quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Educativo, apenas:

Mas deixa eu me mostrar antes que as festas venham a me constranger a ser bonzinho, abandonar o estilo arrevesado e passar a escrever como jornalista, isto é, murchinho e acessível, com listas de lugares aonde você pode ir comprar os ingredientes pra uma ceia de Natal bem baratinha e gostosa.

O Word é tão inteligente que sabe o que quer dizer “capitulo”. Tanto que quando eu, que sou bem mais simplesinho que o programa, quero dizer “capítulo”, mas me esqueço de acentuar a proparoxítona, ele fica quietinho, imaginando que eu na verdade quisesse dizer que capitulei. E capitulei mesmo.

A seguir, cenas do próximo capítulo:

Em que tento lhes explicar por que Igor Stravinsky é absolutamente necessário para entender quem somos.



Aqui temos o primeiro link (ah, os precedentes que abro) do YouTube deste blog (porque aprecio pioneirismos), sob protestos apaixonados de todos quantos sempre nos viram como um blog arte, praticamente artesanal e resistente a modinhas, com nojo de Orkut e tudo. Mas descobri o prazer de ver concertos e balés pelo YouTube. E o link é necessário e justificável, uma vez que nenhum de vocês, saudáveis e filistinos, sentirá o mínimo interesse por ver um balé que inaugurou a música moderna, sabe, David Bowie, pós-punk, Britpop.

Trata-se da tentativa pelo The Joffrey Ballet de reconstituir a estréia da Sagração, com coreografia de Nijinsky e cenários de Stravinsky.

A Sagração da Primavera é a música da catástrofe que no ano seguinte se iniciaria com a Primeira Guerra Mundial e que até hoje não terminou, porque finalmente compreendemos, graças a Stravinsky e ao século XX, que a civilização é um adiamento cada vez menos eficaz e convincente de um fim prometido desde o início.

O balé de Stravinsky é a imagem exata do legado do século XX à história subseqüente. A saber, a consciência da catástrofe e um sentido histórico que não é senão uma escatologia. Já não podemos ignorar que sempre estivemos e que sempre estaremos a caminho do desastre. Não é pessimismo, contudo. Pessimista seria dizer que as coisas já foram melhores. É necessário dar ouvidos a Benjamin e rejeitar progresso e decadência, conceitos que se implicam. O que existe é a miséria na qual temos vivido muito bem. Mas que ainda é miséria. E a ruína completa é sempre iminente.

Sensibilidade moderna, de que todo artista deve ser dotado para de fato ser um artista, é isso. E por isso todo político honesto, por mais inteligente que fosse, seria burro: ele quer mudar o mundo, ele acha que pode. Que é só uma hipótese o tempo verbal empregado deixa claro.

Mas não existe redenção. Neste ponto, discordo de Benjamin. Redenção é algo anistórico. Significaria, de fato, o tão falado fim da história. Jesus descendo em glória com seus anjos para julgar a humanidade.

Aliás, o Richard Dawkins que me ler certamente me lançará em rosto o inconfessado estofo cristão dessas considerações. XP



E aos quarenta e cinco do segundo tempo, enfim a beleza. Não, não Hilary Hahn.

Aqui, puro impressionismo meu. Em seu Concerto para violino #1, Prokofiev manifesta o embate entre a emoção intelectualizada, tipicamente moderna, e o arrebatamento senão pela retomada da tradição melódica popular, freqüentemente folclórica.

O segundo movimento disseca essa tradição, cuja melodia é mutilada, servindo suas partes a um procedimento comum aos modernos. Trata-se de destacar o detalhe e torná-lo maior que o todo, provocando o efeito do grotesco recorrente nas obras. Operação que é responsável pelo caráter intelectual da poética moderna. Tanto que a concessão ao belo clássico, o belo por excelência, ocorre apenas a custo de uma elaboração que o argumente. Na peça de Prokofiev surge senão aos dois minutos do último movimento, sob muitas ressalvas. Daí esta definição: É moderno tudo que se veja obrigado a justificar a beleza.

Mais um pouco de arte, agora:


Aqui temos um palhaço fumando num café. É um quadro de Hopper de um palhaço fumando num café. Próximo slide.


Sim. Podemos ver que Yeats tinha mesmo, além do nome, cara de literato. Um homem com essa fisionomia certamente haveria de consolar velhotas com poemas imortais.




Por fim, Vanessa Carlton ao vivo, “A Thousand Miles”, que é absolutamente emocionante, absolutamente apaixonante.

3 comentários:

  1. hmm, tava legal até a vanessa carlton entrar... ou talvez eu seja uma psicopata que não se emociona com vanessa carlton. pobrema meu. regina spektor que me salve.

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  2. Pois a maioria diria que não tava legal até a vanessa carlton entrar. Por isso a gente te ama e te preza. Mas o meu credo é Kate Nash: Kate Nash, Kate Nash, Kate Nash.

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  3. sim, sim. kate nash também é digna de culto. vou entalhar a cara dela num tronco e pendurar no meu guarda-roupa, ao lado do queijo quente da regina spektor.

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