domingo, 27 de setembro de 2009

Pra coisa não esfriar

1 Descobri que todas as frases que eu escrevo são esquisitinhas, mas tudo bem, que isso é estilo. Eu, como aqueles motoristas que, obrigados pela empresa, colocam um adesivo na traseira do veículo perguntando como estão dirigindo, pergunto: como estou escrevendo? As minhas frases são esquisitinhas mesmo? Ou estou só tendo mais um surto de TOC, se é que é adequado falar em surtos, mas é o que eu sinto.

2 Aí depois eu invento um esquema e me acalmo. A frase – sim, falo como Flaubert, “na frase” – fica ok, e eu descanço até ser novamente tomado de uma desconfiança horrível até do artigo “a”, que não devia ser usado. Logo estarei como Perec, que, segundo ouvi, mergulhou tão fundo naquele experimento de escrever um romance inteiro sem usar a letra “e”, que no francês é onipresente, a ponto de começar a achar que a letra estava perseguindo-o. Sim. Mas vocês já viram a cara do Perec? Explica muita coisa.

3 Mas eu queria mesmo era me sentar e escrever algo bombástico sobre o amor. Queria escrever O Segredo do amor, O Código da Vinci do amor, A Cabana do amor, o Ninguém é de Ninguém do amor. Pessoas no metrô lendo sobre o amor segundo eu. Que contribuição. Que megalomaníaco. Mas minha, er, vida amorosa está parada desde janeiro. Isso não é bom nem ruim. Nesse meio-tempo pessoas muito próximas, que acreditavam no amor, deixaram de acreditar ou pelo menos sossegaram, e outras que não acreditavam, se não passaram a acreditar, pelo menos ficaram bem promíscuas em nome do amor. Quer dizer que todo o mundo continua tateando, literalmente ou não, nos relacionamentos. Eu vos lamento, senhores.

4 A única coisa que nos tem salvado, como sempre, é a amizade. Se em todo o resto nós somos absolutamente desastrosos, o que não chega a ser verdade, pelo menos – o que é muito – temos sido amigos. Se querem uma definição de amor honesta, é isso: amor é amizade, amizade é amor. Um amigo é a expressão do amor desinteressado e incondicional que esperamos dos relacionamentos amorosos, até agora sem sucesso, quase sempre por nossa culpa. CULPA.

5 E essa semana eu vi A Onda, um filme alemão excessivamente esquemático. É um High School Musical sobre as origens e natureza dos regimes fascistas. O problema é que é uma obra de tese. E teses são carnívoras: comprometem desde complexidade psicológica até desenvolvimento dramático. Os personagens não são pessoas, de carne e osso, mas ideias. Eles ilustram pontos. Em vez de se expressar, eles argumentam. Todas as suas palavras e atos são silogismos. Tudo se curva ao esquema. É a única forma de comunicação da tese. E é raso demais. Mas aprendi que é fácil ser Führer. Semana que vem, tento.

sábado, 19 de setembro de 2009

Cabelo crespo, cabelo ruim, cabelo pixaim

Tenho uma opinião sobre gente normal. Gente normal é ruim. Não biologicamente, como se genética e determinismo entrassem na história. A princípio eu ia dizer que era uma escolha. Que era moral. Mas seria supor que as pessoas andam pensando mais do que realmente pensam. Que ingênuo.

Aí eu comprei um sorvete e, enquanto tomava, vi que normalidade tem a ver com higiene. Porque o sorvete escorria todo pelo meu braço, que eu era obrigado a lamper desde o cotovelo.

Daí que ser normal é uma questão de limpeza. Você precisa estar limpo. Sem meleca nem mistura. E sujar-se é muito fácil. Envolver-se suja. Trocas em geral. Mesmo de ideias, que podem subverter convicções antigas. Imagine de emoções, que talvez te inutilizem pra sempre.

