sábado, 19 de julho de 2025

DISCOGRAFIA COMPLETA DA BANDA PHIR JAMAH

Uma das bandas mais seminais do meio alternativo completa 25 anos. Formada na Escola Técnica Getúlio Vargas, no já longínquo ano de 2000, a banda Phir Jamah vem assombrando o meio alternativo brazuca com seu grunge bem brasileiro, carregado de crítica social, recusando de sobremaneira a sair da filosofia. Esses moleques-adultos, que adoram rimar amor com dor, terão toda sua discografia analisada, para comemorar esse marco tão importante.

 

A Pipa Virou Reflexão – 2000 



As faixas do disco eram: 1- Começou de Novo; 2- Atlântica da Nostalgia; 3- Jorge do Mercado; 4- As Luzes Sem Ribalta; 5- Eu Te Amo Pra Cacete; 6 – Dó de Nietzche (Super-Homem em Reverso); 7-Você e o Padre; 8 – Alegria do Arlequim em Ré Menor;  9-Mais Tarde o Pranto; 10- Quase Sem Querer (cover da Legião Urbana).

O disco, que lançou o desafio tipicamente Phir Jamahniano de combinar o peso de guitarras distorcidas com o suor dos instrumentos de percussão e xilofones característicos, tomou de assalto o mainstream pop-rock do país. O primeiro hit foi Eu te Amo Pra Cacete, cujo clipe, que contava com um casal fazendo uma road trip (viagem pé na estrada) pela Chapada Diamantina a bordo de um fusca, explodiu no país todo, com seu inesquecível refrão “como pode eu te amar tanto pra cacete assim, você que está em todos os lados e eu que sempre estou dentro de mim”. A música foi tema da novela Laços de Família e puxou o carro para o resto do disco. Em seguida, veio o sucesso da cover de Quase Sem Querer, que causou controvérsia pelo fato da banda, que sempre adotava um discurso vanguardista e prafrentex, aceitar seguir uma tendência constante do pop-rock brasileiro na época, que era de chupinhar o legado de Renato Russo em troca de espaço nas rádios. 

O vocalista e vanguardista RL deu a seguinte declaração na época, defendendo a atitude da banda: “- O Renato é sequência e consequência, então entra no conjunto de possibilidades verticais da banda, no discurso biológico desse organismo chamado Phir Jamah”.  O terceiro hit foi Começou de Novo, basicamente um pop-punk versando sobre as aspirações comerciais da banda e o amadurecimento de seus integrantes. Nas palavras de RL: “-A gente não era sapo como o Silverchair, mas éramos o menino procurando sua pipa e encontrando o mundo”. Os críticos receberam a banda e o álbum de maneira morna, com uma crítica em particular, de uma revista de música, afirmando que “essa merda de disco veio para provar que certos músicos deveriam ater-se às privadas de suas casas imundas”.

 

Comoção Urbana – 2002 



As faixas do discos eram: 1- Proto Humano; 2 – Diadorim; 3 – Você Sente Vergonha da sua Dor; 4- Maior que Eu; 5 – Massas Hiperbólicas; 6- Tem Amor na sua Panela; 7- Todos Estão Ouvindo; 8- Phir Jamah e seu Deus; 9- Rambo da Classe Operária; 10 – Pensei em Você e Lembrei de Pasolini; 11 – Phir Jamah Olhando Para o Espelho (cover de Man in the Mirror, de Michael Jackson)

Sucesso de vendas e repercussão e desastre de crítica, o álbum continua controverso até os dias de hoje, com sua mistura ousada e bizarra de temas sociais com pretensões mercadológicas e radiofônicas. O maior hit foi “Maior que Eu”, balada com guitarra preguiçosa e desafinada e cuíca chorando que conquistou o país, sendo parte da trilha sonora da novela O Clone. O refrão “eu tô com essa dor/ essa dor que é maior que eu” e o climão de banda tocando baladas de amor em bar à beira mar conquistou a nação. O segundo hit foi a pesada Massas Hiperbólicas, na qual a banda “clama por uma revolução de chinelos contra o status quo e as incertezas do planejamento urbano”, algo que estava escrito no release do disco. O refrão “nós vamos descer para o asfalto/pirambeiras com pedras rolando/a sua cabeça rachada com meu contralto/ o sangue derramado e você ouvindo Wando” virou piada para toda a mídia especializada, mas conquistou o coração dos roqueiros complicados e perfeitinhos da época. A crítica social do disco também não passou desapercebida, com um crítico de um caderno de música de um jornal afirmando: “a crítica social das letras desse disco possui a mesma consistência das obras de arte que deixo nas porcelanas dos banheiros por aì”, algo que reforça mais uma vez o fato constante de críticos associando os discos da banda com retórica verborrágica fecal. O último sucesso foi a bizarra cover de Man in the Mirror, de Michael Jackson, intitulada “Phir Jamah Olhando no Espelho”. O vocalista, vanguardista e prosateiro RL declarou na época sobre a cover: “se você sentar na cadeira e pensar, você vai perceber que Michael promove autocrítica com a canção, e aí nós como banda também nos sentimos na obrigação de olhar para o mesmo espelho e berrar que o problema está EM NÓS, NO PHIR JAMAH” (RL proferiu as palavras em berros, por isso a caixa alta).

