sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Fomos ao Cinema ver O Lutador

Mickey Rourke é um caso perdido. Provavelmente vai jogar no lixo todas as oportunidades de carreira que aparecerão em cima do seu sucesso nesse O Lutador. Como já está acontecendo, quando descobrimos que um dos seus próximos projetos é um filme do Sylvester Stallone sobre uma ditadura sul-americana (err... Hugo Chaves in in the house?) que é derrubada por um grupo de mercenários. Eu não sei vocês, mas eu vomitei quando li sobre o projeto. 1986 já foi faz tempo, embora o senhor Stallone jamais se convença disso. Rourke embarcar nessa barca furada diz muito sobre a sua complicadíssima personalidade, sobre o medo de se afundar nas responsabilidades de uma carreira de sucesso que marcou a sua vida em Hollywood e o fez largar tudo em meados dos anos 90 para voltar para o boxe. Sim, ele estará no próximo filme do Jonathan Demme (que aparentemente resolveu acordar para a vida e fazer filmes que não sejam remakes), mas sabe como é, um tiro certo, duzentos errados, e a munição vai pro espaço. Uma pena, já que Rourke é um baita ator.


A perfomance dele no filme do ex-enganador Darren Aronofski é uma aula. Percebemos tudo o que se passa na psique do personagem somente olhando para a sua face durante o filme, sem precisarmos das palavras para isso. O ar desesperançoso, seco e emocionalmente frustrante do filme cai como uma luva nessa época de crise que vivemos, tornando o filme um marco zero da causa, praticamente. A câmera segue o seu personagem, o lutador de luta livre Randy "The Ram" Robinson, que foi um dos grandes do esporte nos anos 80, mas que agora sobrevive trabalhando no estoque de um mercadinho e participando de lutas em ambientes pouco glamourosos nos fins-de-semana, e não perde um segundo sequer da sua completa inadequação ao mundo que o cerca, o seu jeito desastrado com as mulheres -exemplificado pela sua relação com a filha (Evan Rachel Wood, muito melhor sem o Marilyn Mason por perto) que lhe odeia por ele a ter largado quando criança e com a stripper Cassidy, interpretada pela Marisa Tomei, que obviamente o trata com um mínimo de atenção somente por enxergá-lo como um cliente, algo que foge à compreensão de Randy, que realmente pensa ter alguma importância ou conexão com aquela mulher -, e a fuga da realidade que ele vivencia quando sobre no ringue e volta a ser, por alguns minutos, a lenda da luta-livre que tanto significa para os fãs do gênero, mesmo essas lutas sendo exercidas em ambientes que passam longe do glamour do seu auge como lutador. Mas esses momentos, como mostrado com maestria pelo filme, significam para Randy a única parte da sua vida na qual ele é tratado com respeito e admiração, ao invés dos chutes seguidos que leva no mundo exterior. A própria natureza cênica do esporte (Aronofski mostra antes de um dos combates toda a preparação dos lutadores, combinando os golpes como se fossem coreografias de um musical) acaba sendo uma rima da importância que aquele ambiente tem na sua vida miserável. Como se em todos os outros instantes ele fosse um fantasma esperando ser trazido de volta à vida por alguém que possa vir a compreendê-lo, e naqueles poucos minutos em cima do ringue tudo passasse a fazer algum sentido.






