemplo. Obviamente que eram brigas estilizadas e desprovidas de sangue, mas ainda sim eram brigas. Por isso, nada de contexto urbano pós-moderno: Clube da Luta teria de ser um western mesmo. Edward Norton seria um tímido dono de um saloon, sempre pronto para aconselhar e ajudar os cachaçados frequentadores de seu barzinho (o que explicaria a presença do Meat Loaf). Numa típica viagem de trem acabaria conhecendoc um cowboy sangue ruim e destemido chamado Tyler Durden, que o levaria para uma viagem sem volta para o mundo da subversão sulista. Criariam juntos então um Clube da Luta texano, e logo estariam formando uma comunidade fascista de foras-da-lei em choque com as tropas federais. Ao invés do discurso Geração X do filme original, Durden diria as seguintes palavras: "nós somos a escória. Nós somos as párias da Guerra Civil. Nós somos os soldados confederados yankees esquecidos, e nós estamos muito putos!". A reviravolta final seria preservada, já que o uso de transtornos psicológicos não era proibido na era do Código (vide Uma Rua Chamada Pecado). Quem viu o Brad Pitt como Jesse James ia adorar. Seria muito belo.



É claro que você se gosta. Quem não gostaria?


SILÊNCIO DOS INOCENTES

Hannibal não poderia mais ser canibal. Nem uma simples menção nominal do fato poderia ser feita. Até o nome Hannibal teria de ser trocado, pois remeteria diretamente à obra literária. Por isso, Jonathan Demme teria de trabalhar firme nos traços subtextuais do roteiro. Ao invés de Hannibal, poderia colocar um nome tipo "Humanizer" ou "Maneater'. Talvez um diálogo na base do "você já se perguntou como ficaria na base da pimenta do reino?" aqui e um "hoje você está no ponto" ali, entre o Anthony Hopkins e a Jodie Foster, pudesse fornecer mais pistas. E, obviamente, os crimes de Hanniball e do serial killer seriam apenas mencionados, jamais mostrados in loco. Por isso, a cada dois segundos do filme algum personagem teria de repetir que "o Hannibal é mal, pega um, pega geral" e "ele é muito mal mesmo, olhou torto morreu", para delinear toda a maldade do nosso psiquiatra canibal favorito. E a Jodie Foster? Sem problemas, seu jeitão "smart girl" era bem aceito na época do Código, vide Jean Arthur e outras. Mas ia ter de cuidar da imagem, ficar um pouquinho mais feminina, ter um namorado e tudo mais. Uma investigadora solteira e de voz grossa? Sapatão!

OS SUSPEITOS

O final teria de ser mudado. O detetive descobriria a trapaça antes do Kevin Spacey se mandar. Ai ele falaria: "Nossa, você foi muito esperto, me manipulou e quase conseguiu ser solto e fugir, o que me faria ser a piada da corporação por anos. Mas como você sabe, a polícia e o sistema funcionam, o bem sempre vencerá o mal, e eu acabei conseguindo descobrir a tempo a verdade. Por isso, reconheço a sua inteligência, mas você precisa admitir que não é páreo para o sistema penal norte-americano. E que o bem é mais forte que o mal. E que a América não é lugar para meliantes subversivos, e sim para famílias felizes, trabalhadores contentes, donas-de-casa exultantes e crianças felizes como pinto no lixo. Uma bela propaganda de pasta de dente, essa é a América, Verbal Kint. E viva a América."

INDEPENDENCE DAY

Alguém precisa chegar no Rolland Emmerich e dizer o seguinte: "querido Rolando Emérico, eu sei que você não é muito inteligente ou esperto, e que jamais teria descoberto isso por si próprio, e que você não tem muitos amigos que gostassem de você a ponto de te contarem isso, mas, tipo, o Código Hays foi extinto 40 anos atrás. Você não precisa fazer filmes com lições morais babaquentas ou estúpidas defesas patrióticas e puxa-saquentas dos EUA. Aliás, você é alemão, não é? Sério, a Segunda Guerra já não foi sofrimento demais para o mundo? Você não acha que é um castigo grande demais para nós suportarmos? Ok, ok, eu também acho que o seu suicídio seria uma boa idéia. Pode ir em frente, não conto pra ninguém."

TITANIC

Kate Winslet não poderia ficar pelada. Nudez era palavrão para os censores, mas nudez de gordinhas seria um crime indesculpável. Diriam os censores que " se eu quissesse ver gordura, ia no açougue da esquina, pombas!". De resto, sem problemas, se bem que um ou outro membro dos censores poderia implicar com o Di Caprio. " Esse ai parece que gosta de morder a fronha e jogar água pra fora da bacia...". Mas ia ficar por isso mesmo, já que em todos os filmes lançados com o Montgomery Clift eles falavam a mesma coisa.