 

Revolução Amável do Amor – 2005 



As faixas do disco eram: 1- Eu Amo Você Com Toda a Tristeza do Vazio Existencial no meu Coração; 2 – O Doce Champagne que Você Jorra na Sua Boca não Vai Apagar a Culpa que Tira o Seu Sono; 3 – Criaturas Apaixonadas; 4 – Você Quer Sexo mas não Entende Que Estão Todos Fugindo de Você; 5 – Ainda Que Ande Pelo Vale das Sombras Eu Recusarei a Culpa pelo Assassinato Da Sua Reputação; 6 – Vem para a Praia; 7 – De Preto Você Conquista Tudo; 8 – Amor no Supermercado (Corações no Carrinho, Mentes em Balões); 9 – Vingança Contra Todos que Atiraram nas Pernas da Minha Liberdade; 10 – Eu Escrevo sobre Pecados, Não Tragédias (cover de I Write Sins Non Tragedies, do Panic! At the Disco)

 

E do nada, o Phir Jamah resolveu abraçar o emo. A banda caiu de boca no movimento, com figurinos típicos do gênero e uma total mudança de vibe. O choque foi geral, com críticos mostrando preocupação com o estado mental dos integrantes. O vocalista, vanguardista, prosatista e polemizador RL defendeu a escolha da banda com a seguinte declaração: “o emo veio e mostrou para o Phir Jamah que nós estávamos todos tristes com tudo o que tem e existe no mundo. O emo abraça a dor, o emo cria a matéria do sofrimento coletivo e desfere golpes na consciência do eu isolado, esmagado pelas forças vetoriais que emergem por todos os lados”. Os integrantes adotaram uma postura pública bem aproximada do movimento também, participando de eventos de mídia com cabeça baixa e uma aparente depressão e desinteresse. Sobre as músicas, nenhuma foi um hit, algo que acendeu o alerta vermelho na gravadora. Somente Criaturas Apaixonadas fez um buzzinho (barulho), com seu refrão “amar é ser um monstro/atacando seu coração/mas quem cai de verdade sou EUUUUUUUUUU”. A mesma crítica de uma revista que massacrou o primeiro disco soltou o seguinte review (crítica): “ouvir esse álbum te leva a questionar toda a raça humana. Se um grupo de seres humanos é capaz de cometer junto um crime como esse, então seria melhor nós sermos extintos e os dinossauros tomarem conta de novo. Duvido que cinco dinos juntos produziriam uma merda dessas”.

 

Trovões Cibernéticos – 2007 



As faixas do álbum: 1- Abertura dos Portais (Desfile das Almas); 2- A Nova Cria do Imperador; 3 – Johnny Thunder e suas Galochas de Couro; 4 – Despertar de Osíris – Parte 1: I- Osíris no Palácio; II- Guardas em Revolta; III- Arte nas Balas do meu Revólver; 5 – Povo nas Vielas; 6 – Tragam Nosso Mártir; 7 – Despertar de Osíris – Parte 2: I- Esse Mundo não é Nosso; II- Atravessando o Mar Hexadecimal; III – Canhões e Piras; 8 – Que Caiam as Cabeças; 9 – Meu Nome é JOÃO MARIA; 10 – Canção da Paz (Pássaros Cantando, não Cagando).

