quarta-feira, 14 de maio de 2008

O Nada

THE SOUP

Sejamos sinceros, sem brincadeira. Você já reparou que, nos rodízios de carnes por aí, os garçons que cuidam da picanha são uns safados exibicionistas? Chegam na sua mesa com aquela cara de "chegou o que vocês queriam!', como se estivessem carregando o Santo Graal ou coisa que o valha, e ai, se você recusa um pedaço, fazem aquela cara de incredulidade, como se fossem mortalmente ofedidos, tendo ainda a pachorra de soltar épicos "certeza?" em seguida. Pô, eu tenho ou não tenho o direito de não gostar do negócio? Qual é o crime? Tá, é o corte mais famoso do pedaço sempre, mas não preciso necessariamente seguir o instinto dissonante. O paladar é meu, e dele faço o que quiser.

Enquanto isso, os pobres coitados que levam os tenders com abacaxis (corte que ocupa a honrosa lanterna na ordem de preferência da clientela de qualquer estabelecimento) chegam na mesa quase pedindo desculpas, como se estivessem interrompendo algo importantíssimo para trazer algo que, com certeza, ninguém vai querer. São recebidos com uma agressividade brutal pelos clientes, chutados feito cão sem rabo. Sério, eles não se contentam em recusar o prato, ainda o fazem com uma raiva totalmente desproporcional. Sempre de cabeça baixa, andando entre as mesas, quase que implorando para não serem notados, e invariavelmente voltando para a cozinha com o espeto cheio. Imagine esses pobres espíritos chegando nas suas casas, olhando para os seus filhos, encarando suas esposas, as reuniões de família, com os cunhados sacanas celebrando seus empregos maravilhosos e suas vidas perfeitas, e eles lá, jogados num canto, mudos, ignorados por todos. Não é fácil, mesmo.


THE SWITCH

Inacreditável. Eu não entendo essa celeuma toda quando tem o Mc Dia feliz, aquela data na qual todo o dinheiro arrecadado na venda dos Big Macs vai para trabalhos de caridade. Nunca gostei do bagulho, sempre preferi os quarteirões da vida, e por isso evito como o diabo fugindo da cruz ir na lanchonete junk nesse dia. Quando tive a infelicidade de ir no famigerado dia, e pedir um lanche que não o Big Mac, caramba, parecia que eu tinha ofendido a mãe de todos os presentes, clientes E funcionários, me olhando como se eu fosse um alto general do comando nazista, ou coisa que o valha. Senti o peso de todas as mazelas do mundo nas minhas costas.

Na mesa, a tortura continuou, com todos os olhares de desaprovação do mundo na minha direção. Imaginei as pobres criancinhas das instuições de caridade beneficiadas com o negócio, me olhando, tristes e inconsoláveis com os 8 reais e pouco (descontando impostos) que elas não puderam aproveitar porque um infeliz como eu não optou por comer um lanche tão saboroso e deglutivo como esse. Pura birra, elas devem ter pensado. Guilhotina!, gritariam os partidários de Robespierre. Crime: gostar de comer Quarteirão com Queijo.


THE CONTEST

Fôra de brincadeira. Algumas mulheres acham que o mundo deve algo para elas, como se a simples presença das mesmas nessa terra fosse merecedora de tributos e homenagens eternas. Josefines, desfilando para nós, Napoleões babões. Sério, juro que isso me deixa esguiniçado muitas vezes. Outro dia fui comprar um DVD numa livraria gigantesca na Avenida Paulista (livraria que pretende passar, digamos, muita CULTURA para os seus clientes, se é que vocês me entendem), e fui atendido por uma caixa, que tinha uma certa distinção, mas nada que fizesse você perder sua cabeça, nem coisa que o valha. Ela passou o cartão, pegou a nota, colocou o DVD num saco plástico e me deu, dando o famoso "obrigado, e boa tarde" de praxe e pediu pro próximo cliente vir, tudo da maneira mais seca possível, como se eu estivesse fazendo um favor ao comprar na livraria, e como se ela estivesse fazendo um favor maior ainda ao me atender.

Eu fiquei parando olhando pra ela, pois algo estava faltando. Ela falou de novo o "muito obrigado e boa tarde", da maneira mais estúpida possivel. Repetiu então, antes de eu poder falar algo, pela terceira vez, com um tom de fazer a Greta Garbo vibrar, como se eu fosse um bandido, ou coisa que o valha. Como eu ousava ficar parado ali? No mínimo devia estar flertando com ela, e ela não é lá mulher de ficar tendo de suportar gracejos de qualquer um, ainda mais num ambiente de trabalho. Pois bem, quando a diva ficou quieta, pude enfiar soltar o meu tão desejado "eu acho que você não devolveu o meu cartão". Ela então olhou em volta, e lá estava o meu cartão, em cima do teclado do computador. A cara dela, vocês não têm nenhuma noção. Pediu desculpas, e eu desacreditei, meu, bem Boça mesmo. Disse um "imagine, acontece" carregadíssimo, e soltei um épico, um glorioso, um Cecil B. De Milleânico "muito obrigada, e boa tarde!' e me mandei de lá. PRÓXIMO!