"On a dark desert highway, cool wind in my hair"

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Código Hays: 40 anos sem você - Parte 1

Atenção: o texto a seguir faz uso de linguagem altamente inapropriada e chula, degradação de valores morais, deturpação da ética e dos bons costumes, glorificação da violência, um certo fascismo cultural e citações frequentes ao uso de drogas e outras substâncias de consumo ilícito. Ah, quase ia esquecendo: também podem haver spoilers, que é a palavra inglesa que identifica a revelação de pontos importantes ou do final das tramas de filmes. De livros também, mas não trataremos de literatura aqui. Bom, mas quem sabe um dia? Nas palavras de Groucho Marx: "cada vez que alguém liga a televisão perto de mim, eu vou para outra sala e abro um livro". Mas o que eu quis dizer com essa citação? Seria certo querer levantar uma batidíssima discussão sobre os malefícios da exposição em massa aos programas de TV em detrimento dos livros? Vocês sabiam que eu fiz um vestibular uma vez cujo tema da redação era exatamente esse? Hein? Hein? Tirei 7,5! Tá bom ou quer mais? Se eu passei? Mistério.

Vocês, assim como eu, devem se maravilhar cada vez que assistem a um filme da Classic Hollywood. O glamour, a galhardia, a classe e a elegância de toda uma era. Mas vocês também devem estranhar a linguagem polida, as cenas de amor resumidas a meras bitocas, os flertes inocentes, a violência estilizada e over, a ausência completa do vermelho do sangue, a inexistência dos palavrões... sim, vocês se perguntam: "mas não é possível, esse Humphrey Bogart sempre anda com a escória nos seus filmes, e o maior xingamento que ele é capaz de proferir é o inofensivo "infernos"? E o James Stewart? Será que passou a vida toda sem jamais usar qualquer profanidade no seu vocabulário? E o Cary Grant, jamais chamou uma das suas pretendentes nos seus filmes de gostosa, pedaço de mal caminho, ou coisa parecida? E os homossexuais, não existiam na primeira metade do século? Eles são uma invenção da Era de Aquário? Nem vou para o lado das mulheres! Juro que não vou! Aparentemente os figurinistas da época não conheciam a palavra decote. Sim, meus amigos, tudo isso deve deixar vocês com uma pulga atrás da orelha. Afinal, o mundo era tão sujo quanto o é nos nossos dias, Segunda Guerra que nos diga. Mas calma que o buraco é mais embaixo.
Resumindo: na década de 20 o cinema mudo estava descabando, com estrelas morrendo de overdoses, assassinatos, alcoólatras, casos de estupro (Fatty Arbuckle) e filmes mostrando cenas de orgia, mulheres nuas, abortos e tudo aquilo que deixava a extrema-direita norte-americana de cabelo em pé na época. Então nos anos 30 foi promulgada a criação do Código Hays, regido pelo sistema de estúdios e que consistia na pré-censura dos filmes , todos avaliados por uma comissão julgadora. Os diretores e roteiristas tiveram de sambar para driblar o Código por longos 38 anos, até a sua extinção, em 1968, quando foi substituído pelo sistema de classificação (maiores de13, 15 e 18 anos) que vigora até hoje, e que deu liberdade total para os filmes terem o que bem quisessem seus diretores, roteiristas e produtores. E como estamos em 2008, já vão quarenta anos do fim do código. Diretores como Hitchcock, Billy Wilder, Ernst Lubitsch, John Ford e Howard Hanks produziram alguns dos melhores filmes de todos os tempos driblando com maestria a ditadura do código. Mas eu fico aqui imaginando como seriam as tramas de filmes clássicos se o Código não existisse, e tudo fosse liberado como o é hoje em dia. Por isso, vou tentar aqui reproduzir para vocês hipoteticamente como ficariam os grandes filmes da época. A quem ficar ofendido: tente lutar pela criação do Código Hays da internet. Esse Progressista vulgar ia dançar bonito. Na semana que vem publico a parte dois, na qual tentarei imaginar como ficariam filmes modernos como Pulp Fiction e Clube da Luta, entre outros, sob a égide do Código. Isso é, se não formos censurados até lá. Esperemos.

CASABLANCA
Se Casablanca fosse feito sem ter de respeitar as vigorosas leis do código, Bogart jamais teria deixado a Ingrid Bergman fugir com o manezão herói da resistência nazista. Nada de "nós sempre teremos Paris". Bogart ia mandar um belo "nós sempre teremos essas duas balas que eu vou mandar na cachola de vocês", e ia tirar um três oitão do bolso e estourar a cabeça dos dois. Depois, o comandante de polícia francês interpretado pelo Claude Rains - que o filme apenas sugere pelos seus modos ser homossexual- chegaria para consolar Bogart, e daria então uma leve passada de mão nele, soltando um "você sempre poderá ter a homossexualidade". Os dois então dariam as mãos, e Claude viraria para os seus comandados, soltando o "prendam os suspeitos de sempre", ao que Bogart complementaria com um "isso é uma coisa bem Verbal Kint, Claudinho!". Risinhos e carícias, os dois entrariam então no avião e o filme veria então o seu the end. Ficaria bem melhor, não é?

