terça-feira, 18 de agosto de 2009

Datafolha: 74% querem o afastamento de Sarney

José Sarney não é judeu. Nem mesmo marrano. O y no nome faz desconfiar. Mas Britney também é com y e não é judeu. Mulheres judias são geralmente magras. O caso é que nazistas perseguem judeus. Ouvi dizer que também negros e homossexuais. Mas acho que não. Assisti A Lista de Schindler, e não tinha o Morgan Freeman nem o Rupert Everett. Só se forem judeus negros homossexuais. Tipo o 50 Cent. Aquilo na cabeça dele é um kipá, né? E o clipe em que ele e o Eminem estão presos em clima de rebelião lembra Oz.

Costumava desprezar gente que se impressionava com 50 Cent e sua trajetória de superação da bandidagem ao estrelato. “Sou durão porque levei uns tiros.” Não fosse o fato de ser judeu, negro e homossexual, ele seria nazista pensando desse jeito. Olhar as pessoas de cima pra baixo só porque levou uns tiros é o mesmo que eu esnobar alguém porque estou com o braço engessado. Militares fazem isso com civis. Esses civis aí. Tá, eu nunca quebrei o braço, nunca assinaram o meu gesto e eu já me sinto diminuído o bastante sem ter de tocar nesse assunto.

Minha reflexão profunda de hoje é que política é uma espécie de moralização do poder. Em vez de barbarizar geral sem dar satisfação a ninguém, você barbariza geral e depois pede desculpas. Você barbariza geral limpando a boca com o guardanapo. Alguém aí pode dizer que, se for assim, então a única diferença entre a civilização e a barbárie ou o chavismo é que na primeira o tapa na orelha é previsto em lei. Então.

Um ato secreto seria então a exposição necessária da coisa podre que é a nossa alma?

Mas eu estou preocupado com a desumanização que o debate político pode implicar. Queremos ter razão e acabamos enxergando do outro lado apenas a parte equivocada, faltosa, desonesta. O inimigo a ser combatido e derrotado. Um alvo. Sabe, desumanizar o outro é desumanizar a si mesmo. Por isso quero fazer algo diferente hoje.

Veja isso:



Lembra?

Bom, vou contar uma história. Fechem os olhos. Quero que me ouçam. Quero que ouçam a si mesmos.

É a história de um garotinho brincando numa praia. Pensem nesse garotinho. Imaginem o enorme sorriso em seu rostinho de bolacha e ele correndo de um lado pro outro. Imaginem esse garotinho fugindo das ondas, que avançam gentis sobre seus pezinhos bronzeados. Esse garotinho está feliz. Ele é feliz. Porque é uma criança pura e inocente. Ele nunca ordenou um ato secreto. Tirando aquela vez em que a priminha Clarice foi em casa. Mas essa vez não conta. Ele gosta de bolo de fubá. Principalmente do bolo de fubá da vó dele. Esse garotinho tem uma vó. Uma avozinha toda tortinha com um buço que espeta quando ela beija o garotinho. Agora imaginem esse garotinho de volta da praia. Ele está saindo do casarão da vovó pra ir brincar, com a boca cheia de bolo de fubá. Mas, em vez de encontrar a criançada de pé descalço esperando, ele se depara com uma multidão de caras-pintadas. O garotinho não sabe o que está acontecendo. Imaginem sua cara de bolacha ficando vermelha e seus olhinhos se enchendo de lágrimas. Ele começa a chorar daquele jeito que as crianças choram como se alguma coisa muito horrível estivesse acontecendo. E está. A multidão avança sobre ele gritando que ato secreto é crime. Ela pede que o garotinho vá embora do casarão da vovó. Da avozinha dele. Que ele vá embora e fique pra sempre sem o bolo de fubá da vovó. O garotinho corre pra debaixo da saia da vovó e se agarra nas pernas dela. Ele está tão aterrorizado que quando for adulto vai ter que escrever um romance de qualidade duvidosa sobre esse episódio e depois conseguir uma cadeira na ABL. Imaginem todos aqueles estudantes de humanidades gritando “Fora!”. Todos sem tomar banho. Imaginem o cheiro. É uma mistura de cecê e livro de sebo. O garotinho está tremendo. Suas pernas fininhas balançando. Seu coraçãozinho batendo cada vez mais depressa, parecendo que vai explodir. Vocês conseguem ver seu pequeno toráx subindo e descendo debaixo da camisetinha? Vocês conseguem ver o garotinho apertando os olhos muito forte como se isso pudesse fazer aquela gritaria horrível parar? Conseguem ver? Eu quero que vocês imaginem esse garotinho. Imaginem que é o Sarney.

Podem abrir os olhos.

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