Depois do desastre emo que foi Revolução Amável do Amor, o Phir Jamah entrou em seclusão absoluta para conceber e criar um álbum que resgataria a popularidade da banda e ao mesmo tempo traria a crítica especializada para o lado dos garotos da Zona Sul de SP. O resultado foi a Ópera Rock “Trovões Cibernéticos”. Com a ajuda de uma instrumentação complexa e caríssima e muito input (apoio) da gravadora, vimos todos o nascimento da épica história de Johnny Thunder, um rapaz do povo que vivia em um mundo distópico futurista dentro de um reino opressivo. O rapaz acaba eventualmente descobrindo que aquele mundo no qual vivia era uma projeção virtual do verdadeiro mundo, com opositores ao regime e criminosos e crianças com potenciais ligações a rebeldes sendo enviados como punição, vivendo nessa realidade com as memórias do mundo antigo apagadas. Ele também descobre que seu verdadeiro nome era JOÃO MARIA. Ele vira então instigador de uma gigantesca revolução popular contra o sistema, liderando seu povo para destruir os portais que ligavam uma realidade à outra e trazendo todos de volta para o mundo verdadeiro.

Tudo soou complexo demais para o público e mega inconsistente e trêbado para os críticos, que até elogiaram a ambição da banda, mas ressaltando que eles estariam muito fora dos seus elementos para conseguir escapar com algo tão complexo assim. Um crítico de um jornal não poupou palavras: “eles estão achando agora que são o The Who? Para criar uma ópera rock decente esses pobres integrantes dessa merda de banda deveriam antes aprender como usar a descarga. Cada passo de uma vez”.

O projeto previa também um espetáculo teatral, um filme e até uma possível performance de rua, com tudo isso levando a história para novos caminhos e possibilidades, mas eventualmente a gravadora cortou brutalmente o projeto e forçou os integrantes a venderem as músicas como um álbum normal. Nisso, eles até conseguiram encaixar um hitzinho (sucessinho) com Canção da Paz (Pássaros Cantando, não Cagando), que virou trilha da novela Os Mutantes, da Record.

 

Deserto da Imaginação (ÁLBUM 5) – 2010 



Faixas do álbum: 1 – Calvinistas, Graças a Deus; 2 – Amor não Vai Pagar a Escola dos seus Filhos; 3 – Impostos Sobre a Alma; 4 – Força-Tarefa Alfa Masculina; 5 – Da Pesca vem a Fartura (Iates da Imaginação); 6 – Amor é Parceria (Casas para o Céu); 7 – Homens e Mulheres ; 8 – Papai Não Dê Sermão (versão de Papa Don’t Preach, de Madonna)

Depois do fiasco da Ópera Rock, rumores começaram a voar falando sobre o possível fim da banda. Inspirado, porém, pelo movimento neoconservador, o vocalista, vanguardista, prosatista, polemizador e galvanizador RL deu a seguinte declaração: “o Phir Jamah não vai acabar, porque temos de ensinar o povo a pescar”. Rumores também circularam sobre a possível entrada de RL em um culto, algo que nunca chegou a ser confirmado. Nisso, a banda lançou em 2010 o disco Deserto da Imaginação (ÁLBUM 5). O álbum chocou na época o status quo ao defender posições econômicas e sociais mais conservadoras, afastando a banda do esquerdismo combativo característico. Foi mais um massacre da crítica, então, culminando na horrenda cover de Papa Don’t Preach, que fez a banda ser acusada de ser contrária ao aborto. RL declarou na época o seguinte: “entre o vazio e a vida, o Phir Jamah vai sempre escolher a vida!”. Protestos de ativistas assolavam os shows da banda, que viu sua na época já velha e desmotivada fanbase (base de fãs) perder totalmente qualquer entusiasmo pela banda. O fim se aproximava.

 

Incubadoras de Adultos de Proveta – 2013 



Faixas do Disco: 1- Humano, Demasiadamente Humano; 2 – Eu Te Amo Pra Caramba; 3 – Twitter é Pra Gente; 3 – Acabou a Pesca (voltamos, Marx); 4 – Desculpas pela Obra; 5 – Pedreiros sem Amor; 6 – Você Veio do Passado; 7 – Desespero, Dor, Vigilância; 8 – Não Pode Ser o Fim; 9 – Caindo de Pé (É o Fim); 10 – Construção (cover de Chico Buarque de Hollanda)

