domingo, 28 de outubro de 2007

Tragédia Social Brasileira Companhia de Teatro

E eu que achava que sabia o que é que era indie! Tá, aquela moçadinha de All Star e calça xadrez molenga é indie mesmo. Mas tem coisa mais indie que isso no mundo, tipo o Fred Astaire cantando Night and Day; faz o Sinatra parecer o Timbaland de tão pop. Mas, vixe, quando a gente fica achando que um cara como Fred Astaire cantando parece Yo La Tengo, bom, no meu caso, é que o meu nível de brasilidade tá lá embaixo, mesmo depois de eu ter ido ao cinema sete vezes torcer pelo Capitão Nascimento no combate à a.k.a. Tragédia Social Brasileira, oficina de teatro célebre entre os cabeçóides, responsável por fazer vir à luz muitos dos grandes talentos da cultura nacional, inclusive o recentemente falecido Paulo Autran, que brilhou com El Loco Glauber Rocha no palco do subdesenvolvimento à brasileira, em Terra em Transe. Esse povo lucrou, isto é, artisticamente, com essa molecadinha bonita e animada, aí pela rua, vendendo chicrétchi e fazendo malabarismos mil nos faróis.

Bendita seja essa galerinha que colocou a gente aqui!
E viva Pixote, e viva o cinema de autor!

Pois então, nesse sentido, o Capitão Nascimento me lembrou outro grande melhorador da humanidade, Platão, por ambos se posicionarem contrariamente às artes, já que, ainda que a partir de perspectivas distintas, intuiam o mesmo, que dou sob uma formulação mais próxima ao caso do oficial do Bope: que a condição primeira pra que exista a arte é que a vida continue sendo uma droga. Ah, camaradas, eu sei que vocês, em seu esclarecimento crescente, sempre sentenciaram nas rodinhas universitárias e, por que não, também nos almoços de domingo na casa da mamma, quando discutindo com seu tio reaça que diz que tem que ter censura sim e que arte é coisa de viadinho, e aí vocês vociferam mesmo, que a arte é amoral. Amoral, tio, amoral! "Ah, seu moleque, primeiro arranja um serviço, cria três filhos e aí depois vem falar comigo", responde ele rindo, com o copo de cerveja na mão e a barrigona agitando-se debaixo da camisa polo encardida. E você fica quieto, remoendo que isso é típico da consciência pequeno-burguesa, de querer vir esfregar sua superioridade calcada na moral do trabalho; ah, mas ele nem sabe que Marx, ah, que Marx nunca teve um emprego de verdade na vida, e pensar na vagabundagem de Marx é opor à superioridade dele a sua, e isso te consola, além de que, poxa, a macarronada, hmm, uma delícia! Mas, então, mesmo que vocês neguem, a existência da arte pressupõe um fato moral: quer dizer, cedo ou tarde, a gente se desentende com a Camarada Vida e diz "mas tu é muito ordinária mesmo, minha filha", e nessa hora a gente fica parecendo tão Nelson Rodrigues!

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