Randy vive em um mundo que o deixou a muito tempo para trás, e sua vida consiste em desesperadamente resgatar uma época na qual ele teve um mínimo de importância, e o diálogo que trava com Cassidy sobre o Kurt Cobain (segundo ele, uma bichinha chorosa) e os lamentos do grunge terem varrido do mapa a diversão no rock (a trilha do filme é recheada de bandas de hair metal e metal farofa, estilo que estava no auge na época em que Randy era um lutador de sucesso) é uma bela metáfora sobre o sofrimento arrastado e tortuoso que a vida contemporãnea significa para ele. E Rourke brilhantemente nos mostra o sufocante constraste dessa realidade, entre o seu Randy que só lhe traz frustrações e amarguras e o The Ram, o Lutador que parece invencível em cima do ringue. Como o papel traz ecos da própria vida pessoal de Rourke (que supostamente ficou incomodado ao fazer a cena na qual Randy corta frios no mercadinho, por lembrá-lo de momentos miseráveis na sua vida), é daqueles raros casos no qual alguém nasce para intepretar determinado papel. Como ele era apenas a terceira escolha de Aronofski (Nicolas Cage e, olhem só vejam vocês, Sylvester Stallone eram os preferidos do diretor), não deixa de ser curioso. Aronofski abandona as trucagens e o virtuosismo vazio dos seus filmes anteriores (Pi, Requiém para um Sonho e A Fonte, três filmes que conseguiam a proeza de não contar história alguma) e realiza um filme denso, angustiante e que não tem medo de sujar as mãos mostrando uma realidade nada glamourosa, de personagens que não possuem qualquer perspectiva de melhora ou de abertura de horizontes, ou de morais que possam significativamente transformar as suas existências. O filme sabe que a melhor redenção da vida é estar pronto até para morrer por algo em que acreditamos ou que nos traz a verdadeira felicidade. Assim como Vicky Cristina Barcelona, O Lutador é um filme melhor que todos os cinco indicados a melhor filme no Oscar desse ano. Mas eu nem vou por esse caminho, se não vamos ficar até amanhã escrevendo aqui, pombas. Mas, assim como Randy, eu curto pacas vocês. Pile-drive!




Obs: Nicolas Cage era a primeira escolha para o papel. Isso me fez perceber certas similaridades entre a história desse filme e a do filme que deu a Cage o Oscar de melhor ator, Despedida em Las Vegas. Nos dois filmes temos personagens que arruinaram as suas vidas e que percebem que nada mais importa, resolvendo morrer fazendo aquilo que mais gostam (no caso do personagem de Cage naquele filme era encher a cara mesmo). E nos dois, vemos uma garota com uma profissão relacionada a sexo (a prostituta interpretada pela Elisabeth Shue no primeiro e a Stripper da Marisa Tomei no segundo) tentando, mesmo com sentimentos confusos, resgatar esses homens do destino que resolveram traçar para si mesmos. Nos dois filmes vemos uma cena na qual as duas garotas são humilhadas por um grupo de rapazes jovens. E os dois filmes possuem um ar quase documental, utilizando câmeras na mão seguindo os seus personagens nas suas sagas de queda e decadência, sem efeitos ou glamourizações baratas. Mas, tipo assim, é só uma impressão. Lembremos do caso Taxi Driver - Rastros de Ódio (contando as devidas proporções, logicamente), quando Scorsese quis homenagear a fortíssima história contada no filme de John Ford. Mesmo caso aqui, imagino que Aronofski deve ser fã do Mike Figgis e ficou impressionado com a história daquele filme, ou coisa que o valha. Não é como quando você COPIA OS PRIMEIROS 10 MINUTOS INTEIROS DE UM FILME E AINDA TEM A CARA DE PAU DE NEGAR E FAZER CARA FEIA EM ENTREVISTAS QUANDO PERGUNTADO SOBRE, COMO O PALHAÇO DO DANNY BOYLE VEM FAZENDO NO CASO CIDADE DE DEUS - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO. Desculpem as maiúsculas. Beijo-me-liga.

5 comentários:

  1. Camaradas, vcs já foram ver o Milk?

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  2. Camaradas
    Vcs Ja viram Benjamim Button?
    Se nao, vale a pena....
    Bjs

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  3. Edna
    Utilizar a barra de rolagem e ler um pouco os posts já publicados é de bom grado e faz bem para mente.
    Evita perguntas inoportunas...

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  4. Me deixem trabalhar, peloamordedeus! Eu entro para ler os posts de vcs e perco a noção do tempo.
    Vida longa, camaradas! Trabalhar é coisa de burguês, não é mesmo?

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  5. REQUIEM PARA UM SONHO AINDA ACHO A OBRA PRIMA DE DAREEN, MAS ESSE LUTADOR É UM DRAMA INTERESSANTE SOBRE UM HOMEM NUMA VIDA DECADENTE.
    LUTADOR PARECE SER UM FILME DE MICKEY HOURKE DO QUE UM FILME DE DARREN- PARECE SER A VIDA DO PROPRIO ATOR QUE VOLTA DAS CINZAS DEPOIS DE UM LONGO TEMPO.
    CONSIDERADO UM PESSIMO ATOR- MAS AQUI ELE ESTÁ PERFEITO DEMAIS- O FILME É PRATICAMENTE DELE.

    NOTA: 7,5

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