sexta-feira, 19 de agosto de 2011

A Árvore da Vida: uma acrítica

Obs: o termo “acrítica” não encontra correspondência na norma culta da língua portuguesa, e portanto trata-se de um neologismo, ou de uma tentativa de.


Eu gosto de dinossauros. Jurassic Park é o meu filme favorito, Jurassic Park 2: Mundo Perdido é o meu segundo filme favorito, e Jurassic Park 3 é o meu terceiro filme favorito.  Por isso tive uma grata surpresa quando assisti ao filme A Árvore da Vida e me deparei com duas cenas que continham diversos dinossauros.  Pena que as cenas duram poucos segundos. Mas eu gosto de dinossauros, e espero que todos que vejam o filme também tenham uma impressão boa dele por causa das cenas com os dinossauros, que são bichinhos maneiros (ou eram bichinhos maneiros, já que a sua extinção dificulta a apreciação dos mesmos pelas plateias modernas, que também ressentem-se da recente extinção do pássaro Dodô).

No mais, o Brad Pitt repete a sua atuação do filme Clube da Luta, que é talvez o meu filme favorito, brigando e pedindo pra apanhar em diversos momentos do filme.  Ele interpreta um pai bom de briga, e afim de briga, e que enxerga a briga como a melhor maneira de doutrinar crianças, assim como o seu personagem no Clube da Luta enxergava a briga como a melhor maneira de doutrinar adultos. A procura por frustrações no primeiro caso, e a procura por inocência no segundo. E o filme me lembrou também Conta Comigo, que é o meu filme favorito, por contar com crianças contando umas com as outras.  Uma lembrança da amizade juvenil entre crianças, e a qualidade idílica e etérea de um mundo preso em memórias que envolve uma juventude passada com crianças contando umas com as outras.

A antecipação da morte, e a entrega de um filho, que é normalmente considerado o bem mais precioso de um homem (na maior parte das vezes, penso que certos espectadores comprariam mais a ideia se fosse um I-Phone) nos braços de uma entidade maior (no caso eu apostaria em Deus, o onipotente e todo poderoso) é um tema do filme, o que me lembrou um filme que eu posso apostar alto ser o meu favorito, que á A Paixão de Cristo. Naquela obra-prima de Mel Gibson, Jesus apanhava, o que mais uma vez remete aos conceitos abordados no supracitado Clube da Luta. Jesus apanhava para salvar a humanidade, e ao contrário de Brad Pitt não revidava os golpes que recebia, já que procurava o castigo silencioso, aceitando a punição por acreditar que ela serviria a um bem maior.  Brad Pitt não acreditava que a briga traria qualquer tipo de bem, mas sim que ela criaria um senso de comunidade entre os homens, o que facilitaria a execução do seu plano fascista de dominar o mundo e escravizar os homens com a promessa de liberdade.

 Por isso tudo, é inevitável não sentir a falta do Edward Norton no Árvore da Vida, já que sem ele o filme se ressente da falta de um Clark Kent, já que sem um Clark Kent o filme acaba não mostrando as sempre maneiras cabines telefônicas, algo que me remete ao meu filme favorito, Por um Fio, clássico moderno de Joel Schumacher, onde Jack Bauer pune um desavisado Colin Farrel em nome dos pecados do mesmo, retomando a linha indivisível de pensamento que une todas essas produções: o papel de Deus na conduta do homem, e a disposição ou não do homem em sacrificar algo ou alguém importante na sua vida para apetecer a ordem divina e atingir uma nobreza bíblica, o que remete a Ben Hur e sua corrida das charretes. E ao Planeta dos Macacos, com a escravização de Chalrton Heston, que também é escravizado em Ben Hur, e que se estivesse vivo com certeza teria sido escalado nesse A Árvore da Vida, provavelmente dividindo a cena com os amáveis e maneiros dinossauros.

Tyler Durden e seu exército fascista (faux fascista?)