Uhm, já entendi...


FESTIM DIABÓLICO
O filme é famoso por mostrar um suposto casal de amigos recebendo convidados para uma festa, enquanto um baú no meio da sala guardava o cadáver de um homem morto pelos dois no começo do filme. Hitchcock não faz qualquer menção para a óbvia homossexualidade dos dois, deixando para os espectadores interpretarem por si próprios. Mas e sem o Código Hays? Vixe, os convidados nem bem estariam chegando, e os dois já estariam lambendo os beiços. O professor interpretado pelo James Stewart soltaria piadas a cada dois segundos, no melhor estilo " em casa de viado, todo espeto é de pau" e tudo mais. No final, sua homofobia seria punida com uma violentíssima cena de assassinato, e então presenciaríamos a primeira cena de canibalismo do cinema. Perderíamos a clássica tomada final com os três esperando a polícia, mas temos de admitir que nada é melhor do que uma boa cena de canibalismo. Seria, sim, um avanço importante para a sétima arte. E ficaria bem melhor também.

A MALVADA
Sério, sem o Código Hays esse filme teria a maior concentração de "you bitch!" da história do cinema. Ia ser um a cada dois segundos. E obviamente, a lascividade da personagem da Anne Bexter iria então poder ser exaltada em toda a sua glória. O filme teria então a exata dose de decadência vulgar clamada pelo roteiro. Uma ceninha de lesbianismo entre a Bettie Davis e a Baxter, no melhor estilo "entre tapas e beijos"? Acho que rolaria. Eu acho que assim ficaria melhor.

"Are you talkin to me, bitch? Want to get some?"


A FELICIDADE NÃO SE COMPRA
James Stewart ia encher os seus filhos e a mulher de porrada na cena anterior à sua ida para a ponte. Nas cenas de brigas no bar, ia ser um festival de palavrões também. A atmosfera do filme ia ser bem South Park, com os habitantes da cidadezinha de Bedford Falls soltando blasfêmias e profanidades a cada dois segundos. E na cena final, Stewart ia pegar todo o dinheiro juntado pelos habitantes da cidade e ia fugir com a família para o norte, dando uma bela banana para os caipiras. Sim, o Código Hays também exigia finais felizes e edificantes para os filmes. Mas sem ele... Seria melhor.

RASTROS DE ÓDIO
O adultério apenas levemente sugerido pelo filme no início seria mostrado em todas suas cores para os espectadores, e o personagem de John Wayne iria no final matar mesmo a personagem da Natalie Wood, como ele disse que faria durante todo o filme. Antes de morrer, Natalie ainda teria tempo de soltar um "eu posso ser um lixo comanche, mas tô na moda!". Wayne, desvairado, soltaria uma rajada de balas em cima dela e do mané que tentou protegê-la e que nos atormentou com cenas secundárias inúteis durante todo o filme. Cenas essas que foram frutos do próprio Código, já que serviam para amansar o tom da narrativa, e se não fosse por ele, John Ford jamais as teria colocado no filme. A morte dos dois seria então a verdadeira redenção. Ia ser uma cena um tanto como cruel, já que Wayne tinha duzentos metros de altura e Natalie era diminuta, mas o choque ia ser real. E não haveria redenção para o personagem de Wayne, que seguiria sendo o racista safado do começo do filme. Melhoraria bastante, mesmo.

Nessa, Wayne já mandava dois balaços.


...E O VENTO LEVOU
Sério, se a Scarlett O'Hara já era uma perva mesmo com o Código, imaginem como ela seria sem a ação dele? Uma dominatrix de fazer a Sharon Stone no Instinto Selvagem parecer a Dorothy do Mágico de Oz. Ficaria muito, muito, mas muito mesmo, melhor. Falando em Mágico de Oz...