E gente limpinha é só gente esquisita disfarçando. Porque gente normal é absolutamente limpa. Pura. Por isso é que é ruim. Bondade suja. Bondade despenteia. Tanta coisa nessa vida despenteia. Beethoven despenteia. E muito. Mas bondade mais. Porque bondade tem a ver com curvar-se e deixar a nuca à mostra. Gente normal anda ereta. E nunca corre. Correr é indigno. Fosse possível, gente normal nem comeria. Quem come é obviamente inferior a quem não come. E quem está de pé, a quem está sentado. Gente normal prefere ficar sentada.


E você precisar ter certeza. Dúvidas são como manchas no cérebro. Corre-se o risco de se aprofundar alguma coisa. Aprofundar-se é como enfiar a mão no ralo do banheiro pra tirar tufos de cabelo acumulados ao longo de semanas e procedentes de várias partes do corpo humano. Gente normal já é aos 20 o que vai ser pelo resto da vida. Gente normal fica pronta rápido. É muito prático ser normal.

E gente normal não incomoda. Não incomoda porque não se importa. Importar-se é anti-higiênico. Ser normal é não pôr a mão. O problema em gente esquisita é que elas vivem colocando a mão em tudo, inclusive onde não se deve. Pensar muito, por exemplo. É como pegar em corrimão de metrô e depois colocar a mão na boca. Nojo.

Gripe suína não se espalha em ambiente cheio de gente normal. Quem transmite doença é gente esquisita. Claro. Gente esquisita não lava as mãos depois de ir ao banheiro. Anda com as unhas pretas. E despenteada. Por mais limpa que possa estar, gente esquisita sempre está despenteada. Tem a ver com a gravidade. A natureza querendo jogar gente esquisita pra fora do planeta Terra. A natureza é bem normal.

Por tudo isso é que o meu filho vai ser normal. E de proveta. Ou clonado. Senão, suja.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cinecontraste: A orfã/ Arrasta-me para o inferno

Não é de hoje que o cinema nos dá suspense e terror, fazer as mocinhas pularem no colo dos seus acompanhantes é truque antigo do cinema, se pensarmos, as mocinhas pulam no colo dos rapazes muito antes do próprio cinema(ainda bem). O cinema funcionando como catarse e ajudando namoros: quantos relacionamento não se firmaram ou se formaram depois de uma sessão de sustos? Incontáveis...
Hoje estamos infestados dos ditos cujos “filmes de sustos” e no pacote aqueles filmes ultra violentos como Saw e seus derivados. Cansado de assistir Saw 5 e ficar sem entender nada porque não assisti os quatro anteriores, cansado das seqüências e das pré seqüência de O grito, como também de todos aquelas variantes copiadas de filmes japoneses onde tem uma menina morta que sair de um poço, TV ou qualquer buraco que um alma penada pode sair. Enfim, fui ao cinema e acabei pegando um sessão dupla: um filme atrás do outro, lembrando muito aquilo que existia na remota década de 70 que tentou ser revivido por Tarantino e Robert Rodriguez em Grindhouse. Tal projeto aqui, na terra brasilis, foi retalhado pelos nossos adorados e venerados distribuidores... vergonha e idiotice, pois uma pessoa em sã consciência e com posse das suas escolhas dificilmente se aventura a assistir um filme que seja dirigido somente pelo parceirão 100% do Tarantino.

Lado “A”: A menina má.com conhece o anjo malvado
Filme de suspense que se preze, além de uns sustinhos guardados em cada momento, precisa ter um bom vilão: carisma e afeição pelo público são quase requisitos mínimos. O problema foi quando Hollywood achou que poderia colocar qualquer criança com uma faca de rocambole e provocar sustos no público. É o seguinte; se ela não estiver possuída por nenhum demônio/alienígena/serial killer , como alguém que não alcança a prateleira de cima do armário da cozinha pode ser terrivelmente perigoso e fatal? No máximo a criança é uma peste insuportável, você dá um bica que ela se afasta, pode ser mais cruel e afastá-la segurando a cabeça: a pobre coitada vai tentar te pegar, mas com aqueles braços curtinhos vai ser difícil.


