segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Fomos ao Cinema ver Brüno

Sacha Baron Cohen é o melhor comediante em atividade no mundo do entretenimento. Seu timing cômico impecável não encontra pares entre os atores em atividade. Se falta ainda um Doutor Fantástico no currículo para podermos pensar em colocar o seu talento em disputa com o do lendário Peter Sellers, perdoamos Cohen quando lembramos que não existem muitos Kubricks dando sopa por aí nos dias de hoje. Mas preciso vir aqui lamentar a obviedade do seu mais novo longa, Brüno, baseado em um personagem do seu programa de comédia na TV inglesa, o The Da Ali G Show, um estilista austríaco gay e extravagante. Enquanto o seu longa anterior, o arrasa-quarteirões Borat, era extremamente bem contextualizado, e mantinha uma narrativa minimamente coerente, o que apenas fortalecia a sátira política presente no filme, Bruno carece pesadamente dos mesmos ingredientes, soando desde o primeiro minuto como um filme feito apenas para lucrar em cima do furor causado pelo filme anterior, e aproveitar o talento de Baron Cohen.

Os menos sensíveis podem matar as saudades do trema

A falta de foco do filme chega a ser vertiginosamente incômoda, visto que ele começa ameaçando seguir o caminho do personagem no programa de TV, fazendo troça do mundo da moda europeu e a sua conhecida superficialidade, voltando então as suas armas para o mundo das celebridades norte-americano e a sua busca insana pela fama, apontado para a batidíssima crítica sobre a adoção de crianças no terceiro mundo pelas celebridades, misturando a isso uma deslocada sátira política dentro do conflito palestino-israelense no oriente médio, para depois, e é ai que mora um dos fatores mais tristes do roteiro, apelar para um alvo fácil e preguiçoso: o choque provocado quando se expõe os valores conservadores do sul norte-americano em conflito com um personagem homossexual e de comportamento confrontador e subversivo.

Mais uma vez Sacha Baron Cohen aponta o canhão para o fanatismo religioso dos americanos, um alvo tão batido nesta década de 00, com os seus 8 anos de administração Bushiana nos EUA, e que já havia sido pintado com cores diferentes e com um efeito bem mais relevante e devastador no excelente Borat, quando Bush ainda morava na Casa Branca e a Guerra do Iraque estava em pleno vapor. Vi que a coisa ia ficar feia no filme quando, bem no seu meio, é anunciado que Bruno iria participar de um programa de televisão em Dallas, no coração do Texas. Sim, Sacha, nós todos estamos carecas de saber, o sul americano é um lugar de conceitos atrasados, valores ultrapassados e obscurantistas, e fanatismo religioso, e um lugar no qual obviamente um estilista europeu que gosta de desfilar por ai de calcinha de oncinha e flertar com congressistas republicanos não seria exatamente bem visto.

A mensagem mais uma vez é clara: fazer humor com os Americans Idiots, como diriam os punks de delineador do Green Day. Não sei se isso é pensado por Cohen e o seu diretor, Larry Charles (que também dirigiu o Borat e era da equipe de roteiristas de um seriado ai, um tal de Seinfeld) para agradar o público alvo do longa, os monetariamente saudáveis norte-americanos dos estados azuis, majoritamente democratas e que adoram ver os sulistas serem alvos de escárnio perante o mundo, na melhor tradição do “esses caipiras são os culpados pelo imperialismo americano, que, se fosse por nós, tão progressistas e libertários, jamais existiria”. Já passou da hora do senhor Sacha Baron Cohen olhar um pouco para o seu próprio quintal. Que tal pegar o personagem Brüno e jogá-lo no coração das cidades industriais inglesas?

Sacha Baron Cohen adverte: a adoção de crianças do terceiro mundo por celebridades é errada, e visa apenas a auto-promoção das mesmas

As mesmas cujos habitantes permitem o crescimento incessante de grupos de extrema-direita, louquinhos para mandar os imigrantes darem um passeio para bem longe das terras da Rainha? E que são tão conservadores quanto os surrados sulistas norte-americanos? Mas Baron Cohen é um inglês orgulhoso. O seu país, que foi vital para o estabelecimento do conflito no Iraque, motivado pelo tórrido romance entre George W. Bush e Tony Blair (que foi curiosamente esquecido pelas armas de Cohen no Borat), está acima de tudo isso. Tem consciência política, social e ideológica, trata com respeito gays, lésbicas, imigrantes e minorias, e não merece ser o alvo das inteligentes e calculadas troças de Cohen. Nem as outras nações civilizadas da Europa, esse continente fantástico que jamais gerou atrocidades como o neocolonialismo, o fascismo e o nazismo. O negócio é todos darmos as mãozinhas e cantarmos que “ nós não queremos ser um idiota americano” com a banda punk de delineador, em vez de olharmos para o próprio umbigo. Bode expiatório melhor não há. Ah, antes que me esqueça: o filme é hilário. Cohen consegue tirar humor de pedra. Mas o incômodo gerado pelas suas intenções obscuras quase joga tudo pelo alto. Já passou da hora de Sacha Baron Cohen criar coragem e nos mostrar os idiotas ingleses, franceses, alemães, espanhóis, italianos... Vai virar homem ou não, rapá? Ops, acho que rolou aqui uma homofobia bem básica... Como todos sabem, os idiotas vivem dentro de todos nós. The answer is blowin' in the wind, como diria o orgulhoso idiota americano Bob Dylan.


Obs: em protesto contra o tratamento que ando recebendo por parte dos meus inimigos, tanto internos quanto externos, escrevi o texto com o punho esquerdo levantado. Não vou negar que não foi lá muito confortável teclar assim, mas a resistência se faz necessária. Se um dia eu aparecer morto em algum porta-mala por ai, vocês já sabem quem foi o meu algoz. E eu fiquei feliz, pois foi o meu primeiro texto em muito tempo no qual eu não cito o filme Grupo Baader-Meinhof.

Sério, Progressista, NINGUÉM AGUENTA MAIS ESSA PIADINHA INTERNA, POMBAS! SEU CRETINO!

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