sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fomos ao cinema ver Bastardos Inglórios Vol. 1

(aka The 209th Post by Camarada Fundamentalista)

Bastardos Inglórios é filme pra quem gosta mesmo de Tarantino. Gostar mesmo de Tarantino tem a ver com baixar as trilhas sonoras dos filmes dele e ser burrão de achar Kill Bill melhor que Pulp Fiction. Já não gostar mesmo de Tarantino deixa ver que Pulp Fiction nem é do Tarantino. Pulp Fiction é bom demais pra ser do Tarantino. Muita gente, inclusive eu, faz campanha pra que Pulp Fiction não seja do Tarantino. Pra que seja do Robert Zemeckis. Ou do Cameron Crowe. Ou do Robert Redford. Ou pra que volte a ser do Danny DeVito. Tudo menos do Tarantino. Pode ser até do Liev Schrieber. Só tira pelamor o nome do Tarantino dos créditos. É que Pulp Fiction criou um mito. Criar mitos é a segunda pior coisa que pode acontecer no mundo do cinema, e acho que da literatura, se eu lesse livros. Só perde pra ressuscitar carreira de astro decadente. Tipo John Travolta ressuscitado em Pulp Fiction graças ao diretor Danny DeVito pra depois produzir A Reconquista, eeeeeeeee. Esse mito se chama Quentin Tarantino.

Mas Bastardos Inglórios pode ser do Tarantino. Faço questão de que todo o mundo saiba que Bastardos Inglórios foi escrito e dirigido por Quentin Tarantino. Porque Bastardos Inglórios tem 150 minutos. Porque Bastardos Inglórios tem uma cena em que a cara do Hitler é metralhada até virar pudim. Porque eu saí do cinema mais preocupado com a cara do Hitler transformada em pudim na base do tiro que com a intertextualidade. Porque teve muito neguinho crítico de cinema que deu cinco estrelas pro filme por causa da homenagem a toda a porcaria da história do cinema. E eu acho muito bom as pessoas homenagearem toda a história do cinema. Mas o cara não pode fazer isso só porque acha que dirigiu Pulp Fiction. Porque quem dirigiu Pulp Fiction foi o Danny DeVito. Aquele gordinho baixinho e careca.

Três fãs do Tarantino me esperando na saída do metrô.

E o problema é que quem gosta mesmo de Tarantino acha que ele é tipo o Messias. A história toda do cinema convergindo nele. E o pior é que o Tarantino acha mesmo que é o Messias. Senão não fazia um filme que faz convergir em si a história toda do cinema de um jeito todo atrapalhado. E todo o mundo acha o Tarantino um cara muito doido. E deve ser mesmo. Mas fazer pudim da cara do Hitler é uma coisa que ainda me choca. Apesar de muita gente me responder na hora que, pô, é um filme do Tarantino. Então tá. Só que eu fico chocado. Mas não com todo o mundo olhando. Fico chocado e quietinho. Pode me chamar de filisteu. Pode me chamar de tonto. E eu acho que alguém devia apresentar o Tarantino a um ser humano de verdade. Não ser humano de filme de luta. Ser humano ninja. Tarantino, esse aqui é o ser humano. Ser humano, esse aqui é o Tarantino. Porque tem gente que morre em Bastardos Inglórios, e a gente não está nem aí, gente que devia morrer com a gente gritando pelamor não mata ele, não mata, ahhhhhhhhhh.

Eu não sou fã do Quentin Tarantino a ponto de achar Kill Bill, os dois volumes, o máximo. Achar Kill Bill, os dois volumes, o máximo é coisa de adolescente que quer ser cineasta quando terminar o Ensino Médio daqui a dois anos. É o sujeito que lê O Guia do Mochileiro das Galáxias hoje, aos 15, e acha o melhor livro do mundo, e vai ler O Guia do Mochileiro das Galáxias aos 45 e ainda vai achar que é o melhor livro do mundo. Porque Kill Bill é bem legal e tudo. Mas é fase. Eu tive a minha. Assobiei a musiquinha. Comprei a caixa The Box Deluxe Sweet Child of Mine Edition. Curti a Uma Thurman. Namorei uma japinha com cara de protagonista de filme de terror japonês e chamava ela de Gogo. Dei até com uma arma mortal na cabeça dela. Comprei um macacão amarelo e um tênis de alpinista amarelo. Fui pra Liberdade atrás da japonesada pra lutar e tudo. Etc, etc. Mas, sei lá, passou.

O filme é tipo meio que a história de uma menina e um cara que tipo persegue e não persegue ela, mas não é nada pessoal. Aí a menina foge, e o cara continua perseguindo outras pessoas enquanto ela não aparece, mas aí quem aparece são os Bastardos Inglórios, que tipo não têm nada a ver com a menina, porque eles nem conhecem ela, e tal, mas o cara meio que conhece os Bastardos, que também perseguem uns caras, no caso os nazistas, e, ah, a menina é judia e tudo. E tem aquela mesma estrutura em capítulos dos dois Kill Bill. Mas mais preguiçosa. Uns enquadramentos classudos. David Bowie. E eu queria que o Tarantino voltasse a ser objetivo como em Cães de Aluguel.

Bang bang, she shot me down.

Isso até me lembra de outro dia quando um amigo meu me perguntou sobre o que é que era Kill Bill, que o extraterrestre não tinha visto. Aí eu disse que era tipo meio que uma paródia, mas mais do que isso, de filmes de artes marciais. Mas aí eu vi que dizer que era tipo meio que uma paródia de filmes de artes marciais não convencia muito de assistir o filme como eu queria que ele assistisse. Mesmo que fosse mais do que isso, de filmes de artes marciais. E aí eu continuei falando que tinha uns lances de câmera que ele ia perceber de cara porque o negócio era bem filmado e tudo. E uns enquadramentos e tal por ser bem filmado e tudo. E aí ele se convenceu e disse que veria um dia. E aí eu fiquei satisfeito e aliviado. Nem sei por quê. Acho que não queria parecer burro.

Bastardos é uma sátira de guerra. Isso porque tem o Hitler falando cuspindo meio histérico. Como é uma sátira de guerra, as pessoas vão logo lembrar de Doutor Fantástico. Mas pomba! Doutor Fantástico não foi dirigido pelo Tarantino. E não é qualquer guerra. É a Segunda Guerra Mundial. Mas a verdade é que o Tarantino passa que nem um trator por cima disso. Porque podia ser sobre qualquer guerra. Qualquer coisa. Podia ser sobre a guerra da Indochina. Podia ser sobre a Escola de Sagres. Que dava na mesma. Tudo porque é um filme do Tarantino. Com um carimbo gigante na testa dos atores e nas cenas dizendo Tarantino’s movie. E tem também um gordo que nem dizem que querem que a gente ache que é o Churchill. Mas é. E o Mike Myers na mesma sala com esse gordo que deveria ser o Churchill. O que é muito inverossímil. Porque o Churchill nunca ficaria na mesma sala com alguém como o Mike Myers. O Mike Myers que é o, er, astro decadente da vez a ser ressuscitado. Mas sinceramente acho que não vai rolar. E eu acho que o Tarantino devia logo refilmar Era Uma Vez no Oeste do jeito que o Gus Van Sant refilmou Psicose. Aí ele parava de enfiar Sergio Leone goela abaixo da gente, que é bem legal e tal, mas pô.

Agora meu TOP 5 dos filmes do Danny DeVito:

5. Morra, Smoochy, Morra
4. Matilda
3. Hoffa
2. Pulp Fiction
1. Era Uma Vez no Oeste

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