MÁGICO DE OZ
O mais simples de todos. Toda a parte passada em colorido no filme, com a Dorothy em Oz, teria uma explicação. Seria apenas resultado de uma viagem daquelas em LSD dela com os seus amigos caipiras-junkies do Kansas. Doidona, ela teria imaginado todo esse mundo colorido, cheio de Homens de Lata, Espantalhos falantes e Leões medrosos, e no final, com o efeito do ácido passado, ela acordaria achando que tudo tinha sido fruto do furacão. Mas a tomada final ia mostrar o comprimido psicodélico, indicando a verdade. Que melhora seria essa.
Semana que vem, a parte 2.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Citius, Altius, Fortius! - Reflexões Olímpicas

Não há nada melhor do que ser brasileiro e assistir aos Jogos Olímpicos. Eu espero quatro anos inteiros por esse momento. Um momento de ser um brasileiro, mas do que em qualquer outro. Sério, ficar insone nas madrugadas, bater no peito orgulhoso e ver o Brasil-sil-sil de Policarpo Quaresma e Dorival Caymmi (in memorian) perder na vela, no basquete, no atletismo, no ciclismo, no judô, no handball, no polo aquático, no hipismo, na ginástica artística, na ginástica rítmica, nos saltos ornamentais, na luta greco-romana, no boxe, no taekwondo, na canoagem, no tiro, no badminton, no triatlon, no arco-e-flecha, no remo, no pentatlo, no levantamento de peso, no vôlei, no vôlei de praia, e outros que eu esqueci o nome. Aonde tiver um atleta com uma camisa escrita BRASIL no peito, com certeza haverá uma linda, gloriosa, olímpica derrota. Eu não consigo tirar os olhos da telinha. E o bom dos Jogos Olímpicos é que nós conseguimos sempre levar piabada até na única modalidade que somos supostamente os melhores, o orgulho da nação. Sim, o futebol. E pra Argentina, ainda! Que delícia! É um desbunde. Diz-se brasileiros, mas pode chamar de sádicos mesmo. Mas vocês devem ter reparado que eu omiti a natação lá em cima. É um esporte no qual temos o prazer de acompanhar as mesmas derrotas de todos os outros esportes.

BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!!!!!!!!!!!!! É assim que eu gosto.


Mas eu tenho um protesto a fazer. Sim, é contra você, César Cielo. Quem o senhor pensa que é pra chegar nas Olímpiadas e ousar vencer uma prova? Quem é você para achar que pode quebrar o nosso maravilhoso sadismo olímpico ganhando uma competição? Quem o senhor acha que é para ousar colocar uma medalha de ouro, eu disse, uma MEDALHA DE OURO num peito no qual esteja marcado o nome Brasil? Quem o senhor imagina ser ao ousar subir no alto de um pódio, lugar que não foi feito para brasileiro pisar, e ouvir com a medalha no peito o nosso hino? Imagino o trabalho que o senhor deu para a organização dos jogos, que deve ter tido de baixar na internet nos Limes Wires da vida o nosso hino, que ninguém nem se dá ao trabalho de levar para as provas. Não, tá errado. Tá tudo errado. Você é um traidor, um apátrida. O seu lugar não é aqui, no seio da nação na qual tudo se planta e tudo se dá. O senhor devia ter feito como todos os nossos maravilhosos atletas e ter pego uma bela vigésima-quinta colocação e colocado a culpa na piscina, no cloro, no óculos, no maiô, no dólar, na morte do Heath Ledger, e todas aquelas desculpas deliciosas que só fazem as derrotas dos nossos queridos atletas ficarem mais saborosas ainda. O senhor é um brincalhão, senhor Cielo! Por isso, lanço a campanha EXÍLIO JÁ para você. Vá embora do nosso país e compita por um daqueles países nos quais os atletas estão mais preocupados em vencer do que em arrumar desculpas e passear por aí, como Cuba, Rússia, China e outros. Ver o nosso dinheiro ser gasto com você e o senhor fazer por merecer é um desgosto muito grande. Fora, já! Há, lembrei, o senhor treina nos EUA... Tá, eu te perdôo então. Agora deixem eu ir, parece que daqui a pouco vai começar uma competição de atletismo com um brazuca, e vocês já sabem, né? Não somos os mais rápidos, nem os mais altos, e nem os mais fortes. Que orgulho. Abre a cortina do passado!


Capitão Nascimento para Cielo: "Tira essa bandeira da cabeça, que você é moleque!"

sábado, 16 de agosto de 2008

Comentadores Malvadões - o Filme

Advertência: as fotos de Natalie Portman se prestam unicamente a distrair os eventualmente ofendidos pelo texto a seguir, estando portanto desvinculadas do conteúdo do mesmo.

Oiiiiiiii.

Num dos tantos livros de Aristóteles dos quais só nos restam fragmentos, Da Chatice, o Filósofo distingue dois tipos de chatos, a saber: o chato por conhecimento e o chato por ignorância. O primeiro é chato por muito saber, aborrecendo as pessoas com discursos corretos, mas “excessivos”. Aristóteles diz literalmente “aquele que calca o saco”, referindo-se a como é visto o chato por conhecimento. O segundo chato o é por não saber o bastante, porque, como Aristóteles adverte, “todos sabem algo, mas ocorre não saberem na medida”, sendo que aquele que é chato por não saber o bastante alardeia saber o que não sabe, dizendo coisas que pessoas inteligentes (Aristóteles diz “aqueles não-otários”, mas também “os dificilmente vislumbráveis”) logo percebem ser embustes (“groselha”, conforme o Filósofo).