Pensava que o argumento da “A órfã” era esse: pais desgraçadamente azarados adotam uma criança que na verdade esconde um terrível segredo que prejudicará todos os alicerces desta já fragilizada família que acabara de perder um filho. De certa forma, não é bem esse, eles não apelaram para ocasional e freqüente possessão. Ainda sim o filme escorrega em muitos erros bobinhos, de gente pequena. A menina que adotaram, expatriada do Leste Europeu, começa a fazer suas estripulias e o filme vai ganhando ares de suspense, até tentar assustar a platéia com uma menina de onze anos, soa cômico e não é que a menina não é convincente; as crianças são o que há de melhor no filme, ótimas interpretações desses pequenos atores, com especial destaque para a protagonista; agora, os pais, estes deveriam fazer algum cursinho de verão de Artes Cênicas urgente.


No final das contas o filme não é tão ruim, comparado aos filmes de terror que se levam a sério, está numa boa posição. E o que aprendi com esse filme? Nunca adotar refugos do Leste Europeu...


Lado B, que lado B por sinal: o feijão com arroz de Sam Raimi
Homem Aranha 3 estreiou em algum período funesto de 2007: um filme que mostra a transformação de Peter Parker em revoltado(emo?) ao mesmo tempo que quase acabara com jovem carreira do diretor do filme, Sam Raimi. Dizem que o dedo de Tobey Maguire contribuiu para aquela merda que foi e é o terceiro filme do aranha, discussões a parte, depois disso nunca mais ouvira falar de Sam Raimi. Até anunciar que resolvera abandonar por um tempo a viúva emo, Peter Parker, e recomeçar realmente da onde parou e fazer o que sabia fazer melhor: filme de terror com grandes sacadas de humor negro.


Sam Raimi começou sua carreira de cineasta de fato com a trilogia de Ash, interpretado pelo fantástico Bruce Campbell. O protagonista de Noite Alucinante era cativante, o filme tinha monstro, zumbis, demônios e sempre com um tom de certa irreverência: apresentando cenas inusitadas e muito engraçadas. Ao fazer um filme de terror se aproveitava e zomba descaradamente da fórmula que nos fazia engolir, até o começo da década de 90; Jason, Freddy, Hallowen com sua safra interminável de sustos e seqüências que demonstravam que nem se o universo se extinguisse, aquelas monstros continuariam voltando. O ponto mais fortes nas obras de começo de careira de Raimi era nunca se levar tão a sério, atitude que não fez quando realizou o terceiro filme do cabeça de teia.

Grande filme sem ser poser e nem se levar a sério


Arrasta-me para o inferno é um roteiro manjadíssimo: mulher que recebe uma maldição de um cigana tem três dias( chupa essa, garotinha do Chamado) para tentar se livrar antes que um demônio surja e faça o que diz no título. Todas as convenções e clichês são utilizados e abusados de maneira criativa, inclusive para provocar risos: o filme é uma grande montanha russa alternando altos picos, onde impera o gênero terror com grandes declives, onde apresenta cenas fantásticas de humor negro.

Com uma trilha muito boa, assim vem pergunta: um filme faz a trilha ou seria o contrário? Com duas teclas Steven Spielberg teve seu vilão apresentado no melhor filme da sua carreira. Hitchcock com cenas rápidas e uma trillha dramática, um dos melhores momentos do cinema. Sam Raimi extremamente auxiliado pela trilha consegue fazer Arrasta-me para o inferno um dos melhores filmes de terror dos últimos tempos, sem se esforçar, trazendo o seu já manjado feijão com arroz sangrento.

domingo, 13 de setembro de 2009

On love for men

A maioria das pessoas inteligentes que eu li não acredita no amor. E a maioria das pessoas inteligentes que eu conheço finge que não acredita no amor. Essa disparidade pode ser facilmente explicada. Escrever é um modo de antecipar a morte. Quem tem um pingo de senso só escreve algo que imagina que não fará as pessoas rirem do defunto na posteridade. As pessoas inteligentes escrevem então para serem lidas depois de mortas. É um padrão de qualidade. Mórbido. Mas eficiente.