Último álbum lançado pela banda, Incubadoras de Adultos de Proveta foi o epílogo, o fim de uma era para esses rapazes tão perturbados e perturbadores. Embora soe como um álbum conceitual, a banda jamais assumiu em público se as faixas eram conectadas ou não. O vocalista, vanguardista, prosatista, polemizador, galvanizador e cronista RL declarou o seguinte: “Se é álbum com conceito, com ideia ou não, aí vocês decidem, porque o Phir Jamah tá cansado”. O álbum também claramente pediu desculpas pela guinada conservadora do álbum anterior, até de maneira enfática demais, com faixas e faixas pedindo para os fãs esquecerem o passado. O cenário musical também tinha mudado horrores desde que a banda surgiu no longínquo ano de 2000, algo que RL jamais deixou de se mostrar espantado: “como vou saber se estamos fazendo sucesso se ninguém mais compra disco nessa porra? Visualização não vai encher nossas barrigas famintas!”. Nenhuma música passou perto de ser hit (sucesso) e o álbum foi rapidamente esquecido. A única faixa que causou alguma repercussão na net (rede) foi a bizarra cover de Construção, na qual uma voz feminina repetia, com apenas um acorde dramático de piano tocando em repetição à exaustão, a seguinte frase: "Foi ao show do Phir Jamah, subiu no palco e morreu, atrapalhando o público". A voz começava de maneira sussurrada e discreta, para aumentar gradualmente de tom, até chegar no fim a um registro gutural e animalesco. Chico Buarque não foi achado para comentar sobre a cover, mas pessoas próximas ao cantor teriam testemunhado a perplexidade de Chico, seguida de supostas idas a terapeutas, talvez para lidar com o trauma de ver sua canção terminando nas mãos de uma banda moribunda. Outra canção muito criticada foi Eu Te Amo Pra Caramba, obviamente uma tentativa desesperada da banda de emular o primeiro sucesso, a icônica Eu Te Amo Pra Cacete. Nas palavras de RL: "alguém culpa a gente por tentar?". A banda acabou então, de maneira silenciosa, um fim que não deixa de soar melancólico e irônico, considerando o barulho e combatividade que a banda exibia quando surgiu na cena. Um crítico não deixou passar em branco, porém, escrevendo em um twit (comentário na rede social) que “o fim do Phir Jamah é o fim dessa odisseia fecal que fez dessa combalida nação uma gigantesca e fedida privada”. Sutil.

 

 

 

 

sábado, 28 de junho de 2025

Top 10 – FILMES DA DÉCADA DE 2010

 

Segue aqui uma lista com os dez melhores filmes da década passada, a mesma que terminou com o Corona batendo na nossa portinha. Lembrando que a lista reflete apenas a opinião desse que vos fala, então que ninguém resolva encher a porra do meu saco chorando a ausência dos seus filmes (ou taras) favoritos. Beijunda e força sempre no coração de todes (olha o protocolo WOKE ai, gente!!!!)

 

10 – Era uma Vez em Hollywood - 2019



Uma carta ao mesmo de amor e lamento de Quentin Tarantino para sua amada Los Angeles. O filme nos transporta para um momento específico na história da cidade, quando a  “inocência”  (na falta de um melhor termo) dos primeiros e impressionáveis anos de Tarantino foi devastada pela explosão de violência trazida pelos distúrbios e comoções do fim da década de 60. O diretor captura aquele ambiente com o habitual apuro técnico e paixão, criando uma experiência absolutamente intrigante e devastadora para seus espectadores. Destaque para outro grande trabalho de Brad Pitt e para um DiCaprio com um surpreendente timing cômico e disposição para rir de si mesmo. Margot Robbie também mostra talento para composição, atingindo todas as notas certas com sua Sharon Tate, mesmo com o tempo reduzido de tela. O trabalho de casting do elenco foi absolutamente impressionante, revelando quase que sozinho toda a nova geração de atores hollywoodianos que vem se destacando nos últimos anos (Austin Butler, Sidney Sweeney, Mikey Madison, Victoria Predetti).

 

9 – Azul é a Cor Mais Quente – 2013



Filme que causou furor em 2013, tanto pela temática quanto por problemas de bastidores, mas que merece ser lembrado e analisado pela sua trama, entregando uma história de amor e auto-conhecimento como poucas vezes visto nos últimos anos, marcados pela eterna e tediosa dualidade de filmes de super-heróis/filmes de streaming. Deixando de lado as polêmicas dos bastidores, deve-se celebrar a direção inventiva e segura do talentoso Abdellatif Kechiche e as grandes atuações de Léa Seydoux e Adéle Exarchopoulos, que foram inexplicavelmente preteridas na campanha do Oscar.