Ora, this is ourselves under pressure.

Uma coisa que os antigos ficaram nos devendo por se tratar de algo óbvio pra eles é que as pessoas podiam ser inteligentes, e inclusive dizer coisas inteligentes, sem ser chatas. Na verdade, elas só eram de fato inteligentes se o fossem entretendo aos demais. Como bobos. Platão jamais escreveria, por exemplo, a Crítica da Razão Pura, uma das maiores grosserias jamais cometidas contra o ser humano, tamanho o mau gosto dos períodos kantianos. Por sinal, “períodos kantianos” é também uma tremenda grosseria.

Nesse sentido, a seriedade é um dos maiores impedimentos que existem para que a chatice seja erradicada do mundo. Faz lembrar uma proposta de roteiro que eu submeti à avaliação de uma produtora independente e até agora não recebi resposta.

O filme se chamaria Comentadores Malvadões – o Filme. Fala de uma organização semi-secreta de comentadores de blog que criou uma intrincada e influente rede de comentários chatinhos, geralmente mal-educados e eventualmente ameaçadores, a blogs de pés-rapados que só escrevem por diversão. Os Comentadores Malvadões respiraram uma toxina liberada pelas plantas de um filme do Shyamalan, fazendo com que eles perdessem todo o pouco senso de humor que tinham e ficassem muuuuuito sérios.

A história começa quando um grupo de blogueiros de Itapecerica da Serra tem sua caixa de comentários covardemente atacada por membros da sociedade semi-secreta, que defende, de maneira bastante duvidosa, como valores – Imparcialidade, Respeito e Tolerância, as três virtudes teologais da bundamolice intelectual contemporânea.

Numa conversa por MSN – uma clara referência a Closer, quando Jude Law e Clive Owen elegantemente simulam praticar sexo virtual, uma contundente crítica do diretor Mike Nichols à artificialidade das novas formas de interação humana, mera ficção de um escritor hábil, personagem de Jude Law no filme, etc e tal – um dos blogueiros de Itapecerica da Serra confronta um dos Comentadores Malvadões, por acaso mãe do diretor Kevin Smith. Eis um trecho:

“Mas se eu rebolar, quer dizer que eu sou viado?”

“Não, se você rebolar, você vira viado. Vira. Se vira, quer dizer que antes não era. Mas depois fica sendo. É diferente, saca?”

Tem que ter as filosofias na cabeça pra entender a profundidade do raciocínio, uma clara referência à Filosofia tal como nasceu na afirmação de Tales de que tudo é água, isto é, a protoproposição da unidade de todas as coisas, fundamento e anseio último da Ratio, etc e tal. E há também um confronto com sabres de luz, com a participação especial do Chris Martin, uma clara referência ao Coldplay, que também pode ser responsável pela trilha sonora do filme, com músicas sobre as dificuldades de relacionamento contemporâneas quando a conectividade é um valor tão abstrato, tão virtual, etc e tal. Outra clara referência do filme é que Chris Martin aparece lendo O que é o Virtual?, de Pierre Lévy, uma clara referência a Pierre Lévy, teórico da informação, etc e tal.

Como se vê, é um filme cheio de referências, o que acaba selecionando muito bem o seu público, apenas pessoas inteligentes que entendem referências muito sutis com sabres de luz.

Na cena final, um dos blogueiros de Itapecerica da Serra, disfarçado de oficial da SS, faz um discurso inflamado sobre o que é um blog de cinema:

“Blog de cinema é um negócio onde pessoas que não sabem nada de cinema profissionalmente (graças a Deus) poderiam escrever sobre os filmes que viram do jeito que quisessem, inclusive tirando sarro, apesar de vir um monte de fã chato de coisa ruim encher o saco porque a gente meteu o pau no que não podia. No que não podia, essa é a idéia. Mas a gente pode. Somo tudo comédia.”

E termina dizendo:

“Sois homens, e não comentadores de blog!”

Uma clara referência a O Grande Ditador, reafirmando mais uma vez a liberdade como apanágio incontestável do ser humano, desde que exercida com o esteio da inteligência, etc e tal.

Porque who are they to judge us, simply because our hair is long.

Natalie achou este post muito engraçado.

Comentário antecipado ao filme: “Comentadores Malvadões – o Filme discute as redes de influência estabelecidas anonimamente entre fãs de artigos da cultura de massa. Uma sátira ao espírito de rebanho da juventude contemporânea. É desde já um clássico contestador.”