“Pois é, o amor não existe, e agora estou morto, etc, etc, fim.”

Quando estão mortas, as pessoas inteligentes se sentem livres para admitir que aquilo que era a maior promessa de felicidade de suas vidas não existia. Podem admiti-lo sem se sentirem humilhadas por serem tão burras. Estão mortas.

Você só será feliz se encontrar a garota certa. A garota certa é a promessa do amor em sua vida. E o amor, por sua vez, é a maior promessa de felicidade de sua vida.

Todo o mundo vive dizendo que não acredita no amor verdadeiro. Mas nem 10% das pessoas se perguntam o que é o amor verdadeiro. Isso porque mais de 90% das pessoas não são nem um pouco filosóficas. Não que a vida ficasse melhor ou mais fácil se as pessoas decidissem se perguntar pelo significado das coisas. As coisas no máximo demorariam mais pra acontecer. As pessoas levariam quinze minutos para cometer cagadas que normalmente aconteceriam em cinco.

Mulher bonita.

Mulher bonita é o aceno do diabo de auto medieval quando você só está de passagem. Todo pimpão por ser um jovem solteiro com a vida toda pela frente. A vida cheia de promessas é como uma flor que você leva ao nariz para sentir seu perfume numa manhã quente de janeiro. E depois um hálito gelado que sussurra muito perto da sua jugular sugere que você está deixando a vida passar. E você se perturba intimamente com o fantasma do carpe diem negligenciado. Burrão.

Mulher bonita é o depósito de ideal de todo homem pra manter a sanidade e não ceder ao cinismo debilitante da época. Ele pode desperdiçar seus dias num emprego que subestima sua inteligência e ignora seus valores e anseios mais básicos. Ele pode vender sua alma a cada sorriso forçado e aperto de mão contrariado. Ele pode – na verdade, se permite – isso e muito mais. Tudo porque no final ele será redimido pelo amor. Essa é a sua crença. Consciente ou não. E certamente brega. É ela que explica sua vidinha, ele ter uma vidinha. O que há de melhor nele é adiado pela expectativa permanente do amor que só uma mulher bonita pode realizar.

Feminilidade é ideologia. Doçura também.

Você só será feliz se encontrar a garota certa. A garota certa é a promessa do amor em sua vida. E o amor, por sua vez, é a maior promessa de felicidade de sua vida. (2)

A garota certa é bonita. A garota certa não é bonita porque você é fútil. A garota certa é bonita porque você não tem tempo nem paciência pra descobrir que a verdadeira beleza é interior. Como você é homem, e homens são muito práticos, você é muito prático e quer o pacote completo. A garota certa poderia até ser feia se não houvesse a mínima chance de a garota certa ser bonita. A mínima chance de a garota certa ser bonita faz a garota certa ser bonita.

Culpa.

Você se sente culpado porque a garota certa é bonita. O fato de a garota certa ser bonita e de você não querer parecer fútil pelo fato de a garota certa ser bonita faz com que você se torne excepcionalmente eloquente e articulado ao romantizar o fato muito simples de que a garota certa é bonita. Então você não diz que esta ou aquela garota é certa porque é bonita. Mas porque ela lembra uma atriz numa cena de um filme qualquer. A garota supostamente certa lembrar uma atriz numa cena de um filme qualquer é o máximo de romantismo num homem.

Romantismo macho.

Quando vou ao cinema ou quando fico em casa lendo um livro, só estou interessado em saber se o herói e a mocinha vão ficar juntos. É o que prende a minha atenção em qualquer história. Não importa o gênero. Não importa se é Henry James ou uma comédia romântica com Zooey Deschanel. Outro dia mesmo eu estava lendo Os espólios de Poynton, um Henry James da fase tardia, ou seja, uma coisa bem abstratamente esquisitinha, que eu não queria parar de ler até descobrir se Flora Vetch, a protagonista, ia ficar com Owen Gereth, filho de Miss Gereth.