 

8 – O Mestre – 2012



Embora seja um filme mais comedido dentro do que Paul Thomas Anderson costuma oferecer no escopo do seu trabalho, O Mestre impressiona pela força de suas atuações, principalmente pelo trabalho avassalador do genial Philip Seymour Hoffman, que simplesmente oblitera tudo o que vê pela frente em todas as cenas que participa. Joaquin Phoenix também comete uma de suas performances mais apaixonadas. Anderson usa seu talento como diretor de uma maneira mais sutil, atuando como um metrônomo, dando ritmo e cor para as performances e entendendo que a força do filme estava no seu intérprete principal. A morte de Hoffman é sentida até hoje, deixando um vácuo de talento irrecuperável.


7 – O Grande Hotel Budapeste – 2014



Filme mais bem sucedido de Wes Anderson no círculo de premiações, garantindo sua única indicação ao Oscar de melhor Diretor, O Grande Hotel Budapeste é um dos mergulhos mais divertidos e fascinantes dentro do universo do talentoso autor. Além de apresentar sua costumeira mesmerizante experiência visual, Anderson surpreende ao criar uma trama extremamente mordaz e ácida, mostrando que o domínio de seus elementos estava atingindo àquela altura um nível impressionante, com total autoconfiança e segurança nas suas convicções e habilidades como diretor e roteirista. Isso pode ter gerado o começo de uma fase que incomodou e incomoda antigos fãs seus, que pregam histericamente na “INTERNET”  que ele começou a afundar na autoindulgência nos últimos projetos (algo do qual eu discordo veementemente). Ainda bem que Anderson não dá a mínima para essas sirenes do apocalipse e continua fazendo o que bem entende.


6 – Relatos Selvagens – 2014




Grande exemplar da boa fase que o cinema argentino vem passando nos últimos 20 anos, Relatos Selvagens impressiona por encontrar uma harmonia quase espiritual dentro do caos gerado por suas diversas histórias paralelas. Excelente trabalho do sumido diretor Damián Szifron e mais um palco para desfrutarmos do talento de Ricardo Darín, que finalmente está sendo reconhecido no mundo todo com o sucesso da série O Eternauta.


5 – Corra! – 2017



Jordan Peele fez toda uma geração morrer de rir com os quadros de humor do excelente programa Key e Peele, trabalho que fazia junto de seu colega Keegan-Michael Key. Quando anunciou que estrearia como diretor a surpresa foi geral, já que todos queriam que ele continuasse no campo do humor. Só que ai perderíamos não só um dos melhores filmes da década, como também um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. Peele chuta a porta e cria um clima nervoso e aterrorizante, se dando ao luxo de usar o contexto histórico da escravidão e culpa branca ao seu favor, mostrando um virtuosismo narrativo que deveria não ter passado desapercebido pelos fãs do programa, já que muitos quadros já faziam uso de seu talento nesse quesito. Nota também para o seu filme seguinte, Nós, que é criminalmente subestimado.


4 -  Her – 2013



Obra-prima do diretor Spike Jonze e melhor trabalho de Joaquin Phoenix como ator, mostrando uma composição cuidadosa e comedida, que foge do tipo costumeiro de seus papéis, que tendem normalmente a personagens perturbados e impulsivos. O filme é absolutamente relevante dentro do cenário de onipresença de Inteligência Artificial cada vez mais dominando nosso cotidiano. A sua busca por humanidade e conexões dentro de um mundo asséptico e artificial nunca deixa de ser fascinante.


3 – La La Land – 2016



O filme é lembrado pela sua excelência técnica, com o diretor Damien Chazelle e sua equipe impressionando seus espectadores a cada frame, criando um espetáculo visual e sonoro inesquecível. Destaque também para os trabalhos apaixonados de Ryan Gosling e Emma Stone. Criou uma onda de musicais neomodernos que está hoje mais evidenciada do que nunca, como vimos com o sucesso de Wicked na última temporada, embora os resultados desses projetos nem sempre sejam satisfatórios.