A figura da mãe, tratada como um anjo inocente, porém obrigada pelas circunstâncias a lidar com a dor e punição de pecados que podem ou não serem dela, remete indubitavelmente à saga Crepúsculo, que eu provavelmente devo considerar como a minha saga da filmes favorita. Nela temos Bela, um anjo caído condenado a passar o resto de seus dias na companhia de um vampiro (cuja eternidade e força e poderes metafísicos normalmente lhe atribuem a figura de um diabo medieval), por pecados que podem ou não serem dela. Oras, mas então temos mais uma vez a figura do cordeiro de Deus, a criatura inocente sacrificada pela crueldade dos homens, insensíveis à aura angelical do mesmo e de sua conexão divina. A mãe do A Árvore da Vida e a Bela são iguais, e os filmes também o são.

Se o filme é dividido em diversos fragmentos temporais, temos no mais contemporâneo o Sean Penn, que vem clamando em seus filmes um sofredor, um pecador, um ser humano sem divindades ou dons especiais, que se contenta em absorver silenciosamente e resignadamente a culpa e as punições que a vida lhe cobra, como um Jó moderno, mas ainda mais quieto do que Jó, já que Jó deu uma resmungadinha no começo dos seus infortúnios, talvez incomodado com o calor ou coisa que o valha. Como eu acredito que todos os filmes dividem um mesmo universo, e seus personagens são todos os mesmos, e suas locações e tempos são todos os mesmos, e tudo no final se resume à mesma história sendo contada desde o começo de tudo, eu acho que temos então no A Árvore da Vida um bom resumo daquilo que eu acredito ser basicamente a história que vem sendo contada em tudo desde o início de tudo, que é a história de Deus, do homem e dos dinossauros. Não necessariamente na ordem citada.



O pecador (traiu a mulher com uma modelo russa muitos anos mais jovem)


O filme é dirigido pelo recluso Terrence Malick, que segundo as poucas fotos disponíveis é um homem que tem uma barba. E que é um homem cuja existência é colocada em dúvida por muitos. E muita gente jura de pés juntos ter visto o homem andando sobre águas. Eu não sei, pois Peter Sellers fez a mesma coisa 30 anos atrás e ninguém saiu falando por ai que viu o ator inglês realizando milagres. Não, minto. Ele fez um cientista nazista recuperar o movimento de suas pernas. Mein Fuhrer, ele pôde voltar a andar. Ele andou, e assim como os dinossauros do Jurassic Park, ou os macacos do Planeta dos Macacos, ou os macacos de 2001, ou as charretes de Ben Hur, ou o Cristo do A Paixão de Cristo do Mel Gibson, ou o Colin Farrel na cabine telefônica, ou o Tyler Durden em sua fábrica de sabão, ou o Sean Penn em tudo que o Sean Penn fez, ele ficou em pé no parapeito da ponte.  E ele contemplou a natureza, essa assassina que exterminou os dinossauros e os pássaros Dodôs. E ele.. FIM

Ou não (faux finale?), já que, colocando tudo o que foi escrito aqui em letras miúdas, farei um prós e contras do filme, e vocês vejam ai se querem ou não assistir ao filme.
Prós:
-Dinossauros
-Tyler Durden
-Conta Comigo
-A Paixão de Cristo
-Sean Penn em estado de culpa e com sentimentos agridoces

Contras
-Não contar com Clark Kent
-Não contar com Chalrton Heston
-Não contar com  Peter Sellers
-Não ser dirigido pelo Mel Gibson
-Não ser dirigido pelo Joel Schumacher
-Ter menos vampiros que a saga Crepúsculo (mas é debatível se esse erro não seria compensado pelo fato do filme ter mais dinossauros que a saga Crepúsculo, dependendo subjetivamente da preferência de uma pessoa por vampiros ou por dinossauros, ou então, caso a pessoa gostar dos dois igualmente, se não for possível criar um híbrido dos dois, uma espécie de Vampirossauro, ou coisa que o valha)
-Ter os dinossauros, mas eles não serem como os dinossauros do Jurassic Park
-Eu poderia colocar também a extinção do pássaro Dodô, mas isso não pode ser considerado culpa do filme.

Agora sim: FIM (vrai finale?)

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