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Madonna, adooooooooro

O filisteu da cultura diz assim: os modernos (Stravinsky, Shostakovich e cia.) são inferiores aos clássicos, de classicismo, porque exageram nos pianíssimos. E é verdade. Meu, como você vai ouvir os pianíssimos no busão? Vou te dizer: música moderna (não, não e não; de novo, estou falando de Stravinsky, e não de Madonna) é elitista, porque a gente que é marrom e ouve música no caminho pro trabalho/faculdade/casa/etc, fica como, se não tem a melhor acústica do mundo no Vila das Mercês 4632 e no Terminal Pq. D. Pedro 4506 sacolejando, mas com toda a dignidade proletária no fundo do peito amigo?

Mozart, amigos, é um menino que alegra os dias dos mais pobrinhos como eu, porque, olha, qual foi a última vez que eu ouvi um pianíssimo dele? Ah, você quer saber o que é um pianíssimo? Ora, um piano bem fininho, seu cretino!

Hediondo o blogueiro xingar o leitor. Mesmo que farsescamente. Vai que ele se transforma em comentador de blog, com as mãos peludas e coração de monstro. Nessa hora, entra uma velhinha que grita: ó, mooooonstro! E a turba se acanalhava antigamente com essas coisas. Hoje, com Kevin Smith, gênio. Ah, quer que eu desenhe o que quer dizer “farsescamente”?

Além de Mozart, Brahms, não a cerveja.

Cotas no blog: agora estou ouvindo jazz.

Mas acanalha mesmo o leitor é subestimá-lo, supor que o máximo que ele pode fazer é ouvir jazz, que pra ele jazz é erudito. Jazz não é erudito, gente. Jazz é chato. Tá, estou só brincando, Britney. Porque, por exemplo esse álbum que eu ouvi, Sarah Vaughan with Clifford Brown: era jazz e não era chato. Vocês ouçam aí, que faz bem ouvir de vez em quando gente que não berra. Sarah Vaughan vocalista, mulher e negra; e Clifford Brown, trompetista, homem e negro, só pra situar.

Madonna não é o máximo, esse é o ponto mais controverso do meu pensamento, a que eu sempre tenho que voltar quando as menininhas me param na rua. Porque, ora, vejam, ela canta mal e ela dança mal. Tá, Narcisa, finge que eu estou só brincando. Amo muito tudo isso.

A Vida de Bernie Mac (1957-2008)

Bernie Mac nasceu. Cresceu. Reproduziu. Morreu. Nesse interim produziu grandes momentos, os quais relembraremos agora. Para acompanharem o texto, sugiro que vocês coloquem ai no player dos seus PCs (ninguém aqui tem um MAC que eu sei) a batidíssima We Are The Champions. Por quê? Porque Bernie foi um campeão. E vocês também são campeões. Nós somos todos campeões. Seria o espírito olímpico? Sem mais delongas, melhores momentos da vida de Bernie Mac.


I've paid my dues - Time after time - I've done my sentence - But committed no crime -And bad mistakes -I've made a few - I've had my share of sand kicked in my face - But I've come through


Por seis temporadas, o Bernie Mac Show entreteu milhões de americanos. Sim, era uma sitcom no estilão "papai sabe tudo", como Cosby, Everybody Loves Raymond e My Wife and Kids. Sim, não era lá muito engraçado. Sim, foi totalmente ignorada no Brasil. Mas Bernie... que pai. Que paizão engraçado, meu!


We are the champions - my friends - And we'll keep on fighting - till the end - We are the champions - We are the champions - No time for losers - 'Cause we are the champions - of the world -


Ele foi um dos onze. Doze. Treze homens de George Clooney. Não que o nome dele tenha aparecido nos cartazes. Mas ele estava lá. Você deve ter rido com ele. Naquela cena na qual o Matt Damon tirava uma com a cara dele e depois se escondia, assustado com a força e parrudagem de Mac. Eu sei, era só ficção. Linha, tênue linha.

I've taken my bows - And my curtain calls - You brought me fame and fortune and everything that goes with it - I thank you all - But it's been no bed of roses - No pleasure cruise - I consider it a challenge before the whole human race - And I ain't gonna lose



Papai Noel Às Avessas. Um clássico cult. Bernie estava lá, fazendo o seu personagem de sempre. Mas, vejam só a diferença, ele ESTAVA LÁ. Como num clube de cômicos, ele apareceu para fazer duas ou três graças. Os mágicos e seus truques. Bernie e suas tiradas. Que sempre estavam lá.