O problema é que qualquer porcaria acaba me convencendo se tiver um cara e uma garota que não se sabe se vão acabar juntos. Lois & Clark – As novas aventuras do Super-Homem, por exemplo.

Estudo de caso - Lois & Clark – As novas aventuras do Super-Homem.

Outro dia eu estava assistindo Lois & Clark – As novas aventuras do Super-Homem quando comecei a me perguntar o que aconteceria se Clark Kent casasse com Lois Lane e nunca revelasse sua identidade secreta de Super-Homem. O que aconteceria quando o casamento começasse a se desgastar, o que levaria menos de três anos, porque Lois é o tipo de mulher que manda no marido e se irrita por ele obedecer e Clark é o tipo de cara que obedece se perguntando onde é que estava com a cabeça ao se casar com aquela megera. Lois continuaria se metendo em confusões e precisando ser salva pelo Super-Homem. E o Super-Homem continuaria salvando Lois.

É muito fácil salvar alguém por quem você está apaixonado. Estar apaixonado é inclusive a maior razão pra você querer salvar a vida de alguém. Mesmo que isso custe a sua própria vida ou a destruição do planeta Terra. E esta é justamente a questão. Quantas vezes o Super-Homem teve que escolher entre salvar o planeta Terra ou salvar Lois Lane? Muitas. E em todas elas ele conseguia fazer as duas coisas. E conseguia porque fazia um esforço danado nesse sentido. Só alguém muito apaixonado tem energia pra fazer esse tipo de esforço.

Lois Lane testemunha contra misoginia de comediante.

Imaginemos então que no mesmo dia em que o planeta Terra e Lois Lane novamente corriam perigo, Clark Kent saiu de casa pra salvar o mundo depois de uma discussão incrivelmente longa e sem sentido sobre a tampa do vaso aberta. E então ele se acha no impasse de sempre entre salvar toda a humanidade ou a garota. Só que a garota não é mais aquela que ocupava seus sonhos de adolescente babão. Com o frescor e o fascíncio que só a distância proporciona a uma pessoa. Ela se transformou na mulher que todas as manhãs o recebe na cozinha com uma carranca e a pele em torno dos lábios avermelhada porque acabou de depilar o buço. Porque essa garota tem um bigodinho. (O machismo inutilizou o homem para o bigodinho. Homens simplesmente não conseguem lidar com essa realidade. Claro que o bigodinho é só uma metáfora para as representações sexistas de gênero.)

Lois Lane está presa em uma fábrica de pregos em Metrópolis que vai explodir em menos de dois minutos. Super-Homem está tentando deter quatorze mísseis nucleares que acabaram de ser lançados para diferentes pontos da Terra. Ele pensa no bigodinho. Super-Homem está na Sibéria. Faltam três mísseis. Bigodinho. Super-Homem voa para deter o último dos mísseis. Bigodinho. O míssil está a menos de um quilômetro da superfície da Terra. Bigodinho. Ele segura o míssil com seus superbraços. Bigodinho. Bigodinho. Bigodinho.

Conclusão.

Muitas vezes a grandeza de um homem se resume a saber se ele é capaz de passar por cima de um bigodinho e amar a garota. Mas o problema é que nesse caso o bigodinho é como a manifestação física do gênio horrível da mulher com quem eu nunca devia ter me casado. Você vai me perguntar se não bastava o divórcio. Se era realmente necessário deixá-la morrer na explosão de uma fábrica de pregos. Mas o fato é que eu não disse que Super-Homem escolheu salvar o planeta Terra.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Os 20 filmes favoritos do Quentin Tarantino dos últimos 20 anos