2 – A Rede Social – 2010



Último clássico inquestionável de David Fincher, A Rede Social jamais perdeu seu status como o filme que ao mesmo tempo mostrou fascinação e medo com o lançamento da fase mais aguda da era das redes sociais, antevendo todos os problemas que enfrentamos hoje, já longínquos 15 anos depois. Fincher não mostra timidez ao fazer uso de todo seu virtuosismo técnico e obsessão por detalhes, fazendo uso de mais um grande trabalho de roteiro de Aaron Sorkin para tentar entender esse caleidoscópio bizarro e por vezes assustador dessas mentes tão brilhantes e intransigentes, que descambaram nessa linda era de fascismo virtual que vivemos hoje. Destaque total para a atuação de Jesse Eisenberg, em um dos maiores trabalhos de interpretação dos últimos anos.

 

1 – O Lobo de Wall Street – 2013



Tenham-se ou não reservas com a parceria do gênio Martin Scorcese com Leonardo DiCaprio, é impossível negar que O Lobo de Wall Street foi a maior experiência cinematográfica daquela década. Vertiginoso do começo ao fim, o filme é um ataque a todos os sentidos e gostos, virando sua metralhadora para a cultura yuppie-vitaminada-por-quilos-e-quilos-de-cocaína, cometendo no caminho um massacre inesquecível aos sensos de seus agradecidos espectadores. É admirável presenciar um mestre com décadas de experiência como Scorcese disposto a deixar sua verve e coração punk transbordar de maneira tão visceral e energética, sem medo de julgamentos ou ideias pré-concebidas sobre como artistas como ele deveriam colocar seus conceitos e paixões em caixas atrás de caixas em cima de caixas do lado de mais caixas e caixas e caixas e caixas e FIM


sábado, 31 de maio de 2025

ERRATAS - Camarada Progressista

 Eu escrevi uma porrada de texto no blog nos anos de atividade aguda. Eu errei um monte de informação nesses textos, mas eu sou humano também, sabe, eu erro como todo mundo erra! Vocês também são todos errados, vocês sabem disso, okkkkk????  Quem pode bater no peito e falar que é DEUS, HEIN? Ninguém! Só Deus! Nem ele, se ele não existir! Então, toma aí as correções de erros cometidos pelo Camarada Progressista nos anos áureos do blog.


Já pedindo desculpas de antemão para vocês. DESCULPA, GALERA! 


"Eddie Murphy e Marlon Brando disputaram ferrenhamente o papel de Don Corleone em O Poderoso Chefão, culminando em uma briga de facas que foi ganha por Brando".

Olha só o disparate. Essa informação não é somente errada, ela é absurda! Um devaneio,  sem qualquer tipo de embasamento ou realidade factual! Todo mundo sabe que a disputa entre Brando e Murphy pelo papel de Don Corleone foi resolvida em uma disputa de TESOURAS. Brando saiu vencedor, por ser mais familiarizado com a arma branca. 

Murphy ficou extremamente sentido por ter perdido o papel, desabafando anos depois em seu mega hit Party All the Time (vocês devem lembrar do refrão "Marlon Brando wants to party all the time, party all the time, party all the tiiiimmmmeeeee!!). Murphy pôde finalmente exorcizar esse fantasma dirigindo e atuando no seu clássico filme de gangster Os Donos da Noite, no qual inseriu uma indireta brutal em um diálogo entre o seu personagem e o de Richard Pryor: "Esses caras estão mais doidões que cara que bota atriz vestida de indígena para receber prêmio!".

"Gengis Khan conquistou também a Argentina, assumindo controle do pais e mudando seu nome para Khanlãndia, algo que irritou sobremaneira o jogador Maradona, que foi em público xingar o conquistador mongol, chamando-o de "Pelotudo de mierda""

Isso aí não foi somente um erro. Tá mais para um verdadeiro estupro de geopolítica e história. Quando que Gengis Khan conquistou a Argentina, se ela nem tinha sido descoberta ainda quando ele estava vivo? Só tinha a galera pré-colombiana na época! Os mongóis nem tinham barco para uma viagem tão longa assim! O que aconteceu, e aí retomo meu compromisso com a VERDADE e FATOS, foi que Maradona estava putaço com a Guerra das Malvinas, algo que fez o jogador vir a público dar a seguinte declaração:  "Essa Tatcher aí acha que é o Gengis Khan! Querem se meter com mi Argentina! Pelotuda de mierda!". Foi isso. Depois veio a Mano de Díos, mas aí eu não escrevi sobre isso no blog. 







Esse homem jamais conquistou essa terra! Esse mapa é falso! Nada disso jamais existiu!