Ante as ruas desertas, Frank era levado embora. It turned out so right, for Strangers in the Night



THE OPPOSITE

Lindo mesmo. O que acontece com as propagandas de pasta de dente? Por que todas elas são passadas em praias paradisíacas, cheia de gente jovem e bonita surfando, paquerando e tirando onda? Com toda a sinceridade do mundo: alguém já viu qualquer pessoa que seja escovando os seus dentes numa praia? Tipo, todo mundo jogando um futiba na areia, sol a pino, ai o cidadão para o negócio no meio e diz pra rapaziada, "pera aê, gente, vou ali no guarda-sol escovar os dentes e já volto". O cara ia ser tirado pra vacilão, com certeza. O quê, eu estou errado? Na verdade, essas propagandas se justificam por propôrem uma alegoria subliminar (imaginada pelos geniais publicitários fãs do Men At Work de plantão), que se constituiria em criar uma correlação entre a sensação de refrescância que essas marcas supostamente provocariam nos consumidores, e a imagem de bem-estar passada por uma praia ensolarada? Quer dizer então, que quando eu uso a pasta, vou sentir nos meus dentes um monte de gente fazendo xixi na água, comendo frango na areia, enterrando o tio cachaceiro de brincadeira na areia, e tudo mais? É isso mesmo, que eles querem que eu imagine que eu sentiria usando aquela marca? Boa tentativa, mas não vejo a menor vantagem. Ponto para as poucas marcas que colocam aqueles atores entediados fingindo-se passar por dentistas, dizendo sempre recomendar para os seus pacientes aquela determinada marca, que limpa muito mais e não deixa resíduos de sujeira, além de se ajustar ergonômicamente para cada tipo de dentição, inclusive a sua. Vai dizer que aqueles tonhos são dentistas mesmo? Sei. Mas é mais justo, isso é fato.



THE MERV GRIFFIN SHOW

Dos blogs aos blogs. Sério, qual o problema com eles? Melhor, qual o problema com os incautos que escrevem nesses lugares cheios de códigos binários, hexadecimais e o escambau? Eles realmente acham que alguém se importa com o que eles escrevem, com suas opiniões e preocupações acerca do mundo? Com suas poesias porcas, sujas como celeiro de cavalos? Com todas as preocupações que ocupam as mentes do homem moderno nesse mundo moderno e contemporâneo E pós-capitalista-neo-liberalista? Quando você tem toda a literatura universal à sua disposição, em qualquer biblioteca na esquina, para aliviar as suas dores? Por que suas palavras interessariam a alguém que um dia colocou seus olhos num Shakespeare, num Proust, num Machado de Assis da vida? Sério, existe muita arrogância no simples fato de se dar ao trabalho de criar um espaço assim. Por isso, glorifico os blogs das meninas tonhas que descrevem suas inúteis atividades do seu dia-a-dia, tipo, "ai, hoje levei o meu Chiuahua Justin Timberlake pra dar uma voltinha na rua, e ele estava impossível, viu? Menino mau, cada poste era um show". Essas garotas são o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos blogs. E elas esperam, com todo o coração, que vocês tenham apreciado o show.


14/05/1998 - Era tudo aquele nada

3 comentários:

  1. Schopenhauer concordaria contigo, camarada. E um amigo meu resume isso na seguinte palavra: "eternulidades".

    Ah se eu tivesse esse olhar de Demócrito. Ah, se eu tivesse.

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  2. PS 1: mas essa comparação de blogue com literatura... bem, citando a filósofa vovó Cleonice, é o mesmo que comparar Nosso Senhor com Zé Buxudo.

    PS 2: tenho compaixão por todos os garçons de churrascaria. Ah, mesmo daqueles que servem a picanha sangrando (blaght). Ah, mas compaixão mesmo eu tenho de quem faz filantropia comendo Big Mac. Nesta cena devemos chorar e fazer um discurso (se for um filme do Bergman); devemos fazer cara de descrentes soando engraçados (se for um filme do Woody Allen), ah, se for Lars Von Trier, entra o narrador: "ninguém ficará satisfeito com essa história".

    Adooooro.

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  3. isso é tão Seinlanguage, hehehehe...

    quanto aos garçons: eu costumava almoçar nesse restaurante de buffet, onde o garçom trazia o refri até sua mesa... tinha um que me irritava um pouco, pois ele te atendia como se vc fosse um bebê: "uma coca, uhum" com uma voz de miguxo... fora que ele ia saindo de costas, meio curvado... tão...tão, tão servo!

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