Fiz um texto uma vez comentando sobre uma lista dos filmes favoritos do diretor Kevin Smith, e tentando identificar a influência dos mesmos nas obras-primas (Barrados no Shopping, O Império do Besteirol Contrataca) do rotundo diretor americano. Surfando (blergh!) pela net hoje, acabei me deparando com a lista de filmes favoritos do Quentin Tarantino nos últimos 20 anos. Detesto me repetir, mas farei o mesmo com a lista dele. Logicamente que em doses homeopáticas, já que são 20 filmes. Vamos a ela:


Battle Royale - Kinji Fukasaku (2000) - Penúltimo filme do diretor japonês Kinji Fukasaku, morto em 2003. É um lixão. Mas é a cara do Tarantino. Começou bem.

Igual a Tudo na Vida - Woody Allen (2003) – não é nada surpreendente o fato do Tarantino citar o pior filme jamais feito pelo Woody Allen na lista. Foi o único filme do Mr. Allen que o Taranta conseguiu entender. Muito bem, Quentin! Menino esperto!

Audição – Takashi Miike (1999) – Filme cultuado sobre um pobre viúvo sendo torturado por sua sádica namorada. É praticamente um filme exploitation. O Girl sadic power do filme deve fazer a cabeça do Taranta.

The Blade (Six–String Samurai) – Lance Mugia (1998) – Filme que mostra um guitarrista chamado Buddy (obviamente inspirado no mito Buddy Holly, já que o personagem usava os mesmos terninhos, tipo de cabelo e óculos do cantor) que também é um ás com uma espada na mão. Bocejos. O diretor Lance Mugia viria depois a dirigir o fantástico O Corvo 3, vulgo uma das piores porcarias que eu tive o desprazer de ver na minha vida. Way to GO, Taranta!

Boogie Nights – Paul Thomas Anderson (1997) – Poderia ser uma escolha justa, mas ai lembramos que o Taranta é truta do Thomas Anderson. Mas foi quase.

Jovens, Loucos e Rebeldes – Richard Linklater (1993) – Poderia ser uma escolha justa, mas ai lembramos que o Taranta é truta do Linklater. Mas foi quase.

Dogville – Lars Von Trier (2003) – Poderia ser uma escolha justa, mas ai lembramos que... ah, não, desculpem, não existem provas sobre uma possível amizade entre o Taranta e o Trier, então essa justificativa não é válida. Acho que no caso é mais correto afirmar que a escolha se deve ao velho complexo de “um poser reconhecendo o talento de outro poser”. Obs: eu gosto do filme.

Clube da Luta – David Fincher (1999) – É fácil perceber que O Clube da Luta é o filme que o Tarantino teria dado a vida para fazer. Mas como o filme não é uma colagem de referências como são os filmes do Taranta, e sim um trabalho original e genioso de um diretor de verdade, temos apenas de sentir pena do pobre Quentin. Tadinho.

Friday – F. Gary Gray (1995) – Filme escrito e estrelado pelo rapper Ice Cube (que precisa reformar o maravilhoso N.W.A. mais rápido do que nunca). Já vi algumas vezes, e nunca achei nada demais. O diretor F. Gary Gray é responsável por maravilhas do cinema contemporâneo como O Vingador, Uma Saída de Mestre e Be Cool, filme que conseguiu a proeza de reunir o elenco mais desinteressado no material que encenavam em toda a história do cinema. Mas já ouvi dizer que o Taranta é amigo do Gary Gray. O que não influenciou em nada a sua escolha. Imaginem.

O Hospedeiro – Joon-ho Boong (2006) – Tarantino e o cinema oriental. ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

O Informante – Michael Mann (1997) - Um estranho no ninho. O filme não tem nenhum personagem com nome cool, nem personagens que pertençam a organizações criminosas com nomes cool. Mas tem um bocado de gente usando terno. Talvez seja isso.

