sábado, 25 de julho de 2009

A crítica da crítica da crítica da crítica

Ouvindo conversas alheias em locais públicos, descobri que, minha nossa, todo o mundo tem blog hoje em dia. A maioria é ruim. Pois a maioria diria que a proliferação de blogs mostra que as pessoas estão lendo e escrevendo mais. Gente chatinha que escreve mal e lê os livros errados sempre está preocupada com que as pessoas leiam mais. Sim, é possível que você esteja lendo os livros errados. Exatamente, gente chatinha não acha que existam livros errados. Errado é não existir livros. Dã.

Só me tornei blogueiro porque tenho algo a dizer, uma mensagem a passar.

A maioria dos blogs que não te atordoa com as cores berrantes de um layout cheio de figuras de mangá é de jornalistas wannabe e entusiastas do entretenimento. O que é um entusiasta do entretenimento? Algum jovenzinho vislumbrado que prega sobre a revolução democratizante da internet, ignorando que democratizar é necessariamente nivelar por baixo. Capaz que ele acredite que a tecnologia vai redimir o ser humano, a-hã.


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Em O casamento de Rachel, as coisas pioram, as coisas melhoram, e no final fica tudo na mesma. Nos vinte minutos finais, aparece na festa um bloco carnavalesco, e todo o mundo cai no samba. Achei bem emblemático num filme em que nada se resolve. O casamento de Rachel também é Brasil.

Consenso que seja o melhor Demme desde O silêncio dos inocentes, o que não é grande coisa diante de Beloved. Se olhar sua filmografia, a gente confere meia dúzia de documentários musicais. Esse interesse por música fica evidente neste filme; no segmento final, por exemplo. Pode incomodar um pouco, mas eu gosto de diretores que se demoram nas coisas, mesmo quando elas são só do interesse deles próprios.

Anne Hathaway concorreu ao Oscar por sua atuação como a irmã egocêntrica e viciada. O filme é uma bomba emocional, transcorrendo em constante tensão, que o registro documental, de câmera na mão, acentua. E é melhor que todos esses filmes com fotografia estilizada que você tanto adora.


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E, por último, este trecho de um livro de Diogo Vasconcellos, “O mexeriquinha e outros contos”:

“Haviam dito que sim. Ela saiu dali louca varrida beijando saltitante. Se era assim, tudo daria certo não só hoje como sempre. Tadinha dela que já via flores onde nem havia caminhos. Contou as moedinhas e comprou um lanche com maionese perigosíssima, mas nem ligou, achando tudo uma delícia. Subiu no ônibus e escolheu onde sentar, e ônibus vazio era lindo, era precioso, tinha espaço pra sua alegria tola, só sua. Um menino do outro lado estava lendo Kafka, que leu na capa e depois nem olhou mais, que Kafka era deprê total.”

A referência a Kafka achei meio gratuita, mas o estilo gay é suuuuuuperlegal. Recomendo.

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