"Waldick Soriano começou sua carreira como sósia de David Lee Roth"

Não. Não, não, não, mil vezes não! Waldick nasceu em 1933 e fez sucesso nos anos 60/70! O Van Halen só foi fazer sucesso bem depois, no fim dos anos 70! Tudo errado. O que aconteceu, e aí pode ter sido o que me confundiu quando escrevi o texto, foi que Waldick deu uma vez a seguinte declaração, quando perguntado em uma entrevista sobre o Van Halen: "eu não conheço esse cabra desse Roth ai não, mas teve uma vez que eu estava relaxando numa casa de tolerância lá em Jaboatão dos Guararapes com algumas meninas que eram muito minhas amigas, quando eu posso jurar que vi um pelego que era a cara desse rapaz.  Ele tava tomando uma Malt 90 e dizendo em alto e bom som que queria ser Gigolô. Se era ou não aí eu não sei, mas que parecia esse cabra, ah, isso parecia!". Foi isso que aconteceu, basicamente.


CAUSE IIIIIII AIN'T GOT NOBOOOODDDDDYYYYYY!!!!!!


"Scorcese filmou várias cenas com os personagens Henry Hill e Tommy DeVito em um hotel de Caldas Novas, mostrando os personagens relaxando e se divertindo nos toboáguas do local, mas preferiu depois cortar essas cenas por achar que elas confundiriam os espectadores por culpa das cenas passadas na Flórida".

Acho que tava bebaço quando escrevi isso aí. Bons Companheiros com cenas filmadas em Goiás? Não pode ser sério. Como explicar? Bom, deixa eu tentar, fazendo uma retrospectiva dos acontecimentos:

-1987 rola o acidente do Césio 137, em Goiânia;

-1988 rola a criação do estado de Tocantins, separando essa região definitivamente do estado de Goiás;

- As filmagens de Os Bons Companheiros acontecem em meados de 1989;

-o filme é lançado em 1990.

Pronto. Essa sequência de acontecimentos pode explicar o ocorrido. Tudo isso obviamente causou uma confusão do cacete no subconsciente do jovem Progressista, algo que acabou explodindo quando esse pobre rapaz foi escrever o tal texto em seu blog, já na sua fase adulta. Acontece muito, galera. Perguntem lá pro chat GPT que ele vai confirmar. 


Termino aqui, então, a primeira fase do projeto "ERRATAS". Faltou corrigir uma porrada de erros ainda, afinal, foram 197 textos escritos na época. Até a continuação, então. 


segunda-feira, 26 de maio de 2025

Ninguém Sai Triste de Cannes

 Não, não é a epidemia de dança de Estrasburgo em 1518, mas é bem parecido

 

Ninguém pode negar a vocação para inovação que o festival de Cannes sempre demonstrou. Por décadas referência de premiações mais voltadas para o circuito de arte do que mainstream, o prêmio era considerado um selo de qualidade instantâneo para seus ganhadores. 

Só que os tempos mudam. Na realidade que vivemos desde a pandemia, então, aí você pode escolher seu acelerador quântico preferido e se esbaldar. A velocidade e alcance com o qual vemos instituições e conceitos antes sagrados sendo transformados em piada está atingindo níveis assustadores.

O que vimos em Cannes na última semana foi digno de um espetáculo circense. Sem querer entrar no mérito do caráter cada vez mais predatório que as premiações do mundo do entretenimento tem exibido nesses tempos de redes sociais e influencers, e tentando olhar para os acontecimentos do festival de maneira isolada, posso dizer que fiquei chocado com a quantidade de risadas que dei acompanhando as notícias e eventos que se desenrolavam na Riviera Francesa. 

Foi tudo absolutamente espontâneo. Acreditem, não era minha intenção ou agenda cair na risada acompanhando o festival. Simplesmente foi algo que aconteceu de maneira constante nessa semana. Ver as intermináveis sessões de aplausos para todo e qualquer filme que estivesse sendo exibido, as caras de felicidade e humildade ensaiadas à exaustão pelos artistas, esses que metem os pés pelas mãos por estarem sempre em pânico com a eterna ameaça de serem os próximos alvos da Inquisição Espanhola das redes, culminando em manobras de RP que foram ficando exponencialmente mais ridículas e absurdas à medida que o festival caminhava para sua fase mais aguda, criando um inesperado cenário cômico para aqueles que, como eu, esperavam uma semana de celebração da combalida sétima arte.