Joint Security Area – Chan-wook Park (2000) – Tarantino e o cinema oriental. ZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZZ

Encontros e Desencontros – Sofia Coppola (2003) – Poderia ser uma escolha justa, mas ai lembramos que o Taranta é truta da Sofia Coppola, e, pior, deu uns pitacos no roteiro do filme. Isenção total.

Matrix – Andy Wachowski e Larry Wachowski (1999)– Quando vi que o Quentin Tarantino tinha feito uma lista dos seus filmes favoritos nos últimos 20 anos, eu cruzei os dedos e comecei a repetir mentalmente: “tomara que ele não tenha colocado o Matrix, tomara que ele não tenha colocado o Matrix, tomara que ele não tenha colocado o Matrix”. É, não deu. Pena.

Memories of Murder – John-ho Boong (2003) – Filme que fede de tão ruim. Mas ai notamos ser esse o segundo filme do John-ho Boong na lista. O que já liga o radar de “putz, mais um que é amigo do Taranta”. É uma grande pena, mesmo. E, notando que o senhor Boong é o único diretor a emplacar 2 filmes na lista, concluímos que, para o Quentin Tarantino, o melhor diretor dos últimos 20 anos fora ele próprio é o John-ho Boong! GENIAL, TARANTA! CLAP, CLAP, CLAP!

Policy Story 3 (Supercop) – Stanley Tong (1993) – Um dos filmes protagonizados pelo Jackie Chan no início dos anos 90 que acabaram o revelando para o cinema ocidental. É divertidíssimo, mas ai o cidadão vir e colocá-lo em uma lista dos seus filmes favoritos nos últimos 20 anos vai um longo caminho. Quando você vai fazer 16 anos de idade, Tarantino?

Todo Mundo Quase Morto – Edgar Wright (2004) – Comédia mais superestimada dos anos 00. Mas o Taranta colocou o Edgar Wright para dirigir um dos fakes trailers do fantástico e extremamente bem sucedido Grindhouse. Ou seja: é truta.

Velocidade Máxima – Jan De Bont (1994) – O horrendo Jan De Bont agradece ao Taranta pela lembrança. Pena que ele desistiu de emplacar bomba atrás de bomba em Hollywood e esteja filmando apenas em sua terra natal, a Holanda. Volta, De Bont! O Taranta é seu fã!

Team America – Detonando o Mundo – Trey Parker (2004) – Trey Parker e Matt Stone se acham os Shakespeares da comédia contemporânea. Que lê uma entrevista dos criadores do South Park até imagina estar lendo o Orson Welles falando sobre Cidadão Kane. Como o Taranta também se acha pouco, fico aqui imaginando como deve ser um diálogo entre os 3:

Taranta: -Nossa, Parker e Stone, vocês são geniais!

Parker e Stone, em uníssono: -Não Taranta! Gênio és tu! Gênio és tu!

Taranta: -Vamos fazer uma coisa? Eu digo aqui, em alto e bom som: somos os 3 geniais! Êêêêêêêêêê

Parker e Stone: -Iupiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!

Só para completar: Family Guy humilha South Park. Seth MacFarlane é mito.

Corpo Fechado – M. Night Shyamalan (2000) – Corpo Fechado faz parte da lista de filmes mais chatos já feitos na história do cinema. Publico a lista aqui embaixo.

Filmes mais chatos já feitos:

6- O Sexto Sentido

5-Sinais

4- A Vila

3- A Dama na Água

2-Corpo Fechado

1-Fim dos Tempos

Literalmente. Fim.

Obs: curioso o fato do Taranta não ter colocado nenhum filme do seu amante profissional Robert Rodriguez na lista. Uma pena, já que Taranta certamente poderia ter colocado pérolas como A Balada do Pistoleiro, Spy Kids 1,2,3,4,5,6,7,8, Era uma Vez no México (Leone revirou-se no túmulo com essa), As Aventuras de Sharkboy e Lavagirl, e, claro, o melhor filme de terror de todos os tempos, o poderoso A Prova Final, que revelou ao mundo o talento do Elijah Wood. Mancada, hein, Taranta?