(Crescendo dramático atinge o seu ápice)
WE ARE THE CHAMPIONS - MY FRIENDS - WE'LL KEEP ON FIGHTING TILL THE END - WE ARE THE CHAMPIONS - WE ARE THE CHAMPIONS - NO TIME FOR LOSERS- 'CAUSE WE ARE THE CHAMPIONS - OF THE WORLD


A Família da Noiva. Refilmagem malhada do Adivinhe quem Vem Para Jantar. Bernie Mac no lugar de Spencer Tracy e Ashton Kutcher no lugar de Sidney Poltier. As tensões não estavam lá. Os duelos psicológicos não estavam lá também. Mas sabe o que estava lá? Bernie. Sim, mais uma vez ele estava lá. Se você conseguiu prestar atenção em algo do filme enquanto o péssimo Kutcher dava seus berros costumeiros, deve ter visto Bernie no filme. Que ator. Que vida. Que Bernie. O homem que sempre estava lá. Não mais, pois Bernie morreu sábado. Nós somos os campeões, Bernie. Nós iremos lutar até o fim, Bernie.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Kung Fu neles!

Fui assistir o Kung Fu Panda(2008) há algumas semanas. Alguns já sabem minha predileção por filmes com teor violento e algum roteiro; chineses voadores sempre fizeram parte da minhas escolhas. Aproveitando uma quarta-feira, cinema barato, sequestrei minha irmã( 11 aninhos) e levei para o cinema, apesar da sua quase adolescência já estava munido das justificativas para assistir um desenho animado dublado pelo Jack Black; em versão tupiniquim pelo Lúcio Mauro Filho: tanto ator como dublador melhor do que o protagonista de "Escola do Rock".

Cinema de animação hoje em dia é uma boa oportunidade para levar alguém mais novo com um parentesco e, na maioria das vezes, ainda se divertir com o longa: na minha época de criança os pais sofriam com os musicais forçados que a Disney tentava nos enganar trasnvestidos de bichinhos coloridos e relações paternas perdidas, se pode chamar qualquer musical de não-forçado, junto dos filmes do Sr. Godard, costumam ser o pior que o cinema já tentou fazer. Enfim, cinema só para os entendidos que leram Proust e seu maçante e esgotado "Em busca do tempo perdido", o nosso "Capital literário": muitos admiram, agora quem realmente leu conta-se nos dedos.


Voltando, Kung Fu Panda faz parte dessa boa safra de animações que vieram do boom cultural da Pixar e da DreamWorks, apostando numa terceira via: nem muito infantil, nem violento e adulto demais. Com um fórmula que une boa qualidade de animação e um roteiro rápido cujo resultado é uma narrativa leve; nem se vê direito e o filme já está nos créditos. Ponto positivo este pois se trata de um filme teoricamente voltada para as crianças, mas para as crianças de hoje e fico realmente feliz que assim seja; nada de gente cantando, nada de dramas exagerados. As duas empresas americanas captaram o espírito da molecada ocidental, por isso poucas vezes seus filmes costumam perder a mão: Shrek 3 e Carros, somente.


Terminando meu bla-bla-blá desse texto quase publicitário, devo recomendar assistir o Panda Po nos cinemas. Como disse: nem vi passar os minutos, saí do cinema arrastado pela minha irmã, pois queria ficar e ver até o final dos créditos, era eu querendo ver um desenho até o fim.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Progressista e os Mitos Inconclusivos do Cinema

Vocês já devem ter visto aquele programa maleta do Discovery Channel (o canal que adora mostrar animais fazendo coisas feias), Caçadores de Mitos, no qual dois carecas estranhos sentem um prazer absurdo ao provar que certas lendas urbanas que envolvam pormenores científicos são, como o nome diz, mitos, não correspondendo à realidade ou às leis da física, química e outros. Os carecotes (que devem ou não formar um casal na vida real) realmente adoram dar uma de Newtons e tirar uma com a nossa cara. Mas eu pensei que poderia ser uma boa se eu pegasse a premissa do programa e transferisse para o mundo do cinema, desvendando mitos e lendas urbanas que existam no universo da sétima arte. Sim, eu, Progressista, mais malhado que boneco de Judas em sábado de Aleluia, venho aqui dar um talk to the hand para os Right Said Freds (lembram, I'm Too Sexy, Don't Talk Just Kiss?) da ciência e provar que, sim, eu sou o verdadeiro Caçador de Mitos. E sem aquelas barbas obscenas. In your face!