Um desastre completo. As benditas palmas foram tão exageradas e fora de lugar que acabaram basicamente criando uma polêmica sobre a legitimidade das mesmas, algo que mancha de maneira brutal o legado histórico do festival. Ficou um troço ridículo, brega, cafona, para chutar o balde logo de uma vez.

Volto então a considerar o contexto global do negócio todo. Cannes é um navio sem rumo, perdido nas tormentas desses terríveis anos pós-Corona, mas isso não pode ser, de maneira alguma, uma justificativa para o espetáculo tragicômico que presenciamos. Eles teriam a obrigação de tentar pelo menos fazer o simples e entregar uma premiação digna, que não provocasse surtos de risadas e escárnio entre aqueles que consomem cultura, tanto de arte quando de massa. 


 

 

sexta-feira, 7 de março de 2025

 O cinema, o Oscar e o Brasil

Ganhamos o tal do Oscar (na verdade, quem ganhou foi a joint venture entre o Unibanco e Fernanda Torres. Aqui, meu ego explodiu logo no começo do texto. Sinto muito, é que faz tempo que não escrevo—sejam pacientes com o velho).

Podemos esquecer essa premiação de vez? Acabar com essa estranha obsessão de transformar um evento de cinema em um Majestoso ou Fla-Flu nervoso e tenso? Podemos abandonar essa fixação por premiações internacionais, em vez de focarmos na criação de boas produções e mais espaços de exibição para o cinema nacional em nossa própria terra?

É verdade, eu ainda queria que Fernanda Torres ganhasse o prêmio de Melhor Atriz. Entretanto, a realidade material indica que isso seria muito complicado. A justificativa para tal dificuldade reside no fato de que Anora também estava concorrendo—um excelente filme independente estadunidense que critica estrangeiros ricos e defende uma mulher lidando com problemas em seu respectivo trabalho.

Sem falar da atuação de Mikey Madison: natural, espontânea e jovial. Esse é outro ponto—uma atriz jovem e talentosa, num filme de superação em um contexto semelhante ao de Uma Linda Mulher. Além disso, há uma certa profundidade em sua interpretação, tornando-se mais tangível por meio de um realismo que, na verdade, se aproxima de um naturalismo. Esse naturalismo nos mostra o fim trágico de todos que se relacionam com alguém rico acima de qualquer moralidade. Desde o início, ele tenta provar a impossibilidade desse relacionamento, revelando indícios que vão sendo desvelados aos poucos na narrativa.

Da mesma forma que o pobre Ícaro, que se perdeu ao voar muito próximo do sol, talvez devêssemos nos afastar do foco dessa premiação para alcançar um horizonte melhor—embora, para o filho de Dédalo, isso não tenha funcionado tão bem. Mais do que tudo, parece necessário desviar nossa atenção dessas premiações.


Pobre Kid, digo Ícaro que ficou panguando no céu

Pois é assim que devemos enxergar a premiação estadunidense: um prêmio raro, que não devemos buscar incessantemente para as futuras produções tupiniquins. Trata-se de uma premiação voltada, em sua maioria, para o mercado de língua inglesa, com poucas exceções de lobby estrangeiro bem-sucedido (o diretor de Parasita deixou sua marca).

Essa é a realidade cruel dessa cerimônia: há pouco espaço para produções em língua não inglesa, disputado por todo o resto do mundo. Logo, nossa premiação nacional deve ter uma resposta focada em nossos problemas internos—ela deve servir para fortalecer o meio audiovisual brasileiro e, ao mesmo tempo, buscar uma relação mais sólida com nossa história (uma possível reconciliação com o termo "Golpe Militar"? Ou ainda haverá aqueles que chamam de "revolução" um movimento que ocorre de cima para baixo, uma quartelada—contrariando até o grupo musical As Meninas, banda que compreendeu o conflito de classes melhor que muitos acadêmicos).

Se o futuro nos reserva um grande cinema voltado para o nosso mercado, com nossas necessidades e para o nosso público—incluindo a criação de cinemas populares, comunitários e, por que não, estatais?—com a Tela Brasil ganhando corpo, força e oferecendo espaço tanto para o cinema comercial quanto para produções artísticas rentáveis, ficarei bem satisfeito.

Bem, prefiro esse sonho a outra estatueta (a menos que eu ganhe uma—nesse caso, tudo muda de figura, pois sou Camarada, mas Moderado)