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Belchior sumiu


Volta, Belchior!

Fantástico mundo novo tem menos de 140 caracteres

A internet é um lugar incrível. Qualquer idiota com algum senso de perseverança pode, de um dia para outro, sair da sua mediocridade pessoal e expandir sua esfera pessoal além dos limites nunca dantes imaginados. Sabemos que, no início, tudo era bom, até Deus nos ensina isso: "Não coma daquela árvore, malandrão". A internet no seu começo era um lugar pacato e tranquilho cheio de frames e gifs mal recortados, tórrida inocência perdida e espurgada; onde cada site mal estruturado com um efeito malandrinho de html poderia nos assustar com seu dinamismo e cores vindas diretas da década de 80. Aqui uso o epíteto velho da nossa querida humanidade: mas o que é bom sempre pode piorar.


Isso era social media

Mircs, web pages pessoais, e-mail, icq, odigo para os mais nerds: não existia nenhum conceito por trás dessas coisas. Minto, existia uns malucos idealistas que pré-diziam toda a massaroca que seria os nossos tempos modernos, mas ninguém além daqueles circuitos acadêmicos estranhos dava oportunidade de fala aos coitados. Voltando, todo aquela parafernália digital existia como perfumaria para a real função da internet: trocar informações e facilitar ações colaborativas. Se avião era meio de transporte, virou arma precisa nas guerras; a energia atômica salvaria o mundo e não apenas ajudaria caras gordos e crianças pequenas a terem exito. Daí regurgito: por que logo a internet seria diferente?

Um revolução digital, sim senhor!


Que tal um sorvete social?

Desde então, meus caros, a internet virou um negócio, legal, cool, moderno. Antes remota e cheia de reclusos com abundância de acnes; agora moderna, antenada(posso twittar do meu celular, cara!). Tão radical quanto Nescau ela cresceu e ganhou várias teorias de caras descolados e jovens que diziam saber tudo sobre ela, caras que dispensavam todos aqueles velhos, mesmo aqueles que falavam dela há muito tempo. Surgiram muito nomes, designações, alcunhas e muitos outros temas vindos dos cientistas de mídias sociais, é, esse é o nome: mídias sociais. Diferente da visão orwelliana das faculdades de jornalismos e mais próxima das veredas pollianas dos cursos de publicidade, a cibercultura tingidas pelas cores dos nossos amigos publicitários, que bonitinho...

Blogs, videos e podcast inundaram a internet; o padeiro da minha rua tem um twitter(alguma coisa com pãozionhosquentesopa!), cheguei a conhecer mendigos com blog(será que ele sobrevivia de adsense?). A dança do quadrado está aí ao mesmo tempo que a saudosa Stephany com seu possante envenenado. Mas cá entre nós, cheguem mais perto, e a parte boa da internet: cadê a rede de convergência de idéias, conteúdo colaborativo, ações sociais? A tal da inteligência coletiva que as vezes surge como relâmpago no meio da tempestade? O ponto é justamente esse, perca tempo: os nossos amigos da social media, nós dizem para nós mantermos antenados onde surge uma mídia social nova a cada segundo... gostaria de saber cadê aquele negócio bonito que não era toda essa perfumaria e somente ela?

Alguém lá no fundo grita: "A Wiki! A Wiki!" Tá... mas e as outras coisas... e alguns me enumeram um monte de coisa, entretanto esse monte quem sabe é aqueles ratos de internet que postam viciadamente até pelo seu ipod(estou falando com vc). Meu tio não sabe procurar no google, não usa rss e nunca ouviu falar de torrent. Caímos em outro controle e mal uso onde aquele vilão não é só o conglomerado do Tio Disney, nem a Rede Globo, mas seu vizinho, seu colega de faculdade que tem 100 seguidores no twitter; quem sabe, dá uma olhada no espelho., não está se sentindo um tanto maquiavélico hoje?