domingo, 8 de junho de 2008

Rigoletto

Você sabia que Renata Tebaldi e Maria Callas eram rivais nas décadas de 1950 e 1960? Mas que as duas fizeram as pazes em 1968, porque cada qual sabia que era melhor que a outra, mas que isso é coisa que se guarda do lado esquerdo do peito? Mais uma rivalidade que você desconhecia, viu?

Mas ópera é a coisa mais bonita do mundo. Naturalmente, depois disto:


Passei a tarde ouvindo Verdi: Rigoletto e Aida. Rigoletto é sempre Rigoletto, desde a primeira vez que a ouvi pela Cultura FM, em transmissões diretas do MET. Mas Aida não me convenceu. Ainda. Dãããã.

Rigoletto é uma ópera em quatro atos sobre um nigger que resolve folgar com quem não deve, ou seja, um branco rico. Rigoletto tem uma filha que é um estouro, Gilda, interpretada por Rita Hayworth no famoso filme homônimo de 1946, de Charles Vidor.

As célebres rotinas de Rigoletto, na melhor tradição bufa da denúncia pelo humor, recurso muito sagaz do libretista.

No final, [spoiler] Gilda é assassinada por engano no lugar do Duque de Mântua, dando a entender que a opressão continua. Rigoletto ouve o Duque de Mântua cantando “La donna è mobile”, então imediatamente abre o saco onde deveria estar o corpo do nobre e encontra sua filha Gilda agonizante.

A versão de Rigoletto que estive ouvindo é de 1964, com Dietrich Fischer-Dieskau no papel de Rigoletto e Renata Scotto no papel de Gilda.

Estava procurando fotos da Renata Scotto no Google só pra descobrir que ela parece um Muppet. Isso estraga um pouco a minha imagem da Gilda no duo com o Duque de Mântua, de “E il sol dell’anima”. Em compensação, imaginar a Miss Piggy agonizando dentro de um saco é mais divertido, mesmo que suprima um tantinho a tragicidade.

Rita Hayworth dentro do saco é uma das cenas mais emocionantes do cinema mundial.

E aonde eu vou as pessoas me vêm falar de Puccini, como se Puccini fosse mais pop que Verdi. Rigoletto, meus queridos, Rigoletto.

Minha objeção a Puccini é, no fundo, senão uma defesa de Verdi, pois se Rocco e i Suoi Fratelli me provoca lágrimas, High Noon me comove muito mais.

No libreto, baseado na peça de Vitor Hugo, Le Roi S’amuse, Francesco Maria Piave, por causa da censura da época, recorreu à maldição que o Conde Monterone lança sobre Rigoletto como metáfora para a discriminação sofrida pelos pretos.

Maldição do Conde sobre Rigoletto:

“e tu serpente, tu che d'un padre ridi al dolore, sii maledetto!”

E é claro que eu me lembrei de In the Heat of the Night, com Sidney Poitier e Rod Steiger, quando o velho aristocrata sulista leva do Poitier um tapa na cara e fica todo melindrado.

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