segunda-feira, 16 de março de 2009

Fomos ao Cinema ver Entre os Muros da Escola

Vou descrever aqui as coisas que descobri assistindo ao filme francês Entre Os Muros da Escola, vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado e indicado derrotado ao Oscar de melhor filme estrangeiro (perdeu para a produção japonesa Okubirito), e que retrata com um ar quase documental o cotidiano de uma classe em uma escola pública na periferia de Paris, e a luta de um professor jovem e idealista para conseguir transmitir os seus ensinamentos para os maltratados alunos. Sim, você deve estar pensando, "mas eu já vi esse filme um milhão de vezes!". Dessa vez é bem diferente, vai por mim. François Bégaudeau, que interpreta o professor, também escreveu o roteiro, baseado em suas próprias experiências como professor. Ele também é vocalista de uma banda punk francesa (uma contradição em termos), escreve colunas de futebol, é autor e roteirista. E, segundo os suspiros e assovios das moças presentes na sessão na qual me encontrava, é biito também. Baita exagero, logicamente.



Coisas que descobri:

Paris tem periferia.

Paris tem escolas públicas.

Paris tem bons alunos.

Paris tem maus alunos.

Paris tem tensões raciais.

Paris tem imigrantes ilegais

Paris tem imigrantes de diversas etnias, muitos deles de ex-colônias francesas, e muitos deles ilegais.


Paris tem professores brancos dando aulas em escolas de periferia, o que gera constantes tensões com os alunos de outras etnias, que se sentem marginalizados e inferiorizados, e muitos deles ilegais. E imigrantes ilegais infelizmente não são permitidos pela constituição francesa, o que em nada afeta o lema daquele país (o lindo Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

Paris tem imigrantes chineses ilegais.

Paris tem estudantes chineses que são os melhores alunos nas suas respectivas salas de aula, mesmo sendo imigrantes ilegais.

Eu, eu , eu, eu!


Paris tem estudantes encrenqueiros que são os piores alunos das suas salas, e mesmo sendo imigrantes legais, têm sobre as suas cabeças ameaças de deportação. Ou seja, tanto os bons e os maus alunos acabam enfrentando os mesmos tipos de problemas, se forem imigrantes legais ou ilegais provenientes de continentes como África e Ásia e estiverem vivendo na periferia de Paris.

Professores brancos dando aula para alunos em salas de aula da periferia de Paris com esmagadora predominância de alunos de outras etnias acabam podendo soar um bocado arrogantes, com uma perigosa condescendência permeando os seus atos. Mas eles são brancos e franceses, então eles estão bem.

Conselhos de classe de escolas na periferia parisiense podem ser discriminatórios quando lidam com imigrantes legais ou ilegais. Por isso, se um dia vocês forem imigrantes legais ou ilegais estudando em uma escola na periferia de Paris e venham a passar por um conselho de classe, tenham em mente uma coisa: ferrou.

Imigrantes africanos são muito orgulhosos em relação às nações de origem das suas famílias. O que nos lembra, dado o altíssimo número de ex-colônias francesas na África, que a França se divertiu pacas no continente negro na época do neocolonialismo.

Se você tem duas alunas chatas pra cacete, que ficam interrompendo a aula o tempo todo e tirando um sarro da sua cara, você, professor, em vez de fazer valer a sua autoridade pelos métodos convencionais, pode simplesmente chamá-las de prostitutas na frente da sala toda, e tudo ficará bem. Ninguém questionará a sua falta de polidez, seu misoginismo flagrante e outras coisas menos cotadas.
Agora, se o aluno mais rebelde da sua sala pergunta, na frente de todos os seus alunos, se você é gay, ai você poderá responder educadamente. Totalmente proporcional.
Eu sou o punk da periferia, sou da Freguesia do Ó, ó, aqui pra vocês!

Os emos da periferia parisiense são melhores que os nossos. Eles têm uma razão social, o que é muito importante.

Zidane é mais citado no filme que o presidente Nicolas Sarkozy. Talvez o careca devesse considerar morar por um tempo no Palácio de Versalhes. A molecada toda ama o rapaz, filho de imigrantes argelinos.

A seleção argentina de futebol é citada, mas a brasileira não. E agora, Galvão Bueno?

O futebol é a cura para todo mal. Depois de 130 minutos de aulas mais parecidas com batalhas, xingos, bravatas e racismos para todos os lados, tudo o que precisamos fazer para recuperar o nosso senso comunitário é organizar uma bela pelada entre alunos e professores. Meio que nem o Golpe Baixo, aquele filme do Burt Reynolds que foi refilmado recentemente com o Adam Sandler. Putz, eu tinha de enfiar o Burt Reynolds e o Adam Sandler nesse texto. O que acontece comigo?

Paris é muito hypada. Se as cidades européias fossem bandas, seria sem dúvida alguma o Radiohead.
O filme é bom.

Um comentário:

  1. Parece pesado também... Mas vou ter que ver isso! O problema é que devo entrar em crise com a educação logo em seguida...

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