Vamos lá, todo mundo cantando junto: "I'm too sexy for my love, too sexy for my love, loves going to leave me "


Mito: Adam Sandler é um bom ator dramático
Verdade: Adam Sandler é tão tosco em dramas quanto o é em comédias
Explicação: quem viu Embriagado de Amor e Espanglês sabe. Para ele, atuar com alcance dramático significa ficar olhando para baixo durante todo o filme. O quanto esses dois filmes perderam... Uma grande pena, mesmo.
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Mito: Jack Black é engraçado, e seus filmes sempre são hilários

Verdade: Jack Black é tão engraçado quanto uma operação no dente do siso, e seus filmes são sempre belas porcarias

Explicação: as caracterizações estupidamente exageradas de Black fazem os seus filmes se tornarem experiências realmente transcedentais. Quem aguentou o gordinho em filmes como Escola do Rock, Nacho Libre, Tenacious D e até em filmes nos quais era coadjuvante, como Alta Fidelidade, pode esfregar as mãos desde já, que o seu lugar no céu está garantido.

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Mito: Darren Aronofsky é um gênio, e seus filmes Requiem Para um Sonho e A Fonte são obras-primas

Verdade: Darren Aronofsky é um embuste, e seus filmes Requiem Para um Sonho e A Fonte deveriam vir com rótulos de "Somente para Junkies e deslumbrados".

Explicação: truques baratos de edição não fazem um filme. Brincar com o tempo pode até confundir a audiência num primeiro instante, mas esse truque também não funciona por muito tempo. Mas ele é casado com a Rachel Weisz. Essa não é mito não, ela é muito, muito verdadeira. Parabéns, Aronofsky.

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Mito: A trilogia Senhor dos Anéis é o maior momento da história do Cinema

Verdade: a trilogia Senhor dos Anéis faz jus à "qualidade" da obra literária de Tolken: 9 longas e excruciantes horas de árvores falantes, Gollums, Frodos, e ambíguas Sociedades dos Anéis.

Explicação: quando o Led Zeppelin escrevia letras usando as referências do universo do Senhor dos Anéis, todo mundo zoava. O princípío é o mesmo no caso dos filmes. Breguice pura.

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Mito: os filmes do Kevin Smith são inteligentes, cheios de diálogos sagazes e espirituosos, referências brilhantes, e os fãs do diretor são todos descolados e inteligentes

Verdade: os filmes do Kevin Smith são verdadeiros desfiles de oligofrenias e obscenidades, cheios de referências estupidamente óbvias, de fazer corar até fãs do Todo Mundo em Pânico, e seus fãs são uns pregos.

Explicação: assistam a quinze minutos do Império do Besteirol Contra-Ataca. Quinze minutos, apenas.

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Mito: Woody Allen sempre interpreta a si mesmo, e seus filmes sempre parecem uma eterna reciclagem de temas e personagens

Verdade: Woody Allen sempre interpreta a si mesmo, e seus filmes sempre parecem uma eterna reciclagem de temas e personagens. Excelente.

Explicação: Sério, quem liga para isso quando temos filmes como Noivo Neurótico e Noiva Nervosa, Manhattan, Rosa Púrpura do Cairo, Hannah e Suas Irmãs e Crimes e Pecados para assistir? E que tal Broadway Danny Rose, Tiros na Broadway e Era do Rádio? Lógico que a produção dele piorou depois que ele fez uns 60 anos. Quando eu tiver essa idade, eu já vou ter tombado, então, um brinde para Mr. Allen.

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Mito: M. Night Shyamalan era um cineasta promissor, que mergulhou num mar de auto-indulgência depois de fazer O Sexto Sentido, e seus filmes estão tornando-se exponencialmente mais constrangedores à medida em que são lançados

Verdade: Shyamalan sempre foi um embuste. Por isso, o lamaçal no qual sua carreira vive hoje não pode ser considerado uma surpresa.

Explicação: O Sexto Sentido perdeu recentemente o título de filme mais superestimado da história para o Dark Knight. Por isso, a caminhada patética que culminou no Ed-Woodiano Fim dos Tempos (lançado mês passado) era mais do que prevista. Se você não tem talento e faz um filme mediano que acaba virando obra-prima na mão dos críticos incautos, a chance de você fazer um tolo de si mesmo passa a ser gigantesca em seguida, pois você acaba perdendo a única coisa que poderia fazer seus filmes soarem melhores do que o seu real talento: auto-crítica. Ouviu, Nolan?

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Mito: Alec Baldwin é o irmão Baldwin mais talentoso

Verdade: ele não é.

Explicação: O William Baldwin é melhor do que ele. Pena.


Acho que essa foto pode falar por si mesma.


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Mito: Glauber Rocha era um cabecóide sem talento, e seus filmes eram exercícios de uma pretensa intelectualidade vazia, para gringo aplaudir.

Verdade: Glauber Rocha era um cabecóide sem talento, e seus filmes eram exercícios de uma pretensa intelectualidade vazia, para gringo aplaudir.

Explicação: é sempre uma alegria quando um mito se prova verdadeiro. Então, ele deixa de ser um mito. Isso é muito metafísica para o meu gosto, então paramos por aqui. Ao menos por enquanto. Não é o fim, ainda.